quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

DIÁRIO DE CUBA (22)

PASSEANDO PELOS TRILHOS FÉRREOS DE SANTA CLARA
Sexta, 14/03/2008, almoçamos algo rápido. Levo Marcos para conhecer as antigas edificações onde estive na noite anterior. Logo na entrada da Galeria Martí, Erick Lorenzo Vasquez nos recebe e assim vamos conhecer o “Fondo Cubano Bienes Culturales”. Ele estava acertando as luzes no salão, em cima de uma escada, desce e muito solícito vai explicando como funciona a Galeria. Acabamos comprando dois postais de obras de arte cubana, por 0,50 pesos cada. Acaba dando todas as dicas para chegarmos no “Museo Tren Blindado – Monumento Nacional”. E lá fomos.
Não foram mais que cinco quadras. É um museu a céu aberto, com alguns vagões expostos nas margens da linha férrea cortando a cidade de Santa Clara. Tudo foi montado exatamente no local onde Che Guevara havia descarrilado a composição enviada pelo ditador Batista para combater os guerrilheiros. Circular por todo o local sem qualquer custo é possível, mas para adentrar os vagões paga-se um peso. Num deles é reconstituído como viajavam os soldados de Batista e num outro, fotos, documentos, peças e registros do comandante Che e de outros revolucionários que participaram da ação cinematográfica. Emocionante. Num outro vagão, esse aberto, uma metralhadora giratória postada no local, demonstrando que Batista havia enviado um grupo bem armado. Só não contava com a astúcia de Che.
Viajei em pensamento para Bauru e vi grandes possibilidades de transformar nossos abandonados vagões em locais de exposição. Ao lado do museu, a linha férrea. Seguimos por ela até a estação ferroviária. Vivenciei ali grandes momentos, pois pude comparar a situação férrea cubana e a brasileira. Circulamos por muitas edificações e talvez por estarmos num horário logo após o almoço, ninguém a nos questionar. Na estação, o modesto hall de entrada, uma grande composição parada na estação e um túnel subterrâneo, para passagem das pessoas até a plataforma central. São três plataformas e em todas, vestígios de serem utilizadas. Muita gente na estação. Aproveitamos para tomar água num bebedouro público, usando as mãos em concha, como todo cubano.
Presenciamos alguns modelos diferentes de transporte férreo de passageiros e também um de carga, com containners de várias empresas estrangeiras, bem fixadas em cima de pranchas. O trem continua sendo em qualquer lugar do planeta um dos mais eficientes meios de transporte terrestre, pois, em primeiro lugar desafoga estradas. Em Cuba não é diferente. Na saída, como em todas as cidades pequenas, inclusive nas nossas, uma praça defronte a estação. Só não vi nenhum hotel, como na maioria das cidades do mundo. Voltamos caminhando pelas tranqüilas e pacatas ruas de Santa Clara. O movimento das ruas só aumenta quando nos aproximamos de um boulevard, com muitos estabelecimentos comerciais.
Como ninguém é de ferro, fomos descansar um pouco no hotel. Foi um tempo curto, pois o barulho proveniente da praça nos atraia novamente para a rua. A TV permaneceu ligada numa emissora cubana, onde assistimos o noticiário local. Estamos um tanto desligados dos acontecimentos do mundo. Do Brasil então, nem se fala. Abri internet a última vez na quarta e não sei quando irei faze-lo novamente, pois no interior o acesso é mais complicado. Não sinto falta e não queremos perder tempo com essas coisas. Só gostaria de manter mais contato com os de casa. O faço por telefone. Na lanchonete Burguecentro, andar superior, em mesas com quatro grandes azulejos como tampa e ampla visão para a praça rimos muito com nosso pedido: “dois hamburguesa de cerdo com queso jamón e dois tu-cola” (meu portunhol era um fisco). O senhor que nos atendeu enfatizava demais o “jamón e queso”, em altos brados, tanto que virou nosso bordão nos pedidos daí para frente. Gastamos treze pesos e cinqüenta. Não me esqueço, o lugar era rodeado por vasos com muitas espadas de São Jorge, iguaizinhas do Brasil.
Enquanto comíamos nosso lanche, uma grande movimentação estudantil agitava a praça. Tenho que contar tudo o que presenciei em detalhes, mas fica para o próximo relato.
OBS.: Os dias vividos em Cuba foram tão intensmente vividos que gostaria imensamente de publicar aqui todas as fotos tiradas lá. Faço uma verdadeira ginástica para selecionar as que saem e as que ficam. Por mim, todas são merecedoras de registro. Mas, pelo menos por enquanto, vou tendo que exercer a função de "censor". Uma pena!

3 comentários:

Anônimo disse...

HENRIQUE

A simplicidade dessas cidades interioranas cubanas deve ser magnetizante. A vida não necessita ter esse corre-corre que damos a ela. A vida precisa ser vivida com mais simplicidade, menos ostentação e vejo que é isso que tenta transmitir nos relatos de sua viagem.

Acertei?

Paulo Lima

Anônimo disse...

Quantos habitantes tem Santa Clara? Você saberia me responder.
Juv.

Anônimo disse...

Santa Clara é a capital da provincia de Villa Clara conhecida também como Las Villas, sua população é de pouco mais de 210.000 habitantes.

Marcos Paulo
Mov. Comunismo em Ação