terça-feira, 1 de março de 2011

CENA BAURUENSE (77)

UMA HISTÓRIA DE QUEM FOI ATÉ ONDE DEU E ACABOU ENCONTRANDO UM JEITO
Moro nas imediações da avenida Nuno de Assis, a que ladeia o rio Bauru, o poço de dejetos dos bauruenses e aqui nessas imediações, junto aos trilhos férreos, entre a estação da Cia Paulista e o viaduto JK, um teatro dos horrores a se repetir todos os dias, um espetáculo dantesco a céu aberto, a Cracolândia tupiniquim. Hoje, por volta das 15h, passo pela avenida e paro o carro para fotografar algo. Bem debaixo do viaduto JK uma blitz policial e um amontoado de gente que já estão a viver num outro mundo, apartado desse, o do vício desenfreado. São os crackeiros, que tomaram de assalto aquele local, montaram barraca e fizeram dali seu quartel general. Já foram notícias de amplas matérias nos jornais e os próprios juízes da cidade ao olharem de suas janelas no Fórum, vão avistar a cena que fotografei hoje e que está a se repetir todos os dias. O cerco cresce e pelo que percebo cresce na mesma proporção o número de viciados. Que fazer? Não sei.

O que sei e conto aqui é uma tragédia pessoal. Enis Orti é uma professora aposentada de Educação Física, passou dos setenta anos e após a morte de um irmão passou a residir sózinha em uma ampla residência ao lado de uma imensa igreja nas imediações do ribeirão e da linha férrea. Até pouco tempo atrás seus problemas foram outros, cuidando da saúde do irmão. Hoje, aumentaram consideravelmente. Cansou de se deparar com viciados dentro do seu quintal e de armas na mão exigir grana viva para as necessidades imediatas que possuem. Da última vez, cercou a casa de tudo quanto é tipo de proteção, mas isso não impediu um mais esperto de driblar isso tudo e na cozinha de sua casa, de faca na mão, exigir dela grana em espécie. Conseguiu inventar algo a desviar a atenção do intruso. Disse que a grana estava debaixo do tapete do carro, um velho fusca estacionado na garagem. Ao sairem na área, gritou até não mais poder e o cara escapuliu. Ela junto, pois não quer mais morar lá, pegou paúra do local. Só volta para sua casa acompanhada e durante o dia. Decidiu que irá morar com outro irmão em Mogi Mirim, mas antes disso precisava de um canto para permanecer pelo menos até o final de março.

Amiga de minha mãe veio repetir sua lamúria aqui em casa num domingo. Ela, frequentadora assídua como eu da Feira do Rolo, bate cartão todo domingo na Banca do Carioca, local de encontros varonis culturais e já foi retratada aqui num Retrato de Bauru, um dos primeiros. Triste era seu estado, juntei o útil ao agradável e achei um divinal canto para ela permanecer esse tempo que lhe resta em Bauru. Meu amigo Duílio Duka e sua digníssima companheira, Rosana Zanni moram sós, com comôdos vazios na casa. Foi batata, ambos ao saberem da história, aceitaram de imediato a mais nova moradora. Ver a fisionomia de dona Enis nos últimos dias é algo para endoidecer gente sã. Faz doces diários para o casal, inventa receitas diferentes a cada dia (dias desses trouxe mandioca, Duka descascou e ela fez de um jeito que não sobrou - estava lá) e o velho e muito útil fusca roda agora a cidade por todos os lados. A situação lá de sua casa continua a mesma e pretende mesmo mudar de cidade (quer vender a casa e bater as asas), mas está vivendo uns dias no mundo da Lua e fico feliz, pois ajudei a proporcionar tudo isso a eles todos. É vida que segue. Uns conseguem, outros näo. Os de baixo do viaduto estáo cada vez mais num beco sem saída.
OBS.: Numa das fotos, ela e duas amigas de todos deste mafuá, Tatiana Calmon e Rose Barrenha. Em outra, ela com nariz de palhaço, remediando numa festa o momento vivido e a solução encontrada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Se essa mulher sofre isso por lá imagina todos os moradores o que estão a passar com a nova vizinhança. Como tratar isso?

Paulo Lima

Unknown disse...

Realmente complicado tudo isso. Temos que chamar a atenção das autoridades para que prestem mais cuidados aos proprietários das casas próximas a esse local, que não têm culpa desses probls sociais e querem sua tranquilidade de volta.
Conheço a Enis, pessoa íntegra,que por morar sozinha, se viu assustada com essa situação.
Pedimos providências prefeito !!!!!!!

Helena Aquino