quinta-feira, 31 de maio de 2012

UM LUGAR POR AÍ (26)
ALGO DESSE CAIXEIRO VIAJANTE EM CURITIBA
Meu ganha pão me faz viajar. Continuo mascateando, ao estilo do que os antigos caixeiros viajantes fizeram por esse país afora no século passado. Tudo nessa vida são escolhas. Fiz as minhas e dessa forma consigo conciliar o trabalho com o lazer. Não consigo me afastar disso. Viajo, ralo para dedéu e produzo um lazer por onde circule. Concilio isso maravilhosamente. Nessa semana, de segunda até ontem, 28 a 30/05, não foi diferente. Conto um bocadinho do que vivenciei com minhas andanças por lá. Há coisa de uma década atrás Curitiba foi uma das cidades onde mais vendi minhas chancelas, assim sendo, conheço-a de cabo a rabo. Não me interessa mais voltar aos seus pontos turísticos. Já os conheço todos. O que faço a cada retorno é andar, divagar, escarafunchar lugares, cores, sabores, pessoas, detalhes, etc. Dessa vez não foi diferente. Conto quatro passagens.
Na primeira fui rever um lugar existente há nove anos e que continua como dantes, existindo sem crescer e ser espalhafatoso. Eu e Ana quando em Barcelona nos maravilhamos ao conhecer a griffe Desigual (www.desigual.com), uma louca marca de roupas espanhola trabalhando divinamente com as cores. Falei a ela que conhecia algo assim em Curitiba e bati asas até lá. Trata-se da Milho Guerreiro (www.milhoguerreiro,arteblog.com.br), invencionice da Mari e do Bruno, que faz algo muito parecido e muito antes de tomarem conhecimento da marca espanhola. Essa mistura de cores, possibilidades ousadas de ser irreverente, debochado é algo que poucos se atrevem a fazer. Esse casal faz e bem. E não querem crescer desmedidamente. Não  são vislumbrados com propostas mirabolantes. São pés no chão, como a história do nome da loja, tirada de uma saga do Bruno com os índios xavantes e a crença no milho que os tornam resistentes. Passei horas ouvindo as histórias lá deles.
Na segunda passagem, terça, 29/05, fui rever meu amigo de longa data, o Kizahy Baracat (já contada aqui) e o convidei para algo que gosto muito. Ele aceitou, mas primeiro passamos novamente pela Bar do Torto
(um a homenagear Garrinha de cabo a rabo), tomamos umas brejas e de lá fomos para o estádio Durival (com “u” mesmo) de Brito, Vila Capanema, bem ao lado da rodoviária assistirmos a um jogo da 2º Divisão do Brasileirão de Futebol. Contenda entre o Paraná (do qual é torcedor) e o América MG. Jogos da segundona são muito mais interessantes que os da primeira, já repararam nisso? O bicho pega mais e a vibração é mais intensa. Não são aquelas partidas cheias de não me toques. Vibração intensa do começo ao fim. Ele me introduziu no meio da torcida da casa e só sai triste porque o time perdeu injustamente por 1 x 0 e não pudemos tomar nenhuma cervejinha dentro do estádio (bestialidade, não?). No que vejo do futebol atualmente, a segunda divisão me passa mais emoção e calor humano. Vide o que faço com o Noroeste aqui da minha aldeia.
Na terceira, ontem, 30/05, 20h, no antológico Teatro Paiol, completando 40 anos (1972/2012), inaugurado que foi pelo trio Vinicius, Toquinho e Marilia Medalha, a presença constante de uma cultura mais popular, autêntica e a mover o curitibano até o local. Um antigo paiol de pólvora, adaptado em forma de arena, com o palco lá embaixo e as cadeiras, contornando-o até o teto. Único e aconchegante, recebendo naquele dia atrações da música sertaneja de raiz. O show “Paiol Caipira” foi uma extensão do programa Brasil Cabloco, apresentado nos 630 kHz da Rádio Paraná Educativa AM por Maikel Monteiro, um entendido no quesito música caipira de raiz. Estiveram no palco gente mais nova cantando Renato Teixeira e Almir Sater, como até algo dos Almôndegas ("um vampiro, um lobisomem, um saci-pererê..."). Muita viola e causos, desses para rir e chorar. A dupla Nézio & Raminho encerrou a festança e fez todos ficarem além da hora por lá. Pudera, ambos velhos cancioneiros, duplas desfeitas pela morte dos parceiros, não subiam a um palco há mais de 30 anos. Emocionante ver a tentativa e o esforço de superarem tudo, desde a idade, como a ausência de vivência com o público. Gostei do que vi e só não comprei o CD, pois tive que sair correndo antes do bis, pegar um táxi meio que voando, pois meu ônibus saia dali 20 minutos da rodoviária com destino a Bauru. Agora tento o contato para
conseguir o CD dos caipiras curitibanos. Gravei algo e tento postar aqui junto do texto.
Por fim, nas andanças, como faço sempre, garimpagem. Tem quem colecione selos, moedas, figurinhas, postais, etc. Eu coleciono LPs e CDs e por onde ande acabo trazendo alguns. Dessa vez, com muito pouco, trouxe oito CDs, seis com artistas locais (desde o Woyzeck, indo de Sidail César, Memória de Elefante ao Guego Favetti) e dois mais conhecidos ("Samba Guardado", do Guilherme de Brito e o "Lambendo a Cria", do Martinho da Vila e filhos). Gastei R$ 40 reais em tudo, o mesmo preço que tentaram me vender o último do Lenine, o “Chão”, que não comprei, pois ainda o acho por valor mais dentro de minhas possibilidades. Tenho música para rolar na vitrolinha por junho todo.
É isso que me move. Eu ando pelas beieradas, bolso mais vazio que cheio, porém sempre lotado de possibilidades. Ter histórias para contar me basta. Eu as faço a cada nova caminhada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu também conheço muito bem a cidade porque trabalho em cirurgia plastica em curitiba e também moro lá, mas adoro que as pessoas a conheçam, e sempre ajudo aos turistas.