sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DIÁRIO DE CUBA (58)
AMOSTRA DE UM VERDADEIRO LADO DO POVO CUBANO: SIMPLES, TALENTOSO E ENVOLVENTE
Fui ao cinema com o filho aqui no Rio de Janeiro (cinema para fim só é válido com filmes do mundo inteiro). O filme escolhido foi “Sete Dias em Havana”, produção França e Itália, 2012. Na resenha isso: “Através da visão particular e com a cidade de Havana como pano de fundo, sete realizadores contam uma história. Com o filme dividido em sete capítulos, a ação ocorre em uma semana e cada capítulo decorre num dia, dando a conhecer a cidade e os seus habitantes de uma maneira própria, com os seus bairros, atmosferas, gerações e culturas através da sensibilidade particular de cada autor. Todas as histórias tem intrigas independentes. Porém as suas personagens aparecem em mais de uma, ligando sutilmente  a ação numa unidade dramática. Assim, com argumento de Leonardo Padura Fuente, um dos mais importantes escritores cubanos vivos, e através dos olhares de Benício Del Toro, Pablo Trapero, Julio Medem, Elia Suleiman, Gaspar Noé, Juan Carlos Tabio e Laurent Cantet, este é o filme que pretende mostrar a verdadeira riqueza de Havana dos dias de hoje, longe dos velhos clichês e lugares comuns e que nos fomos habituando”, do site Cine Cartaz. Veja o trailer a seguir: http://cinecartaz.publico.pt/Filme/305471_7-dias-em-havana
O que me faz escrever sobre esse filme foi um dos seus episódios, o segundo, “Jam Session”, assinado pelo argentino Jorge Trapero. Foi amor à primeira vista e dos sete, segundo meu entendimento, o mais sensível sobre o povo cubano. Atuando como ator e a si mesmo, o diretor sérvio Emir Kusturica chega à ilha debaixo de uma crise matrimonial e para ser homenageado no famoso Festival de Cinema cubano. O que menos quer é ir às solenidades e passa a dar um trabalhão danado às pessoas designadas para lhe acompanhar. Um desses é o motorista Alberto, um gordo e bonachão funcionário cubano, que tem a função de não deixar o importante visitante perder seus compromissos. Emir foge e bebe durante uma noite toda e na manhã do dia seguinte, ao ser localizado é levado ao hotel, vestido e praticamente o carregam para a solenidade da homenagem. Ainda bêbado, evidente ressaca, com vômitos momentos antes de usar o microfone, tudo dá certo, mas para a agenda seguinte, um jantar solene com o participantes, esse o lugar onde menos quer estar. No translado diz a Alberto: “Por favor, me leve para qualquer lugar, menos para esse jantar”. Driblando problemas, Alberto encerra seu expediente e o leva para participar de uma particularidade de sua vida pessoal, um ensaio do seu grupo musical, onde toca divinamente um trompete. Não poderia haver lugar mais interessante para Emir naquele momento. Ali não bebe mais nenhuma gota de álcool e fica extasiado com o que vê e ouve, tudo no fundo de um quintal. Emir se encontra consigo mesmo ali naquele momento, consegue um contato saudável por celular com a pessoa amada e ainda extasiado, já no dia seguinte, no caminho do aeroporto diz a Alberto: “Você é meu amigo. Quero lhe convidar para fazer a trilha do meu próximo filme”. Alberto canta com ele o tempo todo, produzindo um dueto maravilhoso no carro, mas lhe diz: “Você não é o primeiro. Muitos já me prometeram algo igual, não mais acredito”. E se despedem.
Cuba é exatamente isso, um amontoado de gente vivendo da forma mais simples possível, a grande maioria cheia de um latente talento, fazendo isso da forma mais espontânea possível e nos lugares onde lhes é possível. Quem já esteve lá sabe do que escrevo. Vê-los nas ruas e exercitando seu modo de vida é realmente algo inovador (e inebriante) para nós, turistas.  São tão naturais e tão cheios de uma intensa luz, o tempo todo. Eu descobri isso que o curta do Trapero revela tão bem e sai da sala com uma vontade imensa de lá voltar, conhecer novas experiências, abraçar aquele povo e tentar mostrar a todos eles o quanto são importantes e até essenciais para continuarmos sonhando, que essa junção de talento, conhecimento e com pouca grana é algo que precisa ser espalhado para todos os povos latinos. Esse o maior produto de exportação de Cuba, isso que essa Jam Session possibilita aos expectadores, enxergar isso.

Um comentário:

Anônimo disse...


CUBA LIVRE
ORLANDO MARGARIDO
O noticiário talvez dê conta melhor das vicissitudes pelas quais Cuba passa, finda a administração direta de Fidel Castro. De todo modo, 7 Dias em Havana pode colaborar tanto para uma revisão nostálgica quanto para a introdução de um primeiro viajante, como aquele hilário visitante interpretado por Elia Suleiman em episódio por ele mesmo dirigido. O filme, que estreia sexta 2, reúne sete pequenas histórias assinadas por conhecidos diretores e um ator, Benicio Del Toro. Como em todo projeto coletivo, se desequilibra na qualidade, mas a possibilidade permitida pela abertura em filmar na ilha diz muito de como andam os olhares a esse particular país.


Essa visão pode ser, talvez inevitável, do paraíso solar regado a belas morenas, rum e música. É o legado evidente cubano que Del Toro e Pablo Trapero não fazem questão de disfarçar em El Yuma e Jam Session, este último matizado pela presença de um destemperado Emir Kusturica, o diretor sérvio que vive a si mesmo, atormentado por uma crise amorosa. Menos justificáveis na apreensão de um estado de coisas são os episódios de Julio Medem, sobre cantora que sonha com carreira na Europa, e de Gaspar Noé, cujo ritual do título implementa menos um quadro observador do misticismo de raízes africanas do que uma preocupação de estilo. Melhor convence o cubano Juan Carlos Tabio, com seu ótimo retrato do poder improvisador de seus compatriotas, reafirmado pela força e solidariedade presentes na história do francês Laurent Cantet, também dando conta da religiosidade do povo, outra imagem recorrente .

POSTADO POR PASQUAL RJ E RETIRADO DO SITE DA CARTA CAPITAL