quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (45) 

ENCONTRO DE POLICIAIS, LEMBRANÇAS DE “FLEURY” E ALGO DO MOMENTO ATUAL

Leio nos jornais que Bauru ontem sediou um encontro de policiais. No texto isso: “Deu-se em Bauru, ontem, a reunião de trabalho entre a cúpula das polícias Civil e Militar de São Paulo, tendo como a assunto principal da pauta, o projeto de integração, que deve promover uma mudança geral nos serviços das duas instituições em todo o estado. Presentes ao encontro, centenas de policiais civis e militares, que se fizeram presentes a uma reunião de trabalho, participando de uma discussão sobre as novas propostas para a Segurança Pública no Estado de São Paulo”.

Nada contra o encontro, pois o motivador é mesmo necessário. Gosto muito de ver essas duas cúpulas tentando se acertar e tirar arestas, tudo para nos atender melhor. Mas o que me faz sentar e escrever esse texto é uma velha lembrança, motivada por outro encontro de policiais, também ocorrido na cidade. Não sei precisar o ano, acredito que tenha sido no final dos anos 70, pois o assassinato de SERGIO PARANHOS FLEURY ocorreu em maio de 1979, tínhamos todos um cagaço desse “homem”, por tudo de truculência que representava e o vi pessoalmente uma única vez e justamente aqui em Bauru, de longe (como deve ser com pessoas assim). Conto como foi. Acontecia no SESC um encontro de policiais, jogos entre eles, partidas variadas disputadas naquelas dependências e eu acabei passando por lá para presenciar alguma atividade cultural, algum show ou coisa do gênero. Não me lembro de muita coisa desse dia, nem com quem estava, mas disso me lembro bem. A pessoa que estava comigo, me cutucou em certo momento e disse: “Olha quem está ali, é o Fleury”.

E era, corpulento, risonho e sempre cercado de muita gente (provavelmente seguranças), o delegado veio presenciar os tais jogos (acredito que não possuía físico para disputar nada, além de mandante em crimes nas masmorras brasileiras) e confesso, daí por diante não consegui mais desgrudar os olhos do cara. Não tinha ainda 18 anos, mas lia muito, principalmente o Pasquim e a Folha de SP, num dos seus momentos dos mais palatáveis (dirigida por Claudio Abramo). Tinha plena noção do que representava aquela pessoa e já o repudiava de forma veemente. Só não tive, como aliás ninguém teve coragem suficiente para dar um mero grito de “Abaixo a Ditadura”, como fazíamos nas ruas e praças. Muitos, acredito, fizeram o mesmo que eu e o seguiram com os olhos pelo local.

Aquela imagem dele sorridente me acompanhou por vários anos e sempre me impôs medo, pois representava o lado violento, truculento, que desrespeitava as mais simples convenções da dignidade humana. Não tenho muito o que falar sobre isso, mas é que ao acordar hoje vejo algo sobre policiais se reunindo e foi inevitável a lembrança. Tempos outros, quando essa pessoa foi uma espécie de ícone de um regime que hoje, infelizmente, alguns se dizem saudosistas, mas foi o que de pior tivemos na história. Isso sem contar que hoje, nossa polícia precisa mesmo se reunir e com a devida urgência, pois nem uma, nem outra (civil e militar) passam por momentos dos mais elogiáveis.

Até as pedras do reino mineral sabem que, num passado não tão distante, 2006 para ser mais preciso, para se ver livres dos ataques do PCC, a cúpula tucana a nos governar fez um acordo com o PCC, embora negue e com o pacto foi encerrada a declarada guerra desses c
ontra o Estado. Com o armistício passaram a ter controle quase total em nossas periferias, mantendo-o inclusive de forma territorial e social. Algo vigente e declarado hoje, bastando andar pelos bairros periféricos. E depois, as muitas brigadas existentes, a violência policial que nunca cessa, o incessante desrespeito aos Direitos Humanos, etc e etc. De início pensava que o melhor seria a unificação das duas forças policiais, mas como não tenho pleno domínio do assunto, não posso fazer uma discussão sem antes me debruçar melhor sobre o tema. Mas de algo tenho certeza, cruz credo, posso até exagerar, mas tem momentos que chego a desacreditar de evolução policial dos tempos de Fleury para os atuais.

5 comentários:

Anônimo disse...

Henrique

Tem um livrão, desses imensos, do jornalista Percival de Souza contando a história toda do Fleury e de um provável assassinato, queima de arquivo. Você o leu.

Tempos sombrios aqueles.

João Marcos, de Jaú

Anônimo disse...

Sou muito novo pra tê-lo visto pessoalmente, mas como personagem do filme Batismo de sangue consegui sentir o estilo truculento dele. E quanto aos segurança(policias) estamos na mesma em educação e saúde, entretanto o que importa pra maioria é a economia lá no alto. Lamentável?
RAFAEL VIEIRA SNHORILIO

Anônimo disse...

Meu caro o dia que um bandido entrar em seu domicílio tú se lembrará da polícia para ajudar.

Anônimo disse...

Três respostas:

1. O livro do Percival, "Autópsia do Medo" eu tenho aqui no mafuá, mas ainda não o li, caro João Marcos. Talvez tenha até algo sobre essa passagem do delegado Fleury por Bauru. Vou ler, depois escrevo dele por aqui. A hipótese de queima de arquivo, que Percival não defende, para mim é a mais provável para sua morte.

2. Batismo de Sangue é um bom filme para retratar o período militar, meu caro Rafael.

3. Para o anônimo que me tenta intimidar com um papo atravessado. Todos nós precisamos da polícia, inclusive eu. Não a desmereço, só critico seu péssimo momento e todos os desvios de conduta que vejo acontecer dentro de suas corporações. Algo abominável e que devemos sim condenar. Ou voce acha que o devemos fazer vista grossa para esses erros, só por ocorrerem dentro de órgãos policiais... Esse medo e achar que eles podem tudo e não precisam nos prestar contas de nada ainda é resquício de algo da ditadura militar. Pense nisso.

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Meu bom amigo Henrique:

Só um aparte para o comentário do "Anônimo", de 10 de janeiro de 2013, 09:56...
... E se o bandido a que se refere for um policial?

DUILIO DUKA DE SOUZA ZANNI