quarta-feira, 13 de março de 2013

DROPS – HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (84) 

A “CAROS AMIGOS” ESTÁ QUASE FECHANDO AS PORTAS – EU NÃO LHE VIRO AS COSTAS

Fui leitor de “Caros Amigos” desde seu número 1, um com a cara do Juca Kfouri na capa e tive carta publicada na edição nº 2 do revistão (pelo tamanho difícil de ler em trem e ônibus cheios). A empatia foi imediata e durou até pouco tempo depois do falecimento de um dos mentores daquele projeto, o jornalista Sérgio de Souza, o Serjão. A Caros entrou no mercado num momento que poucas de igual teor resistiam e conseguiam persistir. Veio cheia de qualidade, bonitona, imponente e com textos de ilustres nomes, ora duros, ora mais bonachões. Colecionei, grifava tudo o que achava valoroso. Sabia que o projeto, mesmo criado por alguns poucos, ciente de esses ganhavam para lá estarem (nada de anormal), via com bons olhos a doação de textos por seus autores, tudo para fortalecer e fazer vingar tão linda idéia, algo com conteúdo libertário dentro de uma imprensa tão de pensamento único. Tenho muitas aqui no meu mafuá até hoje e depois da morte do Serjão, fui pouco a pouco perdendo o tesão com a revista. Ficou mais sisuda, trocou o papel da impressão, mais fininha e menos atraente. Não fui o único, sei disso. A crise desembocada no que a imprensa está divulgando com certo estardalhaço é o resultado do desdobramento disso tudo. Hoje no site da Revista Imprensa (que já colecionei e abandonei faz tempo, pois perdeu aquele ímpeto inicial) um algo mais para entendimento do que se passa: http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/ultimas_noticias/57274/caros+amigos+demite+todos+os+funcionarios+em+greve+por+quebra+de+confianca 

Mas como algo feito pelos que pensam iguais a nós todos que a admiramos culmina em atitudes como as ocorridas? Reproduzo dois textos, no primeiro Gilberto Maringoni, via facebook: “Não vale a pena atacar o editor da Caros Amigos, Wagner Nabuco, como se ele fosse inteiramente responsável pela dramática situação da revista. Sei perfeitamente o que é ficar sem receber e sem ter direitos trabalhistas respeitados. Mas é injusto demonizar Wagner como se fosse um patrão da grande imprensa, um Frias ou Marinho da vida.
Wagner batalha há mais de 30 anos pela transformação social e sofre o cerco e o descaso de um governo que dá importância zero à pluralidade e à democratização das comunicações. Sou inteiramente solidário aos jornalistas de lá, muitos deles meus amigos. Eles devem buscar fazer valer seus direitos. Mas é preciso centrar as baterias contra o responsável principal por esta situação, o governo federal que tem absoluta preferência pelos monopólios da mídia. Na situação em que estamos, Caros Amigos será apenas a primeira a cair... Lamentavelmente. (...) A asfixia financeira, decorrente das decisões do governo federal de suprimir publicidade de utilidade pública nos veículos da mídia alternativa. (...) A revista resistiu ao ciclo tucano dos anos 90, mas não suportou os 'critérios técnicos' da Secom no governo Dilma, cuja prioridade é concentrar recursos nos veículos conservadores".
Antes havia lido o que o também jornalista e professor Pedro Pomar também publicou no seu facebook: “Caros Amigos se acostumou com trabalho barato e até gratuito. Eu briguei com alguns colegas que, há coisa de dez anos atrás, achavam o máximo trabalhar de graça para Caros Amigos. Um deles, meu amigo do peito, chegou a colocar no currículo sua "passagem" por Caros Amigos, mas deixou de incluir
 a Revista Adusp, onde sempre era bem remunerado por seus frilas. (...) O problema é que a revista nunca foi um projeto político coletivo. Viabilizava-se a revista trabalhando de graça, mas alguns lucravam com ela. Portanto sempre existiu uma tensão entre o caráter empresarial da revista e seu projeto editorial progressista”.

O fato é que não me sinto confortável em enfiar a faca no estomago da Caros nesse momento e ficar girando-a para os lados. A publicidade governamental deve existir sim, de forma equânime e nunca privilegiar aqueles órgão que mais o massacram. Que o ocorrido sirva de exemplo para que o Governo Federal reveja alguns dos seus posicionamentos, mas nunca abandone os que continuam insistindo pela busca do verdadeiro ideal de uma livre e soberana imprensa. Todos aqui sabem que o atual diretor, o Nabuco está diante de uma situação famélica e talvez tenha feito a pior opção possível. Imagina se viesse a público, com o apoio dos funcionários e numa publicação explicitasse a atual situação da empresa? Teria apoios mil, mas não sei se isso salvaria a publicação. Do jeito que tudo ocorreu, talvez uma normalização seja hoje impossível. O clima foi acirrado, mas acredito, que mesmo ciente de que “alguns sempre ganharam” por lá, algo precisa ser feito para salvar a Caros, com um passado tão grandioso e com uma folha corrida de infindáveis serviços prestados à causa defendida pelos que a leem. Só criticar e abandonando-a, sem ouvir todos os lados envolvidos na questão não estaremos sendo justos. Entender tudo, discutir, propor, sem dar as costas, assim não estaremos ajudando na diminuição dos já raros espaços ainda possíveis de verdadeira pluralidade de informações. A Caros tem história e não é nesse revés que a abandonaremos ao léu. Eu não faço isso.

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a sua reflexão, caro Henrique. Ocorre que falta neste País algo fundamental e que é a principal fonte de custeio de publicações: leitores! Todos adoramos, mas, não conseguimos mantê-las com assinatura somente. Infelizmente. Seria o melhor dos mundos que o financiamento fosse apenas dos recursos de seus assinantes ou adquirentes em bancas. Um dia, talvez, cheguemos lá nesse patamar considerado ideal. Agora, claro, as publicações, todas elas, devem receber dinheiro público, afinal, tem gente com opinião de todo o tipo, inclusive de extrema direita! Abs
Alcimir Carmos

Anônimo disse...

Quebra de confiança não aceitar a redução de 50% do salário e defender os companheiros que seriam demitidos... ora pois!
Cláudia Pinto

Anônimo disse...

Assim é fácil: a revista Caros Amigos, ligada ao PSOL (assim como Maringoni), resolve demitir grevista e pôr a culpa no PT e na Dilma. kkkkk
A revista baixa o pau no governo o tempo todo, até repercute o PIG em alguns momentos, e quer verbinha de publicidade pública? huahuahua deixa ver se eu entendi rsrsrsrsrs
Fatos: hoje as verbas publicitárias são bem mais pulverizadas que antes, há até blogueiros e pequenos jornais e revistas co-patrocinados por verba de empresas públicas. Ele sabe disso. Quem faz jornalismo independente de verdade não deve depender de verba pública para se manter vivo, não é mesmo?
Na hora de propor greve no setor público eles apóiam totalmente, quando é com eles eles demitem? E culpam o governo? Vai ser PSOL assim no inferno!

Anônimo disse...

caro anônimo

O seu comentário é pertinente e poderia suscitar um bom debate, porém você se esqueceu de postar seu nome. Maringoni pôs a cara para bater e pode até estar errado, mas para continuarmos nos mesmo padrão, faça o mesmo.

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Maringoni dizia isso antes:
"Fenômeno curioso: as chamadas Organizações Não-Governamentais cada vez mais dependem de recursos governamentais. Embora existam ONGs sérias, é impossível dissociar crescimento do setor à terceirização e à privatização do Estado."
Mudou de opinião?

Samira