terça-feira, 5 de março de 2013

MEMÓRIA ORAL (137)

OS MOTÉIS A CÉU ABERTO DE BAURU – O ORGASMO É POSSÍVEL
                                              dedicado ao jornalista Zarcillo Barbosa

No último domingo, 03/03, o jornalista Zarcillo Barbosa, no seu dominical texto para o Jornal da Cidade, seção Opinião, intitulado “Visões do Paraíso”, tenta demonstrar por A + B que a perigosa (sic) ilha de Cuba precisa abolir o comunismo e todos devem abençoar a passagem da blogueira Yoani Sánchez pelo Brasil. Segundo ele, ela “parece uma escritora comprometida com as pequenas coisas” e passa a citar fatos corriqueiros lidos no seu blog como se fossem aberrações, motivadores de chacota e a demonstrar o jurássico atraso produzido por 50 anos de um regime em “estágio primitivo”. Leiam isso: ”Há as histórias dos caminhões russos, brutamontes de carroceria alta, que agora servem como motéis. As hospedagens de curta duração são concorridíssimas. Os motéis têm filas enormes, principalmente nos finais de semana. Todos a pé, em fila dupla, aguardando uma vaga no lençol ainda quente desocupado pelo casal anterior. A criatividade mostrou que sob os caminhões da antiga União Soviética o orgasmo é possível. Basta levar uma tolha de mesa, mesmo com buracos, para tapar a visão dos voyeurs”.
 
Será que o decano jornalista Zarcillo pensa ser isso exclusividade somente da pobre e perseguida Cuba? Claro que não, pois é sabido por muitos do seu espírito brincalhão, mas talvez desconheça um algo mais de sua própria cidade. Quem circula de fato e direito pela periferia bauruense sabe que, muito do descrito lá na distante Cuba ocorre também  aqui debaixo dos nossos olhos. Tento fazer a “desconstrução” (termo usado por ele para demonstrar o edificante trabalho que a blogueira faz de escrachar seu país aos olhos do mundo) de algumas coisas que fui recordando nos meus quase 53 anos de andarilhamento pelos cantos mais sórdidos de Bauru. O primeiro desses locais está numa ruazinha atrás da rádio Bandeirantes, avenida Nuno de Assis, centro da cidade, proximidades do rio Bauru, com um gramado na frente e muitos caminhões pernoitando no local, aguardando momento de descarregar cimento num depósito ali instalado. A Bauru Painéis, do Toninho Gimenes mantém o local asseado e para facilitar seu trabalho, diante do número grande de carros circulando por ali à noite e da grande quantidade de preservativos jogados no asfalto, fixou duas lixeiras  e troca os sacos plásticos regularmente, onde com auxílio da Prefeitura Municipal instalou duas placas com o texto: “Proibido jogar preservativos e papel higiênico na rua – Lei municipal n° 3832”.

Virou folclore entre os funcionários do Projeto Ferrovia para Todos, o que promove o tradicional passeio da composição férrea com a Maria Fumaça, uma viagem feita da Estação Central da NOB até a Estação da Cia Paulista, não mais que 800 metros. Hoje, quase tudo ali tomado pelos craqueiros, mas antes local de motel a céu aberto para muitos que gostam de fazê-lo de forma perigosa. Geraldo Pires foi maquinista da composição por uma década e conta: “Logo na primeira curva, trem cheio de crianças, vi um casal encostado no muro, ele de calça arriada e ela com o vestido levantado. Passei buzinando e ainda ouvi seus xingos por importuná-los. Tinha muito disso por ali, nos muitos locais abandonados após a privatização. Quem circulava a pé ia trombando com um amontoado de camisinhas. Os vigias dali tem cada história e muitas delas dentro das locomotivas ali paradas”. Histórias e relatos como esses são muito frequentes dentre todos que frequentam a imensa área dos trilhos na área central da cidade. “Esse sempre foi o jeito mais barato de quem não tem muito no bolso”, conclui Geraldo.

Os hotéis na região central da cidade são recheados de histórias de uma alta rotatividade que não cessa, dia e noite. Um local que passa batido por quem não se atém a esses detalhes é a Pensão Vila Rica, ali na rua Agenor Meira, próxima aos Bombeiros, que até bem pouco tempo era ponto frequente de um entra e sai constante de casais, a maioria a pé. Os preços eram os mais modestos, variando de R$ 5 a R$ 10 reais pela rapidinha, sem direito a banheiro no quarto e muito menos troca de roupa de cama. Dentre os que mais frequentavam o local, casais de idosos, que encontravam parceiras no Calçadão e para lá se dirigiam. Seus proprietários hoje desconversam sobre o assunto, pois tudo ali passou por recente reforma e hoje, dizem, estão tentando que tudo volte a ser um hotel normal, como dos tempos quando foi aberto e ali desciam trens vindos da capital paulista. Esse tipo de procedimento não é privilégio deste, pois dois que existiam no próprio Calçadão tinham o mesmo padrão de atendimento, assim como vários ao redor da estação ferroviária. “O sexo sempre rolou por ali de forma espontânea, liberal, sem preconceitos e a módicos preços”, diz um frequentador da praça Machado de Mello, que pede para não ser fotografado, nem identificado.

E as prostitutas e prostitutos da mais famosa avenida bauruense, a Nações Unidas, como será que fazem? Todos interessados num sexo rápido vão para os motéis ou mesmo hotéis? O mais famoso motel, bem ao estilo popular, dentre todos é um que fica perto das Nações, entre a avenida e o residencial Camélias. Precinhos convidativos, uma hora sai por volta de R$ 25 reais e toda a prostituição o conhece. Pergunto para um travesti do local se vai sempre aos motéis. “Que nada, nem todos querem ir. Fazer nas ruas aqui perto é muito comum. Cada um de nós temos um local conhecido, debaixo de uma árvore, com nenhuma casa do outro lado da rua. Ficamos pelados dentro do carro e depois tudo é jogado janela afora”, conta sem ressentimentos. Vá lá perguntar para os moradores desses locais da veracidade disso. “Aqui do lado de casa tem um terreno vazio, com um muro na frente e o que já vi ali é algo para assustar. Homem com homem é mato por ali”, conta uma moradora de uma pacata rua duas quadras acima das Nações. “Eu adorava levar meus clientes num lugar não mais possível, fazia um L, entrava pela Duque e saia numa rua lateral, era uma oficina com um quintal. Fazia fila de carros querendo parar ali, tudo tranquilo e sem afobação, até o dia em a polícia descobriu e tudo foi ficando mais sinistro”, relata uma prostituta sobre um lugar dos mais inusitados, numa região nobre da cidade. A praça Luiz Zuiani é um famoso ponto de prostituição e moradores de quadras distantes relatam o que presenciam: “A quadra da Escola Mercedes Paz Bueno é um verdadeiro motel a céu aberto... mais ou menos 17 horas os carros começam a parar e os encontros furtivos se iniciam... de manhã, as camisinhas podem ser contadas às dezenas... é encontro de casais, de travestis e rola consumo de drogas”. Locais são substituídos de acordo com a fiscalização e a roda continua girando.

As praças são locais onde frequentemente casais são vistos em pleno fornicamento. Quem frequenta a noite bauruense sabe do que escrevo. A praça da igreja Santa Teresinha, até bem pouco tempo tinha duas boates gays ao seu redor e ver casais com algo muito além de meros beijos era algo natural. Na Rui Barbosa, mesmo com o ostensivo policiamento, basta perguntar para os zeladores do local, o que eles mais pegam dentro dos banheiros públicos, além do tráfico e do despejar de carteiras larapiadas pelas imediações. Pergunte ao mesmo para os zeladores lá do parque Vitória Régia, se nunca flagrou casais enlaçados nas escadarias do anfiteatro. Faça o mesmo com quem cuida do famoso Cemitério da Saudade e constate que rola muita coisa por ali além dos fantasmas de plantão. Na falta de containers e caminhões russos (temos as locomotivas), Bauru improvisa seu sexo nas ruas e l
ogradouros, da mesmíssima forma, que em tantos outros locais mundo afora. Essa eu ouvi de um garotão, carrão bonito, mas que não gosta de pagar motéis. Reproduzo sem identificar o santo, a seu pedido. Ele ficou especialista em emprestar chaves de casas para alugar em imobiliárias e explica como faz: “Vou na imobiliária, digo estar interessado na casa, deixo um documento, eles emprestam a chave e eu vou lá com uma parceira. Faço o que tenho que fazer, limpo tudo, água a disposição, depois devolvo a chave e digo que vou pensar”. A criatividade rola nesses momentos e a ressalto como inerente de todos os desprovidos de muitos recursos financeiros. Cada um acaba dando o seu jeito.

Teria muito mais a ser relatado, aliás, um infinidade de histórias. Experimente papear com antigos comerciários (as) no Calçadão da Batista e ouça relatos de “fogos amenizados” nos mais diferentes lugares e situações nada convencionais. “Os locais de sexo aqui no centro dariam um livro. Tive um funcionário que se especializou em pular o tapume de uma grande construção aqui ao lado da Câmara, o de uma igreja evangélica e conheceu tudo ali bem antes dos fiéis frequentarem. Eu mesmo tenho a minha história pessoal de quando estudei na Unesp, décadas atrás e um lugar que fui muito por lá, batia cartão, era no hoje quase indevassável  ginásio, o Guilhermão. Antes era tudo aberto e era só descer as escadas. Eu e uma
grande amiga adorávamos fazer em cima de um piano que ficou anos por lá. Usei ele como cama, não tinha ninguém para cuidar daquilo e se fomos vistos nunca fiquei sabendo de nada, mas sei que por ali muitos fizeram o mesmo que eu”, conta um famoso comerciante da rua Batista, relembrando algo com uma pitada de orgulho e saudade. Isso tudo, essas histórias todas aqui reunidas possuem a intenção de desmistificar o que foi exposto no texto do jornal, quando se tentou dizer que algo pouco usual ocorre somente num país de ideologia diferente da nossa, pobre e onde tudo é feito meio que de improviso. O improviso quando se trata de sexo, ocorre, tanto lá, como aqui, como acolá. Chego a essa conclusão, vislumbrando que nos arrabaldes de Nova York tudo se processe da mesma forma, sem toalhinhas e recheados de voyeurs. Nisso Bauru e Nova York tem tudo a ver com Havana, Cuba.

11 comentários:

Anônimo disse...

acho engraçadas essas comparações "Prisão Cubana X Liberdade Brasileira", eu já transei a céu aberto nos trilhos da ferrovia, nos lados do aeroporto, aliás, próximo ao JC, ali na Capitão João Antonio ao lado do terreno da Reunidas, pais de família e travestis fazem daquilo um trepódromo, largando suas camisinhas em todo calçamento. Claro que nem vou falar das cracolândias a céu aberto....

Anônimo disse...

HENRIQUE


Essa do cara que empresta a chaves das imobiliárias e vai trepar nas casa é algo que nem os cubanos devem ter pensado. Como existe muita criatividade na hora do sexo. Deveríamos ter a mesma para chutar o balde dos conservadores.

Tenho algumas histórias minhas, mas não tenho coragem de contar e sei que esses lugares são usados até hoje para a mesma finalidade.

Ri muito e mais ainda da cara dos conservadores.

Paulo Lima

Anônimo disse...

É mais fácil apontar os problemas de lá, afinal, eles (os Zarcillos da sociedade) não possuem obrigação alguma em resolver. Quanto aos (mesmos) problemas daqui, simplesmente fecham os olhos enquanto apreciam um Brunello di Montalcino e um belo charuto cubano, tranquilos por saberem que essa indiferença não é publicada no jornal.
Danilo Carlos

Anônimo disse...

AIAIAIA, saudades dessa terra SEM LIMITES, embora tenha uma parcela da imprensa bem limitada!!!

Parabéns Henrique pelo momento literário de gozo explicito!!!!!

SONIA FARDIN

Anônimo disse...

SERÁ QUE ALGUNS DESSES JÁ PASSARAM PELO QUE OCORRE HOJE LÁ DENTRO DO CINE VILA RICA.

DUVIDO QUE LÁ TENHA TOALHINHAS, MAS GENTE ESPIANDO TEM E MUITO. E TEM QUEM GOSTE.

UM SAFADO

ArabeAlli disse...

Caro Henrique, que tal importarmos um daqueles caminhões russos e usa-lo para o mesmo fim aqui na Sem Limites?
Batiza-lo-emo de Zarcillão - é velho mas dá pro pau!

Anônimo disse...

Henrique

Zarcilão, gostei demais do nome para um drive-in em Bauru.

Vou levantar fundos para abrir esse negócio.

Luiz Henrique

Anônimo disse...

Henrique

Zarcilão, gostei demais do nome para um drive-in em Bauru.

Vou levantar fundos para abrir esse negócio.

Luiz Henrique

Anônimo disse...

Cuba para mim é o Buena Vista Social Club,
uma das maiores bandas de Jazz/Salsa/Mambo
do planeta, o jazzista Arturo Sandoval, a Célia Cruz,
background vocal em Guantanamera, junto com os
The Sandpipers em 1966, e o saudoso pugilista
peso-pesado, o Teófilo Stevenson, este sim, Medalha
de Ouro nos Jogos Olimpicos de Munique em 1972,
Montreal em 1976, e em Moscou em 1980. Em 1984
em Los Angeles, por causa do "bloqueio" do Império
Americano à Cuba, ele não participou dos Jogos. Por
várias vezes esteve muito próximo de enfrentar o Cassius
Clay, mas novamente devido as tensas relações entre
Cuba x Estados Unidos, a luta, que seria a do século,
infelizmente não aconteceu. Ele era amador, recebeu
a tentadora proposta de cinco milhões de dólares para
que se tornasse profissional e fosse morar nos EUA.
Não aceitou.
Falar de Cuba é muito dificil depois do "embargo" há mais de
meio-século, efetuado pelo Tio Sam contra aquela nação
tão avançada em termos de saúde. Lutar contra a maior
potencia economica do mundo não foi é fácil, e o Fidel lutou.
Parabens à ele, pois animal nenhum gosta de usar
coleira. Para essa blogueira aparecidinha que anda
prá lá e prá (com quê dinheiro hein?) com uma melancia
pendurada no seu pescoço, o Morgado da 94 FM
tem um recado prá ela : Vai dormir...Vai !!! (Aldo Wellichan)

Anônimo disse...

Sr. Henrique

Eu sou aqui da vila Dutra e sei que tanto aqui como em qualquer outro bairro da cidade rola um sexo danado em lugares variados. Aqui perto de casa tem uma casa, que não é abandonada, está desocupada e está até cuidada. Ali já vi, por ser quase em frente da minha, uma infinidade de gente, muitos conhecidos da comunidade irem ali para fazer sexo. Eu não denuncio nada, pois fazer sexo é muito melhor do que o que acontece em outros lugares, onde usam esses lugares para consumo de drogas. Vejo o jeito dos que entram, meio ressabiados, um na frente e depois o outro e quando saem o fazem mais alegres. Comemoram a vida. Eu até me divirto com a constante repetição da cena. Se fosse levar na base da brincadeira, como fez outro aqui num comentário, deveria colocar uma placa lá na frente informando ser ali o ZARCILÃO? É isso? Que o sexo se prolifere das mais diferentes formas. Aqui no bairro nos meus tempos de moleque e depois juventude fazíamos em cada cantinho que nem te conto.

Jesus

Anônimo disse...

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