sexta-feira, 22 de outubro de 2021

UM LUGAR POR AÍ (153)


FACHADA PARA PEGAR INCAUTOS - PROJETOS DO MEIO AMBIENTE QUE NÃO VINGAM DE VERDADE
Jair Bolsonaro é especialista nisto: ele fingiu ser defensor do Meio Ambiente e da Amazônia até na ONU, quando mentiu descaradamente para o mundo ao dizer proteger o que, na verdade devasta. Tínhamos até pouco tempo um ministro do Meio Ambiente que passava a boiada, ele mesmo se deixando fotografar ao lado de toras de árvores devastadas e marginalmente contrabandeadas. Um discurso e com legislação existente apregoando defender algo, mas na prática exatamente o contrário.

Quem me diz que o mesmo não acontece em Bauru? Digo e aponto onde. Neste exato momento tramita pelas hostes da Prefeitura Municipal de Bauru, administração da fundamentalista bolsonarista Suéllen Rosim algo muito parecido. Primeiro, estamos nos tornando campeões na devastação de árvores urbanas, primeiro com as da praça Portugal, depois muitas outras em beiradas de ruas e alargamento de pistas, culminando com esse crime ambiental que ainda perdura, o das mais de 40 árvores na beirada do jardim Araruna. Isso é parte do que apresento a seguir.

Projetos ambientais, tendo como pano de fundo a preservação, regulamentação e até mesmo ampliação de áres neste sentido. No papel tudo muito bonito, mas como diz o ditado, "apenas para inglês ver". Por detrás do pano, no frigir dos ovos, algo para atender interesses de pequenos grupos, quase todos ligados umbilicalmente à especulação imobiliária, daí, sem dó e piedade, algo sendo feito para burlar a legislação. Avaliem essa página na SEMA - Secretaria do Meio Ambiente de Bauru (https://www2.bauru.sp.gov.br/semma/) e constatem com tudo o que anda acontecendo. A legislação é linda em todos seus detalhes e meios existentes para exigir, cobrar e fazer cumprir, mas nem sempre todo esse aparato é colocado em prática. Tudo fingimento, tudo história de carochinha, parte do embromachion, do engambelamento. Não foi isso o que aconteceu no caso lá da praça Portugal? Mesmo com tudo isso, deram um jeito, um órgão avaliou e o outro nem foi consultado. Quando necessitam passam por cima de um que pode criar problema e só evidenciam o de outro, onde a aprovação é mais fácil.

Tudo isso, a legislação existe é usada para reforçar e fazer passar a boa imagem, a de defensores de uma coisa, mas nem sempre na prática é assim. Vejo em andamento dois projetos lá na Água Parada, belos por fora, mas sem nada de novo por dentro. Na verdade, sempre existiu algo para favorecer os donos do poder, a especulação imobiliária, que vende tudo, faz dinheiro com tudo o que encontra pela frente, sem nenhuma dó e piedade. Em Bauru uma das maiores áres de preservação ambiental do estado de SP, algo de constante investidas dos que se dizem progressistas. Na verdade, lutam para flexibilizar, desmontar legislação existente, tudo para vender, fazer grana, nada mais. Quem sempre sai perdendo é o meio ambiente ou mesmo as população mais careentes, sem voz ativa e mesmo com Plano Diretor, tudo o mais, sempre por uma brecha, o desmonte. Essa a realidade.

PEDIDOS DE SOCORRO*
* Meu 36º texto para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo:

Circulando pelas redes sociais me deparo constantemente com pedidos variados de socorro. Eis um dos que mais me sensibilizou nessa semana: “O povo vem de fora e consegue emprego. Eu sou nascida e criada nessa cidade, não consigo, nada tenho. Aluguel, água, luz pra pagar. Como sobreviver sem emprego? As contas não esperam cair dinheiro do céu”. 

Não quero identificar a pessoa. O sentido do escrito é outro. Trata-se de desabafo de alguém de cidade pequena, arredores de Bauru, menos de 5 mil habitantes. Desses que, impossível a leitura e o passar batido, fingindo nada ocorrer, ou melhor, está ocorrendo por aí. Isso que essa pessoa sofre é o que mais vejo florescer nestes tempos. O Brasil quebrou e as ruas estão cheias, abarrotadas de pessoas no desamparo, cada vez mais necessitadas do básico, do mínimo, do que lhe dá dignidade para continuar vivendo.

Fui olhar melhor e descobri que a pessoa desta mensagem possui um agravante, ela é transexual. Muito conhecida em sua cidade, vive de um pequeno negócio de festas, mas tudo mais do que convulsionado nestes tempos. Para estes, como se vê, as portas se fecham ainda mais. Circulei semanas atrás com o jornalista André Fleury Moraes, do DEBATE, pela praça mais famosa de Bauru, a central Rui Barbosa e ali, grande incidência de transexuais, todos vivendo na rua, sem eira nem beira. André vai escrever deles, mas me antecipo e junto os dois momentos, cada qual angustiante e doloroso.

Em Bauru nunca vi tanta gente em situação de rua como nos tempos atuais. A crise já atingiu algo nunca visto. Já é dado como normal ver gente morando em barracas, até então, pouco usual por aqui. As marquises estão cheias, espaços livres debaixo de viadutos loteados e com divisões de espaço de doer nos ossos. Por onde passo diariamente, uma cobertura de vinte metros, antiga área de lazer, hoje fechada, completamente dividida, ultrajes como divisórias, cada qual ocupando diminuto espaço, insana luta para não dormir no total relento. 

Dentre todos, impossível não notar a incidência de muitos homossexuais e mais do que perceptível como sofrem mais. Além de tudo, o maldito preconceito. São histórias muito mais impactantes do que o relato aqui selecionado, de alguém ainda com amparo, porém ciente de que, se todos lutam, ela terá que o fazer até acima de suas possibilidades. Dias atrás, uma transexual bate em minha porta. Pede para que chegue bem perto e me diz, separados pela grade, olhando em meus olhos: “Eu não quero comida, não quero dinheiro. Eu queria tomar banho. O senhor não me deixa fazer uso dessa sua mangueira”. Abri o portão, a torneira, prendi o cachorro, mas não fiquei presenciando a cena. Entrei e alguns minutos depois quando voltei querendo conversar, ela já estava longe. 
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

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