sexta-feira, 13 de maio de 2022

BEIRA DE ESTRADA (151)


SERVIDORES E O ASSÉDIO INSTITUCIONAL - UM LIVRO DISSECA O TEMA DO QUE OCORRE PRINCIPALMENTE NOS GOVERNOS DE CUNHO BOLSONARISTA
A prática não é de hoje, nem pode ser creditada somente ao governos atuais, tanto o federal, como os estaduais e municipais de cunho bolsonarista, mas cresceu substancialmente as denúncias de práticas abusivas neste período de pouco mais de três anos de desGoverno do capiroto, o da desmedida, deslavada e quase ritual exercício do assédio constante aos trabalhadores públicos. Um livro acaba de ser lançado e joga luz sobre o assunto: "Assédio Institucional no Brasil - Avanço do Autoritarismo e Desconstrução do Estado", vários autores, editora Eduepb, 805 páginas.

Fenômeno sociológico e jurídico novo e perturbador, já considerado como instrumento patológioco de gestão. Os governos bolsonaristas não convivem muito bem com a democracia e querem que tudo gire conforme sua linha de pensamento, daí burlam a legislação descaradamente e na base da pressão exercem a mudança para favorecer seus interesses, levar a cabo seus intentos político-ideológicos. Milhares de denúncias de servidores que, atuavam sem problemas dentro de seus setores, mas por discordarem da nova linha de conduta, autoritária e mesmo fora da lei, não aceitaram sair do script e daí, foram perseguidos, cassados e transferidos. Em seus lugares, colocados servidores servis e que aceitam fazer tudo de olhos fechados, sem pestanejar. Uns são perseguidos, outros, os que se submetem ascendem a postos e na maioria das vezes, nem possuem qualificação para tal.

Existe clara escalada contra a democracia, feita através deste assédio institucional, tipo de ofensiva autoritária contra as liberdades fundamentais do servidores públicos que na maioria das vezes se vê desamparado, sem respaldo para reagir e daí, alijado e sem forças, perde suas funções e no seu lugar, adentra a aberração como formato, não só comportamental como organizacional. São métodos fascistas de transferência de pessoas e com objetivos de destruição da máquina pública, pois quebra a legalidade e institui seu modus operandi, o autoritário e sem controle, ou melhor, controlado por "eles". Vieram para colocar em perígo a tênue unidade social e territorial brasileira. Com este último ano do capiroto na presidência, o combate ao assédio institucional é forte na esfera federal, mas ainda insípido na esfera municipal, onde prefeitos terão mais alguns anos de governo, daí, como se sabe, isso ocorre e muito também nessas esferas. Nada melhor do que permanecer atento e ir denunciando cada ação deste tipo. Podem notar, na imensa maioria das vezes, sempre tem bolsonarista por detrás de tudo.

UMA PERSONAGEM
THEREZA, AOS 80 ANOS, ANDA SÓ PELAS RUAS E ME PEDE: "VOCÊ CONHECE ALGUÉM DO GOOGLE? QUERO TRABALHAR LÁ"
Thereza mudou muito pouco. Sei lá, mas nipônico envelhece mais devagar, pois da última vez que a vi, sempre do mesmo jeito e fazendo as mesmas coisas. Ela num saguão de um mercado, me reconhece e pergunta meu nome. Quando lhe digo, ela se lembra de imediato de minhas irmãs, Helena e Erci, depois cita minha mãe. Diz que estou muito mudado. Sei disso, o tempo urge e aos 62, dó tudo. Pergunta de todos e por fim me arrebata com uma pergunta, que fico sem saber direito como lhe responder:
- Você que lê tanto, me diga como faço para entrar em contato com o Google? É que eu quero trabalhar no Google, eu sei digitar muito bem e tenho ideias boas para implantar. Queria uma oportunidade de trabalhar pra eles?

Não a desistimulei, tentei matutar em como ajudar e por fim, o que consegui lhe passar de informação:
- A senhora sabe, o google não tem endereço em Bauru e nem no Brasil, né?
- Sim, eles são norte-americanos, não?
- Isso, daí, só vejo como entrar em contato com eles, se descobrir o endereço deles entrando no próprio Google. Lá deve ter no mínimo um meio de contato.
- Vou tentar. Você me conhece, sabe que não gosto de ficar parada e fico pensando em como posso ajudar os outros e para o Google tenho umas ideias que só conto pra eles. Mas primeiro vou ter que descobrir eles e me darem uma oportunidade. Você acha que consigo?
- Se a gente não tentar não vai descobrir nunca se vai ou não conseguir. Faço votos que consiga.
EM TEMPO: A foto dela é de 2014.

Dela escrevi em 16/02/2014: "THEREZA YOSHINO já passou dos 70, não gosta de revelar a idade para qualquer um, professora aposentada, “catedrática”, como gosta de salientar, o que para ela significa ter sido “concursada”. Começou dando aulas lá nas barrancas do Paraná até conseguir vir para sua Bauru. Solteira convicta, não gosta de viver entre amarras e nem de ficar presa entre quatro paredes. Vive nas ruas, andando como pode (quase sempre de ônibus), mas não deixando de ir onde algo estiver acontecendo e ela ache que lá precise estar. Na noite de ontem estava, 23h30 no Made in Brazil vendendo cartelas do Bauru Cap, não por necessidade (“ganho meros R$ 1 real por cartela”, diz), mas por ter motivo para ver gente, conhecer pessoas. Mora ali perto, duas quadras do Parque Vitória Régia, junto dos irmãos, sendo a mais falante, comunicativa e “rueira” (no bom sentido). Na última eleição, acabou saindo candidata a vereadora pelo DEM e me confessa: “São meio elitistas, não?”. Thereza, por tudo o que vê e ouve pelas ruas, pode até ser enganada, percebe as “roubadas” que se mete ao longo de sua vida, mas de uma coisa não abre mão, a de continuar podendo, enquanto forças tiver, de bater perna. “Rua é tudo”, me diz".

BAURU DE “SEM LIMITES” PARA “AREIA MOVEDIÇA”*
* 60º texto deste HPA para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição de amanhã:

O cenário de cada cidade tem certa semelhança com algo e assim passa a ser chamado. Aqui em Bauru, dois ilustres professores, Dalva Aleixo, criadora do termo e Jeferson Barbosa da Silva, o Garoeiro, ambos aposentados da Unesp Bauru, propagador maior, me instigaram a começar a fazer uso também do AREIA MOVEDIÇA para designar o que ocorre na vida intestina desta aldeia, a conduzindo para caminhos sempre tortuosos e com ligação umbilical com os interesses dos tais poderosos de plantão, os donos do poder, ou como queiram também por aqui “os forças vivas”. Na verdade, o termo cai como uma luva, tanto que, Jeferson ao se deparar com algo novo ocorrendo na cidade e conspirando para ficar tudo acertado entre os quetais vetustos, me provoca: “A areia movediça da sem limites é um fluido não-newtoniano tão pavorosamente dominante e abrangente que não perdoa nada e ninguém!”.

Ando tendo pouco contato com Dalva – o que é uma pena! -, mas com Jeferson, bem mais, tanto que, mês passado, escapuli e fui verificar in loco como se dá esse seu exílio voluntário em Natal RN, tantas milhas distantes daqui. Ele preferiu manter distância, talvez para resguardar o olfato, mas continua se informando diariamente, ouvindo e lendo de tudo, dando seus pitacos através de dicas para diletos amigos, dentre os quais me encontro. Falamos demais das ocorrências rotineiras destas plagas, todas com final meio non sense, bem ao estilo da tal “areia movediça”, a que envolve todos e poucos conseguem escapar de seu manto xexelento. Tudo por aqui acaba, quase que inevitavelmente, caindo na vala comum, dentro do lodaçal da tal areia e o resultado do que ocorre no campo político, foge pouco de um resultado já mais do que imaginado. Mas o que seria isso? É o tal do “todos caminhos levam à Roma”, que no caso bauruense, levam para o areial.

O centrinho, o hospital labiopalatal, referência mundial, sendo repassado na bacia das almas para mais uma OSS, dessas que a gente sabe o destino que vai ter. O caso Cohab, com o ex-presidente afastado com milhões achados em sua casa e vereadores sendo acusados por meras despesas de viagens, nada mais. Dizem que, o areial não permite que nada seja divulgado além disso, pois envolve graúdos do staff local. Uma CEI – Comissão Especial de Inquérito investiga a compra pela prefeita de edificações superfaturadas no apagar das luzes do ano passado, mas as investigações emperram, pois a vereança está mais do que dividida e os apoiadores da administradora travam um resultado elucidativo. Um vereador é preso pela prática da rachadinha, outro grita que muitos surgirão, pois a prática é usual, mas o tempo passa e tudo é dado como praticamente esquecido. A ETE – Estação de Tratamento de Esgoto, maior grana já recebida para obra pública na cidade está paralisada pela vigésima vez, num jogo de empurra, sem solução e o dinheiro carimbado em vias de ser devolvido para cofres federais. E nessa semana, o economista (sic) Reinaldo Cafeo entrevistando Sergio Moro com rapapés de que o gajo não é e nunca foi merecedor. Em terra de astronauta negacionista tudo é possível.

A política de cada cidade possui os seus “generais”, a maioria golpistas e criadores de caso, agindo na surdina e prontos para o que der e vier, ações sem que a maioria tome conhecimento do que na verdade está ocorrendo. Aqui, por ser cidade com mais de 400 mil habitantes, aglutina e converge de tudo um pouco. Empreiteiras estão por aqui centralizadas, órgãos públicos idem e dizem também, muitas das cabeças pensantes regionais, fazendo com que, muitas das ocorrências de grande vulto em âmbito regional tenham está aldeia como palco. Vivemos e vemos de tudo um pouco. Isso não é privilégio e sim, sem modéstia, palco ou melhor, a localização do endereço, o CEP da areia movediça. Seus próceres estando aqui, mesmo tentando escondê-lo no meio do pântano, isso não é possível. 

Nessa semana brinquei e Garoeiro me elogiou quando escrevi que o único por aqui que consegue se salvar deste pântano é Tarzan, que com seus cipós, mesmo com o corpo sendo engolido pelo barro movediço, consegue fazendo uso de forças sobrenaturais se livrar da morte. E me lembra num e-mail – ele não possui facebook: “Caríssimo Mafuento mor, essa de você lembrar de Tarzan, como o único que conseguia agarrar-se aos cipós e sair, escapar da areia movediça, foi boa demais! Segundo a Dalvinha, "Em Bauru, nem a areia movediça é honesta". Sugere, pois, o Garoeiro: reúne os carnavalescos do bloco carnavalesco do "Tomate" para um pagode: "Chame o Tarzan!" Cá entre nós: haja cipó! Abraço”. Tenho certeza, depois de anos se utilizando do slogan “Cidade Sem Limites”, Bauru já tem novo para chamar de seu, “Cidade da Areia Movediça”. Eu só um propagador do termo.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

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