NÃO É SOMENTE BAURU VIVENDO O CLIMA DE FORA DA LEI, MAS TODO O PAÍSO extremismo da ultra-direita chega a limites cada vez maiores. É sabido que, estes estão aí para tornar o país um ditadura, se possível devolvendo o poder para o seu líder, o hoje condenado Jair Bolsonaro. Na Câmara dos Deputados, o presidente Hugo Motta escancarou de uma vez por todas suas reais intenções e para quem está a serviço. Suas últimas atitudes são verdadeiras aberrações jurídicas, num protecionismo descasrado para favorecer o lado mais pérfido deste país. O processo de cassação do deputado do PSOL Glauber Braga é só a ponta deste iceberg. Acelera este processo, mas senta em cima do do Bolsonaro e Ramagem, foragidos nos EUA e de Carla Zambelli, presa na Itália. São dois pesos e duas medidas. Sua calhordice segue quando aciona a Polícia Legislativa para retirar Glauber do plenário, mas não agindo da mesma forma quando os de sua linhagem política o fizeram por três dias. A estratégia de complicar o país, mesmo ele estando em franco progresso, algo mais que palpável é a forma de agir dos mais perversos, fazendo de tudo e mais um pouco - como se viu hoje -, para contra a própria Constituição, agir e promover a desordem nacional.
Se o momento é grave lá pelos lados de Brasília, não é diferente na maioria das Câmaras municipais país afora. Numa dela, interior de Minas, um vereador recebeu propina e expõe o dinheiro oferecido para votar favorável a uma composição na Mesa daquela Câmara. Isso, pelo visto, não difere de muitas outras, diria centenas delas, mas a diferença é que, na maioria os acordos financeiros ocorrem e tudo continua como dantes, em segredo. Aqui em Bauru, o ocorrido ontem com uma votação se estendendo até por volta da madrugada, vencida pela incomPrefeita Suéllen Rosin, 11 x 9, mas contestada pela ilegalidade de como o presidente Marcos Souza conduziu os trabalhos. Tudo para favorecer Suéllen, impondo para os seus uma urgência, sem que o projeto tivesse nenhuma planificação de execução. Ela impõe aprovação sem seguir normas, regras, rituais e um mínimo de embasamento. E aprova no grito.
Este clima de desordem hoje tem nome e sobrenome. O Brasil foi varrido por uma onda mais que conservadora. O domínio da imensa maioria dos parlamentos hoje país afora estão nas mãos de quem já deixou de defender os interesses de sua cidade, estado e país. O fazem para defender interesses próprios, benesses pessoais e na maioria das vezes, agindo fora da lei. A Justiça, mais precisamente o STF tenta de todas as formas manter tudo dentro do enquadramento previsto pela Constituição. Não está sendo fácil. O domínio dessa facção direitista está promovendo uma ruptura com a legalidade. Isso por todas partes. Ou o povo sai pras ruas, promove muita pressão ou pelo que se vê, o país num todo irá se deteriorando. O país foi pras ruas recentemente e numa demonstração de força, obrigou a Câmara dos Deputados a recuar em decisões fora do contexto. Ou isso volta a ocorrer neste momento, obrigando vereadores, deputados estaduais e federais, senadores a rever seus posicionamentos ou, pelas suas descabidas ações, o caos estará estabelecido. Essses interesses espúrios não podem vingar sobre os de Regimentos Internos e a própria Constituição.
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| Estes agem em Bauru, igual ou até pior do que vemos acontecendo em Brasília. |
outra coisa, enfim, espairecer é preciso
* Enquanto o pau come feio nas instâncias políticas, daqui e dali, por todo lugar, tento desviar bocadinho deste foco e escrevinho sobre algo mais que pessoal.
Ando nos últimos tempos num vai e vem constante para o distrito rural de Tibiriçá, distante uns 16 km de Bauru. Enfronhado num projeto de recolher depoimentos de moradores do lugar, em cada contato, sempre surpresas agradáveis. Primeiro, porque busco rememorar algo guardado lá no fundo da alma e do coração dessas pessoas. Ouvir aquilo me enche de gás para continuar fazendo o que gosto de fazer. Surpresas me aquecem por dentro e por fora. Conto uma dessas.
Estava semana passada colhendo o depoimento do seu Rubinho, 65, aposentado e amante do verde, sendo sua casa um verdadeiro paraíso. Casa de madeira, com tudo no lugar, parecendo um cenário montado para um filme sobre os cafundós do mundo. Na frente de sua casa, como acontece uma vez por mês por ali, uma barraca vendendo roupa feminina. Não sei se chamo aquilo de brechó, pois o que vi ali na calçada é uma loja, só com roupas novas. Quem comanda a coisa é EUNICE SANTOS, 63 anos, conhecida também por sua banca na feira dominical, agora localizada na quadra da rua Julio Prestes, entre a Antonio Alves e a Gustavo. Atua na mesma feira há algumas décadas e quando me vê, relembra algo a me encher o dia de boas recordações.
"Eu conheci muito sua mãe, Eni Perazzi de Aquino", conta. Minha mãe foi uma das fundadoras da Associação de Artesanato de Bauru e depois de aposentada, não conseguindo ficar presa dentro de casa, produzia de tudo, desde vidros decorados, panos variados e muito de pintura em tecido. De minhas recordações, todo domingo, a levava pela manhã na feira, onde a ajudava montar sua barraca, tempos da quadra na Ezequiel Ramos e depois das meio dia, voltava para ajudá-la desmontar, levando tudo para sua residência, logo ali, depois dos trilhos. Pois quem trabalhava ali aoseu lado, uma dentre tantas era justamente Eunice.
Com sua recordação, parei por instantesde fazer o que ali me trazia e fiquei ouvindo suas histórias na feira. O filme da vida volta na memória e nela, minha mãe e de como fazia para que pudesse continuar sonhando, realizando-se como pessoa humana e dos relacionamentos com todos ali à sua volta. Lembro de muita gente, mas nada de Eunice. Ela conta muito de minha mãe. Diz que minha mana, Helena Aquino, sabe muito daquilo tudo e continuam mantendo relacionamento conversativo até hoje. Fiz questão de não só lhe dar aquele baita abraço, pois quando alguém revira as entranhas de nossa memória, algo de salutar acontece e nos faz sairmos da realidade vivida no momento. Com este transporte ao passado, logo depois passo na feira dominical e vejo a mesma loja que vi lá em Tibiriçá transportada para a feira, com tapete e tudo na entrada. Minha mãe vivenciou isso tudo e, felizmente, como recordação, guardo algumas peças, alguns panos de prato e garrafas pintados, como jóias raras. Infelizmente não sei que fim levou sua barraca. Vou em busca de fotos daqueles anos. Eunice revirou bocadinho minha vida.
AMENIDADES (2) MEU PAI*
AMENIDADES (2) MEU PAI*
* Eu sei, o momento é pau puro, política perversa nos calcanhares do povão, mas tenho que dar meu breque e relatar algo ocorrido dias atrás comigo.
Eu comento sempre que posso - e posso quase sempre - sobre essa divinal banca de livros da Feira do Rolo, a do Carioca. Ele não só revende livros, como esperança, ou seja, um lugar, para aos domingos, chegar e se sentir bem consigo mesmo. Bato cartão religiosamente e me sinto muito mal quando não consigo ali estar aos domingos. Ele, sempre que me vê checgando, vem logo com aquele baita sorriso, me oferece uma cerveja - nem sempre gelada, mas tudo bem - e me diz: "Comprei mais uns treco por aí e dentre eles, algo que é a sua cara. Não lhe vendo, lhe dou como forma de expressar minha amizade". Como não gostar de uma sujeito destes. Carioca fez minha cabeçe e hoje, reproduzo suas histórias com orgulho. E ele tem muitas para contar. Bom de prosa igual a ele deve existir, melhor, sei não.
Neste último domingo, chego e ele me acerca: "Sei que gostas muito de ferrovia, eis o calendário que ganhei junto com umas compras de LPs, isso do Silvio, o antigo dono da Discoteca de Bauru". E me apresenta uma celendário, o "Estações 2005", nele fotos de muitas daqui da região, como as de Borebi, Virgílio Rocha, Alfredo Guedes, Pederneiras, São Manuel, Lençóis, Torrinha, Botucatu e uma, que não existe, mas me diz muito, Capim Fino. Peguei aquilo e comecei a tremer ali diante dele. Tudo foto das antigas Cia Paulista, Sorocabana e Araraquarense, com texto de apresentação do CArlos Nascimento e projeto gráfico do Caio Vannini. Todos tiveram belas recordações ferroviárias em suas vidas. Conto a minha.
Capim Fino não existe mais. Meu pai, Heleno Cardoso de Aquino, foi ali chefe de estação, lá pelos idos de 1964, ano do fatídico golpe militar. Ali me queimei, costas inteira pela água quente de uma chaleira atirada pela janela extamente no dia do golpe, 31/03/1964. Tenho duas fotos do lugar, mas nada. Capim Fino pertence ao município de Mineiros do Tietê e terras hoje pertencente à família Sbeghen. Meu pai trabalhou no trecho existente, nessa ferrovia, entre Dois Córregos e Barra Bonita, hoje nem sequer um mero tijolo existe por lá para confirmar ter existido. As fotos resistem ao tempo. Dos meus quatro anos, vaga lembrança do dia em que me queimei e "aquelas plataformas de de pedra foram testemunhas de nossos primeiros amores" (Carlos Nascimento).
A lembrança de meu pai com o quepe na cabeça me veio na memória. Tempos atrás, passando ali na estrada que liga Mineiros com Barra Bonita, tentei achar o local da estação. Perguntei, assuntei, preferi não adentrar lugares sem lembrança física. Ainda encontro resquícios e gente que viveu aquela época. O calendário presentado coaupará lugar de destaque em meus guardados. Com a foto tirada em 1912, arquivo da família Sbeghen, página 2 do calendário, relembro de meu velho pai e de como o via trabalhando com dedicação e amor por essas ferrovias todas, findando seu ciclo na maior delas, a Cia da NOB, na praça Machado de Mello. Vislumbrei meu pai em Capim Fino e de mim e meus irmãos correndo ao redor da estação e cachoeira junto da de Mineiros. meu mano Edson nasceu em Mineiros. A ferrovia continuará dentro de mim ad eternum e de Capim Fino, algo muito além de minha recordação gravada no corpo, a queimadura. Fisicamente nada mais daquilo existe. Carioca me proporciona tudo isto e muito mais. Adoro ser seu amigo.








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