quarta-feira, 13 de novembro de 2013

RETRATOS DE BAURU (148)


MESTRE CYBORG, 63/36 É UM EXEMPLO PARA TODOS NÓS

VALDIR MARTINS ANTUNES é policial militar reformado e conhecidíssimo em Bauru por causa de sua academia de artes marciais, a Yoshida, montada quando na TV um personagem fazia maior sucesso, CYBORG. O apelido que o acompanha vem de um acidente sofrido, mais de 40 dias engessado como o personagem e Valdir dele se orgulha. Mais importante que tudo, dos seus 63 anos de idade, dos 36 de atividade de sua academia na rua primeiro de Agosto, subindo a famosa escada, está a filosofia de vida embutida em sua forma de atuar, viver e agir. Só para terem um exemplo, Cyborg é contra essa massificação de corpos esculpidos em academia, pois ciente de que cada corpo tem sua limitação, me diz: “Pode ter certeza, corpo muito avantajado no esporte de alto rendimento é corpo doente e vida curta”. Sua malhação é outra, a da “manutenção da saúde, flexibilidade e agilidade”. Faixa preta do karatê, não faz apologia gratuita do que faz, muito menos da violência, sendo outra sua pregação . Não busquem no seu local de trabalho algo rebuscado com visual tridimensional, mas tudo no devido lugar, sem pompa e ostentação. Pessoa simples, de bem com a vida e sabendo usufruir dela o algo mais, sem excessos. Num outro momento me diz: “Três são os pós brancos mortais para o ser humano, a cocaína, o sal e o açúcar. Do primeiro nunca fiz uso, do segundo e terceiro aboli o uso deles e não me fazem falta nenhuma”.
Sua flexibilidade é a prova de que o que faz é mais do que saudável (e recomendável). Mora na rua Batista pouco acima da Nações e na esquina de baixo de sua casa, um famoso ponto de prostituição. Dia desses vendo de sua sacada um valentão agredindo um travesti desceu e ia tentar apartar a contenda, mas foi impedido por esse, que aos berros lhe disse: “Suma daqui, que te mato. Atiro em ti”. Rua escura, sem saber se era verdade ou não, recuou e voltou para sua casa. Resignado me diz, que nem isso pode mais fazer. O catarinense mais bauruense que conheço resiste com sua academia numa área degradada da cidade, faz o que gosta e prova que não é preciso estar sintonizado e dizendo amém para tudo o que seja moderno para fazer o certo. Cyborg é um belo exemplo de como é possível viver bem diante de tantas tentações consumistas à nossa volta e mantendo um recomendado distanciamento dos modismos da era moderna. Ele pode até envelhecer, mas a filosofia por detrás dele nunca. Ele o maior exemplo de sua eficácia.
OBS.: O mesmo texto sai também publicado no facebook e aqui algo reverenciado o feito, o 300º por lá. Trezentos foram os espartanos lutando contra o império persa numa épica batalha. Uma moto com 300 cilindradas é de uma potência inimaginável, assim como ventos com mais de 300 km/h são devastadores (vide o que ocorreu agora nas Filipinas). Tudo isso para enaltecer o fato que chego hoje ao 300º perfil desses Personagens Lado B de Bauru. Pouco menos de um ano (completarei um ano em 29/11) de escrevinhações e tanto ainda por fazer e lembrar. Hoje, no exato dia do homenageado de data redonda precisava fazê-lo com alguém mais do que especial, mesmo ciente de que todos são mais do que especiais. Vasculhei minha memória e ontem fui buscar alguém por quem gosto muito, um exemplo positivo dentro desse degradado mundo atual.

6 comentários:

Anônimo disse...

Henrique, que homenagem!! Acho que uma das mais pertinentes já lidas. Cyborg, no auge, lá pelos idos dos anos 80, foi meu professor de Karatê. Não só meu, como de meus irmãos. Na ocasião da matrícula, recebeu-nos e junto meu pai, no topo da escadaria; E como não lembrar da data? Com a calça do quimono e sem camisa, cara de bravo e com aquele bigodão imponente e o tradicional "OSS, COMO VAI MEU JOVEM?". Ainda nos fez dar socos na barriga dele, os quais foram dados com o consentimento de meu impressionado pai. hehehe. Pessoa digna de homenagem, o Cyborg, não aceitava que fosse usado o karatê para brigas ou intimidação. Fazia-nos descer e subir as escadarias, agachados, para dar massa muscular. Isso quando não subíamos e descíamos correndo a Nações Unidas até o trevo da Rondon. Saudades!!
Paulo Roberto Proença

Anônimo disse...

Grande Cyborg. Saudações
João Andrade

Anônimo disse...

Todos nós temos nossos ídolos, nossos heróis, nossas referências, são o reflexo do que somos, o que forma nosso caráter, nossa cultural, para o bem ou para o mal.

Felizmente só tive boas referências, ídolos que se misturam a minha pessoa, caras como Che Guevara, Fidel Castro, The Beatles, personagens que quando algum amigo vê, logo liga a minha pessoa e não há como não associar-me a figura do Professor Cyborg, pois esse foi o ídolo, o herói e a referência presencial, cresci dentro da academia, aos olhos do mestre, o caráter, a garra, o jeito de falar, ainda mais quando começo a esbravejar, a semelhança com ele não é mera coincidência.

Todos os que se dizem revolucionários, defensores de uma causa nobre, deveriam aprender algo com o Professor Cyborg, aprender a ser homem de verdade, ser autêntico e ter forte caráter em primeiro lugar.

De todas as pessoas que conheci nesta cidade, este mestre é o que realmente me levou a algum lugar, a encontrar comigo mesmo, sem ceder jamais as imposições do que a podre sociedade quer. Resistimos.

A Academia Yoshida do Professor Cyborg não é minha segunda casa, e sim a primeira, onde vivi todas as etapas da minha vida, onde me tornei humano de verdade, impossível não me sentir um legítimo filho desta casa.

OSS Professor Cyborg

Camarada Insurgente Marcos Paulo

Anônimo disse...

Henrique, tomei a liberdade de publicar no Vivendo Bauru com link ao seu blog, ok?
Responda concordando ou se quiser, poderei retirar.
Um abraço


Renato Cardoso

Marcelo Ranas disse...

Meu querido mestre...1986 em diante frequentei essa escola acho que foi a época mais badalada...mestre Takashi Shimon vinha para exames de mudança de faixa...Meu Deus passou um filme agora...vida longa ao mestre Ciborg.

Unknown disse...

Oss!!! Tenho buscado na memória as lições que tive com o mestre Cyborg.

Lembro de sua postura austera e sóbria, que nos trazia clara referência à original cultura do karatê. Voltei ao tatame em 2020, agora com meu filho, depois de 37 anos.

Fiquei emocionado em localizar essa notícia deste grande e honrado homem, que com sua vida construiu um memorial de amor e respeito à arte das mãos vazias.

Vida longa e feliz ao mestre Cyborg.

Davis Barbosa da Paixão