DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (58)

ELEIÇÃO DO PT JÁ FOI PARAR NO PLANTÃO POLICIAL – OS MOTIVOS CONTINUAM EXISTINDO

Hoje é dia de eleição no PT – Partido dos Trabalhadores em Bauru. Três chapas concorrem à Direção Municipal e no centro da disputa o mesmo casal que domina o partido com mão de ferro e atitudes nada convencionais, desde quando conseguiram a hegemonia da legenda. Faço questão de lembrar uma antiga eleição, a que consolidou o poder de Batata e Estela na cidade e deixou claro os meios usados para se chegar e permanecerem no poder. A manchete do JC de segunda, 08/12/1999 deixa claro o que ocorreu: “ELEIÇÃO DO PT FOI PARAR NA DELEGACIA – Acusações de agressões fizeram com que um grupo de militantes registrasse BO. A eleição foi cancelada”. Ainda na primeira página isso: “...houve acusação de agressão a militantes contrários ao vereador Batata, que foi acusado de promover o transporte de leitores, proibido no estatuto do partido. Para Roque Ferreira houve uma prática de “gangsterismo”. A candidata Estela Almagro foi acusada de não estar pagando a contribuição com o partido, o que a deixaria de fora da disputa. Além de Estela pleiteavam o comando do partido Maria Aparecida Faria, apoiada pelo grupo de Jesus Garcia e Tatiana Calmon, ligada a Ferreira”.

Para mim foi um dia inesquecível. Munido de um máquina fotográfica fiquei fotografando a chegada de vans com eleitores no local de votação e quando fazia o registro, o motorista de uma delas veio em minha direção de forma ameaçadora. Corri até a Câmara e, consequentemente para o Plantão Policial, ali na Bandeirantes com Virgilio e juntando-me a outros militantes fomos todos fazer um BO. Melamos a eleição, pois tínhamos a plena certeza de que o que estava em curso não coadunava com a linha de pensamento e ação do PT. Hoje, infelizmente ouve-se que isso continua a ocorrer. Só para exemplificar, naquele dia, vi diante do Sindicato da Construção Civil, chegando com um grupo minha ex-sogra, que nem sabia direito o que vinha a ser aquela disputa, mas lhe pagaram a anuidade e a trouxeram de van para votar. Foi uma vergonha e muitos nomes, como o dela continuam figurando como membros do partido e ajudando em toda eleição a consolidar e garantir a permanência de Bata e Estela na direção do PT.

Denunciamos isso de tudo quanto é forma e maneira para as direções estaduais e nacionais, mas nunca nada foi conseguido. A justificativa era a de que Batata possuía um mandato. A justificativa de Estela, dada ao JC foi essa: “O PT tem mais de dez militantes com vans, o uso de carros pelos eleitores pode ter sido espontâneo, para facilitar o transporte”. Roque rebateu também no JC: “Nunca vi isso no partido. No PT tem de tudo, menos gangster”. Dirigindo uma dessas vans, Nivaldo Goulart Soares, que meses depois pede a mim que retire queixa contra ele (e o fiz), para não prejudica-lo no serviço público onde atuava como investigador de polícia. Minha declaração ao jornal foi a seguinte: “Correram atrás de mim, ameaçando atirar e gritando pega ladrão. Se eles não estivessem fazendo nada de errado não teriam partido para a agressão”. 

A repercussão foi imediata, gerando troca de acusações e inflamadas falas e escritos. Várias cartas saíram no JC nos dias seguintes. Algo inesquecível foi o escrito pelo Broncolino em sua coluna de 7/12/1999: “Depois de suspensas as eleições do PT devido a acirradas divergências, outro dia será mercado. E que ninguém acabe de cara marcada. (...) Como já disse, foi parar todo mundo na polícia. Na polícia houve um abuso de ‘acuso’ que, no fim, sobre os desentendimentos a polícia nada entendeu. (...) Um xingava daqui, outro dava uma banana lá. Outro ainda empurrava acolá... Com gente assim determinada, o sururu não terminava. Um policial desabafou: ‘Ah se o PT soubesse discutir e brigar com os adversários como brigam entre eles!’”. O cartunista Fernando na página 2, tascou uma charge de um balaio, briga de gatos e na página interna a manchete “PT – briga de adolescentes rebeldes”. Não, a briga não era de adolescentes rebeldes, mas continua sendo feito até hoje pela forma como são conduzidas não só as eleições para a direção local, mas a vida partidária da sigla na cidade. Na minha modesta opinião, esse partido nunca será oxigenado enquanto perdurar o poder de mando desse casal. Eles nem imaginam o quanto são desagregadores e levaram o partido para algo onde o que só importa é a visão de ambos, sufocando todas as demais. Na eleição de hoje, em outras proporções, mas nada diferente do que ocorreu em 1999. A história novamente se repete em Bauru como farsa, infelizmente. Existe um PT que resiste e insiste em ser e agir diferente e é com eles que me alinho. Hoje, por exemplo, se ainda votasse, o faria sem sombras de úvidas em Fabrício Genaro.