quinta-feira, 5 de maio de 2016

MÚSICA (137)


LEMBRANDO MEU PAI COM “ALMA FERROVIÁRIA” DO LAZINHO E “ESPELHO” DO JOÃO NOGUEIRA

Meu baita amigo de todas as horas (principalmente essa, tão cheia de muita dor), o Lázaro Carneiro, para me afagar envia um poema de sua lavra, o ALMA FERROVIÁRIA, que cai como uma luva para mim, me remoendo com a perda do meu querido pai. Sintam a força do férreo poema:

“jovem talento brioso,trabalhador dedicado
alma de intenso brilho entre dormentes e trilhos
onde vivia empregado

no recinto familiar foi pai, amigo e amoroso
era um marido exemplar, um vizinho singular
altivo e esperançoso

quando o sol iluminava o pátio ferroviário
já encontrava seu sorriso cumprimentando os amigos
saudando cada operário

deixou ao longo da linha gotas de suor e choro
de alma e mente laboriosa fez carreira gloriosa
nunca engoliu desaforo

foi quase meio século de plena dedicação
porem tudo se cumpriu, um dia o velho partiu
como um trem deixa a estação

uma multidão de amigos o levou para o campo santo
e como justa homenagem fez sua ultima viagem
em um comboio de pranto

patrimônio incalculável por ele foi construído
hoje está abandonado são trilhos enferrujados
em dormentes apodrecidos

velhos moradores lindeiros dizem que à noite passa
pois ouvem na madrugada uma composição puxada
por uma Maria Fumaça

conversando com as pessoas a explicação que se tem
é que esta alma inconformada vagueia ao longo da estrada
chorando a falta dos trens.”.


Li, reli e fico aqui confabulando comigo mesmo, tentando juntar os cacos e assim como num quebra cabeças, colar as peças e ver no poema o meu pai. E o vejo em cada linha. Não resisto e para aumentar a dor interna, saco de um CD de um dos melhores sambistas desse país, o inigualável JOÃO NOGUEIRA e rodo várias vezes na vitrolinha instalada aqui no mafuá o samba ESPELHO, dele e do Paulo Sérgio Pinheiro. Vejam se é para me desmilinguir todo, primeiro clicando o link a seguir, https://www.youtube.com/watch?v=WEU1TEO3njQ e depois lendo a letra, que a maioria de nós já sabe de cor e salteada, mas não custa lembrar:

“Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz

Eh, vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai (Bis)

Num dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
E me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai (Bis)

E assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já

Eh, vida voa
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar (Bis)”.


E assim tudo continua como dantes aqui pelos lados das barrancas do rio Bauru, querência mafuenta desse insensato escrevinhador.

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

Henrique com essa música que me mantenho conectada com meu pai. Ele foi há 2 anos e 4 meses.
Kátia Valério