domingo, 12 de junho de 2016

RETRATOS DE BAURU (188)


PEDRO VIEIRA E A ROTINA DE TRABALHO NO CALOR OU NO FRIO
De vez em sempre me ponho a observar o trabalho alheio. Quando me interesso por algo, paro perto e fico assuntando cheio de curiosidade. Os feirantes, todos sabemos, são seres mais do que especiais. Certa vez li algo escrito pelo antropólogo e político Darcy Ribeiro sobre o papel do feirante em algo que nunca mais me saiu da cabeça e aqui reproduzo para espalhamento geral: “Se o mundo fosse acabar amanhã e você pudesse salvar mil pessoas, quem salvaria: mil sábios ou mil feirantes? Os sábios são homens que costumam saber uma coisa só e passam a vida concentrados na elaboração de sua descoberta. Os feirantes não: eles sabem plantar mandioca, cenoura, laranjas, espinafres. Eu, que me sinto uma cobra sempre mudando de pele, sou muito mais pelos feirantes” (entrevista dada ao Caderno 2, do jornal O Estado de São Paulo, 09/aio/1995).

PEDRO VIERIA é um velho conhecido de tudo e todos os frequentadores das feiras bauruenses. Seu ponto na feira dominical é dos mais conhecidos, bem na curva do início (ou seria fim) da rua Gustavo Maciel, quando cruza com a Julio Prestes. Bem defronte a choperia do Sanfoneiro Barba e a banca de perfumes do baita negão armada em cima de um carrinho de pedreiro e abaixo de uma tremulante bandeira do Paraguai. Ponto nevrálgico da feira, ali permanece seu Pedro e sua família, vendendo de tudo um pouco. Tem dia que o faz com laranjas limas (ontem estavam deliciosas), uvas, goiabas, mandiocas, batatas e tantas outras coisas. Trabalha e gosta de fazê-lo com produtos de temporada. Já plantou muito em área que não mais possui e hoje se limita a revender os produtos que, ele mesmo faz questão de escolher para oferecer aos seus diletos clientes dentre fornecedores rurais. O tempo passa, inexorável na vida de todos nós e observar ele ali trabalhando ou num outro ponto no centro da cidade, durante os dias da semana (cruzamento da Virgílio Malta com Rodrigues Alves, do lado debaixo do monstrengo da Universal) é perceber como todos vamos envelhecendo com o tempo. Nesse domingo, 12/06, cheio de muita lã espalhada pelo corpo e com um gorro todo torto na cabeça, esfregando constantemente às mãos, me disse que a rotina de mais de trinta anos começa a pesar, pois isso de levantar diariamente antes das 4 da manhã, conjuntamente com as inevitáveis diabetes, artrites, conjuntivites e outros quetais, já lhe proporcionam certo constrangimento na locomoção, cada vez mais reduzida. Assim mesmo, Pedro resiste, pois é o que sabe fazer, ou melhor, o que faz uma vida quase inteira e seguirá em frente até quando puder, seja com frio, calor ou chuva. É isso mesmo, todo domingo o observo ali na curva da feira e nos cumprimentamos como se fossemos velhos conhecidos, mesmo nos conhecendo só por esse reconhecimento de um ao passar pelo outro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bacana, Henrique Perazzi de Aquino :) ... mas eu discordo do Darcy ... quando encontrarmos com ele nas outras dimensões, sugerirei 'metade metade' - 500 sábios e 500 feirantes

Paul Sampaio Chediak Alves