quinta-feira, 12 de setembro de 2019

BEIRA DE ESTRADA (113)


RUAS E SUAS POSSIBILIDADES - QUEM É RUEIRO TEM MUITO PARA VER E ESCREVER


1.) IMÓVEL TOMBADO VEIO ABAIXO E SEM EXPLICAÇÕs
O descaso com os imóveis tombados pelo Patrimônio Histórico na cidade de Bauru não tem tamanho. Na cidade existe um órgão regulador desses imóveis, o CODEPAC - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru, ele esteve sem movimentação por alguns anos e os aproximadamente 40 bens tombados na cidade ficaram ao "deus dará". O Conselho foi reativado e pelo que sei, tem reuniões regulares e voltou à ativa nas decisões de acompanhamento, orientação e sendo quem de fato decide o que pode ou não ser feito na cidade em relação a edificações históricas. Pois bem, se é assim, o Conselho precisa se pronunciar publicamente sobre o desaparecimento assim num vapt-vupt, como num passe de mágica do que restou de uma edificação tombada, a da SOCIEDADE BENEFICENTE 19 DE JUNHO. Nesse local, na rua Sete de Setembro funcionou a quase um século atrás um importante conglomerado de trabalhadores ferroviários, local onde se reuniam e atuavam. Na fachada lá no alto gravado o nome da Sociedade.


Sua história passa por reveses tristes. Tempos atrás, na administração Rodrigo Agostinho, esse imóvel pertencente aos vicentinos foi cedido para utilização para a Prefeitura Municipal, repassado à Cultura e o secretário de então, Elson Reis negociava sua transferência para a ATB - Associação Teatro de Bauru, na época administrada por Kyn Junior. Numa infelicidade, antes de tudo ser concretizado, o imóvel ainda ocupado por moradores de ruas sofreu um incêndio causado por brigas entre esses e sua estrutura foi seriamente abalada. De lá para cá só abandono. Virou uma chaga a céu aberto e na manhã de hoje constato junto com Roque Ferreira, quando lá fomos com intenção de registrar uma estranha movimentação no local. Não deu tempo de ver mais nada, pois tudo foi devidamente colocado abaixo. Dias atrás Tatiana Calmon Karnaval fez, creio eu, a última foto do local, ele já parcialmente demolido, mas o letreiro ao alto ainda preservado. A segunda foto aqui reproduzida também é dela e feita anos atrás, quando o prédio ainda estava em pé. Nas três últimas, essas tiradas hoje pela manhã por mim, tendo como testemunha Roque, são poucos os vestígios de que ali existiu tempos atrás um prédio histórico.

E agora as perguntas de praxe: O CODEPAC foi notificado para essa demolição? Tudo recebeu autorização dele para tanto? Se ocorreu, deve ter ocorrido um destombamento antes do trator colocar tudo abaixo. Foi isso mesmo? Tempos atrás, uma importante historiadora bauruense, Lidia Possas escreveu algo sobre os azulejos do local, o piso com a inscrição do nome da Sociedade. Será que ao menos tiveram o cuidado de preservar esses pisos? Aguardo ansioso uma resposta dos novos membros do Conselho e aqui marco os nomes do arquiteto Edmilson Queiroz, da servidora municipal do Museu Ferroviário, Fabiana Ferreira Rocha, dois membros que sei fazem parte da atual composição do CODEPAC, pois, pelo sim, pelo não, tudo já foi colocado abaixo, mas mesmo assim, gostaria de saber se isso ocorreu à revelia do Conselho ou com sua anuência. Dias atrás ouço de pessoa atuante dentro da atual estrutura cultural da cidade que, dentro da nova concepção de tombamentos, alguns precisariam ser revistos, pois não existe mais como mantê-los e que, a melhor solução seria desprezá-los, pois outros existem e já seriam suficientes para um entendimento histórico de certos períodos. São questões a serem debatidas e melhor compreendidas. Fato hoje, a 19 DE JUNHO já era, mais uma e pelo que vejo, outras demolições virão. Quais?


2.) ESSA É UMA DAS FEIRAS QUE DEU MUITO CERTO: QUARTA À NOITE NO VITÓRIA RÉGIA
Eu sou praticante da tal "feiraterapia", termo criado por Moisés Luceli Bastos, o digno representante dos feirantes locais. Não me canso de repetir que o espaço hoje mais democrático em Bauru é o da feira dominical da Gustavo Maciel, incluindo a performática Feira do Rolo. Na junção das duas, algo inimaginável acontece e à revelia dos poderes constituídos, da ordem estabelecida e da vontade dos que não gostam de ver o povo no seu estado de plena gravidez, ou seja, parindo, botando pra fora tudo o que tem dentro de si. Elas ocorrem aos borbotões pela Bauru, creio eu só na segunda é o tal descanso da companhia, onde os feirantes descansam e se recarregam para todo ser recomeçado na terça. Nem sei mensurar quantas existem hoje, mas dentre as mais antigas, algumas mais novas já se destacam e em horários até então pouco utilizados. As feiras noturnas começam a pipocar e fazer sucesso. A ao lado do Shopping, lá na rua Henrique Savi já se tornou habituê de uma galera no entorno e outras mais, como as do Camélias criaram um novo público, o do que não podendo comparecer nas durante o dia, acabam por marcar presença nas quando o sol se põe. Viraram points.

Há coisa de um mês atrás mais uma adentrou o gramado e já está jogando um bolão, a do Parque Vitória Régia. Não sei de quem foi a ideia e sabendo, teço loas de elogios para quem a idealizou. Ela está acontecendo bem detrás das arquibancadas do parque, naquele espaço livre, imenso vão que vai até a beirada da rua. A Cultura Municipal ficou encarregada de levar o caminhão palco e alguma atração diferente a cada quarta, abrindo mais uma possibilidade para os artistas locais. Ficaram bancas dos dois lados do calçamento e lá no fundo o palco, com espaço para o congraçamento humano. Das barracas ali vejo algo além das feiras comuns. Aquilo parece um grande Mercado Popular ao ar livre, sem cobertura, mas tendo especiarias e aquele algo mais, num clima que caiu desde o início no agrado popular. Está agradando e pelo que vejo, atraindo mais público a cada semana.

Ontem, quarta, 11/09, estive pela primeira vez por lá junto de duas feras dos comentários sobre ocorrências nesta aldeia: os ativistas sociais Roque Ferreira e Antonio Pedroso Junior. Circulamos pelo local, sentamos e degustamos pastéis. Sei pelos comentários a mim feitos por ambos, da aprovação da feira. De um feirante, um dileto amigo da Esquadra do Indepa, ouço algo mais sobre a feira: "Eu tinha um carrinho velho para fazer feira, mal cabiam meus produtos, mas com o advento das novas feiras, investi e agora estou com esse trailler novo, todo equipado e preparado para as novas atividades e o novo público. Não dava para vir aqui com aquele no estado do meu antigo. Vou no do shopping, no do Camélias, nesse e em outras feiras, te afirmando que, mesmo nesses tempos bicudos, as expectativas estão se superando. Acertaram a mão com esses novos formatos de feiras". Sua especialidade são queijos, salames, frios e conservas, estoque renovado a cada semana. Assim como ele, deu para sentir pela intensa movimentação, inclusive aceitação popular, como iniciativas desse porte caem logo no agrado. Falta agora, segundo ouço no lugar, a criação do tal Mercado Popular, cujo local já está escolhido, o barracão férreo junto à Feira do Rolo.

3.) ESCREVER SOBRE OS BAIRROS DE SUA ALDEIA, EIS A QUESTÃO
Nathalia Silva gosta de algo muito parecido com o que faço, gastar sola de sapato, observar, registrar e descrever suas andanças pela aí, principalmente pela periferia da cidade. Nos registros feitos por ela dias atrás na vila Cardia, um encanto, não só na forma como retrata o lugar, como nas fotos, todas clicadas com aquele olhar mais do que especial. Faço questão de compartilhar, pois a cada novo registro me vi ali naquele lugar, enxergando com um olhar bem próximo do empreendido por ela. Existe um maravilhamento em quem o faz dessa forma e jeito, ela já o descobriu e eu tento, a cada nova investida por diferentes pontos da cidade, desvendar um pouco do que essa cidade nos proporciona. Compartilho para que mais pessoas possam sentir o mesmo ao ficar diante do olhar sensível da Nathalia:

"Vila Cardia - Moro atualmente na Vila Cardia, que apresenta características bem diferentes do bairro que vivi a maior parte da minha vida e tenho um grande carinho, o Núcleo Habitacional Mary Dota, um bairro muito grande em extensão e número de habitantes, com uma população majoritariamente jovem e localizado na periferia da cidade, que se sustenta pelo comércio e prestação de serviços.
A Vila Cardia, por sua vez, ocupa um espaço menor e me leva para outros tempos, pois todas as vezes que circulo por suas ruas, ando pelo passado que não vivi, ainda presente na arquitetura das casas, nos paralelepípedos que cobrem as ruas, nos moradores mais idosos que perambulam pelas calçadas estreitas. Cada caminhada é uma viagem ao túnel do tempo!
O bairro é um dos mais antigos do município de Bauru e tem uma essência operária que abrigou (e ainda abriga) importantes indústrias como: Anderson Clayton (lugar que se transformou no residencial Vila Inglesa), Tipografia do Brasil (atualmente, intitulado de Tilibra), Cervejaria Antártica e de oficinas de estradas de ferro.
A Vila Cardia me acolheu, me ensina e encanta pelos seus mistérios e graça, cobertos com várias camadas de tinta de outrora, que resiste na memória, espaço e tempo".

3 comentários:

Anônimo disse...

Grande amigo Henrique que sabe como ninguém transportar ao papel suas visões e interpretações, vc como sempre disse tudo com muita propriedade, primeiro pelo enorme Moisés a quem devemos não só as Feiras de Bauru, mas também a própria Secretaria de Agricultura que outrora quiseram fechar, ninguém sabe, mas a história não esquece, foi graças a intervenção dele e do saudoso MAURÍCIO LIMA VERDE é que a SAGRA está viva, acho lindo o bordão vc lembrou e que também ele criou FEIRATERAPIA, atualmente temos 40 feiras em Bauru, dessas 12 são noturnas, e mais uma vez vc disse bem, é mesmo uma nova vertente, as noturnas estão sobressaindo, talvez até pela oportunidade das famílias comparecerem como vc viu, crianças e até animais de estimação, o palco é mesmo para dar oportunidade a talentos mostrarem a que vieram c som e iluminação de qualidade, vc mostra ser um apreciador das feiras qdo menciona a Central que é absoluto sucesso, cerca de 15.000 pessoas, a do Bauru Shopping, que estaremos remodelando esse mês, e as do Camélias realmente são muitíssimo bem frequentadas, claro que não esquecendo da linda Feira da Regional do Mary Dota onde o nosso Moisés está as quartas. Tive imenso prazer de encontra lo junto com o nosso grande e lenda viva, ROQUE e o CHINELO, TRIO PARADA DURÍSSIMA. Espero vê los outras vezes pois suas presenças valorizam o duro TRABALHO dos nossos heróis FEIRANTES que estão com essa SERIEDADE valorizando nosso belo Cartão Postal Vitória Régia, e aquele espaço que não deixa dúvidas de seu potencial mesmo numa quarta feira e com a concorrência do futebol e dos bolos da Maria da Paz. Quanto ao Mercado Municipal estaremos discutindo ainda essa semana, sua localização e projeto.
Abraço amigo, ler seus artigos é também LEITURATERAPIA e CULTURATERAPIA.
Rafael Santana de Lima

Anônimo disse...

Modéstia sua Rafael, quando a frente da A.F.B. Associação dos Feirantes de Bauru, não fiz mais que a obrigação em defender uma categoria sempre jogada as traças, não me contive e lutei com unhas e dentes em defesa da Secretaria da Agricultura, que é a cabeça de uma cidade, de um Estado e de uma Nação.
Não ha evangelização nem ensino de barriga vazia, por isso a importância da Agricultura familiar e as Feiras Livres, ponto de escoamento do produtor e abatecimento da população.
#PRATIQUEFEIRATERAPIA
Você caminha, bate papo com os amigos e compre produtos de qualidade e com preços justos.
Obrigado ao Henrique e Rafael
Moisés Bastos.

Anônimo disse...

Moisés, Vc nunca falou isso e nem comentou comigo, eu acompanhei sua intervenção com o Maurício e é apenas JUSTIÇA DAR O CRÉDITO A QUEM MERECE, obrigado por ser BRIGADOR quando a situação exige vc tem direito e moral suficiente pra brigar pela Agricultura Familiar e Feirantes, a mim e a quem defende a Agricultura sempre agrade los e que Deus continue abençoando vc e sua linda família.
Rafael Santanaq de Lima