quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

AMIGOS DO PEITO (182)


DESALENTO CRESCENTE
1.) O BRASIL ACABOU
"O Brasil acabou, definitivamente não existe mais. Talvez fosse melhor que nunca tivesse existido. Depois de anos, décadas, talvez séculos, a luta de um povo para ser um dia feliz perdeu o sentido, a importância, talvez o “timing”: a barbárie venceu.

Teve um dia, recordarão os mais velhos, que parecia que o grande momento estava ali, na esquina, à nossa espera para se realizar. O Brasil, “o país do futuro”, como o denominou, em um de seus livros, Stephan Zweig (que para cá veio fugindo do nazismo e, estranha ironia, não conseguindo esperar pelo dia tão almejado, em depressão, acabou suicidando-se), foi definitivamente derrotado.

Nunca mais um acorde de chorinho, uma alegre roda de samba, uma bela canção de Chico (Buarque, César ou Science), um poema de Thiago de Mello ou Manoel de Barros, uma pintura de Tarsila ou Volpi, a voz de Betânia ou Elis, a dança olímpica de Daiane ou clássica de Ana Botafogo, a ginga de Garrincha ou ainda o calcanhar divino de Sócrates. Nunca mais.
Nunca mais a imagem delicada, quase santa, de um Paulo Freire ou de um Dom Helder, a nos iluminar.

Nunca mais nossos punhos cerrados, nossa presença massiva nas ruas, nossos gritos empolgados a assustar os poderosos de plantão. Não, nunca mais! Tudo será sepultado junto com a nossa alegria, sob os escombros do país. De que valeu as marcas que muitos de nós adquirimos enfrentando a polícia? Pra que serviu a morte de Marighella, Herzog, Iara, entre tantos outros? De que adiantou os sofrimentos no pau de arara, na cadeira do dragão, no escuro das masmorras, de milhares de brasileiros e brasileiras?

Talvez um dia, os antropólogos, escavando por estas terras, irão descobrir uma civilização que cultivava a alegria e por ela lutava, muitas vezes de forma vã, e saberão que, assim como os Incas ou os Maias, também existiram os brasileiros.

Mas como nós permitimos que fossemos destruídos? Quem poderá responder? O que se tem conhecimento é que as hordas foram chegando, não se sabe bem de onde, muitos deles, certamente, já estavam ao nosso lado, sem que os tenhamos percebido, e numa marcha frenética avançaram sobre nossos jardins, mataram nossos cachorros, invadiram nossas casas, como na poesia; e destruíram nossos sonhos, nossas histórias, nossas vidas; tomaram nossos símbolos; apropriaram de nosso hino, de nossa bandeira e definitivamente, o verde e o amarelo passaram a representar a barbárie.

“Não passarão!”, ainda gritávamos, mal percebendo que nossos corpos era pisoteados, nossas mãos arrancadas e nossos gritos, cada vez mais diminutos, em pouco tempo desapareceram. E agora estamos todos mortos, todos. Mas os cemitérios estão lotados, não há mais lugar para nenhum de nossos corpos putrefatos e, como zumbis eternos, vagamos pelos mais remotos rincões do que um dia foi chamado de Brasil, sob o olhar indiferente dos bárbaros que, extasiados, repetem sem cessar, diante do demo, “mito”, “mito”.

E o tinhoso, em desalinho, com uma faixa presidencial no peito, sorriso sardônico, vocifera palavras incompreensíveis, intercaladas com interjeições como “táoquei?” e “e daí?”, enquanto da sua boca exala um cheiro fétido de morte e enxofre", Arthur Monteiro Junior / foto extraída do site da Revista Piauí, de Elton Viana.

2.) ALGO DO QUASE CAOS, ESTE PARA LOGO MAIS
"Nós já estamos vivendo o colapso da saúde em nosso município. Meu pai é professor universitário aposentado, pode pagar unimed, o que foi sua sorte hoje. Ele tem parkinson e está tetraplégico. Nenhum médico ainda conseguiu explicar o motivo da sua tetraplegia, se foi em decorrência do parkinson (estamos a semanas correndo pra cima e pra baixo atrás de exames pra tentar descobrir). Nenhum médico o atende de forma decente, passa mais do que meia hora para examiná-lo. Hoje ele precisou ser internado numa UTI com insuficiência respiratória. Se ele dependesse do SUS, teria morrido em casa. O paramédico não teria para onde levá-lo se não pudéssemos levá-lo para o hospital da unimed, onde ele está agora internado. O estado dele é estável. No mesmo quarto em que ele estava, uma senhora teve uma parada cardíaca. Em muito pouco tempo a rede privada entrará em colapso também", Tauan Mateus, professor da rede pública estadual.

3.) RECADOS DE PROFUNDO DESÂNIMO DEIXADOS AQUI E ALI
"Eu desisto de Bauru, cansei, minha revolução agora será viver de maneira bem simples, barata, plantando meus alimentos num barraco a beira mar... fui... Bauru já era", Larissa Zulian.

Recados com algo de igual teor, pra mais ou menos, todos com uma profunda dor pelos últimos acontecimentos desta terra vista e entendida sempre por ser mesmo "sem limites". Esse desânimo é evidente na fisionomia e ação dos que lutaram um vida inteira para tentar manter uma postura bem dentro de enquadramento palatável, saudável, digno e pujante, latente em questões reivindicatórias, de luta, enfrentando o touro à unha sem se entregar. E hoje, observando a chegada dos fundamentalistas ao poder municipal, aliados ao que de pior temos no país, o bolsonarismo fundamentalista, reducionista até a medula, se enxergam rodeados, uma reviravolta imensa nas posturas, sentimentos e ações, agora muito mais individualistas, sacanas e perversas. E como reagir diante do que se vê, com Bauru sendo transformada no reduto paulista, o bunker paulista do bolsonarismo, território do conservadorismo mais detestável?

Claro ainda existir uma legião de resistentes, persistentes lutadores contra esse mal avançando sobre a cidade e daí, a única saída que observo no horizonte é a UNIÃO, pois do contrário, isolados, seremos mais facilmente engolidos, tragados pelo que se instala e quer dominar, desde mentes, ações como atitudes. Todos os sensatos se sentem como a Larissa Zulian, as histórias são muitas, todas descritas com posts de igual teor. Resistir é preciso e não se entregar, não deixar que vença o mal, a perversidade e a iniquidade. Criemos espaços libertários onde nossas vozes ecoem de forma consistente, em grupo e assim, não nos vergaremos e é claro, apostando que um dia, tudo isso poderá passar, pois não há mal que sempre dure. Muita luta pela frente. Pessoas sensíveis percebem quando o mal maior se aproxima e vai ocupando todos os espaços, sufocando os que pensam ao contrário, os que se põem, os resistentes, as vozes do contra. Mas nós, esses do contra, não somos poucos. Força, Larissa!

4.) POR TODOS OS SEMÁFOROS DO CENTRO BAURUENSE
Cena típica dos sinais no centro da cidade bauruense, pessoas vendendo guloseimas por R$ 1 real, como essa senhora moradora do alto do Bela Vista, indo e voltando a pé, para ontem na rua Marcondes Salgado, evidente sinal de algo próximo de Parckison, toda trêmula, falando aos soquinhos, insistia nas ruas, pois sem comida em casa, me dizia, assim ao menos leva algo para os seus no final da tarde.

BAURU QUE REAGE
CARREATA TRABALHADORAS (ES) PELA VIDA "FORA BOLSONARO"
Na luta por Vacina Já, Em defesa do SUS, pelo Auxílio Emergencial e o Não Retorno as Aulas Presenciais, uma concentrações dos na luta pela VIDA, com concentração a partir das 9h, na Praça da Paz, Sábado, 06/02. É o momento de se contrapor a tudo o que vemos tem sido expelido aqui em Bauru como medidas contra a classe trabalhadora, quando o pensamento conservador decide seguir caminhos contrários aos prescritos pela Ciência. Um bom momento para demonstrar o descontentamento e escancarar que a Bauru consciente pensa bem diferente dos que apregoam o pensamento a beneficiar uns poucos. Vamos?
Ninguém vai precisar sair do seu carro. Você chega, entra na fila, traga sua bandeira, sua faixa de protesto, enfeite seu carro e ajude a compor a carreata dos que lutam pela VIDA.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigada meu amigo, por se importar, mas eu realmente não vejo como lutar, estamos de mãos atadas, a imbecilidade tomou conta de todas as instâncias e me foi oferecida uma edícula da casa de praia do meu irmão, lá em Santa Catarina pra passar um tempo. Aqui não consigo mais pagar o aluguel e morar com meus pais bolsominions está fora de cogitação. Não tem mais Sesc, Bodega e tantos outros locais onde podíamos nos encontrar e ser nos mesmos... fui impedida de participar do grupo de mães do condomínio onde meu filho vive pelas minhas opiniões controversas... Enfim... acredito mesmo que viver nossa verdade é nossa maior revolução, e vou pra lá, criar, escrever, pintar e buscar novas parcerias para quando tudo voltar poder realizar minha arte! Forte abraço pra quem fica! Sempre estarei por aqui
Larissa Zulian