sábado, 1 de dezembro de 2007

FRASES DE UM LIVRO QUE LI (5)

"DIÁRIO SELVAGEM" - CARLINHOS OLIVEIRA - edit. Civilização Brasileira RJ, 2005


Carlinhos Oliveira é um jornalista que aprendi a gostar pelas páginas do Jornal do Brasil, ainda nos anos 70/80, quando comprava o jornal na banca da antiga estação rodoviária/ferroviária de Bauru. Só lá encontrava o JB e esse colunista frequentava mais famosa página cultural dentre os jornalões. Seu estilo ácido e contundente, sempre muito bem antenado e cheio de problemas mil, me fazia colecionar seus textos. Em 2005 foram relançados uns três livros dele, todos organizados pelo Jason Tércio. Comprei um só, o Diário Selvagem, onde ele destilou e abriu seu baú de preciosidades. Viajei maravilhosamente pelas páginas do livrão (um catatau de 520 páginas) e dentre as preciosidades algo que muito nos interessa. Logo no começo do diário, ele adoentado vem passar uns dias numa fazenda em Lençóis Paulista, isso em 1971. Aproveitou e veio passar uns dias aqui em Bauru e o que achou dessa cidade e do seu povo é algo que merece ser lido. Carlinhos não perdoa o que vê:
"No Bauru Atlético Clube vi a sociedade local - velhos, adolescentes, e crianças dos dois sexos, todos tremendamente feios e desgraciosos. Só se salvam as japonesinhas. Aqui a única referência é dinheiro e nome de família; para alcançar a beleza esse povo deveria apresentar melhores condições físicas e espirituais. As crianças miseráveis estão em toda parte. Prostituição e mendicância. Os ricos me parecem roídos de remorsos, mas são todos por demais egoístas e mesquinhos. Uma sociedade porcina."

Abaixo mais frases, todas bem so seu estilo:


“Deus é caçador, pratica a caça-ao-pombo. Os pombos somos nós, artistas, quando atingimos a maturidade e, antes de iniciar nossa revoada, somos abatidos em pleno vôo” (18 de março de 1976)


“Inclino-me a escrever logo a história do seqüestro do embaixador. Merda! Neste diário só digo o que vou fazer, enquanto isso não faço nada. Fernando Sabino dá entrevista despedindo-se da literatura. Ainda bem. Sem angústia, isso é mau. A hipocrisia mineira me fascina” (29 de novembro de 1976)


“Difícil nesta altura recuperar minha personalidade silenciosa: já me cristalizaram brincalhão, palhaço, e por causa disso ando a perder mulheres. Merda. Sou dois ou três? Ou ninguém? Ah!” (30 de novembro de 1976)


“Um punhal pode passar gerações inteiras servindo para cortar páginas dos livros, numa atividade inofensiva e solitária. Só quando a mão de um assassino o empunha é que o punhal se torna sanguinário” (06 de janeiro de 1978)


“Saúde péssima. A doença bloqueia a imaginação” (26 de fevereiro de 1986)


Prometo publicar aqui, qualquer dia desses, um compêndio, com umas 50 frases retiradas deste e de outros livros dele. Agoras, o que vaticinou de Bauru é algo que, só quem é de fora mesmo tem a coragem e a ousadia de fazê-lo. Mauro Rasi fez isso com muita competência e por isso era odiado por muitos.

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