domingo, 31 de janeiro de 2010

DIÁRIO DE CUBA (46)

UMA TARDE ANDANDO, UM RESTAURANTE, MÚSICA, BARBEIROS E SEU LÁZARO
Relato hoje a segunda metade das ocorrências do dia 24/03/2008, uma segunda-feira em Havana. Na parte da manhã estivemos novamente com os queridos músicos dos Los Mambises, em algo inesquecível, tanto para mim, como para o Marcos Paulo. Ao sairmos da praça caminhamos para os lados do cais, com o propósito de irmos até a "Estacion de Ferrocarril". Caminhamos um certo tempo ao lado do mar, que bate forte numa murada nessa região, prolongamento do Malecón. Desistimos pela distância e voltamos pelo meio de "Habana Vieja", por ruas por nós ainda não conhecidas. Cruzamos novamente a rua principal do movimentado comércio central, o feito principalmente para turistas, mas cheio mesmo de cubanos. Ao avistarmos no final de uma rua o prédio do "Capitólio", para lá nos dirigimos. Damos de cara com o "Hanói", um restaurante onde já havíamos conhecido. A "carta" (cardápio) está publicada na parede de entrada e gosto do que vejo, algo simples, arroz, salada e alguma carne. Preços bons, mas entramos mesmo é num outro, novidade para nós, o "Café de Paris". Marcos ataca de sphaghetti e eu peço um steak grelhado com bananas. Junto, duas "Tu Kola", uma colla que o Marcos bebe com gosto, pois Coca Colla não lhe passa pela garganta há alguns anos (ou seriam décadas?).

Não entendemos bem o espírito da coisa, pois estavam tocando uma música cubana em CD e tem início um ensaio de um grupo musical. Tentamos curtir tudo ao mesmo tempo, sem grandes momentosp ara reflexões, pois estávamos mesmo é com muita fome. O cantor do grupo veio nos vender seu CD. Recuso por um único e inabalável motivo, queríamos chegar vivos, com alguma grana no bolso até nosso último dia de estadia em Cuba. Toda economia era muito bem vinda. E assim o fizemos. Antes de nossa saída, atacam com uma música brasileira e vou a eles dizendo que "a nossa música tem muita coisa a ver com a deles". Simpáticos, isso eram. Já na rua, nem duas esquinas à frente, um grupo toca "Garota de Ipanema" num restaurante. Paramos do outro lado da rua para escutar aquelas notas musicais a nos unir de uma deliciosa forma.

Voltamos a pé para o hotel por uma rua paralela ao Malecón. Recado do Omar, do Mundo Latino, reencontro marcado para amanhã 10h. Ligo para dona Hilda Marin e marcamos despedida também para amanhã entre 15 e 16h. Marcos quer descansar, eu bater perna, pois nem são 16h. Subo a avenida 23, passo pela sorveteria Copellia e sigo em frente. Dou volta nas ruas, curtindo cada momento e parando nos detalhes, como um verdadeiro turista embasbacado com tudo o que vê. Vou rever o barbeiro que há duas semanas atrás cortou o meu cabelo de forma hilária. Volto à "Arco Íris Barbearia" e não encontro o mesmo barbeiro. Respeito a fila, são três na minha frente e num cartaz algo sobre a espera: "Por favor: Pidale su turno al barbeiro". Quem me atende é um senhor magro, alto e calvo, como eu e percebo, falante como todo barbeiro que conheço. Luis Cutiño é seu nome, combinamos preço por 2 pesos e falamos muito do Brasil. Surge outro cubano, um que está prestaes a vijar para Zaragoza, Espanha. Esse me diz que está tendo uma "mensagem divina, com uma visão me chamando para cumprir um chamado dos céus". Incrédulo, dou corda e ouço sua história de envolvimento com uma igreja evangélica, estando mais do que demonstrado ali a total liberdade de credo religioso existente na ilha. Fico de repassar um "pullover" (camiseta) para o barbeiro, que irá buscar o presente na portaria do hotel.

Ao chegar ao hotel, viajo na internet em busca de novidades brasileiras e Marcos me diz ter gasto 65 pesos em ligações para o Brasil, hablando com a avó, de mais de 80 anos. Redivisões financeiras se fazem necessárias para os últimos dias. À noite batemos um longo papo com um senhor que nos atende num quiosque ao lado do hotel, Lázaro, 60 anos, que trabalha no local, noite sim, noite não. Quando Marcos lhe fala do Partido, ele nos conta algo com um brilho nos olhos: "Tratamos a religião com todo cuidado aqui em Cuba. Vamos domando-a aos poucos e não deixando que ela nos dome. Aqui é sempre o Estado quem dita as normas. Nós, os comunistas queremos a felicidade terrena e os religiosos, somente após essa vida. Vivemos uma situação especial com os religiosos comunistas, algo sui generis, só nosso. Quase não temos religiosos de outros países por aqui". Saímos de lá com a alma mais do que lavada. Marcos, deitado em sua cama, elétrico por tudo o que ouviu, me diz: "Os cubanos até que fazem muito, pois estamos vendo uma cidade em pleno processo de restauração e esse país não possui a arrecadação de um Brasil. Aqui praticamente não são cobrados impostos. Cobra-se somente pela água e telefone e eles fazem sem atravessadores, com o preço justo. Voltarei ao Brasil com minha sede de justiça ampliada. Existem pessoas que não tem mais jeito e continuarão prejudicando o mundo e outras não, muitas delas estão aqui".

3 comentários:

Anônimo disse...

QUE GRANDE BESTEIRA É ESSA DE DOMAR A IGREJA.
A IGREJA, MEU CARO NÃO SE DEIXA DOMAR, ELA IMPÕE A SUA VONTADE SOBRE NÓS DE MANEIRA ABSOLUTA E ACREDITAMOS, TEMOS FÉ.
ISSO QUE VOCÊ DIZ É MUITO PERIGOSO.
BLASFÊMIA.

LUCIA BEATRIZ LOPES

Anônimo disse...

"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar."
(Carl Sagan)

As três feridas narcísicas mencionadas por Freud,precisamos acrescentar mais uma :a que nos foi colocada por Marx com a noção de Ideologia.Este investigara o modo como se formam as religiões,isto é,o modo como os seres humanos sentem necessidade de oferecer uma explicação para a origem e a finalidade do mundo.Ao buscar essa explicação ,os humanos projetam fora de si um ser superior dotado das qualidades que julgam as melhores:inteligência,vontade livre,bondade,justiça,beleza,mas as fazem existir nesse ser supremo como superlativas,isto é,ele é onisciente e onipotente,sabe tudo,faz tudo,pode tudo.Pouco a pouco,os humanos se esquecem de que foram os criadores desse ser
e passam a acreditar no inverso,ou seja,que esse ser foi quem os criou e os governa.Passam a adorá-lo,prestar-lhe culto,temê-lo.Não se reconhecem nesse outro que criaram.
Os homens se alienam e Feuerbach designou esse fato com o nome de alienação.
A alienação é o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa,dão independência a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma,deixam-se governar por ela como se ela tivesse poder em si e por si mesma,não se reconhecem na obra que criaram,fazendo-a um ser outro,separado dos homens,superior a eles e com poder sobre eles.
Marx não se interessou apenas pela alienação religiosa, mas investigou sobretudo a alienação social.
Interessou-se em compreender as causas pelas quais os homens ignoram que são os criadores da sociedade,da política,da cultura,e agentes da História.Interessou-se em compreender por que os humanos acreditam que a sociedade não foi instituída por eles,mas por vontade e obra dos deuses,em vez de perceberem que são eles próprios que,em condições históricas determinadas,criam as instituições sociais-família,relações de produção e de trabalho,relações de troca,linguagem oral,escrita,escola,religião,artes,ciências,filosofia, e as instituições políticas-leis,direitos,deveres,tribunais,Estado,exército,prisões,impostos.A ação sociopolítica e histórica chama-se práxis e o desconhecimento de sua origem e de suas causas,alienação.

Sábio não é aquele que acredita em tudo, mas que duvida de tudo, questiona para ter algo maior, conhecimento e livre consciencia.
Isso é marxismo.
Viva ao sr. Lazaro e a Cuba!!

Marcos Paulo
Comunismo em Ação

Mafuá do HPA disse...

Cuba trata a religião da extata forma como ela deveria ser tratada.
E só.

Henrique - direto do mafuá