sexta-feira, 5 de outubro de 2012

MEMÓRIA ORAL (128)

BANCA DO ADILSON E SEU ALBUM DE FIGURINHAS POLÍTICAS
Banca de jornal é local onde o que mais grassa nesse período eleitoral são discussões e a divulgação de boatos. “Quer saber de alguma novidade ou quer espalhar algo para cutucar alguma estrutura meio fora do prumo, lance a ideia dentro das rodas de uma banca e tudo será multiplicado. Experimente”, ouço um senhor dizendo isso numa fila de casa lotérica. Fui conferir isso numa localizada bem no centro nervoso de Bauru, quase no cruzamento das ruas Treze de Maio (ela está nesse lado) e Primeiro de Agosto, famosa BANCA DO ADILSON, levando o nome de seu proprietário, ADILSON CHAMORRO, 48 anos e 32 em atividade naquele lugar. Local dos mais frequentados, muita gente passa por ali só para saber das novidades, bater papo, despejar temas que querem ver divulgados e até gente para comprar o que existe em exposição.
Adilson não pensa em tocar sua vida de outra forma. Faz o que gosta e a leva com os rendimentos advindos da banca, juntados ao de sua esposa. Seu horário é o do comércio central, mas nunca fica até o fechamento, 18h. Sempre dá um jeito de bater as asas mais cedo e não contem com ele em dia de comércio aberto à noite. Sabe o horário que sua clientela procura seus produtos e está com porta da frente sempre levantada nos mesmos. Nesse período eleitoral a discussão fervilha por ali, rodas são formadas e o assunto dominante parece ser só esse.

“Adoro esses cientistas políticos, pois eles enxergam coisas que muitas vezes passam despercebidos por nós. Em casa tenho uma parabólica e ali gosto de ficar vendo a propaganda política de várias outras cidades e outros estados. Sabe quais os candidatos que menos prometem nessa eleição? São o dos cariocas. Eles tem coerência, prometem menos, diferente daqui, onde tem candidato fazendo campanha para prefeito. Tem mais promessas que o próprio candidato ao Executivo”, começa falando sobre o tema, quando abordado sobre meu motivo de estar ali.

Além de saber das últimas, corre a notícia de que Adilson é colecionador de santinhos de candidatos e já faz isso há algum tempo. Fui conferir e vejo uma agenda já bem gordinha, recheada de propaganda colada com santinhos das campanhas de 2004, 2008 e a desse ano. “Tenho até mais velhas que essas, muitas com santinhos em preto e branco, mas estão num outro caderno. Se quer ver eu trago. Eu e o Wilson Lozilha até apostamos quem junta mais santinhos. Quando sentamos juntos, cada um descobre os que um achou que o outro ainda não havia conseguido. Virou distração. Tudo porque gosto desse negócio de acompanhar política”, diz.
Esse ano são 253 candidatos e o santinho mais difícil é o do Bico Doce. Esse ainda não arrumei nenhum”, fala mostrando o álbum. Ali ao seu lado, Jean Martins, 22 anos, sai da rodinha de bate papo e complementa: “E vale lembrar também do Marquinhos da Diversidade, que não fez santinhos. Ele não quer sujar a cidade”. A conversa ali pela banca é sempre assim, todos ficam escutando a conversa do outro e um acaba adentrando no papo que acontece ao lado, tudo misturado, porém integrado. “Olha esse aqui, é do João das Ervas, que tinha uma banca nesse quarteirão e morreu ano passado. Quando foi candidato brincava com ele e corrigia seu nome como João da Cerva”, conta rindo.

O álbum corre de mão em mão e gente conhecida é o que não falta, muitos que deixaram de disputar eleições, outros morreram e tem os que insistem e todo pleito estão de novo nas paradas. “Eu gosto muito de política. Passa gente o dia inteiro e sou franco com todo mundo e se voltam é por causa disso. O Garms, que já foi vereador quando lhe disse que não era político, me deu uma aula, pois respondeu que não existia na cidade lugar mais político do que a banca. Já o Mariano, que hoje é vereador, quando lhe disse a mesma coisa, respondeu que precisava me interessar mais, pois era importante, essas coisas. Na diferença das respostas, nas visões diferentes eu tiro minhas conclusões”, continua falando.
Histórias com os candidatos, todos com santinhos colados no seu álbum é o que não falta. Uma bem saborosa é a que aconteceu com um que concorreu no pleito passado, nesse novamente e veio aumentando seu cacife eleitoral para cima do Adilson. “Chegou todo pomposo e dizendo que na eleição passada havia tido 1754 votos. Desconfiei e peguei o álbum e o deixei nervoso, pois fui conferir na lista e só tinha tido 750. Cadê os mil? Saiu meio sem jeito e dizendo que se confundiu. Eu conto o caso, mas não declino o nome do santo, tá bom?”, conta. E continua com outra. “Esse aqui”, mostra seu nome da lista dos candidatos desse ano. “Não o conhecia e disse a ele que teria cinco minutos para me dizer o que iria fazer como vereador. Se apresentou e desfiou um rosário de promessas. Terminei dizendo a ele que deveria se candidatar a prefeito. Estava perdendo tempo como vereador”.

Tudo nas suas relações são de uma franqueza e assim também nas relações com os clientes. Passa um cliente compra um cartão de Zona Azul e participando do papo político, erra na marcação da data. Adilson pega o cartão e lhe diz: “Deixa eu ver se o dia 11 é últi. Se for, troco para você e no dia revendo já preenchido a data”. Era útil e a troca foi feita. Mas o papo é sobre política e ele solta mais uma: “Netão, o famoso radialista faz questão de me dar uns toques lá na 94FM. Ele faz isso para saber se seu programa tem audiência e já no ônibus, vem gente me dizer que ele falou meu nome no programa. O Claudinho do Queijo tá começando agora, lá na 87FM e pedi a ele para tar uma alô para mim no programa esportivo da rádio. Sabe o que me disse? Que não faria porque sabe que não o ouço. Ele não é de rádio, é novato e não entende muito dessas coisas”, conclui.
O movimento é assim o dia todo e não só de política são os comentários. Nisso passa um velho conhecido, colega de atuação numa igreja católica e o convida para algo logo mais à noite: “Vá lá hoje comer uma sopa. Tem sopa o dia inteiro”. Sua resposta é um primor e demonstra como é rápido nas sacadas: “Não vou, pois a igreja faz sopa para os pobres e se nós mesmos vamos lá comer, não vai acabar sobrando para eles, os que mais precisam. Eu acho isso, tô errado?”. Enquanto isso seu álbum continua circulando de mão em mão, fazendo o maior sucesso e a cada nova foto de gente conhecida, os comentários geram papos variados, favoráveis e desfavoráveis, mas tudo dentro da normalidade, ou seja, rindo são tiradas boas lições e ensinamentos, só proporcionados pelos frequentadores de lugares iguais a esse. “Adilson merece um título de Cidadão Bauruense por propiciar  esse congraçamento popular”, diz um lançando a nova ideia.

3 comentários:

Anônimo disse...

muito legal!!!!!
Rejane Busch

Gabriel Garcia Martinão disse...

É muito bom escutar as histórias de donos de banca, eles sempre têm muitas coisas interessantes para contar. Grande abraço.

Anônimo disse...

Henrique

Vou sempre que posso na banmca do Adilson e em outras, como outra que voce conhece bem, a do Cláudio lá na Duque. Sinto neles algo que falta em muitos lugares, propiciam um papo agradável. Esses dois deixam a gente falar, ouvem, o Cláudio fica mais na dele, mas o Adilson emite suas opiniões e desconcertam alguns, como a do polpitico que foi lá dizendo ter tido mais do que o dobro de votos das eleição passada. Ele é assim mesmo, mata a cobra e mostra o pau. Eu imprimi a história e guardei aqui em casa.

André Ramos