sábado, 29 de junho de 2013

MEMÓRIA ORAL (144)

GEREBA E A PROCURA PELA ORIGINAL MÚSICA BAIANA

Fui conhecer Salvador, a capital baiana no começo desse mês, entre 05 e 09 de junho e algo que fiz questão de conferir foi uma verdadeira garimpagem pela busca da autêntica música baiana e alguns dos seus intérpretes. Tive a oportunidade de conferir e vivenciar experiências alvissareiras. Nas rádios, confesso, foi difícil achar música ao estilo MPB, pois a tendência de lá é algo num ritmo baiano axé, com muitas rimas de duplo sentido, predominância do desprezível. Fugi disso, como fujo aqui onde moro do sertanojo, algo repugnante, anestesiante e imbecilizante. Mas tive sorte, pois eu e Ana Beatriz Pereira de Andrade, companheira de todas as horas, caímos de boca no velho e bom estilo baiano, que aprendemos a gostar e ouvir desde quando nos conhecemos por gente. Conto as surpresas e reencontros dessa saga pela busca da verdadeira música baiana.

Na chegada, abertura do 22º Compós – Encontro Anual da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação, motivo de nossa viagem, o show de abertura foi uma preciosidade, com a apresentação da Orquestra Afrosinfônica Baiana (www.orquestraafrosinfonica.blogspot.com), regência do maestro Ubiratan Marques, mesclando algo sui generis da cultura afro-brasileira. Inebriante, não só a mistura, mas um coral divinal com uma cantoria para endoidecer gente sã. Isso, como verão, foi só o começo. Aqui a descoberta logo de cara de algo bem baiano e musical, quando me deparei no meio da festa com um quiosque exclusivo para a venda de CDs de música baiana e nordestina, montado pela gravadora, a “Circuito Motiva – Ações promocionais para a Música” (www.circuitomotiva.com.br), desde 2001 promovendo artistas independentes em eventos na capital baiana. Escolhi um, ajudado pelo divulgador e trouxe algo que depois me encantei, o “Responde à Roda”, da paraense Cláudia Cunha (http://www.claudiacunha.com/#/home).

Na segunda incursão, vasculhamos a parte da agenda cultural dos jornais e na noite de 07, sexta, no bairro do Rio Vermelho, um reduto de resistência da boa música, com bares mil, alguns com a sempre saudável MPB baiana. Visca Sabor & Arte é um bar à moda antiga, casa de dois pavimentos e na parte superior, piso de ladrilhos recortados, mesas de madeira espalhadas e um palco circundando tudo. Ali quem encantou naquela noite foi uma velha conhecida dos baianos, Virginia Luz (www.myspace.com/virginialuz), que num certo momento diz lá do palco: “Agora que aposentei, canto o que quero e com mais empolgação”. Além de cantar sucessos conhecidos de todos, lançou um mini CD com quatro canções suas (dentre elas Planeta Dez) e o distribuiu gratuitamente para os presentes. A cantoria de mesa em mesa foi saborosa, do mesmo nível que a especialidade da casa, tapioca.

Na noite seguinte, 8, sábado, diante de opções com altos gastos e outras de gosto duvidoso, sempre na busca pela batida da MPB, a opção recaiu sobre uma apresentação no SESI Rio Vermelho, Bar Varanda, com o grupo Barlavento (www.barlaventosambaderodacom e www.myspace.com/barlavento), o show “Gonzagão também samba”. Gastamos o que consumimos, mais R$ 10 reais cada, recolhidos de mesa em mesa. De cara algo que gostamos muito, eles estariam trazendo ao palco três convidados, dois já conhecidos de longa data. O ritmo do grupo e a cordialidade do seu mentor, Hamilton Reis é magnetizante. Proseador, nos fez dançar ao ritmo da música que leva o nome do seu CD, “Mariscada na Roda”, ali comprado. Quando fui comprar o CD e lhe disse que tínhamos sorte em Bauru pela existência de uma rádio universitária onde ouvimos muita MPB. “Pois então leve um CD nosso e os apresente a eles. Espalhem essa baianidade entre os paulistas”, nos diz.

Escrevo algo rápido de dois convidados e deixo um algo mais do último. Jota Veloso (www.myspace.com/jvelloso e j-velloso.blog.uol.com.br) é muito mais do que o irmão do Caetano, sendo mais conhecido como compositor e produtor musical. Foi o único que não tive o prazer de conversar, mas me encantei com sua cantoria, revivendo com o acompanhamento do Barlavento alguns dos seus sucessos. Falou de cada canção e extasiados ficamos, chegamos até a dançar. Depois foi beber com o cotovelo encostado no balcão do bar e de longe ouvíamos suas histórias e estripulias. Não conhecia Jonga Lima, mas ao ouvi-lo é desses amores à primeira vista. Versatilidade em pessoa, translucido e batuta. Conversando com ele fico sabendo manter um programa na rádio Educativa, o Brasil Pandeiro, todo domingo, 9h (https://www.facebook.com/BrasilPandeiro) e toda terça apresenta num bar o espetáculo “Circo, Choro e Riso”, com muito Sambatronica, sua especialidade e nome de uns dos seus CDs. Ouçam o “Farinha pouca, meu pirão primeiro”, clicando no www.myspace.com/joaojongadelima. A internet está infestada de coisas maravilhosas de ambos, basta pesquisar e o encantamento vai despontando aos borbotões.

E vamos aos finalmentes. O terceiro convidado do Barlavento é um velho conhecido desse mafuento escrevinhador, Gereba (www.gereba-barreto.com), um dos violinistas mais respeitados da música brasileira. Esse é estradeiro de velha cepa, violeiro dos meus tempos de juventude. Tenho aqui no mafuá um velho LP, “La Nave Va”, 1986, não dele sozinho, mas de uma dupla, o Bendengó, onde atuou ao lado Capenga. Como o show ali revivia Gonzagão, ano do seu centenário de nascimento, nada melhor do que Gereba estar presente, pois acaba de lançar um CD, o “Lua do Gonzaga – Gereba Barreto & Convidados”, só com valsas do reio do baião. Isso mesmo, valsas, acredite se quiser. Fiquei encantando por revê-lo dessa forma inusitada. A cantoria no palco me fez reviver décadas atrás, tempos da tropicália e de todos os baianos que o movimento me possibilitou conhecer. Em cinco canções, fiquei ali meio boquiaberto, extasiado.

Quem passeia de mesa em mesa nesse momento é a irmã do compositor, acho que sua maior divulgadora, empunhando o CD. Senta para uma breve prosa e revela das andanças do mano nesses tempos todos. Depois vou me sentar ao lado dele, escuto mais que falo. Conta histórias de sua Monte Santo, cidade natal, deixa comigo seus telefones, e-mail e pede para que adentre seu site, escreva para ele, pois quer ver se a tal rádio bauruense que havia lhe dito, a Unesp FM, reproduz a série de programas gravados das apresentações na UMES, “Serenata na UMES Gereba Convida”, acontecidos em Sampa de 1996 a 2001.”Decidi que estas valsas e os choros tinham que sair do anonimato e resolvi passa-los para os nossos queridos poetas Fernando Brandt, Zeca Baleiro, Abel Silva, Carlos Pitta, J. Velloso, Maciel Mello, Lirinha, Bené Fonteles, Xico Bezerra e Tuzé de Abreu”, escreveu no texto que abre o encarte do disco.

O encantamento desse modesto escriba com Gereba é por tudo o que sei representar para a música que gosto e ouço no meu dia-a-dia. Ele é compositor, arranjador, cantor, produtor e instrumentista. Quando isso tudo está tudo junto e também misturado, sai de baixo que lá vem coisa da boa. No final de tudo, mais papos rolaram, conversas sobre outras possibilidades, a troca gentil de endereços virtuais e o acarinhamento que o artista tanto precisa, sem bajulação, mas o do reconhecimento. Fiz isso com todos e certamente, saimos da Bahia, eu e Ana, cientes de termos feitos ótimas escolhas no cenário musical na cidade. Já em Bauru, gasto os CDs trazidos de lá aqui nas vitrolinhas de casa e no carro. Aguardava só o momento de passar tudo isso para o papel e agora já posso contatar meu amigos da rádio Unesp e repassar os mimos baianos, com efusivos pedidos de reprodução para todos seus ouvintes.

Eis algo mais do show: http://www.noticianahora.com.br/ba/noticia/jota-veloso-gereba-e-jonga-lima-sao-os-convidados-do-barlavento-neste-sabado-07/137309#.Uc7retI3tKA
OBS.: Esse texto deveria ter sido publicado na primeira quinzena de junho, mas pelos desdobramentos do movimento do povo novamente ocupando ruas e praças, acabou adiado e o está sendo somente agora. E com louvor.

2 comentários:

Anônimo disse...

HENRIQUE

Gereba morou muito tempo em São Paulo e esses programas fizeram história, gravados ali no Teatro Denoy Oliveira, de pois transformados em CD pelo selo da UMES. Raridades históricas e encontros tamb´pem históricos. Não sabia que ele havia voltado para sua terra natal. Viva a Bahia e os resistentes.

Fausto

Anônimo disse...

Prezado Henrique: Tudo bem? Claro que lembro de ti! Observei o quanto
voce ficou satisfeito com o a noite de música na Varanda do Sesi. Gostei
muito do seu interesse quanto a música que se faz aqui na Bahia e fico muito feliz quando voce reconhece e destaca com louvor o Barlavento e os nossos convidados daquela noite especial.

Estive viajando (Paraty/R.J-FLIP) e através do meu celular tomei conhecimento do seu email, o que me deixou feliz por todo o reconhecimento e elogios feitos por voce naquela noite festiva da Varanda do Sesi. Agora, chegando em Salvador, quero, mais uma vez lhe agradecer a divulgação do nosso trabalho aí em Bauru através de uma rádio da região. Repassarei os seus comentários para os meus amigos/convidados daquela noite e me despeço enviando nosso vídeo-clipe para voce conhecer um pouco de Mutá no recôncavo baiano, fonte da nossa inspiração.
com um grande abraço,

Hamilton Reis

http://youtu.be/WS-UXoh3zF8