sábado, 2 de setembro de 2017

MEMÓRIA ORAL (215)


EXISTE UM BOM LUGAR PARA FORTUITOS ENCONTROS FORA DO CORRE-CORRE: O ARAPONGAS
Semana passada estava eu e um amigo em busca de um lugar para promover uma reunião com aproximadamente umas cem pessoas no centro de Bauru e matutamos demais da conta, sem chegar numa plausível conclusão. Mas existiria um lugar realmente acolhedor, onde fosse possível a união do útil ao agradável, ambiente desses carregados de bom astral e onde ainda se possa relaxar de verdade? Só sexta à noite, quando me reencontrei com um divinal espaço nas ditas quebradas do centro, encontrei o tal. Trata-se da SOCIEDADE ESPORTIVA ARAPONGAS. Dela já escrevi por aqui quando do aniversário de 50 anos, 23/06/2009, tudo podendo ser lido clicando a seguir: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search….

O time de futebol de minha aldeia, o Esporte Clube Noroeste, 107 anos de idade fez anos e seus torcedores também estavam em busca de um lugar acolhedor para abrigar os torcedores na festa comemorativa. Pavanello, um dos líderes da torcida organizada Sangue Runro me diz na entrada do evento: “na sede ficaria muito apertado, pois queríamos trazer o Grupo Elite, samba de primeira, fomos de uma lado a outro e quando lembramos do Arapongas, vim pessoalmente, vi todo o aparato, simples, mas eficiente, impecável, disse pra mim mesmo: ufa! E cá estamos felizes da vida”.

O Arapongas é um clube de bocha encravado quase no centro da cidade, muito perto do Boulevard Shopping e umas três quadras atrás do Teatro Municipal, mais precisamente na rua presidente Kennedy nº 14-30. Já teve centenas de sócios e hoje resiste com pouco menos de 50 e com mensalidade de R$ 25 reais. Duas quadras de bocha, daquelas no estilo mais tradicional possível, com cancha de areia e bolas pesadonas. Quase aderiram tempos atrás para a tal da cancha sintética, mas preferiram permanecer ligados ao passado. Junto a isso tudo, um bar, mesas de sinuca, a possibilidade de um carteado em suas mesas e um salão daqueles, metade abertos, com um madeiramento de mais de 50 anos, impecável e resistentes mais do que qualquer vida humana.

Logo na entrada da festa dou de cara com o Amilton Alves Teixeira, que já foi de tudo na Diretoria do Arapongas, hoje é apenas diretor, mas continua fazendo tudo por lá. Ele, conceituado advogado, aposentado da área de Saúde, exímio fotógrafo, bom vivant, festeiro por natureza e desses que não ficam sem bater cartão vários dias por semana nas dependências. Ele me conta algo mais quando lhe instigo sobre a proximidade, quase parede meia com uma imensa igreja evangélica, ocupando bom espaço no quarteirão: “Eles não te cacife para mexer com a gente. Eles lá, nós aqui, cada um no seu quadrado. Tempos atrás tinham alguns conselheiros nossos loucos para vender tudo, mas conseguimos resolver da melhor maneira possível. Numa assembleia foi deliberado que, o clube não pode ser vendido em hipótese nenhuma e se por acaso, um dia necessitar fechar, tudo será devidamente doado para uma entidade filantrópica. Desde então, ninguém mais toca no assunto”.

Nada transpira modernidade por lá (o banheiro sim, reformado e limpo, fino trato) e isso é o que chama muito a atenção. Quando existem tantos lugares com a concepção do moderno, nada como existirem alguns belos exemplares de como a vida processava de forma mais simples, do jeito antigo. Antigo não quer dizer antiquado. Ou seja, um amplo espaço, gostoso, arejado para ali irem se reproduzindo a forma mais gostosa de vida, tão necessária nesses tempos de corre-corre e aceleração dos tempos atuais. Uma cervejinha gelada sendo levada na mesa, uma sinuca na mesa do lado, o barulho de uma bocha ao lado e vida que segue. Pergunto quanto cobraria para uma festa. “Alugamos para festas, desde casamentos e eventos. São poucos, mas estamos abertos a negociações. Se me perguntar o preço do aluguel para uma festa de vocês, fico sem saber. Vamos sentar e conversar, pois se gostou daqui, vãos dar um jeito de sua festa acontecer aqui. Num papo sem pressa a gente chega num denominador comum. Tá bom assim?”, me diz.

Na garagem, entrada pelo portão principal, cabe, seis carros e o espaço é todo coberto. “E tem a cozinha, que pode ser usada pelos que quiserem fazer um evento ou festa aqui. Tem tudo o que um evento necessita. Somos acolhedores”, conclui. Dá para perceber, pela simpatia a recepcionar os noroestinos. Mas o que chama a atenção num lugar tão simples e ainda por cima com essa cara de passado estampada no rosto? Penso sobre o assunto antes de bater em retirada na festa do time do meu coração e chego na seguinte conclusão: a simplicidade, honestidade de propósitos, jeito tranquilo de tocarem as coisas. Mesmo enfurnados no meio do turbilhão frenético, exigindo corre-corre, o pessoal do Arapongas já superaram isso e não se incomodam com o barulho do turbilhão proveniente dos que se agitam fora dos seus portões. Adentrou ali, o negócio é baixar a guarda e usufruir de momentos fortuitos da benevolência proveniente do lugar. Deixo o esbaforido do lado de fora e permaneça por lá com a tampa do benfazejo destravada. O Arapongas é um oásis no meio da perdição do vapt-vupt, pois tudo por lá corre lentamente, como devia ser a vida de todos e qualquer ser vivente.

OBS.: “Mas por que você escreve isso desses lugares? Quanto ganha para fazer isso”, poderia me perguntar o gaiato. Eu responderia assim: Ganho tudo o que imaginar sua mente suja. O ganho ali é bem outro e, pelo visto, desse você não entende patavinas. Melhore deixar pra lá.

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