segunda-feira, 6 de novembro de 2017

ALGO DA INTERNET (134)


ENTREVISTA SOBRE MÍDIA E COMUNICAÇÃO – HPA POR E-MAIL

Um professor me indica para um seu aluno me procurar e produzir entrevista sobre preferências e procedimentos da mídia atual. Dei minha contribuição desta forma e jeito:

- O que ainda lê em papel? Sua informação se dá ainda pelo meio impresso?
- Em parte sim, parte não. Não compro nem mais leio os ditos grandes jornalões, tipo Folha SP, Estadão ou Globo. Deixaram de ser confiáveis faz tempo. Os motivos são os mais simples deste mundo. Como posso confiar num grupo que não contesta as maiores barbaridades do mundo atual, aliás faz parte delas. Todos esses conglomerados são grupos familiares com ligação umbilical com o poder estabelecido. Você pode me perguntar, mas não foram sempre assim? Respondo: Sim, mas nos dias de hoje deixou de ter aquilo que no passado era o grande divisor de águas. Dentro das redações existiam jornalistas livres, soberanos e altivos. Décadas atrás se dizia que o dono do jornal era de direita, mas a redação era dominada pela esquerda. Do confronto, um bom jornalismo era produzido, hoje não mais, pois até as redações já estão dominadas pela direitona. O dono do negócio nem contrata mais gente com tonalidade de esquerda. Leio de papel o jornal de minha aldeia, o Jornal da Cidade, o último bastião que ainda mantenho com jornal impresso. E o faço, primeiro por ser o único meio de comunicação massivo impresso de Bauru, mesmo ciente de possuir os mesos laços de propriedade existentes nos grandes jornalões. Mesmo com tudo o que sei estar em curso dentro deste meio, sinto falta do cheiro do papel jornal impresso e este me preenche a lacuna. E leio também a melhor revista semanal brasileira, a Carta Capital, a única dentre as quatro brasileiras atuando dentro da verdade dos fatos. Desta não me separo, pois só pelo que padece para continuar existindo, remando contra todas as marés, merece continuar muito viva e informando seriamente um segmento importante os ainda leitores do segmento papel. Faço questão de ler também a revista mensal Caros Amigos, completando agora 20 anos de existência e de resistência.

- E no segmento rádio, ainda escuta rádio?
- Cresci ouvindo rádio e dele não consigo me afastar, apesar de todos os pesares. Dói muito ver o que aconteceu com o rádio brasileiro, todo dominado pela informação de mão única. Aqui em Bauru tínhamos até mês passado a Auri-Verde na frequência AM, 60 anos de existência e foi vendida na “bacia das almas” para o grupo mais conservador da radiofusão do país, a Jovem Pan. Demitiram 90% do quadro de funcionários e mantém dois no jornalismo e um contrato com a equipe esportiva, além de despejar uma informação produzida fora da cidade e de conteúdo dúbio, provocando o tal ódio que dividiu este país e criminalizou somente um dos lados da questão, isentando o pior deles. Está difícil escutar rádio em Bauru para ouvir jornalismo. A agora Jovem Pan e a 94 Fm mantém programas de opiniões, com a participação de colunistas e convidados, mas só convidam gente ligada ao pensamento conservador, ligados todos ao neoliberalismo. Não é mais possível o contraditório. Ainda ouço, mas mais para me irritar. Como gosto muito de futebol, ouço, com reservas e mudando sempre de dial. Se te contar não vai acreditar, mas virei fã mesmo de uma rádio argentina, a 750 AM, com um programa diário do Victor Hugo Morales, o La Mañana, das 9 às 12h, com algo não mais possível no Brasil, a verdade dos fatos sendo discutida pela vertente da maioria da população e não a dos seus donos e seus interesses. E discute a América Latina num todo, a ocupação midiática judicial em curso com abordagens a dignificar o autêntico Jornalismo com “J” maiúsculo. Até tempos atrás consegui escutar o Ricardo Boechat na Band FM, o mesmo da TV, mas perdi o encanto, pois se tornou, até nas piadinhas infames igual aos demais. Tá tudo nivelado pelo imposto pelo dono do negócio. Ou faz como eles impõem ou o cara é sumariamente despedido. A regra básica é essa, sem tirar nem por. O que salva aqui em Bauru é a Unesp FM, com sua música de primeiríssima qualidade, um alento para ouvidos necessitando de algo palatável. No quesito, programação musical são inigualáveis.

- E na TV, o que assiste?
- Assisto cada vez menos. Outro dia uma garota ligou pra casa como se tivesse descoberto a pólvora. Disse ter descoberto que não tinha TV a cabo e desta forma estava me oferecendo algo que iria adorar, promoção inimaginável para ter centenas deles, todos num clicar de dedos. Ela achou que iria fazer um belo contrato. Disse a verdade: “Não quero, pois sendo rueiro ficaria doente vendo muita TV. E se o fizesse seria pelos filmes e o esporte, nada mais, mas como não quero ficar doente e dentro de casa, não queria nem de graça. Prefiro ir aos bares do que ficar plantado com a bunda na poltrona”. Por fim, até ela concordou e disse que queria ser igual a mim. Não dá mais para ver TV e leva-la a sério. Um jornalismo todo muito parecido, a mesma cara e identidade, com essa cara golpista desses tempos atuais, mentindo muito e sacaneando com o telespectador, induzindo-o a crer nas suas verdades, a de gente que crava a estaca nas costas dos interesses da imensa maioria da população. Coisas como o Jornal Nacional é lixo da pior espécie, confiabilidade zero. Todos os grandes jornalistas foram sendo afastados do vídeo e hoje estão em versões mais modestas e pelas vias alternativas, onde busco hoje a informação que considero a mais confiável.

- Então, chegamos a isso: se busca tão pouca informação nos meios massivos, onde os encontra?
- A saída é o computador e a internet. Sem ela estaríamos totalmente fubecados e num mato sem cachorro. Eu também produzo alguma informação por essa mesma via pelo meu blog, o Mafuá do HPA e pelas redes sociais, através de minha página pessoal pelo facebook. Navego diariamente, uma das primeiras coisas que faço no dia, pelo site do diário argentino, o Página 12, hoje o melhor da América Latina e depois vou vendo algo aqui e ali, nunca com um roteiro pré-determinado. Ao entrar no meu facebook, já leio aqui e ali opinião que vão chegando pelas mãos de amigos, indicações me remetendo para um link, por exemplo de publicação do El País, das falas e publicações diárias de gente como o José Trajano, Fernando Morais, Juca Kfouri e outros. Dependendo do tema a gente sabe onde pescar a informação mais adequada. Circulo também pelo que dizem alguns políticos ainda confiáveis e assim sigo até o final do dia. Dependendo da notícia, a gente sabe onde encontrar algo confiável, tipo DCM – Diário do Centro do Mundo ou mesmo a Mídia Ninja. Tem muita gente escrevendo desta forma e hoje fonte de informação confiável. O que faço cada vez menos é buscar informação pelos grandes meios de comunicação, pois já não confio em nenhum deles.

- E esse pessoal todo saindo das escolas de Jornalismo e Comunicação, o que vão encontrar pela frente daqui por diante?
- Se deus existisse poderia te dizer sem medo de errar, só ele sabe, mas como nem ele existe, o grande negócio daqui por diante vai ser cada um se reiventar, fazer o que o maior jornalista vivo brasileiro um dia, bem lá atrás disse e nunca mais esqueci, o Mino Carta, inventor de quase todas nossas semanais: “Eles não me dão mais emprego, daí tive que inventar os meus”. Isso é fácil com grana no bolso e sem ela, o que valerá muito daqui por diante para todos os que não quiserem e nem estiverem dispostos a serem vergados por uma falsa informação, ou atuar produzindo mentira comunicacional, será usar de muita criatividade e bolar algo novo. Não vai ser fácil bolar algo novo a contemplar todos os novos jornalistas, mas vejo outra grande saída no cooperativismo. Uma junção de muitos com uma linha de pensamento progressista e juntos proporem algo novo, confiável. Muito já se tentou disso, alguns acertaram a mão, outros não. Trabalhar para a grande imprensa é se vergar ao que dita as leis de mercado e isto é um horror. Vejam o exemplo da Carta Capital brasileira e do argentino Página 12, o que de melhor existe em cada país, mas com nenhuma publicidade oficial, negada justamente por não falsearem com a verdade e não escolherem o caminho mais fácil, o de bajular os donos do poder. Hoje é assim bajulou tem publicidade, disse a verdade e contrariou interesses deste, zero de publicidade. O cara já sai do banco escolar sabendo que se quiser produzir algo dentro da verdade dos fatos, não o vai fazer dentro dos meios dominados pelos barões da mídia. E fora disto, tudo cada vez mais centralizado, dificuldades para uma vida inteira. Remar contra a maré e cavar possibilidades onde ainda possa produzir algo por vias indiretas, alternativas ou próprias. A saída hoje para todos os verdadeiramente proponentes, versáteis e com grandes ideias na cabeça é o aeroporto, mas para os que ficarem, a imensa maioria, o mais recomendável é ter logo de cara uma boa pá, pois terá que cavar muito para conseguir ser visto, depois respeitado, depois ir se colocando em algo onde irá conseguir trabalhar e ser remunerado a contento. As próprias faculdades já pensam nisto e ensinam nos últimos anos dos cursos como pode se dar essas alternativas, pois ela bem sabe a dureza que virá pela frente na dependência de um lugar ao sol pensando em atuação centrada só nos grandes meios de comunicação.

Foi isso. Não sei se assustei o jovem estudante, mas é essa minha opinião. Deve servir para alguma coisa. Poderia discorrer mais, mas ele me disse que até me alonguei demais, daí parei por aí.

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