quinta-feira, 26 de julho de 2018

DIÁRIO DE CUBA (99)


TRÊS TEMAS APARENTEMENTE SEM CONEXÃO, PORÉM...*

* Adoro brincar misturando Cuba e Brasil, enfim, em Cuba tem disso não, só aqui.

1.) HILDA HILST HOMENAGEADA NA FLIP PARATY NESTE FINAL DE SEMANA - ALGO DE QUANDO RENEGOU JAÚ, SUA TERRA NATAL

Falar desta poetisa é chover no molhado. Quem nada conhece deve parar tudo e espiar já, nem que for via google. Descubram vocês mesmos quem venha a ser a "Obscena Senhora H". De sua vasta obra, nada a acrescentar, mas muito mais, sempre, a ser devorado, ainda mais nesses tempos onde a leitura não só está em baixa, mas quando contestatória, sendo considerada subversiva, perigosa e prejudicial aos bons costumes da manada que se transformou o povo brasileiro. Dela só uma coisinha. É jauense e de família com nome e sobrenome garboso, cintiloso e daqueles que certa feita cercaram Jaú com arame farpado para não ser invadida por forasteiros indesejados. Isso pode ser lenda, mas ela não aguentou a cidade e se foi para uma fazenda nos arredores de Campinas e ali viveu isolada e fazendo o que sempre quis. "Desde os atos inaugurais de ocultar o sobrenome provinciano-aristocrático Almeida Prado no nome público e se firmar como poeta ainda muito jovem, Hilda Hilst, nascida em Jaú, em 1930, numa família de fazendeiros, fez dos desvios das normas sua própria norma de conduta", Pedro Alexandre Sanches, in Carta Capital desta semana. Sei que alguns podem dizer, "mas com grana tudo é possível". Sim, pode ser, muito mais fácil, mas sem grana vejo muitos fazendo algo parecido e eles todos reverencio com o devido louvor. Queria neste momento não deixar passar batido que, ela sempre morou no meu coração e sendo gauche na vida, exemplo eterno para esse hoje um tanto cansado lobo das estepes. Eu bem que tento "hildar", algumas vezes consigo, noutras me estrepo, mas adoro continuar inistindo. A FLIP continua valendo a pena só por homenagens como essa. Queria estar por lá.

2.) O JORNAL FALA EM RECUPERAÇÃO, MAS A REALIDADE DAS RUAS DEMONSTRA O CONTRÁRIO

A tira publicada hoje pelo jornal diário argentino Página 12, obra do Miguel Rep é cara da rua Batista de Carvalho, principalmente suas primeiras quadras. Antigamente contava-se nos dedos (de uma mão) as lojas fechadas, hoje a conta é feita exatamente ao contrário, a conta se faz em quantas permanecem abertas. Nunca vi em toda minha vida uma porcentagem tão alta de lojas fechadas no quadrilátero do mais agitado, famoso e movimentado centro comercial de Bauru, o envolvendo a rua Batista de Carvalho, o dito Calçadão da Batista e seu entorno. Seria isso tudo SINAL DE RECUPERAÇÃO, visualizado a olho nu, sem nenhuma necessidade de estatística e artigos comprobatórios ao contrário, mas mesmo assim, alguns (poucos, diria) insistem em tentar provar o inaceitável, o inconcebível, o insólito, o que nossos próprios olhos desmentem. A situação não está nada boa e para constatar isso basta uma simples andadinha pelo centro bauruense e um amigável papo com o pessoal envolvido com o comércio. Não se reserve a fazê-lo somente com os comerciantes, faça também junto aos comerciários e verás se o momento é bom, alvissareiro e em plena recuperação, como li no jornal. As plaquinhas de "FECHADO" (CERRADO em espanhol) espalhadas por todos os cantos desmentem qualquer coisa dita como possível recuperação. Falta para alguns exatamente isso, botar os pés nas calçadas, sentir o cheiro da coisa in loco. O país administrado pelo ilegítimo Temer, golpista de primeira instância e seus apoiadores (quem mesmo aqui em Bauru?) são os únicos culpados desse quadro. Não me venham querer culpar quem nos governava no passado, pois já se passou tempo demais da saída desses do governo e a situação se agravou ainda mais com as ações embrutecidas, cruéis e insanas dos que tomaram o Governo de assalto (o golpe não foi exatamente isso?). A reação tem que vir do povo, desmentido isso, se posicionamento contra o discurso reducionista e demonstrando quem de fato tem razão. A miséria está se instalando nas ruas bauruenses e só não vê quem não sai às ruas. Na mesma tira algo que para muitos nem é percebido, o aumento do número de moradores de rua, vivendo sob essas marquises fechadas. Esse é outro incomensurável problema social e deveria ser enfrentado de frente pelos detentores da atual administração municipal. No desenho de Rep a foto da rua Batista de Carvalho e tudo que a cerca, sem tirar nem por.

3.) COLORINDO VIDAS, CALÇADAS E SONHOS

Que o mundo anda mais do que opaco, disso não existe a menor dúvida. O neoliberalismo na sua fase mais predatória, implantado a forcéps no Brasil após defenestrarem Dilma do poder foi a gota d'água da tristeza nacional, também derrocada do que nos restava de país altaneiro e soberano. Hoje somos o paraíso da desolação. Quando saio pelas ruas e me deparo com algo a fugir do trivial, paro e me regozijo. O benfazejo vem nas pequenas coisas, simples demonstrações de que colorindo a vida é quase a mesma coisa que sair por aí dizendo ser contra o opaco, o modo de vida imposto como única alternativa para este mundo. Lá defronte a bonita loja do Eurico, a Paiol, na rua Julio Maringoni um belo exemplo disto, com um imenso pano de chita revestindo parte do caule da arvore defronte o estabelecimento. A intenção dele pode não ter sido a de transgredir, mas ao ver a instalação fugindo do trivial, me inspira para fazeres outros, montagens diversas para se contrapor à mesmice imposta por quem segue religiosasamente essas tais de leis do mercado. Eu mesmo já vou fazer algo na minha calçada, propondo uma transgressão como modo de enfrentamento a essa brutalidade sendo cravada nos costados do povo brasileiro.
OBS.: Na foto, caminhando de costas na calçada, Ana Bia e Helena Aquino, duas também inquietas pessoas diante da barbaridade imposta pela mesmice e parvoice nacional.
A irreverência desta insólita Hilda nunca foi compreendida pela vizinha e conservadora Jaú...

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