terça-feira, 2 de novembro de 2021

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (155)


CODEPAC, REFORMA DE IMÓVEL TOMBADO, O DA ANTIGA FARMÁCIA POPULAR E O FUTURO DAS EDIFICAÇÕES TOMBADAS PELO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL
Há algo em torno de dez anos deixei de ser conselheiro do CODEPAC – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru. Fui presidente por um período e conselheiro por outro. Foi um período intenso, cheio de boas recordações. As reuniões ocorriam regularmente, eram públicas, divulgadas e tudo dentro da maior transparência. Por lá estive durante a última administração de Tuga Angerami (2005/2008) e depois na primeira de Rodrigo Agostinho (2019/2012) e naquele período, de algo ninguém pode nos desdizer, muita coisa boa aconteceu e ficarará demarcado ao longo do tempo. Escrevo isso, pois a nítida percepção de que esse algo se perdeu ao longo do tempo. Desde então, as reuniões do Codepac parece que passaram a ser realizadas de forma secretas, ocultas e sem nenhum interesse em torná-las públicas, com ampla divulgação, como que os assuntos ali tratados, merecessem mesmo o ocultismo. Hoje, sei existir composição constituída do conselho, mas não consegui me informar se continuam se reunindo regularmente e muito menos o que e como decidem as questões de patrimônio histórico e cultural na cidade de Bauru, nem quem são.

Escrevo isso, pois tenho passado pelo centro da cidade e ontem não resisti, tirei fotos da reforma – sim, o que ocorre ali é reforma e não restauro – de uma edificação tombada pelo Codepac. Trata-se da denominada “Antiga Farmácia Popular”, construção da década de 30, incrustrada na encruzilhada, esquina das ruas Primeiro de Agosto – 7-83 – com Gustavo Maciel. Ela foi tombada através do processo nº 18.026, de 1996, com parecer técnico feito pela arquiteta Norma Regina Truppel Constantino. Segundo consta no processo a edificação naquela época era propriedade de Wanda Delgallo Pollice, contrária ao tombamento. Ele aconteceu e abrigou ao longo dos anos vários estabelecimentos comercias, desde a pioneira farmácia, depois, pelo que me lembro, ultimamente um bar de propriedade de chineses e agora, como mostra as placas ali instaladas, futuramente – muito em breve – uma casa lotérica.

Minha escrevinhação não tem nenhum tom de crítica ao que ocorre no local. A tal reforma deve ocorrer à revelia do Conselho e se o contrário, alguma explicação.
Não consegui obter informação se continuam se reunindo e tomando decisões no sentido de orientar como deve ser os procedimentos para locação destes locais tombados. Se isso ocorreu, estarei pronto para aqui resgatar, publicar o procedimento utilizado e até me retratar. Creio nada disso ocorreu, pois não vejo nada acontecendo neste quisto cultural nas entranhas do serviço público municipal comandando pela fundamentalista Suéllen Rosim e seus indicados para ocupação dos cargos de direção no setor. Ouço mesmo, algo pelo destombamento de algumas edificações, como já se manifestou o vereador Segalla na tribuna da Câmara Municipal. Vivemos tempos inseguros em todos os sentidos e meios. Primeiro mantém um Conselho de forma inoperante, algo para manter as aparências, depois talvez estes mesmos, se assim aceitarem, investidos de suas atribuições, irão reverter o que um dia já foi feito, sem ao menos ocorrer discussões, aprofundamentos e o que é mais salutar, a informação de como se poderia reverter isso tudo mantendo os tombamentos. Prevejo tempos sombrios também neste quesito em Bauru, algo bem demonstrativo de como são as ações culturais em tempos bolsonaristas.

Quando à edificação citada, nutro por ela admiração pelo que já nos representou no passado. Sua preservação por estes motivos, não necessitam mais ser elencados, são mais do que justificáveis pelo tombamento e do conhecimento público. Não entro no mérito do que está sendo feito e como ocorre, pois não tenho detalhes, mais subsídios. Escrevo só para tentar colher dados se os procedimentos foram acolhidos e estão em vigência ou se também neste caso ocorre, como gosta nossa alcaide, flexibilização total e absoluta, ou seja, vista grossa para algo em plena ocorrência? Estou só em busca de informações mais concretas para escrevinhar com maior conhecimento de causa.

Desde já antecipo minha modesta opinião, a de que os tombamentos históricos precisam ser mantidos, pelo bem da preservação de nossa história arquitetônica e cultural. Destruir e colocar em seu lugar algo dito “moderno” não é a solução mais adequada, talvez a mais simplista e cômoda. O Codepac poderia retomar essa discussão se estivesse se reunindo com total liberdade de ação e com membros de diferentes órgãos atuando, sem atrelamentos e restrições. Enfim, em breve a Casa Lotérica será inaugurada e com certeza, a prefeita, como gosta de fazer, estará presente. Entendam os proprietários do imóvel tombado e muito menos os comerciantes locatários que, tudo pode ser compreendido e realizado num fácil entendimento entre as partes, desde que, todas estejam em pleno funcionamento e operantes. Não estando, sempre problemas pela frente.

MAFUENTO HPA NO 11º EXPRESSÃO POÉTICA - POESIA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Eis aqui o resultado de "quem quer faz o hora e não espera acontecer". Esse pessoal do grupo Expressão Poética de Bauru move céus e terra, reviras as entranhas desta cidade sanduíche e ao final de cada ciclo lança mais um produto no mercado. Desta feita me convidaram e eu prontamente atendi, com três textos do ano de 2014, nenhum inédito, publicados como crônicas semanais no extinto jornal Bom Dia. Revivi esse período, pois um dia ainda penso em reunir todos meus textos ali escrito, sem nenhum tipo de censura e publicá-los num livro, algo pelo qual preciso tomar umas aulas com esse pessoal do EP. A Ana Maria Barbosa Machado e o Vagner Fernandes dos Santos, os organizadores, conseguiram reunir 52 cabeças pulsantes e diferentes, formatar algo onde cada um pode expressar pouco do que o move no momento e a coisa já circula pela cidade. Estou lendo e conhecendo muitos deles, me maravilhando com alguns, que nem conheço pessoalmente.

O mafuento HPA está novamente nas paradas de sucesso e abaixo compartilho meu currículo, minha folha corrida, solicitação da Aninha quando me convidou. Pediu para que fizesse uma breve apreentação de minha pessoa. Fiz isso abaixo, sintetizando bocadinho de como me vejo e entendo:

"Henrique Perazzi de Aquino, professor de História, meste em Comunicação Social pela Unesp Bauru, jornalista das pequenas causas, historiador e memorialista das Insignificâncias, produzindo textos pelo Lado B do que presencia nas ruas, andanças e devaneios de 61 anos de estrada. Casado, pai de um filho, idealizador do Mafuá do HPA, um reduto libertário encravado dentro de Bauru, espaço de muita conversação, discussão e um jeito de levar a vida sem os tais trancos apelativos. Criador de caso, contra as injustiças e defensor dos injustiçados, daí sempre envolvido em questiúnculas e processos, causados pelas escolhas de uma vida andando no fio de navalha. HPA expõe sua linha de pensamento e ação diariamente através de seu blog, o Mafuá do HPA (www.mafuadohpa.blogspot.com). Um ser inquieto, inquietante e inquietador.

Fui ler a apresentação dos colegas e percebo que a maioria, assim como este escrevinhador, batalha e ruge pela aí, enfrentando dragões e muitos leões vida afora, luta incessante, sem clemência e intervalo para descanso. A vida está mais dura que antes, tempos capirotistas nos encurralam, mas a gente vai cavando brechas, saindo pela tangente e conseguindo ainda demarcar território, igualzinho meu cão faz nos postes quando o levo para passear. Se bobear a gente deixa colado em cada um o recado destes que não entregam o jogo, não se vergam e não querem fazer acordos com a parte contrária. A lida é dura, mas em alguns momentos, como neste, reconfortante.
OBS.: Todos meus textos publicados pelo extindo jornal Bom Dia estão aqui também reproduzidos neste blog.

FINALMENTE, ASSISTI AO FILME MARIGHELLA: ALGUMAS OBSERVAÇÕES BUSCANDO PERTINÊNCIA
"Eu era bem jovem, bem no início dos anos 1980, quando descobri o verdadeiro Marighella, personagem que, em minha memória nublada, desenhava-se apenas como o maior inimigo da Ditadura Militar.
Fizera eu jovial e bela amizade com Flavia Schilling, ativista de resistência que somara com os tupamaros, no Uruguai.

Ela tinha sido baleada e permanecera presa por anos no país vizinho. Finalmente, depois de um campanha internacional, conseguira retornar ao Brasil e começava a estudar Pedagogia na PUC de São Paulo.

Daí que meu primeiro choro ao assistir à fita de Wagner Moura foi quando vi retratado o frontispício de nossa querida e combativa universidade, na Rua Monte Alegre.

O filme mostra a prisão de professores e alunos. O cortejo passa pelo lugar onde eu fizera discursos, como coordenador de Centro Acadêmico Benevides Paixão, e como responsável pela Comunicação do Diretório Central dos Estudantes.

Pois foi Flavia quem me convidou a somar na campanha petista da viúva de Marighella, Clara Charf, na eleição parlamentar estadual de 1982.

Confesso que, tolo, imaginava Clara uma guerrilheira durona e autoritária. Pelo contrário, encontrei uma mulher sorridente, carinhosa e sempre disposta a contar a história do Brasil aos mais jovens.

Foi ela quem me me disse da paixão do Mariga pelo futebol. Torcia para o Vitória, na Bahia. Depois, somou com os flamenguistas. Mas apaixonara-se, por fim, pelo Corinthians, um clube que - segundo ele - refletia no sofrimento e na fidelidade a saga do povo trabalhador brasileiro.

Por isso, no início do filme, me chateou a referência única ao co-irmão Vitória. No livro "Marighella - O Guerrilheiro que incendiou o mundo", do formidável colega Mário Magalhães, há várias referências ao corinthianismo de Carlos.

Numa das passagens, aliás, o autor conta que a minúscula célula de resistência marighellista em São Paulo tinha uma dupla de membros que se identificava por codinomes buscados entre os craques da esquadra alvinegra.

Vale ainda dizer que não há, no filme, qualquer referência ao esperado encontro entre Corinthians e Santos, justamente na noite do assassinato do ativista.

Felizmente, esse fato é narrado pela sobrinha de Marighella, Isa Grinspum Ferraz, no documentário que rodou sobre o tio, obra de 2012.

Vale complementar que a morte do guerrilheiro foi anunciada no sistema de som do estádio do Pacaembu, durante o prélio vencido por 4 a 1 pela equipe mosqueteira.

Não por acaso, a famosa ação direta pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita, constituída também por membros sobreviventes da ALN, seria realizada, em 1979, no mesmo clássico, desta vez no Morumbi, entre Corinthians e Santos.

A obra de Moura é fundamental por um simples motivo. Mostra que Carlos Marighella era um bom homem, honesto, decente e amoroso, e não o bandido assaltante pintado pelos órgãos de repressão e pela mídia.

Creio, no entanto, que o filme tem muito da ação de Tropa de Elite, tempo que poderia ser combinado com um retrato mais detalhado do líder resistente.

Onde foi o Marighella polímata, sabedor de todos os assuntos e poeta de incrível talento?
E mais... Por exemplo, diz-se apenas que Marighella era filho de uma mulher de origem sudanesa, o que é fundamental narrar em um país ainda machista, misógino e racista. Justo tributo a nossa luta da negritude!

E a Bahia precisa ser mais contada em suas históricas rebeliões pretas. Figuras como Lucas Dantas e outros revoltosos do movimento dos "alfaiates" precisam ser iluminadas pelos pesquisadores e comunicadores contemporâneos.

Considero, no entanto, um pecado que o filme não faça menção ao pai de Marighella, Augusto, um imigrante italiano fundamental em sua formação. Operário metalúrgico e motorista, empenhou-se em incentivar no filho o hábito da leitura, especialmente sobre temas sociais e políticos.

O filme poderia também mostrar o fio eletrificado das tensões que dividem o Brasil desde sua ocupação violenta, em 1500. Não faz menção, por exemplo, à detenção de Mariga pelas forças repressivas de Filinto Müller, inspirador de Ustra e Fleury nas artes macabras da tortura.

Valeria, pois, uma remissão de memória às aventuras de Marighella na década de 1930. Assim como aos tempos de cerceamento da democracia e de proscrição do PCB.
Não considerei também que tenha ficado explícita a diferença entre Marighella e o partido, com o qual tem arranca-rabos frequentes na década de 1960. O guerrilheiro reclama da censura interna e das ações premeditadas de desvalorização de sua militância.

Excelente, no entanto, que o filme frise a principal virtude de Marighella, a opção pela Ação Direta, como estratégia de confronto e também como recurso de propaganda. Ninguém, pois, precisa de autorização carimbada para fazer a revolução e defender os direitos do povo.

Não sei quais obstáculos no campo dos direitos autorais impediram a identificação detalhada de alguns combatentes da ALN. Esperava ver, por exemplo, Ana Maria Nacinovic Correa como ela própria, em tributo a sua coragem e dedicação.

Ela deu a vida pela causa quando tinha apenas 25 anos de idade, assassinada ao sair de um restaurante, na Mooca, aqui na nossa Zona Leste paulistana. Se há essa referência nomeada, infelizmente me escapou.

Também, admito, me frustrou o papel reservado à personagem de Clara Charf, muito bem representado pela ótima Adriana Esteves. Talvez em razão do recorte temporal, ela parece afastada da luta política, mera espectadora aflita dos acontecimentos. Pois bem, a alagoana comunista foi muito mais do que isso. Muito mais!

Enfim, eu poderia escrever metros e mais metros de elogios à obra, mas também de sugestões destinadas ao ajuste histórico. Mas ficam, sobretudo, os parabéns pela coragem de produtores, diretores, pessoal técnico e atores que presentearam os brasileiros com obra de inestimável valor histórico.

A base da imensa epopeia de Carlos Marighella, o maior dos revolucionários brasileiros, está, sim, presente na fita. E isso é o que importa. Contar às novas gerações sobre aquelas e aqueles que deram a vida por um Brasil mais justo, inclusivo e igualitário.

Companheiro Carlos Marighella: PRESENTE! Que o mundo conheça pelo menos algumas da mil faces de um homem leal", DILMA ROUSSEFF.
Pela transcrição, HPA - Fui assistir o filme ontem à noite, acompanhado de Claudio Lago e no cinema encontrei com a professora Kelly Magalhães e com o promotor Luiz Henrique Rafael. Queria tirar uma foto com o cartaz do filme, mas de todos os que passam ou que entrarão em cartaz, o deste filme não está exposto. Me digam: Estamos ou não num estado de exceção? Por que só o deste filme nenhum cartaz? Seria algum receio...

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