terça-feira, 5 de abril de 2022

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (102)


batendo perna pelo Recife
MUSEU DOS BONECÕES DE OLINDA E A JUSTA COMPARAÇÃO COM O FESTIVAL INTERNACIONAL DE BONECOS DE BAURU
Acompanho o Festival Internacional de Bonecos de Bauru desde o seu primeiro ano. No começo, realização da dupla Mariza Basso e Kym Junior, depois só pela Mariza. Nos primeiros anos tenho registros fotográficos de tudo o que aconteceu, desde os espetáculos, como dos bastidores. Conheci a maioria dos artistas, nacionais e internacionais que passaram por Bauru. Das histórias todas, as que mais me despertavam a atenção é como produziam os bonecos. Desde o mais pequeno até o maior, os bonecões. Já tivemos o prazer de ver nas ruas de Bauru, em desfiles de grande monta, muitos bonecões, desde os de Torrinha SP, como os nordestinos, como estes que vejo neste momento ao visitar o Museu dos Bonecões de Olinda. Impossível tudo não passar como um filme pela memória deste arguto observador. Este bonecões fazem parte de uma cultura popular que deve e precisa não só ser preservada, como mantida e incentivada. A técnica utilizada pelo pessoal de Olinda é um primor. O resultado final vai além da exatidão dos representados. Ou seja, foi conseguido, com o passar dos anos, atingir uma técnica louvável, reconhecida mundialmente. Estar diante destes resultados é dignificar muito do que ocorre neste quesito no país e do muito que poderia ser feito para isso ser espalhado. Cada região brasileira possui particularidades culturais e todas precisam ser valorizadas. Nosso festival perdeu força e não somente por causa da pandemia, mas também pela falta de incentivo público. Não é nada fácil a manutenção de algo assim e quando diante de algo concreto, de sucesso, nada como conhecer melhor, ver como conseguiram chegar, o caminho das pedras e se espelhar neles. A luta pelo fortalecimento da cultura popular é contínua e não pode esmorecer. Saio daqui querendo continuar dando todo meu apoio para Mariza Basso, para que seu festival viceje novamente e continue pulsando a cultura por onde passe.

ESTÁVAMOS PERDIDOS, MAS ME ACHEI RAPIDINHO NO CENTRO DO RECIFE PE NA PRAÇA DO SEBO
Praticamente impossível estar numa cidade e não querer ao menos ver como se dá suas relações com os livros. Quando, como aqui no Recife PE, quero saber de bibliotecas e seus lugares. Percorro caminhos pelo centro velho desta cidade e num certo momento, visitando o Centro do Design, no Pátio de São Pedro, eis que pergunto para Dilson de França, um dos seus funcionários sobre os sebos recifenses. Ele abre um sorriso e me diz estarmos há pouco me nos de um quilômetro, mas um caminho tortuoso e se apresenta para caminhar comigo e com Ana Bia até um lugar onde alguns deles estão reunidos, a Praça do Sebo. No caminho muita conversa sobre o vemos no entorno e chegando lá, nos deixa diante de vários destes, um ao lado de outro. Sentamos num bar e ficamos presenciando a cena, depois circulo entre eles e trago alguns exemplares de algo ainda conseguindo ler. Esqueço de tudo o mais e sou chamado para a vida pela companheira, me alertando ainda termos outros lugares para visitar neste penúltimo dia por essas paragens. Não o fizesse, permeneceria a tarde toda envolta em perdições procurativas, por livros e mais livros, um atrás de outro. Conheci um paraíso...

Antes tivemos o prazer de no Pátio de São Pedro visitar duas exposições grandiosas, uma no Centro Design do Recife com "Agosto da Jurema" e outra no espaço Cultural reverenciando os cirandeiros da cidade, "A Ciranda entre Nós". Tudo entrelaçado na praça e tendo ao fundo imponente igreja. Depois da praça, eu e Ana vamos até os redutos dos Brennans, irmãos, cada qual com seu museu/instituto particular, verdadeiros santuários culturais. Já havíamos estado em ambos anos atrás, mas impossível não querer voltando para cá, circular novamente entre aquelas jóias raras. Teria muito para escrever de cada momento, mas as ruas sempre me chamam e fica tudo por isso mesmo, só com citações. O importante é ter visto tudo com os próprios olhos, ter sentido esse cheiro todo e em algumas vezes até tateado. Tá tudo aqui na memória, só não tenho tempo neste momento para escrevinhações de grande monta.


70 ANOS DE CARMEN, REENCONTRO NO RECIFE DESTE MAFUENTO E OSCAR CUNHA, SOB OLHARES DE DAVID CAPRISTANO E URIAN
Essa história é longa e sai toda entrelaçada uma noutra, tudo permeado pela famosa frase de Cícero Dias, o artista plástico que idealizou o Marco Zero neste Recife: "Eu vi o mundo, ele começa no Recife". Hoje me dei conta do quanto isso guarda, não só de verdade, como de sapiência. Novamente nos reencontramos com Carmen Lucia Bezerra Bandeira, desta feita queria de nós se despedir no final da tarde, escolhendo para tanto um famoso bar do centro velho da cidade, o Central, na quadra boêmia da rua Mamede Simões. O lugar é mais que um achado, pois quadra só reverenciando as pessoas e nela, mesas e mesas de bares irmãos, interligados uns aos outros. Carmen, ficamos sabendo depois, comemoraria seus 70 anos na quarta, 06/4 e assim festejamos junto dela a data redonda em sua vida. Conta das constantes idas e vindas, dela e de Urian, o professor seu marido pelo lugar. Urian tem seu nome gravado num quadro na parede de um dos bares do lado denominado pelos frequentadores como "frontal", pois se posicionam defronte o Central. No "Barbosa", um quadro com sua caricatura e no "Acauã", uma pomba, esboço feito pouco antes de morrer para a marca do estabelecimento. Laços indissolúveis e tomamos conhecimento dessas e de outras histórias.

Carmem nos presenteia com seu mais novo livro, saído do forno neste dia, a história de Bezerra do Sax, tirada das entranhas desta terra. Enquanto ainda saboreava dessa história, lhe conto das compras que fiz na Praça dos Sebos e um deles lhe chama a atenção, a história de David Capistrano pai, o político comunista perseguido pela ditadura militar. Diz querer ver o livro, lhe mostro e pergunta se conheço seu autor, Marcelo Mário de Melo. Na negativa, nos surpreende, ele foi seu marido. Desembestamos a falar dele e de David, paie filho, este Secretário da Saúde de Bauru antes de ter sido prefeito de Santos. Neste exato momento junta-se a nós nas mesas do Central, quarteto de gente vinda de Bauru, também passeando pela cidade: meu dileto amigo Oscar Fernandes da Cunha, sua esposa Cícera, mais sua irmã Dora e o conhado Aristides. Prazer inenarrável ter Oscar e os seus ali naquele lugar. BAteu identificação imediata com Carmen e todos. Conversas generalizadas, primeiro sobre o David médico e sua passagem por Bauru. Cícera havia trabalhado com ele e segundo ela, "o melhor secretário da Saúde que Bauru já teve".

Sentamos todos juntos e mudamos de um bar para outro, consumindo algo em todos. Num certo momento, escapulo com o Barbosa, dono de um deles e vamos em busca de um bolo, logo trazido à mesa e retalhado para festejar os 70 anos da aniversariante. Para encurtar a prosa, pois por aqui, nenhum escrito pode ser longo, pois o tempo urge, conversamos até não mais poder. Foi uma noite e tanto - não tão noite assim, pois 22h já nos despedíamos do lugar. Eu e Ana, desde 10h perambulando pelas ruas, façam as contas e vejam o tempo total de nossa gastança de sola de sapatos. Cantamos todos juntos por Carmem, por Urian, pela possibilidade de estar junto com este baita amigo, Oscar e os seus, num destes momentos onde tudo converge para tornar a vida mais bela. Quando fui buscar o bolo com Barbosa, este me dizia algo disso: "A vida só é bela por causa de momentos como esse. Vejo a felicidade estampada na fisionomia de cada um de vocês e na minha também, pois relembro de Carmem e Urian aqui, como curtiam esse lugar e a noite boêmia. Nós estamos só sabendo viver".


pra não dizer que nada disse de Bauru no dia de hoje
Algo mais da vergonha de uma cidade sendo administrada por gente sem nenhum preparo e gostança pela cidade, aqui resumido na Entrelinhas do JC, edição desta data:


em tempo
Só ando com gente totalmente anti-bolsonarista.

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