quinta-feira, 9 de setembro de 2010

UM COMENTÁRIO QUALQUER (72)

O QUE ANDARÁ FAZENDO O TAL DO CODEPAC? COM CERTEZA, CUIDANDO DE COISA VELHA...
Fui presidente do CODEPAC - Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural por dois mandatos consecutivos, de 2005 a 2008 e hoje continuo atuando como representante suplente pela Associação dos Amigos dos Museus de Bauru. Muita discussão polêmica ocorre por lá e muita besteira é proferida por aí afora. Numa última o popular padre Beto, no seu programa de rádio na madrugada bauruense disse que gostamos de coisa velha e "o que importa mesmo é a sáude, essa sim anda ruim na cidade". Preconceito ao trabalho preservacionista é como erva daninha. Combater isso só com conscientização, educação e cultura. Existem bons livros no mercado versando sobre esse instigante tema. Fazemos nossa parte. Toco aqui em alguns temas discutidos por lá.

1. Fui convidado a emitir um Parecer Técnico para ser anexado ao processo de tombamento da edificação do Poupatempo. Documento entregue na reunião de Agosto, reproduzo a mesma aqui:
"EDIFICAÇÃO DO ANTIGO NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE SEMENTES DA SECRETARIA ESTADUAL DA AGRICULTURA, HOJE POUPATEMPO - LOCALIZAÇÃO: Rua Inconfidência, quadra quatro : O Estado de São Paulo adquiriu aquela área em 1939, às margens da ferrovia, com o intuito já definido de lá instalar sua unidade na cidade da Secretaria Estadual de Agricultura. A proximidade com os trilhos se fazia necessário, pois todo o transporte de grãos na época era feito via trilhos. Toda a produção local e regional passou a ser encaminhada até aquele local e de lá, seria transportada para dentro de vagões, que adentravam a um rabicho férreo e dali para as composições férreas que o transportavam para a capital do estado. Ali, próxima da região onde a cidade teve suas primeiras habitações e ao lado de uma paróquia religiosa, a grande movimentação ocorrida ao longo das décadas serviu também para dinamizar a região. Foi palco de grande movimentação, devido ao fluxo contínuo de produção ali descarregada. O tamanho do barracão, com um amplo salão central, denota a importância e sua utilização ao longo dos anos. Ao lado, uma casa administrativa, onde era gerenciado o escritório da unidade. Junto ao mesmo, uma infinidade de árvores, muitas frutíferas. O estilo da construção, bem peculiar dos anos 30/40, com tijolos à vista na fachada e toda feita com madeiramento, foi mantido praticamente intacto até meados dos anos 2000. Teve seu auge e seu período de decadência. De uma intensa movimentação, derivada das ferrovias, com sua privatização, foi tendo suas atividades praticamente estagnadas, pois o país num todo passou a incentivar o transporte via modal rodoviário. Permaneceu aberta, sem qualquer tipo de manutenção por quase duas décadas e sua revitalização foi propiciada pelo interesse do Governo do Estado em ali instalar uma unidade do Poupatempo. Todo o processo de transformação do local para receber essa unidade teve um trabalho criterioso e com acompanhamento, para não descaracterizar a edificação histórica. Prédios construídos posteriormente, quando foram necessários efetuar novas construções, foram derrubados, preservando-se o principal. Noto que uma antiga placa, identificando o ano da construção, antes fixada na fachada externa do local não mais se encontra por lá. Precisaria ser localizada e reinstalada, pois se trata de peça fundamental na identificação do ano de sua construção. Fico lisonjeado em efetuar esse parecer, pois além dos dados históricos, o da importância de sua preservação para a história de Bauru, possuo outra afinidade com o mesmo. A residência dos meus pais está localizada pouco mais de 300 metros do local e convivi com uma pequena parte do fim do apogeu e todo o período onde foi relegado ao esquecimento, porém, mantendo a imponência arquitetônica, nunca perdida. Dessa forma, por todos os motivos expostos, sou amplamente favorável ao seu tombamento. BAURU SP, AGOSTO DE 2010. Henrique Perazzi de Aquino - Professor de História"

2. Deixo aqui um breve relato de alguns tópicos discutidos nas últimas reuniões, para estarem cientes da importância das decisões lá tomadas. O edificação do BTC, passado um período de polêmicas gratuitas, avançou quando foram reunidos os componentes do Conselho com os atuais locadores do imóvel, a Multi-Cobra. De comum acordo, sem alarde, importantes avanços e muita coisa de real importância foi mantida dentro da nova utilização do imóvel. Uma chaminé, a da ex-fábrica da Antarctica está bem ao lado de onde irá surgir o mais novo shopping da cidade, o do cruzamento da Nações com a Marcondes Salgado. Ela será mantida? Sim e junto dela, se tudo der certo, uma estação a abrigar uma parada da composição férrea turística bauruense. Acordos nesse sentido já se iniciaram. Carros ferroviários continuam pegando fogo misteriosamente na cidade e o Conselho atento a isso está a exigir reposições dos responsáveis. A Estação da Sorocabana passou por vistoria e um parecer do seu estado atual deverá atestar suas condições e os compromissos a serem assumidos pelos novos e futuros proprietários (sim, ela tem novo dono). Carros ferroviários são quase levados da cidade e membros do Conselho o impedem. Trilhos podem ser retirados junto de algumas estações. Tramita por insistência do Conselho projeto de Lei para isentar proprietários de imóveis tombados de pagar anuidade do IPTU. Inerte esse pessoal não é, o que fazer eles certamente possuem e muito. Continuam na ativa, a decidir sobre o destino dos imóveis históricos na cidade. Mal compreendidos, isso sim, mas isso é outra história. E a unanimidade é mesmo burra.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu caro

Você já viu o tal padre Beto na periferia da cidade? O que ele gosta mesmo é de firula, de estar em mesa farta, internetando, flanando e desprezando as coisas mais simples, populares e de cunho social. Não me espantan ter ouvido isso no seu programa feito também para a classe dos mais abastados. Povão não ouve aquilo, ou melhor, foge daquilo. Ele manifestou o pensamento dos que o seguem. Todos pensam assim. Para eles derrubar tudo, colocar tudo abaixo é muito mais proveitoso. Tenho ou não razão?

Paulo Lima