domingo, 9 de outubro de 2011

AMIGO DO PEITO (59)

FRANCISCO, CHICO OU SOMENTE CARIOCA, FEZ ANOS E LÁ ESTIVEMOS - OS ADORADORES DE LPs
Ontem, sábado, foi um abrasador dia aqui pelos lados do cerrado paulista e no final do dia, choveu a cântaros. Nem isso impediu o acontecimento de uma festividade presenciada por poucos, uma seleta comitiva de amigos do Carioca, o da banca de livros na Feira do Rolo, ele que é também conhecido por Chico e numa pequena roda mais íntima por Francisco Carlos Jaloto, seu nome com CPF e tudo. Chico fez anos, sei lá quantos e como procede todo ano, convida um grupo de marmanjos, só “calçudo”, os tais de um reservado Clube do Bolinha para comparecerem à sua residência localizada lá pelos lados do Redentor. Sei ir, subo pela avenida Cruzeiro do Sul até a quadra 41 e viro à direita. Para quem não sabe o número da casa, localizar o imóvel não é tarefa para “sherlocks”, pois ao olhar para dentro da casa do dito cujo, discos (ao antigos bolachões) estão pendurado na àrea, numa espécie de brinquedinho ao vento e na parede outro tanto. Só pode ser ali. E da casa transpira durante todo o tempo em que seu morador por lá está irradiações musicais de altíssima qualidade sonora.

A casa do Chico é um santuário a parte, algo difícil de ser encontrado país afora. Modesta, como a de um batalhador enfrentador de intempéries econômicas, é um típico lar de solteirão, mas com uma peculiaridade, o sujeito gosta (e muito) de música e dos tempos dos LPs. Tem livros também, pois vive disso, da revenda desse precioso material por onde o possa fazer. Sua sala é o local de armazenagem da maior quantidade, espalhado numa estante e em caixas por onde espaço existir. Tá tudo lá, arrumado numa ordem que só o dono entende, mas ele acha de tudo. E atendeu pedidos variados de seus convidados. Uma mesa na área e todos em volta dela e de uma churrasqueira, que permaneceu no quintal até a chuva não chegar. Depois adentrou a àrea e junto dela a fumaça. Ninguém reclamou e debaixo do aguaçeiro o som continuou a rolar. Ele colocava um disco novo na vitrolinha e o deixava exposto na janela, para que todos tomassem conhecimento do que invadia o espaço aéreo sonorífero naquele instante.

Tento relacionar os convidados. O Celso Pereira (do DAESP), o José Roberto Germano (adorador de música black, entendido do assunto), o Licius (proprietário da loja de som lá no largo da Feira do Rolo), o Jorge (que conhecia do CPP, 30 anos atrás) e quatro que chegaram juntos após o término do jogo do Noroeste (1x1 com o Paulista – não fui, pois dormi, aliás, desmaiei), eu, o Aldo Wellicham, o Antonio Sergio Silva e o Ademir Elias. Furdunço dos mais animados, uma tarde musical das mais edificantes. Gostoso mesmo foi confrontar os variados gostos musicais, todos refinados, botando para rolar logo a seguir. No apertado da área rolou até uns passinhos de uma dança entre os presentes (que não foi a da chuva) e tudo terminou, quando alguns já estavam encharcados, não pela água que caia do céu, mas pelo conteúdo de um isopor instalado num dos cantos estratégicos do local. Foi um bolo de laranja, trazido pelo Celso (lá da Trigal, fez questão de informar), salvando todos, pois já estava mais do que na hora de todos darem uma “glicosada”. O mais inusitado foi quando Carioca, sem pestanejar, pega o facão utilizado para cortar carne, o limpa estrategicamente num guardanapo de papel (o faz umas três vezes para se certificar de que o resultado era satisfatório) e com o mesmo picota o bolo, repartindo-o entre os presentes. Não sobrou nem para remédio.

Rolou mais conversa, muito mais música e a certeza de que, todos os presentes sairam dali satisfeitos por desfrutarem da amizade sincera e honesta desse grande forasteiro dessas terras do cerrado, o Carioca. Foi uma tarde recheada de muitos risos e um deles foi constatar que em cada LP, a paixão de todos os presentes, amantes inveterados desse fino acepipe, Carioca guardava uma fotinho de uma “ninfa”. Não precisou nem votação, sendo a escolhida uma foto da Vera Fischer ainda dos tempos de um ensaio na Playboy. Queriam levar a foto embora, mas Chico quase fazendo uso novamente do facão, impediu o sequestro. Na hora de ir embora, difícil foi levar o Sérgio embora, pois o homem parecia hipnotizado pelas preciosidades ali depositadas. Estava devidamente avariado com a influência de uns e outros monstros sagrados, verdadeiras preciosidades, todos velhos amigos de todos os presentes. “O Chico nos vende LPs a R$ 1 real cada na feira e guarda isso aqui, sem ninguém saber. Eu quero alguns”, disse. Chico é irredutível nessas horas e a contragosto estabeleceu um valor, mas para o lote total, R$ 5 reais por peça, de olho fechado. Todos foram embora ruminando aquilo na cabeça e com certeza, pelo menos o Sérgio deve ter perdido o sono, fazendo as contas de quando iria gastar para ter aquilo tudo transferido lá dos lados do Redentor para sua casa. Faltou negociar algo, o mais importante para todos os presentes, artigo primeiro de um tratado de paz entre os amigos do Chico: Se alguém acabar levando aquilo tudo para outro lugar, precisa continuar disponibilizando para consumo dos amigos, pelo menos em anuais festas, convescotes onde cada um poderá ao menos manusear e escutar, ou melhor, poder colocar o disco na vitrolinha, baixar a agulha e sentir o fluir do som daquilo tudo coletivamente. Do contrário, a venda será vetada.
Obs.: E para os que pensam que o Mafuá é muito diferente, declaro que a bagunça é a mesma, da mesma origem e procedência, tudo organizado lá no entendimento do seu dono. Nada está definitivamente perdido, até ser encontrado.

2 comentários:

Aldo Wellichan disse...

A festa do aniversário do chico carioca, foi um verdadeiro "embalo de sábado à noite", onde rolou muita música é claro, muita cerva, assados, bolo que não poderia faltar, muitas mulheres bonitas & peladas nas capas em alguns dos 20.000 discos de vinil, do chico. Um clube do bolinha recheado de amigos do peito do chico de vassouras. Até a olivia newton john & o john travolta gostariam de estarem nessa. O eumir deodato brasileiro, é claro, o maior fenomeno musical de 1973, onde chegou ao primeirissimo lugar nas paradas do tio sam, com a versão jazz, funk & rhythmic soul, do also spratch zarathrusta, ou 2001 uma odisséia no espaço. Enfim uma reunião de ótimos amigos.

Anônimo disse...

Oi Henrique!
Não vou dizer que você perdeu o show do João Bosco lá em Botucatu por estar em boa companhia!
Mas que o show foi excelente, foi!
Abração!
W.Leite