sábado, 5 de outubro de 2013

MÚSICA (106)


"PRA QUE PEDIR PERDÃO?" – ALDIR BLANC E MOACYR LUZ
Essa decisão eu já tomei faz tempo, mas a divulgo aqui: só ouço na minha vitrolinha particular, no som do meu carro, em bares e shows a considerada por mim boa música. “Mas o que seria essa boa música?”, poderia perguntar algum gaiato. Sou tarado por MPB, muitas variações dela, música regional brasileira, samba, sertaneja de raiz, jazz, blues, o velho e bom cancioneiro internacional, alguma coisa de erudita e clássica, o bom pop, mas basicamente algo onde prevaleça o trabalho do bom letrista. Nas rádios e na mídia de uma forma geral, infelizmente o mal gosto preenche tudo e isso também é culpa dos profissionais desse setor, que só incentivam isso, reproduzem isso e não propõe nada de novo, não inovam, repetem o cansativo e de doer os ouvidos, o tal do sertabrega, sertanojo, mela cueca, duplos sentidos, funks de gosto duvidoso, românticas de doer, axés pegajosos, etc. Ficou famosa a frase de um dono de rádio aqui da cidade, tocando merda o dia todo e ouvindo na intimidade coisa boa e quando questionado disse mais ou menos isso: "É o que dá lucro. O povo gosta disso". Vejo muita gente postando suas preferências musicais pela internet e farei o mesmo, começando uma nova série a O SOM QUE EMBALA MEUS DIAS E NOITES. 
Reproduzirei a letra e se achar, uma interpretação via youtube ela segue junto. Começo com uma letra de alguém que considero o maior letrista brasileiro vivo, ALDIR BLANC. Aqui com música de Moacyr Luz, esse cantando na rua do Ouvidor, na cidade do Rio de Janeiro (os comerciantes fecham a rua de sexta a tarde e sábado pela manhã, mesas no meio da rua e lá rola muita música, samba da melhor qualidade), tendo ao fundo e no coro um amigo conquistado no Rio, Rodrigo Ferrari (dono da livraria Folha Seca, especializada em títulos de carnaval, futebol e samba). O vídeo foi gravado pelo advogado Eduardo Goldenberg, depois reproduzido no seu blog, o Buteco do Edu, onde publica crônicas divinais sobre o Rio de Janeiro. Essa música, a “PRA QUE PEDIR PERDÃO?” é para derramar lágrimas (não de crocodilo). Cantada assim no meio da rua, com direito a coro, confesso: choro mesmo, não de bebedeira, mas relembrando os tais dos perdões deixados pelo caminho, as tais bobeiras. Tenho espalhadas pelo meu mafuento acervo algumas gravações, mas acredito que a primeira foi a do CD “Mandingueiro”, do Moa, da Dabliu Discos, 1998. Com ela começo essa série, sem pedantismo de indicar nada para ninguém. Vou mostrar o que ouço, o que gosto e talvez até dos motivos da preferência. Vai que tenha gente que goste disso também, daí ouviremos juntos.

Pra Que Pedir Perdão? - Moacyr Luz: “Se é pra recordar dessa maneira,/ sempre causando desprazer,/ jogando fora a vida em mais uma bebedeira,/ ó, sinceramente, é preferível me esquecer./ Eu te prometi mundos e fundos/ mas não queria te magoar./ Eu não resisto aos botequins mais vagabundos/ mas não pretendia te envergonhar/ marquei bobeira.../ Vi muitas vezes o destino/ ir na direção errada/ e a bondade virar completo desatino/ a carícia se transformando em bofetada./ Ah, eu sou rolimã numa ladeira/ não tenho o vício da ilusão:/ hoje, eu vejo as coisas como são/ e estrela é só um incêndio na solidão./ Se eu feri teu sonho em pleno vôo/ pra que pedir perdão se eu não me perdôo?”.

E agora cliquem para vê-la rolando nas calçadas da Ouvidor:http://www.youtube.com/watch?v=V8tTlIwidRU#t=82

UMA NOITADA MUSICAL ONTEM, SEXTA NO REPAGINADO BAR DO ALEMÃO
Gostava muito do astral do botequim Saudosa Maloca, na Quintino, atrás do SESI. Quando comandado pelo Espanhol foi um imponente boteco, ponto de encontro, local de boa música e gente boêmia (nada de baladeiros). As mesas na calçada incomodavam alguns. Tenho um amigo vizinho dali que se estranhava com o pessoal do bar toda vez que passava pela sua frente, chegando a atravessar a rua. Esse um detalhe, outros muito positivos, como as feijoadas de sábado. Ótimas, muita gente e sempre com gente tocando. Inesquecível uma bandinha carnavalesca de Piratininga, só com velhinhos, tocando marchinhas e sambas, gente pulando no meio da rua. O Adoniran na parede é tudo de bom. O Neto, a Liz e a Denise Amaral foram os expoentes da boa música tocada por lá. Sempre traziam muita gente e músicos iam e não se seguravam nas calças, dando canjas homéricas. A comida era honesta, o pernil do pão divinal e com o melhor da cidade, o da Delícia Pura ali na rua XV. Depois o Espanhol foi galgar outros espaços e seu irmão ficou na casa. Durou o quanto pode, mas sem o carisma do mano, o negócio, mesmo com tudo para dar certo, acabou dando errado. Fechou.

E coisa de um mês atrás reabriu com a mesma cara, quase tudo igual por dentro e por fora, mas sob nova direção e com novo nome, BAR DO ALEMÃO. Ainda não conheço o Alemão, só de vista, de trocarmos cumprimentos ontem, mas já lhe pedi crediário (o pendura – negado, por sinal) e quando passar dos limites ou me por pra fora ou me levar pra casa (disse que poderá fazer os dois). Sim, fui ontem, eu e Ana, primeiro por causa de querer conhecer o novo ambiente e também por causa de duas preciosidades só nossa (de Bauru), o cantante e tecladista Neto Amaral e a vocalista, Liz, carioca da gema, enfurnada aqui no sertão paulista e com um repertório de chorar (eu tenho chorado muito ultimamente). Com eles no palco, bato cartão, me esborracho todo. Está tudo lá no seu devido lugar, o Alemão não mudou nada. O cardápio com pouca mudança e o clima, felizmente, o mesmo dos bons tempos. Chegamos e foi-nos arrumada uma mesa diante dos cantantes e encantamentos a parte, ficamos babando pelo canto da boca bem diante da dupla, eu quase fungando no pescoço do Neto.

Vamos aos comentários. Reclamo pouco de botecos e se o fizer, podem ter certeza, terei o atendimento prejudicado no retorno. Não é o caso do Alemão. Ele, pelo visto, botou a família para trabalhar. Vi desde esposa, filho, mãe, agregados (faltou só o cão), todos com avental na cintura e suando a camisa. Cheguei e de cara me vi diante do pernil, ao estilo do que sempre foi feito por ali. Pedi uma porção e degustei ouvindo e vendo a dupla varonil. Quase melei a cueca e não foi por causa do que ia ouvindo não, mas porque estava tão bom que acabei me esquecendo de ir ao banheiro e quando me dei conta, tudo estava em vias de escorrer pelas pernas. Coisas de velho diabético, incontinência urinária. Comemos, bebemos, preços honestos, atendimento vip e reencontros mil. Quanta gente conhecida por lá e como é bom rever pessoas queridas. O público que gostava do Saudosa parece não ter abandonado o lugar e voltou, muitos por lá, uma festa. Tem tudo para dar certo. Hoje, sábado, 05/10, fazem um almoço com carneiro e joelho de porco, com música ao vivo a partir das 14h com o Carlão. Volto (aliás devia ter ficado direto emendando tudo) com meu pai, almoço e desmaio, pois minha resistência não aguentará meus compromissos marcados para o final do dia: ir com o filho e a Ana assistir “A Casa da Mãe Joana II”, com o Paulo Betti no cinema e um algo mais musical a noite.

POSSO COMENTAR DE UM FILME?
Coisa rápida. Fui assistir na quinta passada, último dia de exibição em Bauru ao último filme do Bruno Barreto, 19º de sua carreira, o “Flores Raras”. Ficou em cartaz na cidade somente no Cine’n Fun do Alameda e num horário difícil de se ir ao cinema, 15h50. Cabulei trabalho e fui. Resultado: gostei muito. Um belo resgate do exílio da poeta americana Elizabeth Bishop (1911/1979) no Brasil, período de 15 anos, quando viveu um intensa relação de amor com a arquiteta Lota de Macedo (1910/1967). Imaginem um caso de amor entre duas mulheres no Brasil dos anos 60, tendo ao fundo uma amizade com Carlos Lacerda, período em que foi governador do estado da então Guanabara e depois exilado. Lota foi quem planejou e implantou o Aterro do Flamengo, obra que imortalizou Lacerda, mas isso é pano de fundo para a intensa vida de ambas, num filme sem nenhuma pieguice. Certo que viviam num mundo a parte, pois Lota era riquíssima, filha do dono de um dos jornais mais influentes do Rio, o Diário Carioca, ele José Eduardo de Macedo Soares. Viviam num mundo à parte, uma espécie de casulo onde o dinheiro sempre pode tudo. Bishop chega ao país fragilizada e aqui, mesmo envolta em contínuas doses de muita bebida, teve aqui uma de suas fases mais produtivas, criativas e cheia de méritos, láureas e prêmios. Uma bela retratação da época e uma forma muito sensível de contar uma bela história. Já saiu de cartaz em Bauru e merece elogios ter permanecido em cartaz por duas semanas. Adoro filmes assim e é isso que me move aos cinemas. Os bons filmes de vez em quando passam por Bauru.

4 comentários:

Anônimo disse...

Legal... estava muito bom mesmo ontem. Sexta que vem tem mais.
Neto Amaral

Anônimo disse...

e nem me convidou heim
Helena Aquino, a mana

Anônimo disse...

gostei da dica

Marcia Zamarioli

Anônimo disse...

Henrique, conferi o video e gostei...Muito bom..Quanto as porcariadas que se ouve nas rádios..Infelizmente esta e a realidade de hoje..Muito lixo...Eu gosto de musica caipira de raiz , samba de raiz ..Nada de pagode, sertanejo eletrônico, Axe e outras porcarias...O negocio e procurar onde esta o que nos agrada..Tem bastante por ai, ainda..Felizmente!
Reynaldo Grillo