segunda-feira, 11 de agosto de 2014

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (288, 289 e 290) e PORTAL PARTICIPI


GOMA DE MASCARAR – DOIS EPISÓDIOS (290º texto para o BOM DIA BAURU, de 09/08/2014 e Portal PARTICIPI de 11/08/2014):
EPISÓDIO 1 – Estávamos quinta no bar da Fundação Itaú Cultural, coração de Sampa, saboreando a exposição “Ocupação Aloísio Magalhães”. Discutíamos algo sobre esse precursor do design brasileiro, quando sorrateiramente uma senhora se aproxima assim como quem não quer nada e querendo obter uma informação nos diz: “Essa ocupação, por acaso, é algo referente aos sem-terra? Tem algo a ver com o PT?”. Inocentemente tentamos explicar que não, quando a mesma despeja sobre nós uma triste e insana ladainha: “Ainda bem, pois vocês nem imaginam do que esses são possíveis. Ocupam tudo como se fossem deles. Gente igual a esse Mercadante e Suplicy são um perigo. Querem tomar tudo de nós”. Olhamos uns para os outros um tanto incrédulos, não acreditando na cena em plena avenida Paulista. Sou obrigado a lhe dizer que dona Dilma é a melhor candidatura dentre as inscritas para a contenda. Levou um susto e foi se afastando. Fica praguejando numa certa distância e para encerrar de vez a inexistente contenda soltei algo definitivo em sua direção: “Aqui todos aprovamos a ação do MST. Algum problema?”. Não ocorreria debate algum nas circunstâncias ali sugeridas, sendo pura perda de tempo continuar o imbróglio. Quem melhor definiu o ocorrido foi minha sempre sábia sogra, numa conclusão recheada de extensa observação do dia a dia: “Como discutir com pessoas com formação de opinião sem nenhuma análise?”. Mudamos de assunto, ela já havia dito tudo.

EPISÓDIO 2 – Estávamos terça num animado grupo em um bar na área central de Montevidéu e pela segunda noite consecutiva reencontramos o mesmo grupo de gaúchos, uma imensa família, nuns quinze, viajando em grupo e de carro. Estavam hospedados num hotel ali nas proximidades e por coincidências buscávamos algo para fazer a noite. Aproveitamos o reencontro para nos conhecermos melhor. O papo rolou e de tudo um pouco. Lá pelas tantas o patriarca da tal família, um senhor de uns 65 anos, comerciante perto de Porto Alegre, levanta-se e diz a todos: “Nosso país já esteve muito pior que hoje. Sim, temos problemas, mas os avanços superam tudo. Quiçá nossos irmãos do Sul pudessem estar no mesmo estágio. Imagina a Argentina superando seus problemas e todos caminhando, um ajudando o outro. Ninguém mais seguraria esses nossos povos”. Todos o incentivaram a continuar e ele concluiu seu raciocínio, com uma entonação bem firme, decidida. “Gosto muito do meu país e sei reconhecer o bem quando ocorre, independente de sigla partidária. Numa estivemos numa posição tão altaneira como agora. Essa necessidade de cambiar valores como no Uruguai e Argentina inexiste no Brasil. Inequívoco o avanço. Estamos no meio dos países fundando uma nova ordem mundial. Como posso odiar esses que nos governam e não querer que eles continuem?”. Penso com os meus botões: como são diferentes os gaúchos e uma parcela dos paulistas. Cai o pano, ele já havia dito tudo.

QUE FALTA ISSO FAZ (289º texto para o BOM DIA BAURU, de 02/08/2014 e Portal PARTICIPI de 04/08/2014):
Estou por esses dias na Argentina. Por aqui vejo algo que não encontro no Brasil. Um jornal de circulação nacional com um posicionamento totalmente voltado para a verdade factual dos fatos e mais à esquerda. Primeiro que, no Brasil não existe um só jornal com circulação em todo território nacional. Sei das dificuldades, somos um país continental, extenso território. Isso tudo por si só já é um impeditivo. Outros existem. A decadência da circulação do meio impresso é outra, seguida da vertiginosa queda do número de leitores para esses veículos. Os jovens de hoje não leem mais jornais como os de dantes. De esquerda então, ampliadas dificuldades. Eu continuo lendo, remando contra a maré. O papel me é mais palatável que a tela do computador. Sei que estou ficando jurássico, mas resisto. Tento ler e cada vez mais, mesmo que o facebook me tente a fazê-lo cada vez menos. Jornal é uma delícia, verdadeiro deleite e quanto são encontradas afinidades, melhor ainda. Imaginem vocês um jornal com a mesma linha de pensamento sua. A maioria dos jornalões brasileiros deixou de lado a isenção e pregam descaradamente a defesa da linha de pensamento do patrão, do dono do jornal e assim sendo a mesma dos donos do poder vigente. Lemos o que esses querem, sem poder ao menos discutir. Parei com esses.

Busco alternativas. O mercado editorial atual possui publicações para todos os segmentos possíveis e imagináveis, buscando atender todos os gostos e preferências. Vasculhando bem nas bancas é quase impossível não encontrar algo condizente com seu gosto pessoal. No quesito jornalão, infelizmente isso não é mais possível. Todos passaram a adotar uma só linha, baseada no dito “mercado” e o tratam de forma beatificada, como único e indivisível. Impoluto e irredutível. Todos publicam a mesmíssima coisa, mesmo quando tentam se passar por moderninhos. Aqui na Argentina noto, dentre outros, o diário Página 12 (www.pagina12.com.ar) cumprindo um papel inexistente no Brasil. Poderiam me dizer, mas a Argentina é menor e daí mais fácil. Sim, porém também mais politizada. Vejo as pessoas lendo muito por aqui e quase nada por aí. Uma triste constatação. Daí penso com os meus botões: Como é possível a existência de um jornal com uma linha dessa e diante do atual quadro? Estou aqui rodeado de quase vinte brasileiros, a maioria professores, com todo tipo de linhagem política e só me vejo eu a consumir jornais diários. Quem se arriscaria a ter um negócio desses e com um “mercado” em franca descendência? Só mesmo os lunáticos. Mas cadê esses?


SÃO SEMPRE OS MESMOS (288° texto para o BOM DIA BAURU, de 26/07/2014 e Portal PARTICIPI de 28/07/2014):
Conversar e juntar histórias são o meu maior hobby. Distração maior não existe. Assim levo a vida. Cruzou comigo está perdido. Falando algo que me bata fundo, batendo aquele estalo, pronto, gravo na memória e depois transcrevo para o papel. Dessa vez quem eu encontro num dos bares da vida é o ex-prefeito Nilson Costa. Não pensem que esse distinto senhor é dado a freqüentar bares. Longe disso. Eu é que descobri onde uma turma de bons senhores se reúne todo santo dia, pouco antes do almoço e lá comecei a freqüentar. Peguei gosto, fui bem recebido e quando posso lá retorno. Café Bauru, rua 1º de Agosto, quadra 7. Passo por lá e fico um tempo parlando com o ex-prefeito, sindicalista perseguido em 64, fundador, depois editor do JC por décadas e hoje sem lugar para continuar publicando seus escritos. Dentre tantos assuntos pergunto a ele da quantidade absurda de cartas nos dois jornais da cidade, todos mais ou menos com o mesmo teor, ou seja, críticas duras, contundentes, persistentes e grosseiras contra Lula, Dilma e o PT, como sendo eles os únicos culpados de todos nossos males e vivêssemos no pior dos mundos, beira do abismo.

Percebo que ele gosta do tema. Vendo-me em pé, pede para que sente e dá sua abalizada opinião. “Perceba algo, Henrique, são sempre as mesmas pessoas. Até parece uma coisa articulada e se não for é mesmo muita coincidência. Uma horrorosa orquestração com um intuito bem definido. Primeiro querem mostrar um país na pior situação possível, o que não é verdade. Depois, não reconhecem nada de positivo nesses últimos doze anos. Ou são insensíveis mesmo ou isso tudo sai de uma mesma fonte”, me diz. Ali no bar são disponibilizadas aos clientes as edições diárias dos dois jornais locais e fomos neles conferir alguns dos nomes. “Veja esse, publica aqui e no outro, sempre a mesma ladainha. Não é estranho?”. Concordo e desfiamos junto algo percebido pela percepção mútua de anos de janela vivenciando esse negócio da leitura diária de jornais. “Mas como permitem que até as deslavadas mentiras continuem sendo publicadas, sem ao menos uma simples nota demonstrando o contrário?”, me questiona. Minha conclusão para encerrar o assunto foi essa: “Deve interessar de alguma forma para todos a continuidade disso”. É o que pensamos. A pessoa pode escrever o que quiser, mas ao ser publicado e sendo falácia, um perigo para a credibilidade do órgão, quando não acompanhado de uma nota resgatando a verdade dos fatos.

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