terça-feira, 10 de outubro de 2017

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (128)


EDUCAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E PROLIFERAÇÃO DE IGREJAS

Sim, a conformidade do momento atual, essa dificuldade de resistir ao algoz que nos apunhala tem nome e sobrenome. Fomos construídos para servir, aceitar, dizer “amém” de forma resignada, a de quem tudo aceita, ou melhor, espera algo vindo lá dos céus. Em vida nada virá lá do céu além de chuva, granizo, vento e intempéries. Um povo que acredita numa ação divina para sua redenção, crê nisso piamente, esperará eternamente, sentado e será sempre massa de manobra. Entristecedor cenário.

Circulo muito pela periferia e algo mais do que entristecedor é verificar a proliferação de igrejas de todos os matizes, pequenas, médias e grandes, nomes variados e múltiplos, proliferando como praga por tudo quanto é canto. Tem muito mais igreja que escola. Num país onde se reza mais do que se estuda, o destino deste está mas do que selado, será massa de manobra, manipulado pelos espertalhões. Impossível tanta gente prestar reverência para o que lhe dizem num púlpito qualquer e ler menos, se informar menos, aceitar passivamente como mensagem única, a advinda da boca de alguém preparado só para amealhar mais pra si e dizer palavrinhas bonitas. Um país que cai nessa não pode querer ser livre, pois já está atrelado, amarrado, submisso e contido.

Ver aquela manada de seres humanos aceitando serem enganados com palavras bonitas é constatar que esse país está cada vez se afundando, mais e mais. Não existirá saída para quem age cegamente esperando salvação eterna e nada faz para transformar o presente, o vivido agora. Aceita o imposto pelo padre, pelo pastor, pelo rabino ou por qualquer outro a lhe domar a vida e nada mais faz. Tem o livro religioso como o único, o que diz tudo e nem lê mais nada, pois lhe foi dito não ser necessário, tudo está dito ali. Que esperar de um povo assim? Nada de bom.


Observava ontem à noite a saída de um culto religioso nos altos da avenida Castelo Branco. Parei o carro e fiquei observando seus trajes, suas ações, famílias inteiras, com o livro religioso nas mãos e nada mais. Se lhe perguntarem se já leram Saramago, Jorge Amado, Umberto Eco, Marx, Nietsche, Paulo Freire, Galeano, Borges, Gabriel García Marquez, Lispector, com certeza desconhecerão a maioria. Preferem ficar restritos a esse mundinho onde tudo passa por instruções dadas pelos que dirigem suas igrejas. Mentes conduzidas, teleguiadas. Os vejo saindo rindo, mas para mim são tristes figuras. Vazias, ocas e dessas sem rumo, perdidas no tempo e no espaço. Cabeças assim aceitam tudo, tendem a levar vidas regradas demais, não mijam fora do penico, não ousam andar na contramão, nem fugir à regras. Se dizem que devem seguir suas vidas de um jeito o farão sem pestanejar, sem ao menos ousar discordar.

Quando vejo algumas prefeituras e governos sendo comandados por gente com essa mentalidade, algo de muito perigoso no ar. Vamos andar para trás. Inevitável isso. Todo o avanço ocorrido até então corre risco quando dirigido por pessoas com mentalidade moralista. Eu não quero viver para ver o meu mundo dominado por gente assim. Me contem onde ainda estão os resistentes, os que pregam e vivem a demonstrar a mediocridade de um mundo restrito e para lá irei. Cansei de viver no meio dessa manada babosa e só dizendo “amém”. Quero muito mais que isso e nesse mundo atual isso anda cada vez mais difícil.

OBS.: Escrevo este texto após tomar conhecimento que a escola de samba Mangueira troca uma palavra no seu samna enredo para 2018, introduzindo a palavra "universal" numa estrofe, somente para agradar ao prefeito da cidade do Rio de Janeiro, esperando assim amealhar algo mais para seu desfile.

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