segunda-feira, 25 de novembro de 2019

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (153)


DIÁLOGOS IMPROVÁVEIS
1 - Reencontro o excomungado padre Beto no restaurante, horário do almoço e pelas costas não o reconheço, mas me chama a atenção uma sugestiva e instigadora camiseta reverenciado nada menos que, EMILIANO ZAPATA, o revolucionário mexicano que, até hoje deixa em estado de incômodo bestializados conservadores de plantão, algo como: "Como pode alguém sair às ruas expondo sujeito tão violento, cruel, intolerante e perverso?". Quando fica de frente e o reconheço, não resisto e na saída do lugar vou até ele e lhe digo ao pé do ouvido: "Meu caro, me diga com toda sinceridade. Que padre ou pastor dos tempos atuais teria a coragem de sair às ruas envergando uma chamativa camiseta com a cara do Zapata?". Ele, primeiro se assusta, me reconhece, sorri e diz: "Nenhum. Se encontrar algum, deve ser uma dessas aberrações da natureza". E nos despedimos dessa forma e jeito.
OBS.: A camiseta do Beto não era essa, aqui algo meramente ilustrativo. A dele muito mais charmosa, frente e verso, ocupando todo o espaço com os dizeres em homenagem ao ilustre e saudoso revolucionário, algo tão em falta nos dias de hoje.

2 - Essa se deu hoje pela manhã no elevador do prédio onde moro. Eu na descida do elevador, cruzo no andar térreo com vetusto cidadão, emérito professor aposentado de uma conceituada universidade pública paulista (USP ou Unesp, eis a questão?). Descemos juntos um andar e depois, breve paradinha até terminar o diálogo. Eu tendo nas mãos a última edição de Carta Capital e ele, segurando a cordinha do seu cãozinho e noutra o Estadão, eu na propositura de ser de esquerda, ele de direita. Não resisto e lhe digo da questão do dia: "E essa eleição no Uruguai, hem, o resultado final vai ficar só para quarta, empate técnico". Ele sorri e me diz: "Vocês da esquerda só não ganharam por único motivo, o candidato da direita foi esperto e recusou apoio do Bolsonaro. Se tivesse aceito, teria atraído mais atenção negativa, repulsa e teria perdido a eleição. Foi esperto e por causa disso deve ganhar". Sim, tive que concordar, Bolsonaro foi mesmo o fiel da balança e vendo estarmos no final do diálogo, aproveitei para estocar: "Bem diferente daqui, né! Aqui os ditos sabichões e intelectuais de plantão, progressistas de araque, preferiram afundar o país e se debandaram pro lado do seu Jair, deixando de lado o professor universitário de reconhecido valor. Hoje, pelo que vejo, muitos preferem omitir até em quem votaram, bem diferente lá do Uruguai, não?". E nos despedimos ambos com sorrisinhos marotos no canto dos lábios.
OBS.: O resultado oficial ficou para quarta, portanto, ainda existe esperança de vitória para ambos os lados. Torcendo mais para o Uruguai não se transformar numa Bolívia, se direita perder e não aceitar resultado.

3 - Na feira dominical, reencontro antigo conhecido, um dos maiores entendidos em plantas que conheço, hoje com banca dominical na feira e de segunda a sábado no CEASA. João é um sujeito muito simples, teve uma vida cheia de boas aventuras e desventuras até o momento em que, tocado se enveredou pelos caminhos de seguir preceitos evangélicos neopentecostais. Perdeu mulher, sua vida esteve numa agrura danada, agora se reerguendo, porém, cada vez mais só aceitando o que lhe impõe a igreja. Chego com uma camiseta vermelha (a cor já lhe assusta) e tendo um Che meio Lula (e vice versa) na estampa. Ele já me olha meio atravessado, mesmo nos conhecendo há décadas. "Você não pára com essas coisas, hem! Isso lhe faz mal, carrega uma carga muito pesada por causa dessas suas escolhas", me diz. Sem perder o humor, olho bem para ele, chego mais perto e lhe retruco na mesma intensidade: "Não só eu, né João, veja o que essa carga pesada de ter deixado tudo o mais em sua vida em prol da religião fez contigo. Se minha carga é pesada por causa da política, eu não perdi tanto assim, mas tu deves ter perdido muito mais que eu". Ele silencia e assim permanecemos por alguns instantes calados um olhando para o outro, até o instante em que se aproxima de mim e me dá um caloroso abraço. Mudamos de assunto.

ALGO DE UM ENXERGANDO MUITO BEM TUDO O QUE SE PASSA À SUA VOLTA
DARIO, FUNILEIRO, MILITAR, PILOTO DE AERONAVES E REFUGANDO O CONSERVADORISMO
Diante de muita indiferença advinda das ruas, outro tanto movidos pelo ódio de classe ou pelo engajamento resistindo contra o avanço desses, nada mais salutar que, perceber os muito atentos e não se deixando levar por esse momento, quando parcela significativa segue bovinamente fortalecendo com seu silêncio o que foi instalado no país, com o conluio e golpe institucional de 2016. Existe uma imensa turba ainda calada, mas ciente dos fatos e serão esses, quando instados a participar, os que darão o tom dos destinos do país, não permitindo que ocorra um retrocesso além do já em curso. Muito gratificante ir conhecendo essa camada da população, sua história, trajetória de vida atuando pela legalidade, onde se instalou ao longo dos anos o real entendimento do que de fato ocorreu e ocorre, enfim, impossível para esses deixar de apoiar ou aceitar que apaguem da História quem lhe proporcionou bons momentos enquanto ser humano. Essa história aqui relatada é de um bravo guerreiro, desses que não sai da lida e tem muito definido seu posicionamento.

DARIO LUIZ TAVARES SANTANA, 66 anos já fez de tudo um pouco na vida e relembra seu passado com muito orgulho, fazendo questão de folhear e mostrar um álbum de fotos guardado em seu veículo. Nasceu em Andradina, esteve no Exército, mais precisamente no 2º Batalhão da Guarda, anos 70. Chegando em Bauru aos 35 anos daqui não mais saiu, nos anos 80 foi piloto particular no Aeroclube da cidade, além de ter sido também piloto de planador. Relembra com preocupação de tempos quando ainda atuando fardado presenciou pelos lados de Campo Grande MT, “pessoas que não podiam usar vermelho e se assim o fizessem corriam o risco de ser chicoteadas nas ruas”. Com quatro filhos, morando hoje no Gasparini, olha para tudo onde esteve atuando em sua vida e fica preocupado em ver o país com rompantes de voltar a atuar movido pelo ódio de classe, algo que, segundo ele, já deveria ter sido superado e o país avançado por outros caminhos. Segue trabalhando, num outro ofício, esse aprendido aqui mesmo em Bauru, quando tinha 14 anos e sempre o acompanhando. É funileiro e presta serviços em algumas oficinas da cidade, sem vínculo empregatício. É chamado, lá vai, executa o serviço, faz novas amizades e complementa sua renda. Grandalhão, corpo bem definido para sua idade, um tanto calado, mais ouve do que fala, mas quando sente segurança no ambiente, diz o que pensa e expressa sua opinião, contundente contra o perigoso clima atual. Sabe muito bem comparar o país que tínhamos pouco menos de uma década atrás e o que está hoje em curso. Depois de tudo o que já viu na vida, não quer nem pensar em ver a repetição de fatos tão lamentáveis e dolorosos para tudo e todos.

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIO VIA FACEBOOK NÚMERO 1:

Edilene Sousa Beto Daniel é um ser humano como poucos. Foi excomungado por inveja dos que sonhavam ser como ele, mas não têm coragem, são uns "vendidos".

Cristina Maria Cristina Edilene Sousa, o pior que nunca serão como Beto Daniel, nem comendo muito feijão kkkk

Edilene Sousa Cristina Maria Cristina nem que nasçam outra vez


COMENTÁRIO VIA FACEBOOK DO NÚMERO 3:
Marcos Marcos Marcos: Sempre achei isso um tanto intrigante:
O sujeito tem tempo, mocidade e viço. Aproveita tudo em prol dos prazeres carnais e não está nem aí pra nada. A vida é uma festa, ele está certo e loucos são os que não aproveitam igual.
Mas quando sente acabando algum ou mais desses três pilares, "milagrosamente se converte a Jesus" e pára com tudo.
Daí, aquele que não parar como ele, agora é um errado, um pecador, um condenado.
Bem conveniente né?
Sei!