sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (145)


POR QUEM EU PARARIA PARA UMA CONVERSA E ATÉ GRAVAR DEPOIMENTOS - ALGO NO DIA DO FOTÓGRAFO
Eu saio todo dia cedo e no final da tarde de casa, desço para o Mafuá, lá permaneço um tempinho, alimento meu cão, o Charles e fico divagando, espairecendo entre livros e LPs/CDs. Divago, tranco as portas e deixo a música rolar, abro livros e falo sozinho. Faço isso diariamente, enquanto o cão ronrona de barriga para cima ao meu lado. Esse o motivo de escapulir de casa: o cão é a justificativa, mais que plausível, enfim, ele necessita de mim, eu dele, um recarregando o outro. O alimento e conversamos - você nunca falou com seu cão? Não sabe o que está perdendo.

Tanto na ida, como na volta tento mudar a rota e quando não tenho outros afazeres, como ida ao mercado, Correios, médicos, compras e pagamentos, dou uma pequena volta de carro e revejo assim a cidade, por onde tanto andei e gostaria de continuar fazendo, mas neste momento abri mão, voltei para a reclusão e os cuidados de me manter em quarentena. Adoro a rodada diária e vou fotografando tudo o que encontro pela frente. As pessoas e os lugares. Leio algo em algum lugar e já quero passar perto para conferir, ver com os próprios olhos, mesmo que seja à distância.

Quem me faz quase parar o carro no meio da rua estes dias foi este senhor, barbudo e cheio de histórias. Luiz Carlos Lockmann, ou simplesmente Barba, ele foi o protagonista aqui na cidade e em partes deste país de uma personagem que povoou minha infância e adolescência: a mulher Monga. Já contei essa história por aqui em outras oportunidades. Eis o link para rever o que já escrevi e tudo publicado no blog Mafuá do HPA: https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=mulher+monga.

Certa feita, quando ele ainda vendia discos antigos na Feira do Rolo o abordei, ele estava de bom humor e aceitou gravar como era o chamamento para que a Mulher Monga adentrasse o picadeiro/palco do espetáculo protagonizado por ele e sua esposa. Marquei bobeira e não consegui efetivar a gravação, ou seja, ele falou para o nada, só para mim. Vez ou outra o abordo, digo que quero gravar um depoimento com ele. Ele diz que sim, mas precisa estar num dia bom. O tempo vai passando, envelhecemos eu, ele e tudo o mais a nossa volta, acrescido dessa pandemia que resolveu permanecer mais um tempo entre nós. 

Toda vez que o vejo me dá comichão, aquela vontade irrefreável de parar e ir ver se podemos gravar, ali mesmo no meio da rua. Desta feita só parei e o foquei num click. Ele me olhou, nos acenamos e me fui, sem parar, sem o inquerir e mais uma vez deixando o registro para outro dia. Seu Lockmann foi um artista mambembe deste país, dono de uns invocados opalões, que até bem pouco tempo permaneciam estacionados na calçada defronte sua casa. Hoje o vejo mais a pé. O depoimento ainda ocorrerá, se assim der certo, tempo e calhar de abordá-lo num dia onde sorria e me diga: "É pra já!". Vai ser inesquecível o depoimento.

Meus dias e minhas saídas daqui de onde me resguardo para dias mais alvissareiros se dão dessa forma, jeito e maneira. Colho fotos pelas ruas, lugares e pessoas, depois as transfiro para meu computador e vou tentando classificá-las para utilização lá na frente. Ontem mesmo, com a morte do seu Amilton, o do Arapongas, fotógrafo como eu - ele muito mais qualificado, no meu caso muita ousadia -, quando soube de seu passamento, fui em busca de uma que tirei dele junto ao bloco do Tomate, pois sabia tê-lo pego num momento entre sorrisos. Achei e a postei aqui, ele lindo, todo pimpão. Tenho um arquivo de fotos de pessoas circulando pelas ruas, para mim de inestimável valor e é com elas que vou tentando se situar dentro desta cidade, como um registrador maluco, audaz e muitas vezes até inconveniente, mas possuidor de belos registros de vida urbana, como ela acontece de fato e de direito, sem retoques.

Com a reprodução desse flash do capitão da Mulher Monga em Bauru, presto minha modesta homenagem ao Dia do Fotógrafo, comemorado hoje e eu, sempre aprendiz no ofício, mero xereta, reverencio a todos os verdadeiramente profissionais e aproveito a deixa para pedir perdão pelo que faço, atuando sem foco, tudo no improviso, mas não perdendo a oportunidade.

AMILTON ALVES TEIXEIRA, PERDEMOS A ALEGRIA DE UM FOTÓGRAFO FOLIÃO
Eu não o conhecia como deveria, mas muitos anos lá atrás, estive no Arapongas e ele presidia aquela casa de amigos e de alegria, nas horas vagas com gente jogando boliche. Bateu uma empatia a primeira vista. Seu sorriso me cativou e nos demais encontros, sempre cordiais, ele sempre solicito e prestativo. Irradiava alegria e assim tocou sua vida, sempre com uma máquina fotográfica pendurada no pescoço. As três fotos aqui publicadas dele foram tiradas por mim e nessa na praça Rui Barbosa, num dos carnavais foi lá fotografar o bloco Bauru Sem Tomate é MiXto e acabei também o fotografando, nesse click onde irradia o que mais sabia fazer com uma eficiência nunca superada, ser alegre. O danado parecia que não se cansava nunca, onipresente no vôley, no basquete e no estádio de futebol. Essa a imagem que tenho dele e creio, a maioria das pessoas que com ele conviveram. Agora a notícia dele ter sido mais uma vítima do Covid, a pandemia levando tantos conhecidos, colegas, amigos, enfim, cerca a todo nós. Ele soube se cuidar, viveu a vida intensamente, mas hoje não está mais entre nós. Seu Amilton vai deixar muita saudade, pois daqui pra frente, quem mais irá nos fotografar com aquela sapiência? Se ele ainda pudesse nos deixar um último recado, tenho a certeza que seria: "Se cuidem, pois a coisa é séria!". Ele foi sério até onde podia, pois ninguém que é legal consegue sê-lo o tempo todo. E não sendo tão sério, é um dos nossos, amante da rua e das coisas da rua. Viva seu Amilton!

CANSADO, CRIEI MEU JEITO PARA NÃO ENLOUQUECER...
Eu cansei de tanta coisa. Agora mesmo, não me sinto nem um pouco estimulado a acompanhar o que faz, como faz, com quem faz, enfim, como se dá o começo dessa administração da Suéllen prefeita aqui em Bauru. Não estou interessado, pois para mim, as perspectivas não sendo nada animadoras, me reservo sendo oposição a primeiro ver no que vai dar. Posso queimar a língua, o que seria até bom para a cidade, pois ocorreria alguma realização, mas como não percebo esse envolvimento dos novos mandarins com os de baixo, prefiro me calar e aguardar. O mesmo ocorre com Bolsonaro, Trump e o mundo capitalista, neoliberal, esses lugares todos dando mais importância para o mercado que a pessoa humana. O que falar mais de Bolsonaro? Tá tudo tão claro, o que se faz necessário agora é ação e quando ela ocorrer, se ainda tiver forças, me engajo, adentro o campo de jogo e dou meu quinhão. Cansa esse negócio de Notas de Repúdio, Abaixo Assinados e afins. Também não sou adesista de primeira mão, longe disso - toc toc toc. Vejo tanta gente buscando aproximação aqui em Bauru com o que chega, esquecendo que deveríamos combater o fundamentalismo. Fazem vista grossa e aderem, buscam algo em troca. Quero manter distância, escrever sobre esse mundo apartado dele, tentando fazer algo ao lado das pessoas ralando para sobreviver, fazendo de tudo e mais um pouco, até sem muita consciência, atirando para todos os lados, mas na lida. Esses me movem e é com eles e do que me passam de bom que quero continuar me realimentando, buscando forças para continuar. Da política, pouquíssimas expectativas. Assim como me distancio disto que já escrevi, não existe a mínima chance de me ver elogiando apoio a Baleia Rossi ou coligações com quem sempre nos funbicou. Diante de tudo o que representam, seria incoerente tecer algum tipo de elogios a estes, quanto mais se aliar, prestar apoio. Cansei disso de mal menor. Prefiro ficar no meu mundinho e aguardar o que virá, para daí, se algo mais ocorrer, escrevinhar ao meu modo e jeito. Ou seja, cada vez mais aqui no meu mundinho particular, quase a parte, sem envolvimentos e sem proposituras de relacionamentos carnais e espúrios com a parte contrária. Vida que segue, eu cada vez mais velho - nunca velhaco -, cansado, porém ainda com alguma lucidez. A ajuda que peço é que se me verem propondo algo ao lado dos vendilhões e vergalhões, me chamem na chincha, pois devo estar enlouquecendo e necessitando de chacoalhadas.

INSÓLITA CONVERSA
Sai hoje aqui do bunker para resolver o IPTU 2021 com desconto no Poupatempo, deixando o veículo num estacionamento ali ao lado. Como havia estado ontem, desta feita para resolver outra pendenga, a do IPVA do carro, estabeleci um diálogo com o moço do local. Hoje, a coisa demora bocadinho mais que ontem e no retorno ele me diz:
- Demorou mais hoje, hem!
- Sim - lhe digo. Ainda bem levei um livro, pois do contrário estaria perdido e sem nada para fazer.
Ele me olha assustado e responde:
- O sr lê, não sei como consegue.
O assustado agora sou eu:
- Você não lê nada? E como passa o tempo quando o movimento está fraco, faz o que?
- Olho pro movimento da rua e fico mexendo com o celular. Eu também não sei o que seria de mim sem ele.
Não deu pra prolongar a conversa e nem sei como o faria, mas deu pra ter uma visão ampla de como alguns acham estranho os que ainda se dão ao luxo de andarem empunhando livros pela aí e pior, a constatação, toda informação a esses chega somente pela via internet e pelo que vejo, por fontes lá não muito confiáveis. E como estabelecer um diálogo franco e aberto com estes? Se algo ainda tiver que ser feito, terá que vir também pelas redes sociais e na linguagem que entendem. A reeducação proposta terá que ter em mente o celular como instrumento revolucionário, transformador, como já o foi e o é.

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