sábado, 9 de julho de 2022

BEIRA DE ESTRADA (153)


MAFUÁ RESISTE AO TEMPO
Resiste, persiste e insiste.
Mesmo com tantas adversidades, ainda penso em reinventar e recolocar isso tudo em circulação. Isso me move e faz me movimentar. Minhas forças residem aí, no sonho transformador, na utopia de coninuar acreditando em algo.

O FERIADO PAULISTA, UM LIVRO E MEU AVÔ JOSÉ PERAZZI
Já escrevinhei tudo o que tinha que fazer sobre este insensato feriado paulista, de uma guerra travada contra o Estado brasileiro, não pela libertação, mas provocada pelos “donos do poder” da época, com o único objetivo de não perder privilégios. Os abastados da época, principalmente os fazendeiros, pois ainda éramos muito agrícola, principalmente os donos do café, se viam incomodados com o pagamento de impostos. Estes sempre se acharam os donos do pedaço e quando contrariados, criaram uma guerra para chamar de sua e nela envolveram os buchas de canhão, o povo paulista que lutou bravamente e se achando o fazendo para libertarem-se de algo que nem sabiam direito do que se tratava. Muitos são enganados até hoje, pois vejo a consternação estampada na face de uns tantos pela aí. Cai nessa quem quer.

Eu conto aqui uma história que tenho de memória vivida por causa do livro “A Revolução de 32”, do historiador nascido em Botucatu, Hernâni Donato. Trata-se de um livrão, capa dura, edição primorosa, formato grande, feita em conjunto do Círculo do Livro e Editora Abril. É a maior reunião de fotos e imagens do que aconteceu em São Paulo na dita Revolução Constitucionalista de 1932. O levantamento de dados e de documentos é admirável. O livro vale muito por causa disso e também pela escrita do seu autor, expondo de forma bem nítida os dois lados em questão. De todos os livros escritos num passado não tão distante, muito poucos fugiram do ufanismo reinante na historiografia oficial.

Esqueço o conteúdo em si e analiso algo ocorrido comigo e com este livro. Quando o comprei meu avô por parte mãe, José Perazzi ainda estava vivo e morando em sua casa na vila Falcão, rua Martin Afonso (justamente onde hoje se situa o Supermercado Confiança). Era um domingo e ele sempre me pedia para ir buscar para ele a Folha de São Paulo, que lia somente aos domingos. Aprendi o gosto da leitura de jornais com ele e esse seu hábito. Levo o livro até ele e como sei, era bem jovem na época dos fatos, ele logo se interessa. Neste domingo, noto que não deu nem muita bola para o jornal, pois ficou varado pelas fotos do livro. Viajou de página em página, leu praticamente tudo naquela tarde, quando após o almoço, ocupou a mesa onde se sentava para ler o jornal e ali permanecer o dia quase todo. Eu sei de ter perguntado para ele sobre os fatos narrados no livro, mas com o passar do tempo, não consigo reavivar o que me disse. Meu avô tinha pouco estudo, mas lia muito, um autodidata, pessoa bem informada. Não consigo vislumbrar se, esteve sempre ao lado dos “revolucionários” (sic) ou de Getúlio Vargas, e consequentemente, da não separação paulista.

Hoje, dia do feriado – com o comércio todo aberto e ainda por cima caindo num sábado -, não me sai da memória a imagem dele, sentado o dia todo com o livro aberto sob a mesa, absorto e sem puxar conversa com ninguém. O tempo passou, tanto que veio num outro dia me pedir se ainda tinha o livro e podia lhe emprestar. Claro que fiz, permanecendo em seu poder por um bom tempo. Sei que as fotos devem ter-lhe trazido recordações inenarráveis. Seu José Perazzi era caladão, mas sabia muito bem se posicionar. Mesmo com esse sobrenome italiano, torcia para o Corinthians e eu, um dia, virei casaca por causa dele. Hoje, toda vez que pego neste livrão, a primeira lembrança é de meu avô e do quanto se interessou pela sua leitura. O tema sempre me instigou, li vários a respeito e este o único guardado. Tenho meus motivos.

NOTA OFICIAL DO PT NACIONAL CONTRA O JOGO MAIS QUE SUJO ADENTRANDO O GRAMADO DE JOGO - ESTEJAMOS ATENTOS*
* Fotos gileteadas de ato em Diadema, Grande SP, hoje, dia 09/07, com Lula.
Em desespero diante da proximidade do julgamento das urnas, o bolsonarismo associado à revista Veja desencadeou mais uma operação de mentiras, reavivando acusações falsas contra Lula e o PT. A partir de um vazamento ilegal e parcial de depoimento mentiroso do condenado Marcos Valério, tentam associar o partido a um crime cometido 20 anos atrás, que foi investigado em pelo menos seis inquéritos e ações judiciais, inclusive a Lava Jato; e em todos foi derrubada a falsa tese que os bolsonaristas e a Veja voltam a levantar. Este é o verdadeiro crime: contra o PT, a verdade e a lisura do processo eleitoral.

Os fatos sobre o assassinato do saudoso prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002 foram estabelecidos primeiramente em três investigações: da Polícia Federal, do Ministério Público do Estado de São Paulo e da Polícia Civil de São Paulo. Todos concluíram que Celso Daniel foi vítima de criminosos que o sequestraram para roubar, descartando todas as outras hipóteses levantadas por adversários políticos do PT que nunca se conformaram com a verdade e ainda exploram morbidamente a memória do prefeito.

Dez anos depois, diante das pesadas penas a que seria condenado no Mensalão, Marcos Valério disse que teria ouvido dizer uma história – jamais confirmada ou corroborada por ninguém – sobre suposta chantagem de um empresário de Santo André contra dirigentes do PT, envolvendo a morte de Celso Daniel. A falsa denúncia foi objeto de inquéritos da Polícia Federal e da Polícia Civil de Minas Gerais, arquivados por falta de provas, além de ter sido descartada em ações da Justiça Federal de Curitiba e do TRF-4, na Operação Carbono 14, que a Lava Jato lançou em 2016, em plena agitação pelo golpe do impeachment.

Fracassadas todas as tentativas de associar o PT ao crime, Marcos Valério tentou fazer acordos de delação premiada, rejeitados pelo Ministério Público de Minas Gerais e até pelos procuradores da Lava Jato, mas em 2017 prestou depoimento à Polícia Federal em Minas Gerais, no qual teria feito acusações a políticos de outros partidos – de acordo com a imprensa da época, sobre o chamado “mensalão mineiro do PSDB” e sobre desvios na estatal Furnas.

Em 24 de setembro de 2018, decidindo sobre a Petição 7157 ao Supremo Tribunal Federal, o então ministro Celso de Melo homologou – apenas parcialmente – a delação de Marcos Valério à PF de Minas. Embora o ministro tenha imposto segredo de Justiça ao processo, a decisão foi vazada para a Rede Globo e divulgada no Jornal Nacional em 4 de outubro, véspera das eleições presidenciais e dia do último debate entre candidatos, com óbvio prejuízo para a campanha do PT.

O caso não teve desdobramentos conhecidos nos últimos 4 anos, a não ser o fato de que, com a aposentadoria de Celso de Melo, a Petição 7157 foi herdada pelo ministro Kassio Nunes Marques. Na última semana de junho, no entanto, o site do STF registrou a entrada de duas novas petições e intenso trânsito dos autos da Petição 7157 entre o STF e a Procuradoria Geral da República. Foi exatamente ao final desse trânsito, na sexta-feira, 1º. de julho, que a revista Veja divulgou os trechos selecionados e vazados ilegalmente do depoimento sigiloso de Marcos Valério.

A revista começa mentindo ao afirmar que a delação foi “homologada por Celso de Melo”, numa tentativa de conferir credibilidade ao depoimento de alguém que buscava benefícios penais em troca de acusações sem provas. Em setembro de 2018, Celso de Melo, repita-se, homologou apenas parcialmente trechos da delação que, de acordo com o que foi divulgado na ocasião, diziam respeito a supostos fatos que não eram objeto de ações penais já em curso. E o caso da suposta chantagem, como se sabe, era ou havia sido objeto de ações penais.

Mesmo se tratando de evidente manipulação política e péssimo jornalismo, a matéria da revista Veja abasteceu as redes e os setores da imprensa comprometidos com o bolsonarismo. Na tentativa de desviar a atenção para os reais problemas do país e do povo, o bolsonarismo mobilizou seus agentes para aprovar, na noite de terça-feira, um convite a Marcos Valério para depor na Comissão de Segurança Pública da Câmara. Querem armar o cenário para que lá sejam repetidas as mentiras, armações e calúnias já derrubadas nas mais diversas instâncias judiciais e investigativas.

O Partido dos Trabalhadores está, naturalmente, ultimando as medidas judiciais cabíveis perante a revista Veja, reincidente em ofensas à imagem do partido e seus dirigentes. É uma conduta que se agrava durante processos eleitorais, mas que não é imune à Justiça, lembrando por exemplo que, na campanha de 2010, a revista foi condenada a publicar direito de resposta do PT a suas mentiras, em decisão histórica do Tribunal Superior Eleitoral.
Por suas notórias conexões com o processo eleitoral e a desesperada campanha do bolsonarismo para difamar o PT, inclusive com a mentirosa associação o partido a organizações criminosas, este episódio exige mais esclarecimentos.
O PT indaga ao Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria Geral da República que providências foram tomadas para apurar as responsabilidades pelo vazamento ilegal de peças de um processo sob segredo de Justiça, que transitou entre as duas instituições na semana em que foi divulgado.

Por fim, alertamos a sociedade brasileira, os meios de comunicação não comprometidos com o bolsonarismo e a Justiça Eleitoral para os riscos que manipulações dessa espécie representam para a lisura das eleições e a própria democracia em nosso país. Já tivemos, em 2018, uma eleição contaminada pela mentira, que resultou no pior governo da história do Brasil. Não podemos permitir que isso se repita.
Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT
Paulo Teixeira, secretário-geral do PT
Reginaldo Lopes, líder do PT na Câmara

E PRA NÃO DIZER QUE NADA FALEI DAS BIBLIOTECAS NO LUGAR DOS CLUBES DE TIRO
É um perigo!.
Sair de casa e se deparar com alguém lendo Guimarães Rosa. De repente, ao sair com seu companheiro ou companheira, ser surpreendido por alguém lendo Machado de Assis, em um café ou lanchonete. E no piquenique, seu filho brincando ver, subitamente, alguém lendo Cecília Meireles.
E nas páginas policiais de um jornal, todos os dias, ler um escrito de Jorge Amado, Vinícius de Morais e Carlos Drumond de Andrade.
Quem entra numa biblioteca não tem apreço pela ignorância. Está premeditando praticar um atentado contra o desconhecimento, uma emboscada à desinformação.
Fico imaginando um mundo com as facções disputando em rodas de leitura quem vai espalhar obras do Arcadismo, do Romantismo, do Realismo e do Parnasianismo.
Fico pensando qual será minha reação se, andando despreocupadamente pela rua, alguém armado com um livro, disser: parado aí, isso é um poema! E me atingir com rimas de Cora Coralina.
E se no cruzamento, com o sinal fechado, alguém bater no vidro e, de livro em punho, anunciar um trecho de João Cabral de Melo Neto.
Já pensaram se em vez de violência contra a mulher os homens passarem a praticar leitura com as mulheres. Ou num ato mais tresloucado ainda, dedicar-lhes poesias.
Poesias são melhores do que rosas e flores, pois podem ter todos os cheiros, todas as cores e podem ser despetaladas com bem me quer e mais me quer e não murcham nunca.
Se todo cidadão tiver a autorização para portar um livro, inclusive fora de casa, ele estará seguro contra a idiotice, a burrice e a incompetência.
Faltou o apedeuta dizer que se ele não for reeleito ouviremos por aí, absurdos como "analfabeto bom é analfabeto letrado" ou, então, como "razão em cima de tudo, amor em cima de todos".
Já que Lula está livre, a palavra de ordem agora é Lula livro.
Autor desconhecido.
OBS.: Obrigado mesmo pelo envio do texto, caro amigo pederneirense Zé Roberto, eterno e querido servidor da Unesp Bauru.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caríssimo Henrique,

Obrigado!

Esse seu relicário postado no nove de julho está muito bom. Por inteiro!
Gostei especialmente da passagem em que você nos bota para lembrar juntos, de seu avô, senhor José Perazzi.
Distante, embora, essa sua lembrança dele é descrita como emocionada memória ...
Valeu!

En passant, ocorreu-me, ter vivido, igualmente, algo um pouco parecido com o seu registro.

Em 1951 - tinha eu, meus 5 aninhos de idade - foi lançado um 78 de Pedro Raimundo, sanfoneiro famoso, denominado: "Pingo Mulato".
Meu pai botava a música repetidas vezes na vitrola, geralmente aos domingos de manhã, e aquilo era uma festa.
Sinceramente, não sei, mesmo hoje, o quanto meu pai estava a favor ou contra Getúlio Vargas, na maçada paulista de 1932.
Como você, no memorial de José Perazzi, parece-me que aquele tema fosse perigoso de ser comentado ...

Em homenagem aos paulistas que preferiam GV, essa cópia remasterizada de "Pingo Mulato":

https://youtu.be/iD1dlifrqmA

Bom domingo!

Garoeiro - Natal RN