sexta-feira, 5 de agosto de 2022

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (206)


começando os trabalhos

A CASA GRANDE & SENZALA CONTINUA DE PÉ E BEM ATUANTE
"CONVERSA NO ÔNIBUS - Duas mulheres conversando atrás de mim. Uma delas:
- A minha patroa não deixa eu comer na mesma hora que eles. Tem que ser depois. Também não posso comer a comida deles, e nem esquentar minha marmita. Acabo comendo comida fria todos os dias.
A outra:
- Olholholhó. Tô bem, a minha deixa eu esquentar a marmita.
E riram...
O ano é 2022, Brasil", Elaine Tavares, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis SC.

O relato aqui transcrito de minha amiga internética - que ainda não conheço pessoalmente, mas nutro imensa simpatia, pois comungamos das mesmas inquietações e lutas -, não representa nenhum novidade. O Brasil, como sabemos de cor e salteado, continua com seus pés atolados na Casa Grande & Senzala, ou seja, uma legião de patrões e empresários desta terra não tão varonil, segue atuando com seus subordinados, seguindo fielmente algo tendo a escravidão do ser humano como regra de conduta. Dois dias atrás, publiquei texto aqui onde relatava algo ocorrendo com amigo bem próximo, desempregado e atuando na venda de automóveis, praticamente em troca de alimentação. Seu ganho, mesmo trabalhando pesado se dava somente quandio vendia automóveis, no seu local de trabalho, do contrário, conta com ajuda de custo do empresário, dada segundo seu bel prazer. Ontem recebo relato de conhecida, que ao ler meu texto, posta sua situação e a publico de forma anônima, cortando alguns trechos, para impedir qualquer possibilidade de intendificação:

"Caro Henrique, li o relato descrito por ti de seu amigo trabalhando num estacionamento de venda de automóveis e te envio a minha situação, não muito diferente da dele. Me aproximo dos 50 anos e diante de tanto bater cabeça, nada encontrando como trabalho, fiz curso de corretora de imóveis e atuo junto de uma das grandes da cidade de Bauru. A imensa maioria desses profissionais não possuem renda fixa, muito menos carteira assinada. Somos autônomos, a nova forma de nos escravizar. Dão a isso o nome de modernidade, isentando o patrão do registro. Ganhamos pelo que vendemos e diante de mercado em baixa, recebo clientes, vou atrás deles com meu carro, de ônibus, a pé e tudo por minha conta e risco. Não existe ajuda de custo na maioria das imobiliárias, pois alegam que o percentual de ganho que temos é suficiente para boa remuneração. Sem um mínimo, vivemos do que? De brisa, pensam eles, os patrões. Se nada vender, nada ganho e não tenho nem a ajuda de alimentação no local de trabalho de seu amigo. Faz dois meses que nada vendo, portanto, nada recebo. Existe em Bauru muitos na mesma situação que a minha, somos autônomos, portanto, liberamos a imobiliária de arcar com problemas trabalhistas. Assim somos por imposição destes, pois queria muito ter um mínimo para chamar de meu. Não temos esse direito. Corro atrás, cada vez mais, de buscar gente interessada nos imóveis, alugar e vender, única forma de ganhar algum. Caímos nessa situação e com a reforma trabalhista aprovada com Temer e consolidada com Bolsonaro, tudo piorou. Sou um camêlo, trabalhando de sol a sol, burro de carga, com caixa às costas e ganhando muito pouco. Quando questiono o patrão, pedem o mesmo que li do seu relato, se esforce que consegue. Como irei me aposentar nessa situação, se mal consigo algum para minha decente subsistência? Ser corretor de imóveis, dono de uma imobiliária é uma coisa e vendedor de imóveis outra bem diferente, realidades bem distintas".

no meio dos trabalhos diários
CONTINUAM DENÚNCIAS DE EMPREGOS AO ESTILO CASA GRANDE & SENZALA - MÚSICOS TRABALHANDO POR PORTARIA
Depois da publicação de um primeiro relato, o do trabalhador numa loja de venda de veículos, ali atuando, mas ganhando somente quando vende algum veículo, num desrespeito ao não registro em carteira e muito menos, pagamento de vigente salário mínimo. Contei essa história e me pedem para divulgar outra, a da funcionária de imobiliária, que atua como se fosse corretora e também sem salário, ganhando somente quando vende algo. Este o atual quadro vigente e ululante pela aí. Mal chego em casa no meio da tarde e algo mais no messenger, outro relato. Mais uma denúncia de como se dá a tal da Reforma Trabalhista vigente no pós-golpe de 2016, implementado por Temer e consolidado por Bolsonaro:

"Henrique, muito triste os seus dois relatos. O meu também. Você me conhece bem, sou músico aqui na cidade há mais de vinte anos e te peço publique o que ocorre, mas não me identifique, pois se a coisa já está difícil, pode piorar. Não trabalhamos por um prato de comida, como seu amigo, não precisamos vender um carro ou uma casa para ganhar, mas algo de igual teor ocorre com a classe artística. São formas muito parecidas de uma exploração já implantada e em pleno exercício. Em muitos dos bares onde tocamos, música ao vivo, levo a aparelhagem eletrônica, instalo e não consigo mais fechar um cachê mínimo para tocar. Os empresários hoje querem que trabalhemos por portaria. Ou seja, só recebemos pelas pessoas presentes e se antes havia um ganho determinado com um cachê, hoje tem noite que não conseguimos nem R$ 50 reais. Como sobreviver desta forma? Tocamos de duas a três horas por noite, quase ininterruptutas e só falta mesmo, partir de nós, os músicos fazer a propaganda da casa. Não está fácil a situação da categoria e para piorar, como você sabe, a Secretaria de Cultura não ajuda nada, não incentiva, não viabiliza alternativas. Seus projetos são inviáveis, existem no papel e não se concretizam. Nem adianta procurá-los, pois com eles sem possibilidade de algo a nosso favor. Nem penso mais em carteira assinada, ser autônomo ou algo parecido. Quero comerr, pagar minhas contas e fazer o que gosto e sei fazer. Muita falta de sensibilidade para conosco, diálogo cada vez difícil. Como trabalhar motivado nestas condições?".

terminando os trabalhos do dia
para não dizer que nada escrevi da incomPrefeita no dia de hoje...

NÃO SE TRATA DE INSENSIBILIDADE, MAS DE MODUS OPERANDI
A greve do servidor municipal da Emdurb chegou ao fim. A categoria encurralada pela ação autoritária da alcaide resolveu ceder e desde ontem já está 100% nas ruas. As negociações continuarão, mas como já é sabido, com Suéllem Rosim, impossível saber se existirá algum tipo de diálogo a partir de agora. Ela intimidou os servidores e na volta, não está bem certo se ocorreu ou não algum reajuste no vale alimentação. Conseguiu seu intento, vergou a categoria, mas ganhou a desconfiança de todos. Se até antes do início da greve, não se falava em atrasos salarias, hoje já é certo que no próximo pagamento, ao menos dez dias de atraso. Isso ocorre exatamente para demontrar que, houvessem se calado, tudo continuaria como dantes, mas foram cutucar o vespeiro fundamentalista, descobriram como se dá o seu modus operandi.

Um horror o vídeo da incomPrefeita na noite de ontem acusando os servidores de, ao cumprir o acordado com a Justiça Trabalhista, não cumpriam o mínimo exigido e, segundo ela, mantinham lixo nas ruas para deixá-la em mal lençóis. Foi leviana, sem provas e jogando pra sua torcida, os seus seguidores, que a partir de algo assim, se posicionam contra os servidores da Emdurb. Ela, que já havia demonstrado sua inaptidão para o diálogo, quando contrata empresa para coletar o lixo durante a greve, preferindo gastar alto valor do que valorizar a categoria profissional dos coletores de lixo. O ocorrido não se trata de quada de braços, mas de demonstração explícita de autoritarismo e insensibilidade para o servidor e tudo o que representa para a cidade de Bauru.

A prefeita pode até achar ter saído vitoriosa com o final da greve, mas quem saiu de fato perdendo é ela, mais uma vez, acumulando assim, muitas evidências de uma prática desqualificada para o cargo, ao menos quando se fala em atuação dentro de padrões democráticos. Ela inside em seguidos erros, total falta de sensibilidade e tino para o exercício do cargo. Diria mesmo, despreparada, inábil e grosseira, preferindo gerar desconforto entre os servidores, do que resolver de fato as questões. A questão do vale alimentação continua sem solução. Ela continua sendo investigada pela Processante nos seus calcanhares, motivado por compras de imóveis descabidos e muitos inservíveis. Assim como acusou os servidores de atuarem de forma desleal, ganhou mais um processo, o de Elias Brandão, o mentor do texto aprovado da Processante que, teve seu nome divulgado para os seus o criticarem e até mesmo, perserguirem. Elias a processou, pois passou a sofrer ameaças e ela, já foi devidamente intimada no processo. Deve depor e a atenção se voltará para suas justificativas. Ela, como se vê, mete os pés pelas mãos. Não dá uma bola dentro.

ALGO DE JÔ SOARES

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