quinta-feira, 3 de abril de 2025

MEMÓRIA ORAL (317)


QUE HISTÓRIA É ESSA, AREALVA?*
* Algo de minhas andanças, perambulações pela aí e do que mais gosto de fazer, gastar sola de sapato e circular, botar o bloco na rua. Desculpe por mais um "textão", mas impossível contar tudo em poucas palavras.

Na noite desta quinta, 03/04, voltei pra Arealva, 16 km de Bauru, só para prestigiar um evento único, dentro da programação dos 76 anos de seu aniversário, comemorado dia 01/04. A programação é extensa e escolhi a dedo o dia para lá estar. O novo diretor de Cultura da cidade, Gilson Carraro é pessoa ciente do que faz. Professor de longa data, trouxe para o exercício de sua função o algo mais, pouco de todo conhecimento adquirido ao longo do tempo e logo de cara surpreende. Neste “Que história é essa, Arealva?”, ele fez uma clara paródia com o programa da GNT, “Que história é essa, Porchat?” (https://gshow.globo.com/gnt/que-historia-e-essa-porchat/) e acertou na mosca. Não foi só uma questão de se espelhar no que via na TV, mas de saber transportar para algo concreto, envolvendo sua cidade e sua gente. Conto a seguir algo do presenciado por mim, acompanhado do produtor cultural, profissional do vídeo, Roberto Pallu, que me acompanhou no passeio deste dia.

Pra começo de conversa tem que ter alguém com escopo para comandar o espetáculo. Gilson direcionou tudo e comandou o evento, também como apresentador. Dentro de sua cabeça, pelo que percebi, tudo estava esquematizado. Trouxe para o palco do recém inaugurado Auditório Municipal “Antonio Caracho Filho”, com capacidade para aproximadamente 150 pessoas, todos previamente convidados, uma dupla sertaneja local, pai e filho, ambos agraciados com edital da Lei Aldir Blanc, Anisio & Paulo Vitor, só com canções previamente pensadas para cada momento, iam intercalando as falas com uma música por intervalo. Foi preciso e sem utilização de extenso tempo para uma apresentação só, pois estiveram no palco o tempo todo, presentes e auxiliando na realização do todo. Caso pensado.

Antes de trazer ao palco os artífices da noite, Gilson comandou um espetáculo, que só quem tem ousadia e conhece algo do ramo consegue levar a contento. Munido de um curto roteiro às mãos, conversou longamente com a plateia, estimulando-a para o que viria. Na sequência, convidou ao palco cinco atores, quatro escrevendo sobre a história da cidade e um outro, representando o homenageado do dia. Os quatro escrevinhadores, historiadores e memorialistas, por ordem de entrada, Verico Leuteviler, com seus 80 anos, lúcido e com livro pronto sobre a história da cidade. Conta dos primórdios da cidade e na sequência, a historiadora Silvaninha Giatti, com vários livros e cabeça pensante dentro do que existe de produção no campo da memória. Depois, outra professora, também diretora de escola infantil municipal, Analuci Reys Miguel, explanando sobre quem dá nome a praça da cidade e por fim, Colauzinho Nicolielo, com um livro já publicado sobre sua “Soturna” e outro no prelo, ainda dentro de sua cabeça, pronto pra explodir.

Foram falas homenageando alguém que estava no cartaz de apresentação do evento, Afid Miguel Aude, de origem libanesa, morador lá e depois, por muito tempo em Bauru. Mais que um apaixonado pela cidade, tanto que todas as falas dos quatro já citados, versam sobre como se deu também sua passagem pela vida arealvense. Para falar dele, seu filho, o advogado Gesner Aude, relembrando histórias emocionantes, que cativaram não só a atenção de todos, como dignaram a homenagem e o acontecimento daquela noite. "Não fosse meus antecedentes terem vindo para o Brasil, hoje certamente deveria estar em Gaza", disse num certo momento. Enfim, os cinco juntos no palco, cada um com espaço próprio para desenvolver, dentro de um limitado tempo, sua fala e entendimento de parte da história, tudo intercalado por boa música.

Ao final, o atual prefeito, Paulinho da Nina é levado ao palco e junto de todos é feita a homenagem ao Afid. Muita troca de carinhos, porém todos ouviram muito de História e numa cidade pequena, como Arealva, impossível não ocorrer o entrelaçamento de personagens, com o prefeito de hoje ter sido o avô de quem no passado já esteve à frente dos destinos da cidade. Toda a família Aude esteve presente, os queridos amigos Gislaine e Gilson, ambos professores, moradores de Bauru, sua matriarca e outros, num congraçamento belo de ser visto. Algo juntando de como se deu a emancipação do município, com personagens que o fizeram de fato. Gilson promete que, ano após ano, fará homenagens deste tipo, fazendo com que, a cidade se movimente e volte a discutir e ter em pauta a sua História.

E depois de tudo, com evento cronometricamente se encerrando às 22h, o mais saboroso de eventos como este, o congraçamento entre os presentes. Essas conversações são imperdíveis e possibilitam não só os reencontros, como manter a conversa sempre em dia. Eu, na qualidade de forasteiro, que junto de Roberto Pallu, tivemos o prazer de concluir um documentário, também pela Lei Aldir Blanc, o “Arealva – Cidade das Águas”, que será apresentado dia 30/04, fechando a programação de aniversário, aproveitamos para conhecer mais da história da cidade e também seus artífices. Foi uma noite e tanto. Presenciamos um belo evento, feito ao modo e jeito do aguerrido e destemido, também intrépido Gilson Carraro. Sem me esquecer, ao final, antes da dispersão para as conversas, Gilson pede para que todos se juntem e cantem juntos “Romaria”, clássico de Renato Teixeira.

Minha conclusão final é só para os elogios. Com tudo o que presenciei, a certeza de que, não é fácil produzir e realizar algo como o presenciado. Primeiro, se faz necessário ter força de vontade, conhecer um pouco do negócio, ter predisposição, estar cercado de boa equipe de trabalho e, mais que tudo, ter coragem. Vi algo realmente dignificando Arealva na noite dessa quinta e saio de lá, ciente de que, em matéria de Cultura, algo realmente inovador está em curso na cidade vizinha. Neste e nos demais eventos, não só dentro do calendário de festas pelo aniversário, vejo uma abrangência de possibilidades, ou seja, o leque está aberto, procurando atender todos os interesses. Em Arealva, pelo que vi, tem para tudo e todos os gostos. Um belo sinal de que, mesmo com pouco investimento, se consegue realizar algo grandioso.



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