sábado, 26 de abril de 2025

MÚSICA (246)


O PRAZER DE ESTAR PRESENTE NUM DOS SHOWS DA DESPEDIDA EM TURNÊS DE GILBERTO GIL
Allianz Park, São Paulo SP, sábado, 26 de abril de 2025.

Não é fácil escrever algo sobre o show e, principalmente sobre Gilberto Gil após sair do estádio, local da realização de seu último show na turnê de sua despedida, não dos palcos, mas deste tipo de espetáculo, feito de cidade em seguida, um após outro. Passa um filme na minha cabeça. Não consigo me lembrar, por mais que me esforce, qual o primeiro show dele assisti na vida. Sei que foram muitos. Menos que dez, no todo, porém o acompanho desde Expresso 2222 e Aquele Abraço, ambas cantadas divinalmente no encerramento deste.

Saio de lá meio que inebriado e nem havia dado uma fungada em nada durante as quase 2h30 em que Gil, permaneceu no palco. Alguns o fizeram, eu não, fui a seco e junto da também resistente Ana Bia, permanecemos bem umas 5h em pé. Chegamos muito tempo antes e fincados ficamos postados diante do palco até o momento em que Gil, definitivamente deu cabo do espetáculo. Quando me dei conta, o corpo final.ente estrilou e tive que voar em busca de um sanitário. Até então, pelo visto, ele estava em estado de "compasso de espera". O transe, assim mesmo, demorou mais um bocado de tempo para deixar meu corpo. Eu, na beirada dos 65, percebi o corpo todo reclamando, mas só depois de apagada,as luzes, já na rua. E daí, me pus a matutar: se eu, perto dos 65 estou assim, imagine Gil, com mais de 80.

Todo artista, pelo pouco que sei e muito que leio, busca uma força interior, dessas incompreensíveis quando no palco ou diante dos holofotes. Não sei quem me contava do último filme de Fernanda Montenegro, um trio de atores velhos, todos aos 90 anos. O camarim, um verdadeiro centro cirúrgico, com tudo pensado, eles meio que proscritos, mas quando a batia a claquete, tudo se transformava e eles, como gatos, saltitavam como guris novos. É a tal da força interior, inexplucável e divinalmente maravilhosa. Pensei nisso, saindo do Allianz, pois sentia principalmente dores nas costas e juntas. Nem isso, se repetindo com frequência me faz se afastar de ruar e, tendo condições, de continuar "botando o bloco na rua", como neste encantador e único momento.

Não sei se percebem, mas enrolo antes de tecer meus comentários sobre o que representa para mim um artista do quilate do Gil. Tenho uma espécie de esquadrão, time dos sonhos, talvez pouco mais de onze. Ou seja, um time e mais alguns no banco, que não é de reservas, pois todos são, mais ou menos do mesmo quilate. Gil sempre esteve nele escalado, pois sempre bateu um bolão. Ele é para mim, algo como Zico, Sócrates, Pelé, Garrincha, Maradona e outros do mesmo quilate. Eu creio ter tudo de gente como Gil, Chico, Caetano, Bosco/Blanc, Tom, Vinicius, Elis, Gal, Milton, Bethânia, MPB4, Paulinho, Beth, Nogueira, Martinho, Gonzaguinha, Ivan... Tenho e os ouço em constante regularidade. Na qualidade de assumido acumulador, sei muito bem o que devo ou nãu guardar e, mais que tudo, paparicar, ou seja, manter no meu particular altar. 

Vamos ao que nos interessa no momento, o Gil, enfim sento aqui para escrevinhar algo só dele e até agora não consegui. Divago e creio, assim continuarei a fazê-lo até o fim dessas mal traçadas. Eu nasci em 1960, portando quando com 20 anos, lá por 1980, estes todos estavam no auge de suas produções. Tudo se consolidou em mim neste período. Trabalhava numa grande seguradora, já tinha boa consciência política, alguma condição para ter os próprios discos, daí, praticamente fique sócio da Discoteca de Bauru, do até hoje amigo, Silvio. Comprei de tudo e só não tenho todos até hoje, pois os guardei por décadas no antigo Mafuá, na beirada do rio Bauru. Com muita dor no coração perdi muita coisa e, mesmo assim, guardei outro tanto com encartes todos grudados. São minhas preciosidades e recordações históricas. Como me desfazer de um álbum, como "Refazenda" ou mesmo "Palabóricamará", mesmo com avarias? Impossível. Hoje, até posso ter tudo pelo youtube, mas nada é como a história que tenho quando toco cada um destes. Como diria outro, o Arrigo, é puro "orgasmo total".

Um show/espetáculo me reavivando isto tudo, só pode ser oriundo de alguém também transformador e arrebatador. Gil o é, ele,sabe disso. Quando o observei atentamente ali no palco, suas expressões e gestos, por detrás delas, tenho certeza, a nítida impressão de ali estar um ser bem ciente de seu papel enquanto alguém no mundo para embalar os sonhos de gerações. A imensa maioria ali presente tinha a noção disto. Diante de mim, mãe e filha, ela pouco mais jovem que eu e a menina, não mais que 20 anos. As duas cantaram todas. E como isso é possível? Simples. Só existe uma explicação: ela ouviu isso tudo dentro de casa, pois nem nossas rádios tocam mais gente como Gil nos dias de hoje. Deixei de olhar para o palco e fiquei a observá-las. Cantamos todos, pulamos, dançamos e matamos,saudade de tempos ibenarráveis em nossas vidas. Enfim, foi uma noite, não só para matar saudades, mas para mostrar e evidenciar, ainda estarmos todos bem vivos.

Percebem que, escrevo do Gil, como o faria com qualquer outro do mesmo patamar. O diferencial é só pelo fato de Gil ser a bola da vez. Hoje a turnê é dele. Ele, do alto dos seus quase 90 anos, com sua retrospectiva no palco, numa brilhante produção, abrilhantou nossos olhos, como Caetano e Bethânia já tinha feito meses atrás. O que vi não fica devendo nada para as grandes produções internacionais. Primeiro, o grande diferencial, o que vi é produto genuinamente brasileiro e isso me toca progundamente, de forma arrebatadora. Não sentiria o mesmo assistindo a um show de Bob Dylan ou Paul MaCartney, de quem gosto demais da conta. O Brasil e os brasileiros me arrebatam. Alguns brasileiros muito mais que outros. Gil um deles. Possui força inquestionável quando levanta o braço, punho fechado ou quando faz o gesto do "vá à merda", com o dedo apontado pra cima. Eu arrepiei nestes momentos, mais ou igual teor de quando cantou canções que não me saem da cabeça, mesmo depois de décadas.

Isso já está ficando longo demais e não sei se vou consevuir chegar onde quero. O fato é ter me emocionado. Senti o mesmo no público presente. Eu e meus ídolos envelhecemos. Eles mais do que eu, pois quando comecei a gostar do que fazia, eu muito jovem e eles já com certa quilometragem. Alguns já se foram fisicamente, muitos resistem, outros fenecem a olhos vistos, algo inegável e irreparável. Todos possuem obras a perdurar ad aternum. Outras gerações continuarão os ouvindo. Com maior ou menor intensidade, não interessa. 

Eles fizeram e ajudaram a construir o que sou e represento. Devo isso também a eles. Dias atrás uma amiga muito jovem, me mostrou uma música onde Gil cantava com um destes cantores de funk, dos que nunca saberei o nome direito. Ela me disse algo interessante. Só veio a conhecer Gil, por ele ter cantsdo junto de alguém que ela ouve, do contrário nem saberia quem é. Gil tem disso, ele está aberto para novas possibilidades, muito mais do que eu. Ele é grande em tanta coisa. Vê-lo falando do filho falecido ou cantando junto da Preta, doente e resistindo é algo para não querer desistir nunca dessa longa jornada, que é a nossa existência humana neste plano da vida - se é que existe outro. GIL me move. Como gosto desse arretado baiano, bradileiro.

Eis meus links com trechos do show/espetáculo:
1 – O Allianz momentos antes do começo do show: https://www.facebook.com/e.perahenriquzzideaquino/videos/3580976822208393

2 – Gil numa das rimeiras canções do show: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/1394603891726201

3 -  A participação de Chico Buarque com Cálice: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/664047729602516

4 – Nando Reis foi a participação especial do dia: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/1631037634210799

5 – Ele e a filha, Preta Gil, momento mais que emocionante: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/712432587794434

6 - Quase ao final, com Expresso 2222: https://www.facebook.com/100000600555767/videos/pcb.24165233656413316/979372984350178

7 - A última do show, Aquele Abraço, com imagens em drone do público presente: https://www.facebook.com/100000600555767/videos/pcb.24165233656413316/1411425433191414



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