quarta-feira, 26 de novembro de 2008

MEMÓRIA ORAL (54) - publicado em 27/11
(Esse texto foi escrito em agosto de 2007, publicado só agora nesse blog, pois estavasem sem publicação. Essa história é velha e mais atual do que nunca.Tem tudo a ver com o que estamos fazendo no Preserve 2008. Daqui do Rio, deixamos um abraço cordial a todos):

OS PASSOS DO RESTAURO DE UM CARRO FERROVIÁRIO HISTÓRICO
O Projeto Ferrovia para Todos foi lançado em Bauru no ano de 2001, com o início do restauro da composição ferroviária da Maria Fumaça. À partir de 2004, com a autorização da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) iniciaram-se os passeios turísticos, com sessenta vagas cada, que saiam mensalmente defronte o Museu Ferroviário até a Estação da Paulista, num trecho ida e volta de 2 km. Como Bauru tem toda uma história ferroviária, logo esse passeio tornou-se a coqueluche da cidade. Com o passar dos anos, a demanda foi crescendo, os passeios tornaram-se quinzenais e a cada divulgação junto a comunidade, a lotação ocorria rapidamente, provocando rotineiras filas.

Na troca da administração municipal, o Projeto teve solução de continuidade, algumas prioridades foram alteradas e a atenção foi redobrada. Com a abertura da unidade local do PoupaTempo, três carros ferroviários foram totalmente restaurados pelo Governo do Estado de São Paulo, sob a supervisão da equipe da Secretaria Municipal de Cultura e instalados naquele local. Hoje, a maior visitação dentro da unidade do PoupaTempo é a realizada num dos carros expostos num ramal ferroviário no local. Quer dizer, a população novamente renova aquilo que já era do conhecimento de todos, a ferrovia continua sendo algo de imenso magnetismo para Bauru e região. Também foi realizada a reforma de um jardim interno dentro das instalações do Museu Ferroviário e para preencher e embelezar a área interna foi totalmente restaurado um meio carro, em formato de cabine, sem as rodas e instalado no local, onde hoje funciona um lojinha de revenda de produtos com cunho ferroviário. O restauro foi totalmente feito pela equipe de funcionários do setor e também tornou-se outro grande atrativo, despertando muita curiosidade para todos os visitantes.

No prosseguimento dos trabalhos, o grande clamor era a demanda crescente de passageiros nos passeios quinzenais. No cronograma a ser seguido, deveriam ser iniciados os trabalhos de restauro de um carro Restaurante, mas devido a necessidade do aumento imediato do número de assentos aos visitantes, os rumos foram alterados. A decisão coletivada equipe foi a de restaurar de imediato mais um carro de passageiros. Um dos carros sob concessão do Governo Federal foi escolhido pelo Conselho do Museu Ferroviário e com uma verba recebida num convênio com a Prefeitura de Paraguaçu Paulista, foi iniciada a recuperação e restauro, que anteriormente era de uso Administrativo ( O-11, AM7026-4J), sendo transformado em Carro de Passageiros de 1ª Classe (passou para série P-11). Esses trabalhos foram iniciados efetivamente em janeiro de 2007 e todo o processo de gastos e compras efetuadas foi acompanhado muito de perto pelo Conselho do Museu Ferroviário e pela Secretaria Municipal de Cultura.

Três orçamentos foram solicitados para cada compra e mesmo após a apuração, o ganhador recebia a visita da equipe coordenadora, onde iam sendo explicados os objetivos do projeto e buscado uma forma de tê-los como participes, com descontos especiais e em muitos casos, até a doação do material e da mão de obra. A primeira compra foi a de madeiramento, para piso, teto e laterais, sendo feita na Faidiga Madeiras, do Flávio Faidiga. Compra efetuada, deu-se efetivamente o pontapé inicial no restauro. A equipe de trabalho da Secretaria Municipal da Cultura é reduzida, constituída pelos servidores municipais Alex Gimenez Sanches, Geraldo Aparecido Pereira Pires, Luiz Carlos Pereira e José de Jesus Dias. Esse quarteto é o que coloca a mão na massa e faz a coisa andar, executando todas as tarefas de restauro.

A ALL (América Latina Logística), concessionária da malha ferroviária em Bauru cede um amplo local, num dos barracões dentro das antigas oficinas da extinta NOB. Esse espaço possui um trilho de aproximadamente 100 metros, onde os carros ficam aguardando até o dia de início do restauro e junto deles, o local de trabalho da equipe. É lá que tudo é feito. Dividindo o mesmo barracão, a Marcenaria do Luiz Preto, que empresta alguns maquinários pesados no trabalho das madeiras e a PrestFer, do Celso, também sempre prestativo, em reparos de solda, sempre necessários. Por ali vigora uma união de interesses comuns, com todos irmanados no mesmo objetivo, transformar o local de trabalho no melhor possível.

Com esse espírito, o trabalho acontece e flui naturalmente. Piso colocado, madeiras laterais trocadas (enxerto nas deterioradas) e forro instalado, o passo seguinte foi a instalação elétrica e hidráulica. Nessa fase um outro servidor municipal foi deslocado para a execução das tarefas. Foi comprado material elétrico, ferragens diversas, hidráulica, tudo de pequena monta. Paralelo a isso foi adquirido o material dos estofados, na Storti Plásticos, pois o carro de 1ª Classe tem seus bancos todos com assentos estofados, diferente do carro de 2º Classe, que circula atualmente, cujos bancos são todos de madeira. Outra compra feita logo a seguir foram os vidros, na Vytrium, instalados na janelas laterais do carro.

O envolvimento com a comunidade se verifica em vários momentos. Esse é um deles e acontece quando Renato Munhoz e Fernando Lima, proprietários do Ateliê Estofaria Artesanal fazem um passeio de Maria Fumaça e se oferecem para fazer gratuitamente toda a parte de estofados do novo carro. Num outro momento, mesmo após ser contemplada com a compra de tintas, a empresa Copical Tintas, dos sócios Caio Oliveira, pai e Márcio Oliveira, filho, oferecem um grandioso desconto em cima do preço ajustado, tudo por entenderem o sentido da restauração. Paralelo a isso, a empresa SVL Serviços Ferroviários, dos sócios, todos ex-ferroviários Valdir de Oliveira Pinto, Sérgio Henrique Avolio e Luiz Antonio Farinelli, executa serviços contínuos nesse e em outros carros, tudo sem qualquer custo, pelo amor que mantém pela ferrovia e sua causa.

Essa parceria, que se apresenta de forma natural e espontânea não para por aí. A Empresa Lwart Lwarcel, de Lençóis Paulista, que já havia participado da parceria no restauro de todos os carros do Projeto, novamente doa toda a manta asfáltica, que cobre o teto do carro restaurado. A sensibilidade dos empresários não tem fim e no passo seguinte, a empresa Kol Engenharia de Impermeabilização, da engenheira Keilla Priscilla Amaral faz a colocação da manta praticamente abaixo do custo. Arrematando todo o trabalho, o incessante apoio de Alcemir Godoy, Diretor Regional da ALL (América Latina Logística), que detém ouso da malha ferroviária em Bauru promove toda a manutenção da parte baixa (rodas, truck e engrenagens) desse e de outros carros do Projeto em suas oficinas.

O corre-corre da equipe na conclusão é acelerado nos últimos dias, como acabamento dado ao sanitário do carro, retoques na pintura, principalmente no desenho das logomarcas da NOB e inscrições originais existentes, ajustes no madeiramento e fixação dos bancos. O trabalho de formiguinha da equipe é recompensado pelo reconhecimento de todos que já tiveram o prazer de visualizar o resultado final. A cada dia que antecede o dia da viagem inaugural a expectativa cresce e uma inspeção por parte de todos é refeita de forma minuciosa. Verdadeiro trabalho perfeccionista dos quatro funcionários, que acompanharam tudo, desde a escolha do carro até o dia da primeira viagem, que acontecerá no próximo dia 07 de agosto de 2007. O reconhecimento dos apoios recebidos ficará registrado numa placa instalada dentro do carro, junto ao nome dos quatro servidores, que possibilitaram que mais esse Carro de Passageiros fosse entregue à circulação. E entregue esse carro, a equipe não terá tempo para o merecido descanso, pois tudo caminha rapidamente para o início do restauro do carro Restaurante, outro aguardado com muita ansiedade e expectativa.Dessa forma caminham os restauros ferroviários em Bauru.

Henrique Perazzi de Aquino, Bauru SP, 31/Julho/2007.
LEGENDA DAS FOTOS:1) Maria Fumaça, 2) Composição na gare, 3)A equipe de trabalho - Luiz, Jesus, Alex e Geraldo, 4) Renato e Fernando, da Estofaria Artesanal, 5)Márcio e seu pai, Caio, da Copical Tintas, 6)engª Keila, da KOL diante do trabalho de impermeabilização, 7)Valdir, Sérgio e Luiz, o trio da SVL e 8)Funcionário dando acabamento no teto do carro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já andei nesse vagão. Belo trabalho o desse pessoal. Merecedors dos nossos aplausos.
Ney