sexta-feira, 5 de julho de 2013

DIÁRIO DE CUBA (63)


OS MÉDICOS BRASILEIROS E OS CUBANOS – IDEALISMO ACUADO
Os médicos brasileiros foram para as ruas e incitados pelas suas organizações de classe deixaram claro a que vieram: são contra a vinda de médicos estrangeiros ao Brasil, principalmente os cubanos. A movimentação em Bauru ainda está intramuros, mas em algumas cidades vizinhas não, como em Botucatu, local da maior Universidade de Medicina da região.

A questão é simples de ser tratada e resolvida. Não é preciso se alongar no assunto. O que mais vemos nas manchetes dos órgãos de imprensa é algo sobre a falta de atendimento aos mais carentes, nos postos do SUS, Prontos Socorros e rincões do país. É sabido de concursos realizados sem que os médicos, mesmo com altos salários não se interessem por esses atendimentos. Preferem atender em grandes centros e algo bem ao estilo da formação deles hoje, quando os cursos sofreram muito com a retirada das disciplinas de Humanas dos seus currículos. O profissional está sendo hoje no país preparado muito para o mercado, tendo sido desumanizado, perdendo aquele caráter do atendimento ao que não possui condições de pagá-lo pelo consulta. O profissional médico é um dos mais bem remunerados no país e mesmo assim esses salários não atraem os que foram formados e preparados para atuarem em outro campo, o da medicina privada, com melhores rendimentos e condições materiais.


O médico de hoje renega o atendimento ao pobre, faz pouco caso e só o faz quando ocorre uma compensação muito elevada. O caso de Bauru é o melhor exemplo. O caos estava instalado e só aceitaram atuar quando viram atendidas reivindicações de privilégios que nenhuma classe profissional possui. Ganham os maiores salários dentro do poder público municipal e isso não fez com que o atendimento fosse normalizado ou melhorasse. Simplesmente voltaram a atuar, sem ao menos resolver a questão. O paliativo do paliativo. Isso se estende pelo país todo. Suas entidades de classe não pensam mais o país num todo, voltando seus olhos somente para os seus membros. O tal do juramento feito quando diplomados não passa de mera formalidade.

Hoje para justificar a não concordância com a vinda dos cubanos alegam que as condições de trabalho são péssimas, que falta isso e aquilo. Mentem e tentam nos enganar. Não fazem nem o atendimento básico, o mínimo exigido, o de atender e diminuir a deficiência de afeto, de contato com a população. Rejeitam isso, tiram o seu da reta e jogam toda a carga de culpa dos órgãos públicos. Eles estão em polvorosa, pois pressentem que a máscara está prestes a cair, o argumento será desqualificado quando os médicos cubanos começarem a atender e fazer o que pouco fizeram até agora, que é o de “estar aonde o povo está”, como apregoa o refrão da música. Exigem muito e fazem pouco.

Vê-los nas ruas somente agora piora a questão. Fogem do questionamento principal e aproveitam do momento para tentar desviar o foco, encurralando o governo. Insensibilidade e demonstração de desvio de conduta. Vivemos numa sociedade onde o homem vale pouco e o deus vigente é o dinheiro. Nossos médicos atuam dentro desse esquema servil ao capital e rejeitam os que atuam dentro dos reais preceitos da medicina. Os idealistas vivem hoje momentos de padecimento, sofrendo até perseguições quando buscam o caminho de pregação pelo lado ajustado das coisas. Na medicina não é diferente. Ou mudamos tudo ou tudo continuará como dantes. Pois que venham os cubanos, talvez sirvam para a guinada tão necessária na mentalidade de nossos profissionais.


OBS: Todas as fotos são dos médicos brasileiros em diversas manifestações país afora (Sintam o ódio de classe manifestado num cartaz levantado por uma médica).

6 comentários:

Anônimo disse...

ALERTA À NAÇÃO - Os médicos que, em marcha cívica tem protestado contra os desmandos oficiais e a intolerável tentativa de se importar profissionais de Cuba e de outros países, vêm a público dizer alto e bom som que o país está diante de apenas duas alternativas: "É convênio ou particular?"
Gilberto Maringoni

Anônimo disse...

Médicos estrangeiros recrutados no programa que o Ministério da Saúde lançado na segunda-feira (1º) começam a trabalhar em setembro nos municípios brasileiros. Documento preliminar ao qual a reportagem teve acesso mostra que os profissionais selecionados no edital de chamamento deverão desembarcar no País em agosto e, dias depois, serão encaminhados para o processo de capacitação, com duração prevista de três semanas.

O projeto prevê que, na primeira etapa de agosto, serão convocados profissionais procedentes da Espanha e de Portugal. Na segunda fase, programada para outubro, começam a chegar profissionais procedentes de Cuba. Na terceira fase, inicialmente prevista para novembro, viriam médicos de outros países.

A estimativa é de que, neste ano, cheguem 4 mil profissionais estrangeiros para trabalhar nos serviços públicos de saúde municipais. Em três anos, o governo prevê que 10 mil médicos formados no exterior cheguem ao País.As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
Mara Rocha

Mafuá do HPA disse...

Meus caros e caras

Hoje, dia 07/07, esse texto sai também publicado na Tribuna do Leitor, do Jornal da Cidade de Bauru.

Henrique - direto do mafuá

Mafuá do HPA disse...

A melhor coisa do mundo é esse retorno de quem nos lê. Meu telefone toca agorinha de manhã aqui em casa e do outro lado da linha uma pessoa que descobriu meu número e me liga só para dizer que leu esse texto hoje no jornal e acredito que tenha dito tudo o que ela pensa e estava engasgada sobre o tema. Fico todo pimpão.

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Manifestação na Paulista tinha mais médico que 13 TREZE ESTADOS BRASILEIROS!! O resto é papo de burguês...
Bruno Lopes

Mafuá do HPA disse...

Médicos cubanos seriam mesmo a solução?

Acredito que a melhor solução para o problema da saúde em nosso País seria, em primeiro lugar, a falta de corrupção ou a honestidade de deixarmos as verbas chegarem ao seu destino final sem desvios. Isto geraria uma maior aquisição de equipamentos, aparelhagem e medicamentos. Em segundo lugar, um plano de carreira para o médico assim como existem planos de carreira para juízes, promotores, etc.

Nos menores municípios deste País existem juízes, promotores e delegado, que sabem que, ao amadurecerem, tendem a migrar para centros maiores e mais desenvolvidos com escolas para os filhos, universidades, centros de lazer, etc. Quais dos senhores aqui que criticam tanto o médico gostariam de ver seu filho médico, que lutou pelo diploma, passar o resto de sua vida em uma cidadezinha, mesmo ganhando muito (como o governo promete) sem infraestrutura para educar seus filhos? O plano de carreira eliminaria este problema, pois os médicos, assim como os magistrados, iriam migrando para centros maiores e, quando estes tivessem filhos em idade mais avançada, poderiam sim estar em cidades mais condizentes com seus anseios. Gostaria de deixar claro que os médicos conscientes não estão preocupados com a invasão cubana... Eles todos serão bem-vindos desde que se submetam aos exames exigidos pelo Conselho Federal de Medicina.

Todos os países exigem tal exame, por que não aqui? Existem fortes indícios que vários brasileiros foram cursar medicina em Cuba, Bolívia, Colômbia e Argentina. A concorrência por lá e a anuidade das faculdades são infinitamente menores do que as nossas. Eles estão querendo voltar. E, agora, com a desculpa que o nosso problema é a falta de médicos, a presidenta está promovendo o retorno deles sem a necessidade do tal “revalida”. A nossa presidente pode ser tudo, menos burra... Ela, mais do que ninguém, sabe que, se numa cozinha falta comida ou fogões para aquecer a comida, ela não iria resolver o problema contratando garçons. Portanto, lutemos, sim, por uma saúde melhor para todos. Por favor, não ataquem os médicos porque nós também somos vítimas do sistema. Mas, se atacarem, como fez o o ilustre professor e jornalista Henrique Perazzi de Aquino, nesta tribuna, no dia 8 de julho de 2013, saibam que, ao contrário do que ele fala em suas linhas, o nosso juramento ainda é levado a sério. E que, mesmo sendo atacados, temos o dever, e por que não dizer a satisfação, de prestar atendimento ao nosso semelhante. Ele sabe tão bem que estamos acima disso que nem exitou em fazê-lo.

Falando em remuneração de professor, sou um cirurgião plástico há 25 anos numa instituição bem respeitada no País e no mundo. Os meus vencimentos atuais são exatamente iguais ao salário-base de um de meus filhos que atua como procurador do município de São Paulo há cerca de dois anos. Fico orgulhoso com isto, pois o filho já superou o pai. Só tem uma coisa que ele e o senhor nunca terão a oportunidade de sentir: é o prazer de devolver uma criança mutilada pela natureza, operada por suas mãos e praticamente reabilitada aos braços de sua mãe. Como o senhor pode notar, professor, o médico não ganha tão mal como o professor, mas não tão bem como um profissional de carreira concursado. Todavia, tem seus prazeres e compensações, ao contrário do senhor, professor. Agradeço aos meus mestres, esta classe tão sofrida e que, sem dúvida, deveria ser mais respeitada e mais bem remunerada.

Eudes Soares Dec Sá Nóbrega, cirurgião plástico do Centrinho, da Unidade de Queimados do Estadual e do consultório, fazendo o máximo para atender no horário combinado

publicada ontem na Tribuna do Leitor do JC
Henrique - direto do mafuá