terça-feira, 17 de setembro de 2013

MÚSICA (105)


AS APARÊNCIAS ENGANAM, MAS SÓ ATÉ UM CERTO PONTO

João Ranazzi é um jornalista dos bons, dos tempos em que todos conseguiamos ler jornais de cabo a rabo. Nem ainda existia a tal da internet. Nosso dial era outro. João continua incisivo, cutucando e sendo cutucado. Dia desses postou um banner no seu facebook com a cara da Dilma guerrilheira e com uma só frase: “Estou com Dilma”. Tenho uma camiseta quase igual, só o seu rosto e toda vez que a coloco, me vejo merecendo olhos entortados de paulistas quatrocentões (sic). Dessa vez gerou um algo mais, o tal do “fogo amigo”. Já são uns 30 comentários e fui entrar na dança. Ao fazê-lo e após ver no deu a contenda, lembrei de cara de uma inesquecível canção dos meus tempos, quando ainda tinha cabeleira na testa, a “As aparências enganam” (Tunai e Sérgio Natureza), imortalizada pela voz da Elis Regina. Ouçam primeiro uma gravação da Elis, retirada do youtube, clicando a seguir: http://www.youtube.com/watch?v=Zxh_vZxiPZw.

Agora, acompanhem a música lendo a letra: "As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam/ Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões/ Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague/ se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são/ O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação/ Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver/ As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam/ Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões/ Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele/ Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser/ Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar/ Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor/ As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam/ Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões/ Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno/ Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali/ Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera/ No insistente perfume de alguma coisa chamada amor”. Esse invendável LP está no meio de minha modesta coleção de vinil, no reduzido espaço do Mafuá e o coloco para rodar em minha vitrolinha sempre que algo de diferente acontece, como nesse momento.

A relação que vou estabelecer aqui pode não ser precisa, exata, mas como não sou dos mais sóbrios, a faço com galhardia. O amor e o ódio acontecem aqui pelas vias facebookianas não só entre os comungando pensamento desiguais, distantes e disformes, mas principalmente entre os que poderiam estar juntos trilhando a mesma luta. Aqui pelas ondas internéticas, eu já descobri, quase ninguém se gosta (ainda consigo me entender mais do que bem com mais de uma centena de pessoas), todos se suportam, uns se odeiam declaradamente e outros, espezinham também os que poderiam estar na mesma trincheira. O ego fala sempre mais alto nessas horas. É bem mais fácil reconhecer o erro alheio do que o próprio. Capitular jamais. Bestial isso, pois é tão digno reconhecer erros, refazer trajetos, reinventar idéias. Essa alongada falação é para demonstrar como um simples banner pode acabar gerando algo incontrolável na sequência.

A história completa do imbróglio está toda contida num simples clique no link a seguir: https://www.facebook.com/joao.ranazzi/posts/555465611187087 Eu, se não sabem, não defendo Dilma de peito estufado, cheio de pompa, mas não consigo fazer o mesmo que certos setores da esquerda, os tais da fogueira da paixão, do amor e do ódio, os que gelam e os que inflamam... Acho lindo esse negócio de manterem uma mesma linha de pensamento e ação, infelizamente hoje possuindo certasemelhança com a dos grandes detratores da nação, quase juntos na mesma trincheira, porém, é claro, sem jamais capitularem. O título da música diz tudo. E a ouço pensando nesses e nisso tudo. Os que me criticam, os que critico, nos que espezinho, nos que me espezinham e já acho que as aparências não me enganam mais, sabemos fingir uns com os outros, mas na verdade cada vez mais poucos se gostam e se respeitam. O que vale mesmo é não capitular nunca.

5 comentários:

Anônimo disse...

Que tipo de leitores a mídia está atraindo? Um bom exercício para responder a esta questão, como repararam amigos do Diário, é a mera leitura dos comentários deixados nos seus sites.

Tinha feito isso algumas semanas atrás com os blogs da Veja. Notei, ali, que Reinaldo Azevedo atraía leitores tão repulsivos quanto aquilo que ele escreve. O mesmo quadro vale para os outros dois colegas de Azevedo, Augusto Nunes e Ricardo Setti.

Em outros grandes títulos da mídia, não é diferente. As manifestações sobre a morte de Gushiken em sites como o da Folha e o G1 têm sido simplesmente pavorosas.

Você lê aquilo e pensa: o brasileiro tem uma alma tão grotesca? Ou é a mídia que atrai hoje um tipo de gente sem qualquer grandeza moral?

Se você avalia os brasileiros pelos leitores da mídia, é obrigado a classificá-los como mesquinhos, desapiedados, raivosos, preconceituosos e fanatizados. Para usar uma personagem de nossos dias, são o oposto de, por exemplo, o Papa Francisco.

Somos isso mesmo?

Um comentário posto no G1 simboliza a alma de seus leitores: “Bandido bom é bandido morto”. Havia centenas de outros na mesma linha.

No site da Folha, uma amostra: “Em enterro de verme só vermes participam.” Curiosamente, um comentário na Folha foi removido sob a alegação de que feria as “regras da casa”.

É difícil imaginar o que esteja fora das regras quando você lê uma coisa assim: “Desculpem a impaciência, mas … quando vão chamar o Lula? O que esse hospital deve estar gastando com produto de limpeza …”

Tenho para mim que esta é uma fração dos brasileiros, e cada vez menor. Se não fosse assim, Serra – a grande esperança branca desse tipo de gente — seria presidente da República ou, ao menos, prefeito de São Paulo. E Joaquim Barbosa seria seu sucessor, numa chapa com Gilmar Mendes. (O STF na versão inicial sob JB, aliás, representava juridicamente aquele lamentável tipo de brasileiro.)

A mídia tradicional tem sérios problemas, como o Diário vem apontando com frequência.

A atração que exerce – não à toa – sobre brasileiros de caráter ruim é um deles.



Marcelo Cavinatto
marcelo.cavinatto@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Nunca vi tanta gente errada numa mesma discussão. O Almir, com o seu PSTU que hora ou outra faz o jogo da direita, o Pedro Valentim, que adora vomitar clichês da direita e se acha inteligente por ler "três jornais por dia", e você, Henrique, que apoia um governo de direita, mas gosta de dizer que "não apoia muito".

Mafuá do HPA disse...

Anônimo:
Não tenho como discordar de ti.
No fundo é bom assumirmos que em algum momento erramos. Eu erro, tu erra, ele erra, vós errais, eles erram, todos num certo momento padecemos desse mal.
Mas eu reconheço os meus e alguns não conseguem fazer isso mesmo diante de evidências.
Pronto, já fiz minha mea culpa de hoje.
Tá bom assim?
Henrique - direto do seu mafuá (ufa!, voltei)

Anônimo disse...

HENRIQUE

Por favor, fuja dessas bestas discussões. Escreva mais sobre Bauru e os bauruenses e deixe de lado essa briguinha de egos entre os que voce diz que não capitulam e reconhecem erros nem sobre tortura. Está perdendo tempo.

Paulo Lima

Anônimo disse...

henrique

tenha certeza de uma coisa:
as aparências não enganam

valéria