sábado, 17 de setembro de 2016

FRASES DE UM LIVRO LIDO (107)


QUERO MAIS É  PRESENCIAR ALGO CULTURAL MISTURADO AO CONSUMISMO OFERECIDO PELO TURISMO

Viajei, melhor, viajamos, eu, Ana Bia, sua mãe a doce Darcy Soliva e mais quatro pessoas. Estamos no Nordeste brasileiro. Eu a Ana viemos para participar por essas bandas de dois congressos/encontros acadêmicos e, é claro, como ninguém é de ferro, conhecer um pouco mais desses lugares. E o fizemos, mergulhando primeiro na obrigação, ou melhor, no exercício de ler, conhecer, colocar no papel e depois discutir com os demais algo pensante e pulsante dentro de cada um de nós. O melhor desses Congressos todos é essa rica possibilidade de reencontros e trocas de experiências. O argentino traz junto de si, não só o seu trabalho, o motivo de seus estudos, o que pensa, mas senta conosco, ouve o que achamos daquilo tudo que lhe tomou tanto tempo. E assim fizemos com muitos outros, não só nos salões ovais dessas universidades, mas também pelos bares, vielas, andanças variadas e possibilidades outras. Quem vem para algo assim e não sabe se misturar, ver, ouvir e sacar que o que faz não está nunca totalmente pronto, pois pode ser acrescentado com aquele algo mais, aquela dica ouvida, passada ao pé do ouvido, esse não será nunca um bom profissional. Vir e se mostrar pedante, como alguns o fazem é o extremo da pobreza intelectual e pensativa. Eu junto tudo o que fiz, faço e farei nessas conversas, estou sempre acrescentando algo mais e somando, sempre somando.

Viajar é algo mais do que bom. Grato sou por tudo o que me possibilita desfrutar desses momentos. Curto intensamente cada segundo como se outro não viesse pela frente. Sou um homem das vielas e adoro me desviar das rotas tradicionais, isso tanto estando metido nesse quesito onde posso expor trabalhos, como em todas as demais. Viajo também não só para conhecer e percorrer os roteiros turísticos como me são apresentados e sugeridos. Uma cidade nova diante dos meus olhos sempre me sugere algo mais do que novo. O que mais tenho sentido falta em duas grandes cidades nordestinas é o algo mais cultural. Explico. Impossível você estar por aqui, diante desse clima todo, algo sempre novo e não se sentir com vontade de consumir, trazer, comprar, ter. No meu caso, gosto muito de artesanato, algo bem local, camisetas com inscrições sugestivas, essas coisas. E procuro ler os jornais do local, sentir como anda a mídia em cada lugar. Leio não só o jornalão local, como fuço pelos demais. Tenho me divertido pelo que tenho encontrado no saguão dos hoteis. No passado, a diversidade era muito maior, hoje quase sempre segue à risca esse tal de pensamento único, querendo dominar tudo e não deixar espaço para mais nada. Porteiros se assustam quando você pergunta se não existe nada além daquilo ali exposto. No primeiro hotel por onde passamos perguntei sobre bancas de jornais nas redondezas. Era uma praia moderninha, gente fina espalhada em prédios, num bairro um tanto distante e havia visto de tudo pelos arredores, menos livrarias e bancas de jornais. o porteiro me esclarece tudo, elas não existem  Na segunda cidade, outra capital, a mesma cena se repete, tem quase de tudo sendo oferecido ao turista, memos livraria e bancas de jornais. Esses estão em extinção, uma pena e com ima incomensurável tristeza fico resignado e cada vez mais confirmando minhas suspeitas: o Brasil está emburrecendo.

Percebi outra coisa nos dois hotéis por onde estive (num deles ainda estou): o jornal local permanece ali no hall quase intacto a maior parte do tempo. Claro que, ao vir para cidades com forte apelo turístico, procuro entrar no clima de tudo o que nos é oferecido. Entro no clima do passeio. Tento curtir tudo ao máximo, mas também me mantenho atento ao algo mais. Vivo dentro de um país diante de um conflitante momento e não sei fazê-lo sem ao menos estar plugado na anormalidade do (des)Governo atual. Impossível me divertir plenamente observando tudo o que acontece à minha volta. Daí vou para os lugares trajando camisetas com o Fora Temer!, tanto no congresso universitário como nos passeios turísticos. Provoco, instigo e procuro com isso abrir novas conversas, buscar os iguais, atrair e saber das ocorrências e agenda do que me interessa nesses locais. É a minha maneira de demonstrar estar, não só atento, mas participando. Por outro lado, noto na imensa maioria dos turistas (por aqui de variados lugares, principalmente do antes Sul Maravilha) um desinteresse de tudo o mais que não seja o SOL.

O turista é um caso mais do que a parte no Nordeste. Pressinto também que ele, o nordestino mais simples se retrai diante do turista, pois se o chocar não venderá seu produto. Se aquieta, mas não se cala quanto instigado no reservado. Disso tenho gostado. Mas meu texto tem outra conotação, a de demonstrar outra coisa. Tentei e não sei se o consegui a contento. Quase não existe possibilidade de consumo cultural nos passeios turísticos atuais, pois o turista est´pa interessado em outra coisa. Sim, alguns museus e casas de cultura continuam recebendo visitantes, mas um povo um tanto indiferente. Os vejo olhando para a beleza do interior de uma igreja de 400 anos atrás, mas sem reflexões remetendo à brutalidade daquele momento e sem alusões ao momento atual. E passam cada vez mais rápido por lugares assim, pois ali não reside o SOL. Ontem, o alento me veio de uma única pessoa no hotel onde estou hospedado em Natal RN: uma senhorinha encontrava-se lendo um grosso livro no hall de entrada, absorta no que fazia e sem se importar com tudo o mais à sua volta. Ao seu lado circulavam agitados indo e voltando das ruas e do SOl os turistas todos. Não perguntei, mas acredito que ela tenha trazido o seu objeto de prazer de sua casa, pois por onde circulo não teria como encontrar algo parecido. Eu que, gosto de dar livros de presentes, encontro problemas mil, pois nos pontos turísticos de rua, nenhuma livraria, muito menos banca de jornais. A leitura, pelo que percebo está em baixa pelas bandas do Brasil e incentivada pelos que nos conduzem no momento. Eu, na contramão disso tudo, busco os atalhos e me dou muito bem. Hoje mesmo passo parte do meu dia ao SOL, mas com um livro debaixo do braço e procurando onde continuar clamando pelo Fora Temer!

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