quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

BAURU POR AÍ (172)


A MISS BAURU ESTÁ DESFILANDO TODO DIA NA PRAÇA RUI BARBOSA

Começo o ano com uma reflexão pra lá de carregada de duplo, triplo e a quantidade de sentidos que se fizer necessário, tudo para se tentar buscar boas reflexões para tudo o que a gente se depara andando pelas ruas de qualquer cidade. Eu sempre gostei demais de perambular por praças e ver gente, conversar com elas e ir assuntando sobre os destinos que cada um consegue dar pra suas vidas. Me encanto e desencanto nesses momentos. Não perco a fé de ir renovando as conversas e assim tomar conhecimento do que de fato se passa com a vida nas entranhas das cidades. Nada melhor do que a praça central de um lugar para conhecer personagens pitorescos, livres, desesperados, destemperados, destrambelhados, pois nesses lugares, em seus bancos a junção disso tudo e muito mais. Faço isso regularmente e aqui conto uma história da praça de minha aldeia, a Rui Barbosa, defronte a catedral católica do Divino Espírito Santo, um que tudo vê e nada faz para mudar o ritmo das coisas ali rolando, fluindo de forma endoidecedora.

Que essa praça está vivenciando seu momento de perdição mais profunda, disso não existe a menor dúvida e isso é reflexo não de abando do poder público, mas reflexo dos tempos atuais, onde o predomínio da desesperança está cada vez mais estampada na face de número cada vez maior de pessoas. Essas, não tendo para onde ir, afluem para a praça, ponto de encontro e reencontros. Eu,na qualidade de mequetrefico observador, vou juntando o que vejo e tentando alinhavar algo de salutar naquele amontoado de gente passando horas por ali. Não falo dos transeuntes que a atravessam sempre com pressa no corre-corre de uma cidade, mas naquele que por ali aportam e passam horas. Tem os velhinhos jogadores de dominó, os ambulantes, as prostitutas e prostitutos, os sem rumo, os nóias, os policiais à trabalho e dentre tudo isso escolhi um alvo, alguém por quem dediquei um carinho especial, querendo com ela dignificar um pouco o momento vivido pelos que estão ali avoados, já com o mundo sem sentido, tocando suas vidas para a frente, mas com o rumo despirocado, com a bússola avariada. Não venho aqui fazer juízo de valor dos motivos de ali estarem, mas escolhendo uma como alvo, mostro sua beleza e conclamo à reflexão.

Ela é linda, seus traços são mais que belos e frequenta o lugar sempre em trajes ressaltando seu belo corpo. Não sei do que vive, nem isso me interessa. Sei que circula muito na parte da manhã, esperando a vez de enfrentar a fila do prato a R$ 1 real, quando pra lá se dirige com muita altivez, levando consigo o olhar de muitos, pois quando se levante de um dos bancos, desfila como numa passarela. Chama a atenção, alta, belos traços, não deve morar na rua, pois a cada dia está com roupa diferente. Conhece a todos, circula em todos os grupos, mas puxa conversa só com quem lhe interessa. A maioria não perturba os passantes, pois vivem num mundo á parte, meio que só deles, onde os demais já não fazem mais parte ou se o fazem é só para ir buscar o que lhe dará continuidade no viver. Essa moça, negra retinta é uma espécie de miss do lugar, pois não só sua beleza chama a atenção, como faz muitos pensarem sobre o que estaria envolto em estar ali. Já parei para conversar com muitos, não com ela e em cada relato que tenho juntado, buscando formar um mosaico da vida urbana, tento compreender algo mais das ruas, seus sinais e enunciados.

Ela me chama a atenção, pois chega do nada e volta para o nada. Vai e volta, se instala, passa algumas horas e some do mesmo jeito que chegou. Muitos agem do mesmo jeito, não querem deixar rastros, mas são observados, pois assim como o faço aqui, outros acompanham esse vai e vem dos que se acotovelam pelas beiradas e entranhas da praça, num agrupamento onde poucos se atrevem a manter contato, quando mais se aproximarem. Escrevo dela e a vejo sim, como uma miss, alguém cheio de uma beleza rara, pois poderia ser uma manequim, tal a galhardia com que flui nos passos sob o piso da praça. Se existe alguém a merecer algum título de altivez em tudo o que rola no lugar, ela está no topo, com jubilo e reconhecimento, ela pode ser considerada uma das preferidas. Nada sei além do que vejo e aqui relato, num gesto de tentar mostrar o outro lado desse insólito palco. Eles estão ali e não caio na vala comum de reclamar do que vejo, fustigar quem ali se encontra. São vigiados, controlados e tem quem faça isso, o que me resta é mostrá-lo no que possuem de belo e com isso mostrar outras possibilidades para quem só os enxerga como chaga. Minha miss não tem frequência definida. Quando vem, causa, agita e chama a atenção. Ela é bela e como todos os demais, merece atenção, não para serem salvos, pois isso também é muito duvidoso, enfim, ser salvo do que e para se tornar o que?

Eu só quero deixar registrado meu encanto pelos tipos que gravitam no centro das cidades, esses sem eira nem beira e o faço cheio de dedos, pois não quero causar problemas a eles, maiores dos que já o possuem. Só quero mostrar que a beleza continua habitando em todos esses e assim como foi perceptível para mim, deve estar sendo para tantos outros. Esse mundo veío sem porteira está mais que descarrilhado, como um trem sem rumo num trilho cujas estações não são mais seguras. Viver nas cidades é estar enfronhado com todos seus lados. A praça central de Bauru é algo merecedora de um amplo estudo, desde sua idealização, reformas, a passagem do tempo e o que foi nela sendo substituído, alterado e dentre isso, seus novos personagens e momento. Ela faz parte da vida atual fluindo na praça, uma miss para o olhar de muitos. Cativou a todos com sua beleza e só isso me basta, pois o restante eu não irei resolver, pois assim como ela, tenho cá meus tantos problemas e vou tentando resolvê-los como posso, aos trancos e barrancos. Outras tantas como ela se destacam por algo a mais. Todos possuímos um diferencial e aqui ressalto só o belo, como forma de dizer que estão, continuam vivos e cada um tentando tocar suas vidas ao seu modo e jeito. Desde já a escolho como miss da Cidade Sem Limites, portanto, viva a MISS da praça Rui Barbosa!!!


OBS.: Estou juntando histórias da praça e dos seus personagens, para mim, reveladores dos cruéis destinos a muito sugeridos. Ela, a miss, é parte do que faço para tentar entender algo mais da mobilidade humana.

OUTRA COISA
VAMOS ENCHER ESSE BALÃO, ESSA BOLA É A REAL...

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
Gra Baracat Muito linda ela👏👏👏👏👏

Sara Valente Linda essa moça👏👏👏👏

Kristinna Oliveira Bela postagem, gosto do seu trabalho, a forma como retrata os invisíveis, parabéns !

Kristinna Oliveira - PARABÉNS
Exclua ou oculte isso

Cirineu Fedriz Parabéns pelo excelente texto abordando o tema

Geovanna Ishikawa Essa praça já já tá igual a Cracolândia em São Paulo, vergonhoso !

Elizandra Dias Boa reflexão e muito bonita a moça.

Maria Cecilia Campos Valeu, Henrique. Mais um retrato sem nome, mas com titulo, que você traça.

Luciana F Stos Sempre que passo pela praça a vejo. Ela chama atenção sim muito Bela, mas também carrega consigo um brilho próprio que não se apaga. Texto primoroso sobre a realidade de Bauru. Parabéns👏🏾👏🏾👏🏾

Larissa Zulian Realmente belíssima!

Helena Aquino Pena que deve estar nas drogas. Temos que ajudá-la