sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

RETRATOS DE BAURU (235)


RUBINHO É SÓ MAIS UM DESAPARECIDO DAS RUAS - FAZ BRUTA FALTA*
* Quem mais nessa cidade pode ser encontrado nos eventos com um lenço ou flor na lapela? Ele, Rubinho.

Ele, Rubens Spindola de Amorim, desde que me conheço por gente é figura das mais populares na aldeia bauruense. Sempre com o mesmo jeito espevitado, irreverente, entrão, simpático e muito falante. Dentre os que circulam pelo centro da cidade e imediações, quase impossível não o conhecer. Nos últimos tempos, ele e seu inseparável violão foram mais que marcantes, enfim, não é todo dia que se é possível esbarrar com alguém tocando de bermudas, chinelo de dedo, camisa aberta quase no umbigo e usando como palco às ruas de Bauru. Rubinho foi protagonista dessa cena por décadas.

Escrevo dele já com sentida saudade, pois há meses está acamado, portanto, impossibilitado de perambular por esse palco, local de suas diárias apresentações. Por sorte possui um pouso só seu e pessoas queridas cuidando de sua saúde e pronto restabelecimento. Seu porto seguro fica ali na boca de entrada da antiga estação da Cia Paulista, rua Agenor Meira, quadra de baixo de um hotel de trânsito, funcionando até hoje, porém pouco alterado em seus procedimentos, pois de passageiros da ferrovia de passagem pela cidade, hoje sua clientela se concentra quase exclusivamente em casa de repouso e pouso para aposentados. Rubens sempre viveu ali.

Sempre foi desses não se segurando nas calças, ou seja, gastador de sola de sapato, rueiro, no que essa palavra pode ter de mais nobre. Essa primeira foto dele aqui publicada reflete isso, quando vestiu um dos seus melhores trajes e foi clicado por mim dentro da Câmara de Vereadores, no dia da posse do último prefeito. Irriquieto e incontido não se contentava em aplaudir. Queria falar e o fazia a todo instante, assustando quem não o conhecia, porém, nada de mais para os de sua convivência ou conhecedores dos seus hábitos, enfim, o Rubinho de sempre, sem tirar nem por.

Figura das mais conhecidas também no Teatro Municipal, quando costumava comparecer em eventos dos mais variados, principalmente os gratuitos, lançamentos, vernissages e estreias, sempre bem trajado, fazendo questão de procurar assentos nas primeiras filas. Quando das palmas, sempre usava o espaço para falar algo, tudo dentro de um limite estabelecido por ele mesmo. Nunca causou maiores problemas, a não ser quando pisavam em seu calo. Mais ou menos sempre soube o momento de se manter calado, atento e só matutando interiormente sobre o motivo dali estar presente. Querido e compreendido pela maioria das pessoas, era muito mais do que um simples cidadão.

Pois é, Rubinho adoeceu e não sai mais de casa, entristecendo às ruas bauruense. Quem circula pelos mesmos caminhos percorridos por tão nobre cavalheiro deve estar estranhando a ausência. A última informação é a de estar num titânico esforço de recuperação, já conseguindo dar os primeiros passos num andador. Ele resiste, insiste e persiste, devendo estar num processo interno de captação de boas energias, essas que recapacitam os combalidos com aura igual a dele. Rubinho, por ser esse ser iluminado das ruas deve atrair para si infinidade de boas energias. Muita torcida positiva para vê-lo novamente circulando falante pelas ruas.

Não me lembro mais quem me contou, mas me foi dito ter sido ele um dos queridinhos da dona Eny, a mais famosa cafetina do nosso mundo. Ou seja, viveu momentos inolvidaveis para os ditos pobres mortais, sendo introduzido com chave de ouro no mundo da boêmia e pelas andanças circulando pelas vicinais da vida. Se isso for mesmo verdade, tenham certeza, marcou sua vida para sempre. Eu já o conheci pelas ruas e desde o primeiro momento, bateu a empatia, curiosidade em me aproximar, querer saber mais, papear e, creio eu, o tenha feito, mas sempre com aquele gostinho de estar faltando algo, talvez a conversa definitiva.

Quem me passa alguma informação dele nesse momento é Gra Baracat, moradora em frente o hotel, nora de outra ilustre moradora da região, dona Isolina, missivista como eu desde a mais tenra idade de cartas para a Tribuna do Leitor, do JC. Ela me mantém atualizado e hoje, pensando nele, me veio à mente outros tantos na mesma situação, ou seja, os populares que assim do nada desaparecem sem dar notícias. Muitos nem deixam rastros, porém, como é exatamente desses meu interesse em continuar escrevinhando no mundo atual, esse meu alento, o que me move, sempre que puder continuarei despejando por essa via e meio histórias desses tantos ricos personagens, os tornando nossa vida pouco mais penosa. Essa vivência da e com as ruas é minha bateria, meu recarregador, algo como esse treco que uso para dar vida ao meu celular. Tenho que, constantemente estar com ele plugado em alguma tomada, do contrário apago de vez. Viva os Rubinhos todos à nossa volta, pois sem eles já teria fenecido.

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