quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (135)


NO PAÍS DOS PRIVILÉGIOS, MÁFIAS GANHAM MUITO DINHEIRO


Essa história me foi contada por um bauruense revoltado com o ocorrido com cirurgia feita quatro anos atrás, resolvendo seu problema de saúde, porém...

- Seu Henrique, a minha história eu previso desabafar, pois não é só minha é a de muitos. Eu estava ofegante, tinha que fazer a tal cirurgia para colocar o marca passo. Um dia fui na consulta e após tantos retornos, ele me disse, vai ser agora. O valor que iriam me cobrar eu não tinha como pagar, mas me foi dito que dariam um jeito. E deram, até não teria do que reclamar, pois minha situação foi resolvida, mas eu percebi o que foi feito e se não colocar pra fora eu ficarei com ela entalada em minha garganta.

- Então conte, desabafe logo - disse.

- Eles sabia que aquele valor era muito para mim e o jeito dado foi me deixarem na UTI. Eu não estava ruim a ponto de permanecer ali na UTI por aqueles quase um mês, como fiquei. Todos à minha volta sabiam disso, minha família toda, mas só depois eu saquei porque ali fiquei, era porque se saísse eu não impressionaria os plano de saúde que iria pagar não só a cirurgia, mas também o aparelho que colocariam em mim. Tudo já estava recusado, mas os caras sabiam, se eu ali ficasse e com o que estava ocorrendo nos bastidores, o que eles colocavam naqueles relatórios que eu não tinha acesso, nada iria se resolver. De fato isso foi o que ocorreu, os dias foram se passando e eu lá internado, até que me disseram chegou o dia de ser operado e fui. Deu tudo certo e hoje já estou fora do hospital, bom de novo.

- E do que reclama? perguntei.


- O senhor não sacou nada? Só me operaram quando chegou a autorização. Eu só fiquei sabendo de tudo por outras vias, mas ela não foi pedida no valor que me disseram seria feita a cirurgia e sim em mais de quatro vezes aquele valor. Uma coisa maluca, tudo acertado entre eles, sem a gente, o doente saber. Eu depois fiquei matutanto. O valor da minha cirurgia daria para pagar a minha e a de mais umas quatro, até cinco pacientes com o mesmo problema, mas não, foi só a minha. Eu não entendo o que fazem com aquela alta diferença e nem como conseguem liberar valor tão fora de propósito, mas imagino. Tanta gente na fila de espera e o negócio é um por um, negociado assim. Eu só saquei disso depois.

- Muita sacanagem, né?

- Eu me revolto, pois não existe sensibilidade com o ser humano e sim em formar um grupo para que a coisa flua desse jeito. E mais, ainda depois tomo conhecimento que com o aparelho no meu corpo a sua duração é limitada, uns dez anos, com revisões de seis em seis meses. Todos voltam e passam por elas. O fato é que entrei num clube e se morrer hoje, tenho uma carteirinha, eles não me enterram com o aparelho, meu corpo é levado para um hospital e retiram, pois o mesmo pode ser usado em outro paciente. Se o aparelho ainda estiver bom, eles usam em outros. Achei isso ótimo, mas daí pensei, eles não vão colocar num outro assim do nada? Alguma coisa vai acontecer como da vez em que fiquei internado na UTI, até um algo mais ser alcançado, para depois ser implantado em outro, não sem antes o objetivo do grupo ser alcançado. Isso se dá em tudo, seu Henrique, eles agem em grupo. Ficam todos muito ricos. Fácil, ganham tanto que, vivem num outro mundo, outro patamar de vida. Eu passei a entender isso após conversas com outros iguais a mim nos corredores e salas de espera. Se o senhor vai fazer uma operação de catarata ou de troca de qualquer aparelho médico é a mesma coisa, eles te dizem que o aparelho nacional não presta e o importado é o ótimo. O plano paga o nacional, mas existe uma diferença pelo importado. Perguntei para quem me disse isso: mas quem me diz que me cobrarão pelo importado e não irão me colocar o nacional.
Eu e minha falecida sobra, mais de 30 dias no hospital.

Eu ouvi tudo quase calado, deixei essa pessoa, minha velha conhecida colocar pra fora sua história, na manhã de hoje, num reencontro após anos sem nos vermos. Eu tinha uma agenda cheia após quase um mês fora da cidade, mas não pude me conter, ouvi tudo, guardei o que pude na memória e agora, despejo no papel meio que em prantos. O país está dominado por máfias, muitas delas descobrindo brechas para se enriquecer com negócios feitos por debaixo dos panos. Tudo poderia ser belos projetos humanitários, porém são na verdade, a grande sacanagem nacional.

Em tempo: Meu pranto se deve ao fato de minha sogra, falecida quase três anos atrás num leito de hospital na capital ter passado por algo parecido, ter permanecido internada aguardando a autorização do plano de saúde para fazer a cirurgia e enquanto não veio, mesmo ela podendo voltar para casa, ali permaneceu. Fiquei arrepiado dos pés à cabeça com tanta coisa em comum numa história e noutra. Na última foto, eu e minha sogra, dona Darcy em hospital da capital por mais de um mês, onde ia e voltava como seu acompanhante. Um dia, do alto de sua sabedoria me disse algo assim: "Será que esse tempo todo aqui esperando não é um sinal para eu voltar pra minha casa e deixar essa cirurgia pra lá". Ela insistiu, fez e no laudo médico, a causa foi outra. Quem me diz que foi enterrada com o caro aparelho?

Nenhum comentário: