sábado, 15 de agosto de 2020

COMENTÁRIO QUALQUER (205)


A CONCENTRAÇÃO NOS BAIRROS E A DOS SHOPPINGS - O SAUDÁVEL E O PERNICIOSO
Leio pelos meios internéticos o descontentamento de alguns sobre as concentrações populares ocorrendo pelos quatro cantos periféricos, locais de grande concentração popular nestes tempos pandêmicos. Tudo bem, estamos afrouxando a guarda e desta forma, a pandemia não terá mesmo fim num curto espaço de tempo. Hoje, o rico pode até continuar se infectando mais, porém como consegue se cuidar, se safa, algo que o pobre, o periférico não consegue e os motivos já são por demais discutidos. Ainda ontem um amigo me dizia disso, da doença trazida a nós pelo mais abastado em sua viagens ao exterior, passou para o seu serviçal, esse levou para sua comunidade, difundiu tudo por lá e hoje, passados alguns meses, muitos já até criando anticorpos, esse desconhecido e intrigante corpo calejado por tantos embates, volta para o local de convivência do patrão, do que lhe paga por algum serviço esporádico e devolve a coisa. Uma volta com o vírus, passeio feito, talvez a tal lei do retorno sendo colocada em prática na sua essência. Mas não é bem disso que quero discorrer nesta manhã e sim, ao lembrar da concentração popular nos bairros, dizer algo da concentração dos mais abastados e dos que adoram uma convivência nos seus centros de consumo e exposição, os shoppings centers.

Enquanto é apregoado que nas concentrações dos bairros periféricos não existe nenhum tipo de segurança, tentam passar a ideia de que nos templos de consumo, os shoppings, reino da fugacidade, lá existe e é oferecido a mais bem sucedida ilusão de segurança. Nesses santuários do dito bem-estar se pode fazer tudo, liberação geral, sem a necesidade de se expor à intempérie suja e ameaçadora dos locais populares. Essa a ideia. Os shoppings, que não estão sujeitos ao frio ou ao calor, estão a salvo das contaminações de violência. Ali, segundo a ideologia passada, um local distante dos problemas e agruras da vida cotidiana, onde se pode perambular de forma neutra, ar asséptico, passeios vigiados, pode-se enfim, passear, respirar, caminhar e comprar sem riscos.

Seria divertido se não fosse trágico. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento. Esses locais, mais ou menos todos iguais mundo afora, tanto faz se em Telaviv, Rio de Janeiro, Glasgow ou Gualajara. Eduardo Galeano produziu um texto lindo sobre o tema e nele algo bem direto e reto: "Em sua infinita generosidade, a cultura do consuma nos proporciona o salvo-conduto para a fuga do inferno das ruas. Rodeadas de imensas praias de estacionamento, onde os automóveis esperam, essas ilhas oferecem espaços fechados e protegidos. Ali pessoas se cruzam com pessoas, atraídas pelas vozes do consumo, como antes pessoas se encontravam com pessoas, atraídas pelo prazer do consumo, nos cafés ou nos espaços abertos das praças, nos parques e nos velhos mercados: em nossos dias, esses lugares estão demasiadamente expostos aos riscos da violência urbana. Nos shoppings não há perigo. A polícia pública e a polícia particular, a polícia visível e a polícia invisível, conduzem os suspeitos à rua ou à cadeia. Os pobres que não sabem disfarçar sua periculosidade congênita, sobretudo os pobres de pele escura, podem ser culpados até que nunca se prove sua inocência".

Foi exatamente o que foi visto dias atrás num destes locais no Rio de Janeiro. Um jovem negro, fugindo de comprar no seu "perigoso" habitat vai buscar no shopping, o local "seguro", um relógio para dar a seu pai no Dia dos Pais. é abordado, encurralado, ameaçado, agredido e expulso do local. Existe um consenso nestes lugares e os suspeitos são os de sempre. Ali existem os tais olhos que veem sem serem vistos, câmeras ocultas vigiando tudo à todo instante, a espreita do deslize do incomodo visitante. Essa tecnologia usada contra o indesejável é também usada para aumentar o consumo. Tudo é uma arapuca e nem a pandemia consegue disfarçar o nela embutido, exposto como fratura exposta. Tudo é válido desde que continue ocorrendo o consumo. Desculpas são dadas quando ocorre o que chamam de "excesso de zelo" e o jogo segue sendo jogado conforme o combinado e os "SinComércios" da vida determinam. O importante, segundo a ideologia vigente é dar continuidade para a injustiça social. A concentração promovida pelo pobre é sempre aviltante, degradante, além de suja, débil e com pérfidos produtos, já a deste locais, o paraíso na face da Terra. A injustiça social é uma necessidade essencial dentro do modelo vigente, inclusive reforçando as formas de preconceito.

Na verdade, não quero circular, neste momento pandêmico, nem num nem noutro lugar, mas ver como um lugar é dito e visto como "saudável" e o outro "pernicioso" é não só para endoidecer gente sã, mas para produzir mais e mais revolta. Mas nosso povo, infelizmente não está interessado em revolta de nenhuma espécie, pois neste momento, só pensa em se safar, sobreviver, se virar e continuar vivendo das rebarbas. Existe todo um aparato em pleno exercício para que continue assim pensando e agindo, tudo contra seus interesses, mas ele desconhece isso tudo e adora os shoppings.

EM NOTA NA TRIBUNA DO LEITOR DO JC A EXPOSIÇÃO DE COMO SE DÁ O JOGO DO PODER NA ALDEIA BAURUENSE
Não se faz necessário a utilização de muitas palavras para explicitar o que tenho para dizer. Tudo está exposto na curta Nota de Esclarecimento publicada hoje na Tribuna do Leitor, do Jornal da Cidade - Bauru SP e nela, clara demonstração de como ocorrem as coisas nos bastidores, entre os que estão, os que querem lá estar e os que não querem sair de jeito nenhum de gravitar junto aos produtores do tal jogo do poder local. Primeiro uma carta de Marcos Paulo Resende desancando o provinciano economista local, dito e visto como "quase deus" pelos encastelados no poder local. A carta foi a mais comentada do ano, rendendo inúmeros elogios, mas estes que o fizeram não possuem nenhum vínculo ou laço com os poderosos. Todos estes repudiaram, no que se denomina de Esprit de Corps. Ninguém dentre estes pode querer ter algum tipo de aprovação para o conteúdo da dita carta, pois isso seria o mesmo que estar se suicidando em praça pública. A nota tem um poder de leitura, as tais das reais "Entrelinhas" de altíssimo valor. Imaginem a pressão ocorrendo nos bastidores para tudo e todos continuarem prestando irrestrito apoio. São nas pequenas notas que se revelam muito de como se dá, de fato e de direito, os passos dentro de uma estrutura de poder. Mijou fora do penico por uma coisinha, mínima que for, está fora. É divertido, se não fosse trágico.

TRISTEZA
EU NÃO POSSO PASSAR EM BRANCO SEM FALAR DA LU
Dia triste, pois ela se foi e junto dela parte significativa de seu berço sambista, resistência negra na beirada dos trilhos férreos na vida ferroviária Falcão. Eu a conheci muitos anos atrás, creio que perto de duas décadas e numa festa no quintal do Brás, que creio eu, era na verdade quintal da casa de todos os Brás, da família Brás. Um chão de terra, um puxadinho coberto de zinco, muitas árvores, cerveja e samba rolando solto. Foi neste lugar que me encantei com o samba dos meninos e dos velhos ali presentes, algo que já faziam desde muito tempo. Me apaixonei por tudo ali de cara e dentre todos os que ali conheci e nunca mais me separei, está a LU. Essa espevitada baixinha, de largo sorriso sabe conquistar a tudo e todos, com aquela simpatia peculiar dos mais simples, dos que sabem receber quem chega de braços abertos e pronto para ouvi-los com a devida atenção. Eu fui arrebatado pelos Brás ali naquele momento e em todos os momentos dali pro diante, todos os lugares por onde a reencontrei, sempre trocamos um forte e caloroso abraço, como se já nos conhecêssemos há muitos anos. É de gente assim que gosto de estar, pois a gente vê ali diante dos olhos a sinceridade estampada nos gestos, nas ações, no olhar. Quando a gente vê partir uma pessoa como ela, assim do nada, como um passarinho, a tristeza que já nos acomete por tanta coisa nestes tempos se acumula um bocadinho mais. Pessoas como ela fazem uma falta danada, pois em cada reencontro nos recarrega e cada vez menos existem assim com essa característica estampada na face. Triste é pouco para expressar o que sinto com perdas deste quilate.

2 comentários:

Marcos disse...

Sobre essa nota de esclarecimento me fez lembrar de um jornalista esportivo carioca que dizia que "há coisas que só acontecem com o Botafogo". Poderia copiar a frase e dizer que há coisas que só acontecem em Bauru.

Fico a imaginar a cena do Herrera da Assenag sendo cobrado por uma posição do outro Herrera e pedindo pro JC esclarecer ser outro para não ficar ruim entre seus pares.

Eu sempre disse que há algo na água de Bauru para justificar tantas bizarrices.
Hoje saiu uma tréplica a resposta do Cafeo.

Camarada Insurgente Marcos

Mafuá do HPA disse...

Marcos

Não havia pensado nisso, mas essa é ótima. O Herrera que não é o da Assenag escrever para o JC e pedir para reafirmar ele não ter nada a ver com o Herrera da Assenag. Exatamente: Tem coisas que só acontecem em Bauru.
Hoje publico, primeiro no face e depois no blog, algo proposto por mim, uma contenda, como um debate entre as partes, Cafeo e tu, frente a frete, onde resolveríamos a pendenga. Toparia?
Aguarde e lei logo mais...
Henrique - direto do mafuá