sábado, 22 de agosto de 2020

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (129)


OS LATINOS PULULAVAM POR BAURU, HOJE NÃO MAIS...
Esta primeira foto aqui publicada eu a filei de publicação do arquiteto José Xaides Alves. Me fez lembrar de minhas antigas intenções quando escolhi como tema de tese de mestrado uma Bauru que não mais existe, a possibilitada com a passagem - e aqui definitiva fixação - de muitos latinos, todos oriundos do trem da Noroeste do Brasil, que diariamente levava e trazia gente da maioria destes países, todos desembarcando na cidade. Tenho inenarráveis lembranças destes circulando pela cidade e esperava encontrar ainda muitos destes pela aí, quando poderia entrevistando-os fundamentar o que vinha na minha cabeça: Bauru como ponto de passagem, era local único no país, pois com latinos de toda procedência, uma espécie de reduto de muitas vozes e possibilidades.

Desisti da ideia no meio do caminho - e espero retomá-la um dia -, pois tinha pouco tempo para finalizar a pesquisa e os dados conseguidos eram muito poucos. Faria talvez um trabalho mais pela falta de material do que os tendo para confirmar o que vinha pela minha cabeça. Essa ideia e tema nunca me saiu da cabeça. Hoje foi reavivada ao ver a imagem postada pelo Xaides e aqui juntada por outras duas que tenho num arquivo onde vou colecionando fotos antigas de Bauru. Minha orientadora, a professora Maria Cristina Gobbi, a quem aqui reafirmo ter sido a culpada por ter um dia recebido o título de Mestre, muito me incentivou, aliás tentou de tudo, mas por fim, mudei os planos e vim a escrever sobre o papel dos Invisíveis, os tantos imperceptíveis nesta mesma cidade. Essa latinidade, que já tivemos entre nós, pulsante e ofegante, perdida quando da privatização da ferrovia e fim do elo de ligação a nos ligar para a América Latina, credito ter sido uma das perdas mais sentidas e ainda não devidamente percebidas por essa cidade. Com ela a cidade perdeu aquele ar cosmopolita, de universalidade até então existente e nunca mais recuperado.

Eu, moleque adorava circular pela Estação da NOB e dela fazia meu caminho diário, passando por dentro de sua couraça para ir ter aulas na antiga Escolinha da Rede. Aquilo tudo que a Estação propiciava aos 13 anos, causava intenso frisson interno, revirava o cerebelo e viajava com o que via transparecer na face dos que ali encontrava entre malas, pacotes e bagagens variadas. Muitos deles circulavam pela cidade por algumas horas, quando muito dias e a praça ali defronte, seus hotéis, a Machado de Mello era um point, assim como os bares e a própria rua Primeiro de Agosto e Batista de Carvalho. Quanto eu ouvi de música latina, peruana e boliviana principalmente nas feiras desta cidade por estes tempos. Ouvia histórias e cheguei a conhecer alguns que aqui chegaram e fincaram raízes. Pensava isso daria um bom tema de estudo. Dar, seu sei, daria, mas fui ineficaz no propósito e desisti no meio do caminho. Tomara que, agora com 60 anos completados consiga um dia dar cabo do que iniciei, pois ao comparar com o que vejo circulando hoje pela aldeia bauruense, constato sem medo de errar, que antes tínhamos no nosso entorno algo muito mais alvissareiro, sorumbático e peripatético. Aquela proximidade com latinos, creio eu, foi algo muito pouco aproveitado pelos bauruenses, mas como traz recordações de grande monta para mim, para outros deve ter a mesma formatação quando juntadas com tudo o que o passado nos propiciou de instigante, provocante e renovador.

Eu sempre fui um profundo admirador e estudioso à distância de todas as coisas e temas desta insólita América Latina. Hoje, se me oferecessem visita para algum canto paraguaio, chileno ou do interior da Colômbia, ficaria com estes sem pestanejar, do que voltar para Europa, que também gosto muito. Sei que o tempo passa muito rápido e conheço pouco dessa América Latina, querendo também entendê-la melhor, essa dependência e resistência, submissão e sempre vista como quintal do Grande Irmão do Norte, que a usa como quer, lugar de experimentações e sempre tocada como território onde deve prevalecer o seu domínio absoluto e inquestionável. Queria tirar o tempo perdido e como não posso viajar neste momento - e nem teria condições financeiras para tanto -, me reservo em pensar aqui na minha forçada e necessária reclusão em como retomar esse elo que tivemos com nossos hermanos vizinhos.

Isso tudo me veio à mente nessa manhã fria de sábado, quando acordo e me ponho a pensar em tudo o que essa linda estação já nos propiciou. Não posso ver fotos dessa gare lotada de gente, pois a cabeça fervilha e fico a imaginar o que ia pela cabeça de cada um daqueles que por ali passavam diariamente. Nosso terminal rodoviário não chega nem aos pés do que essa estação já nos propiciou. Enfim, fomos porta de entrada e saída para a América Latina via férrea e isso, por si só, é muito mais do que tudo o mais de passageiros em rodoviárias e aeroportos nesta terra "Sem Limites".

FOTO POSTADA SOBRE GREVE DOS CORREIOS E SUA REPERCUSSÃO
A postagem: "Greve dos Correios quase uma década atrás, escadarias da agência central lotadas, adesão total e hoje, paralisação parcial quase parando, dentro do novo momento e do possível, com coronavírus e clima de intranquilidade pairando no ar".

A repercussão:
1 - "Esta foto é da greve de 2013. A tenho em meu arquivo. Na época a subsede da CUT contribuiu para ajudar e alguns sindicatos como ferroviários, eletricitarios, construção civil e o nosso mandato de vereador contribuíram muito com a organização da luta justa,da categoria, como são as reivindicações de agora.(...) Aqui em Bauru os funcionários e funcionários do Correios na entraram greve. As agências estão funcionando normalmente", Roque Ferreira.
2 - "Sou carteiro ( não votei no Miliciano ).A empresa suprimiu 70 clausulas do nosso acordo de trabalho além de não cumprir o acordo que era de 2 anos", Paulo Gimenes Zen.
3 - "Com perto de 80% dos votos em Bauru, não são somente os trabalhadores do Correios necessitando fazer uma autocrítica diante do que estamos presenciando acontecendo com o país. Destes 80% de bauruenses quantos já se arrependeram totalmente do que fizeram, hem!!!", Henrique Perazzi de Aquino.
4 - "QUANDO TUDO FOR PRIVATIZADO , SEREMOS PRIVADO DE TUDO", Dias Manoel Ricardo. 
5 - "Condenar toda uma categoria, por causa da atitude de alguns, é se apequenar a eles, não foram todos os trabalhadores dos Correios, que votaram em Bolsonaro, além disso trabalhadores de todas as categorias votaram no dito cujo. O que deveriam se perguntar, é porque estes trabalhadores preferiram, em grande número no boçal, em vez de votar no Hadad, como eu. Muitos pretendem nos tratar, como o mesmo ódio que este governo.Serão iguais, ao que criticam", Luiz Alberto Bataiola.
6 - "Na época o Mandato do Vereador Operário, Popular e Socialista Roque contribuiu muito com todo o processo de organização e apoio a esta luta. Os assessores do mandato estavam nas ruas e na lutas ajudando a construir as lutas do movimento operário e popular, contribuindo para sua organização independente. Um mandato que revolucionou o exército do fazer política sob o ponto de vista dos interesses da classe trabalhadora e da juventude", Fabrício Genaro.

AS POSSIBILIDADES DE UMA RÁDIO COMUNITÁRIA FUNCIONAR E ABALAR AS ESTRUTURAS DOS PODEROSOS DE PLANTÃO
http://radiocampeche.com.br/?fbclid=IwAR1PHLvgl3BRfuPLVkSd3QzwgvLq5m04wKlyYEQT67x9lncFAQ9-Rh0plpA
Ouço uma agora nesse exato instante, é essa indicada pelo link, a Rádio Campeche, de Florianópolis SC. Que falta faz algo neste sentido aqui pelos lados de Bauru, até para quebrar esse triste monopólio desta horrorosa Jovem Pan, ops, digo Velha Klan, algo pernicioso e a engambelar mentes de incautos, aproveitadores, descuidados e pérfidos de plantão. Gente ocupando os microfones com o intuito de esclarecer, conscientizar, propor algo diferente do que vem sendo feito através da mídia massiva brasileira. Ouço indicado pela professora Elaine Tavares, que se tornou minha amiga aqui pelas redes sociais, mesmo sem a conhecê-la pessoalmente e toda manh~ça de sábado participando ativamente de um programa pra lá de saboroso e instrutivo, o Campo de Peixe, das 9 às 12h. Que falta nos faz emissoras realmente comunitárias...

2 comentários:

Marcos disse...

Quero escrever algo sobre o post da rádio comunitária.
Desde o ano passado tenho contribuído com pautas para a central3 que é hoje a maior produtora de podcast da América Latina sediada em SP. Vários programas excelentes e com um time sensacional.

Precisamos observar o movimento da história e as mudanças de tecnologia na comunicação, o velho formato de rádio está sumindo assim como o jornal impresso e o podcast não precisa de concessão do governo, necessita-se apenas de um estúdio e ter claro o alcance de divulgação.

Mas há um problema que independe do meio de comunicação, sem investir na educação jamais os programas de qualidade serão a preferência doo grande público, vejo isso na central3 que tem ótima audiência mas o público maior que ouve os programas é um perfil de classe média, média alta universitário. Entre algo cultural e informativo, a maioria vai escolher ouvir o culto do pastor, a banalização, o sensacionalismo, o ridículo. Porque o problema não está no meio de comunicação mas do mainstream que parte da base "educacional" das pessoas.

Veja no caso do audiovisual, o youtube promoveu o maior monopólio ditando as regras que o mundo deve seguir no entretenimento e informação(no melhor estilo Orwelliano) onde teoricamente temos a liberdade de escolher o que queremos assistir e o péssimo conteúdo continua sendo a escolha da maioria.

O Bob Dylan dizia que somente os idiotas acreditam em tudo o que leem nos jornais. Então o problema em si nem é tanto a comunicação mas a fábrica de idiotas que uma nação propicia ao não dar educação profunda.

Nem você, nem eu ou qualquer pessoa que teve acesso a educação e cultura jamais vai consumir a mediocridade da comunicação.

Devemos sim ocupar meios de comunicação, mas não será através dele que atingiremos a maioria, só uma educação revolucionária e universal pode libertar uma nação de dogmas e ignorância coletiva.

Camarada Insurgente Marcos

Anônimo disse...

Quando eu era criança, a expectativa era chegarem as férias e a nossa avó, que morava em Rincão, vinha para nos buscar e levar para passar as férias lá. Me lembro muito bem da estação movimentada, tinha aqueles corredores que levavam, por baixo, de um lado a outro dos trilhos. Entrávamos, escolhíamos os lugares e ficávamos esperando o trem partir, conversando pela janela com os parentes que foram nos levar e se despedir. Aí, quando tudo estava preparado, as portas fechadas, o chefe da estação lá dava um apito, e o trem respondia com uma buzinada (fãããããããããmmmmmm.....). Aí o chefe dava outro apito, e o maquinista respondia: fããããããaããmmmmmm...e nesse momento o trem então se mexia e começava a andar...tadá tadá.....tadá tadá...tadatada tadatadatada........ Íamos vendo a cidade, ... as partes da estação, casas dos funcionários... Trilhagem... mais um pouco de bairros e casas.... e aí começava o verde, o mato, as árvores, as fazendas....tadá, tadá.....Ficávamos andando pelo trem; andávamos o trem todo, passando de vagão em vagão. O moço passava vendendo: sanduíche, cocada... e aí passava o carrinho com as bebidas... Pra quem é desse tempo, guaraná Antártica tem gostinho de trem... E depois de um tempo passava o cobrador anunciando a próxima estação: Duartina, Itirapina, Pederneiras, Airosa Galvão, Estrela, Brotas...(não nessa ordem...) Aí começavam as casas, sinal de que estávamos entrando na cidade, as casinhas, os carros esperando na cancela, que estava fechada por causa do trem, as casas dos funcionários da ferrovia, partes da estação, uma placa com o nome da cidade, indicando também a estação anterior e a próxima. Aí parava, ficávamos olhando as pessoas entrarem no trem, aquelas que ficavam andando na estação, a bilheteria... E sai o trem de novo... Daqui a pouco passava o cobrador, que ia picotando as passagens. E assim ia. Aí a gente cansava e sentava, sempre perto da janela; olhava mais um pouco pra fora, os boizinhos, as árvores, os rios... E aí tirava uma soneca boa....Às vezes estou na estrada e sinto um cheiro de borracha queimada, de freio dos caminhões, e esse cheiro também me remete aos trens. Sempre a gente sentia esse cheiro no trem. Que coisa boa... A gente vai pra Argentina, por exemplo, e fica com inveja quando vê o trem passar. Um país com a extensão do Brasil, sem ferrovia... Não tinha ninguém pra defender a ferrovia quando os abutres dos setores concorrentes (fábricas de veículos, de caminhões, de pneus, empresas de ônibus, concessionárias de rodovias, indústria de combustívels...) investiram para liquidar com ela... Que triste...😢😢😢😢😢😢
MAURO LANDOLFFI