domingo, 16 de agosto de 2020

RETRATOS DE BAURU (243) e REGISTROS LADO B (08)


8º “AO VIVO LADO B” ACONTECE COM MARIA INÊS SILVEIRA, DESLUMBRANTE FIGURA HUMANA
Prazer inenarrável sinto ao ir buscar a cada semana mais uma pessoa para aqui retratar nessa amigável e reveladora conversa, a feita com pessoas que não estão na mídia massiva, mas produzindo história pra dedéu. Essas histórias e relatos são o que me move, interessa e conduz. Busco junto da escolha dos novos entrevistados, algo confirmando do acerto de minha escolha e aqui também reproduzo bocadinho disso. Desta feita, mais um vez o escolhido é o escritor uruguaio Eduardo Galeano, trechos do livro “De pernas pro ar” – ninguém mandou estar lendo neste momento: “Com os países pobres ocorre o mesmo que ocorre com os pobres de cada país: os meios massivos de comunicação só se dignam a lhes dar atenção quando são personagens de alguma desgraça espetacular que possa ter sucesso no mercado. (...) Quantos espantos deve acumular um morto de fome para que as câmeras o focalizem uma vez na vida? O mundo tende a se transformar no cenário de um gigantesco reality show. Os pobres, os desaparecidos de sempre, só aparecem na tevê como objeto de zombaria da câmera oculta ou como atores de suas próprias truculências. O desconhecido precisa ser reconhecido, o invisível quer tornar-se visível, procura a raiz o desenraizado. O que não existe na televisão, existe na realidade? Sonha o pária com a glória na telinha, onde qualquer espantalho se transfigura num galã irresistível. Para entrar no olimpo onde os teledeuses moram, um infeliz seria capaz de dar-se um tiro diante das câmeras de um programa de entretenimento. (...) Os pobres ocupam também, quase sempre, o primeiro plano da crônica policial. Qualquer suspeito pobre pode ser impunemente filmado e fotografado e humilhado quando detido pela polícia, e assim as tevês e os jornais ditam a sentença antes que se abra o processo. Os meios de comunicação condenam previamente, e sem apelação, os pobres perigosos, como previamente condenam os países perigosos”.

Eu junto tudo isso – e mais um pouco – no que faço. Nunca verão por aqui os que lambem botas dos poderosos, os que vivem das migalhas por esses oferecidos e ainda batem palmas, endeusam os que lhe cravam a estaca nos costados. Minha escolha é pelos batalhadores, os que suaram e suam muito a camisa para ser o que são, autênticos, soberanos, verdadeiros magnatas dentro do ambiente em que vivem. Resgatar cada história destes é para mim, não só motivo de júbilo, mas de ao dar voz para que algo mais possa ser melhor compreendido, entendido e passado adiante, eis meu reconhecimento, minha paga. O intuito é este, o de produzir e deixar registrado o maior número possível de pessoas com algo interessante para contar e, se possível, lá na frente, movendo mundos e fundos, tentar produzir um pequeno livro com a transcrição desses relatos, onde imortalizaremos essas histórias, como relatos de vida, mas de como se dá, de fato e de direito a vida pelas rebarbas de uma cidade. Contar a história de uma aldeia só pelo viés do lado vencedor, o de sua elite é regatear com a mesma, falsear com a verdade. Isso que faço, mesmo que uma colherinha de água tirada do oceano, segue no sentindo de mostrar comprovando o quanto de brilho e resistência existe na ação popular.

O “AO VIVO”, que muitos insistem em denominar de LIVES – até eu inicialmente incidi neste erro – do “LADO B – A importância dos desimportantes”, na sua 8ª edição vem pra abalar as estruturas e vai contar um bocadinho da história de vida de um brava guerreira, dessas que lutou e continua lutando, uma vida toda dando murros em ponta de faca, mas também sabendo extrair o que a vida tem de melhor. Falo de MARIA INÊS SILVEIRA, a popular “Fumacinha”, cuja denominação pode ser assim anunciada no diminutivo, mas ela, mesmo de baixa estatura é enorme, incomensurável, dessas cuja presença, além de marcante é pra marcar positivamente qualquer lugar onde se encontre. Sua história de vida está entrelaçada com o Carnaval e com a escola de samba do Cartola, mas ela vai muito além disso e transcende a própria magnitude desta escola e do samba de rua na cidade. O que ela tem para nos contar é algo engrandecedor, desses que o sujeito precisa parar, sentar, se aprumar e ouvir atentamente, pois de tudo o que faz, além da enorme lição de vida, o amor ao próximo na sua magnitude. Uma pessoa literalmente SEM PALAVRAS, pois tudo o que conseguir reunir para tentar descrever sua trajetória e o que representa será pouco.

Digna representante de uma das famílias mais vibrantes e unidas da periferia desta aldeia, os Fumaça. Ela vai contar algo do porque eles conquistaram um espaço mais que próprio, tornando-se embaixadores não só do lugar onde reinam, o bairro Santa Luzia, mas toda cidade, em várias manifestações mais que marcantes. A história desta família mereceria uma gravação de várias horas, só relatando algo para se entender como se dá a sua constituição e permanência sendo bem quisto por parcela significativa desta cidade. No caso dela, o algo mais se dá também com o Carnaval, onde se destaca no Cartola, como sua joia rara, peça preciosa, cuidada por todos, pois está estampada em sua fisionomia a identidade não só dessa agremiação, mas também a do amor ao samba que muitos das rebarbas da cidade possuem, algo abnegado, pouco entendido, mas exposto. Sua vida não foi e nem é nada fácil. Dificuldade é com ela mesma, sempre trabalhando em atividades de pouca renda, onde prova também algo mais de sua dignidade, dessas que se vergam, mas nunca quebram.

Poder contar isso tudo é mais que um prazer. Eu sou muito feliz, primeiro por ser amigo dela, desfrutar desse sorriso de orelha a orelha toda vez que me reencontra, algo que não tem preço, depois a confiança em mim depositada, quando aceitou prontamente o convite para participar deste bate-papo. Estou em estado de graça por ela ter aceitado e ser eu, um mero mafuento quem estará ao seu lado neste próximo domingo, 16/08, a partir das 10h, desvendando da forma mais cordial deste mundo o que ela tem para contar de sua vida. Vai ficar para os anais da história desta cidade.

Em 28.02.2014 escrevi dela no blog Mafuá do HPA: “MARIA INÊS SILVEIRA é moradora lá do Santa Luzia, fazendo parte da conhecida e sorridente família dos “Fumaça”, conhecidíssimos mundo afora. Sua mana, Matilde, foi roupeira da Seleção Feminina de Basquete e viajou mundo afora, hoje de volta ao seio familiar. Essa digna representante dos Fumaça vive dignamente da coleta de material reciclado pelas ruas de Bauru e o faz sem pestanejar, uma das formas que encontrou para ter o que precisa, sem necessitar de pedir nada pra ninguém. Uma batalhadora e hoje, com mais de 60 anos no lombo, após concluir sua labuta diária se junta a outros dos seus e vai diariamente ao barracão da escola de samba Cartola e ali, presta um serviço de ajudante de limpeza, uma doação feita por amor ao samba e a pessoas que valorizam o que ela de fato é. Para a escola, Maria Inês é uma espécie de amuleto, sinal de sorte, sendo dela a primeira fantasia de gala, feita ano após ano, desenho milimetricamente traçado pelo carnavalesco Horácio. Semana que vem vai concorrer pela Cartola no Concurso Miss Terceira Idade das Escolas de Samba e lá estará, ela e seu inseparável sorriso e muito samba no pé. Quem a vê sambando, riso escrachado, malemolência por todos os poros, tem que reconhecer, o Carnaval não tem nada de festa pagã. Não vivemos só de pão e circo, mas o que seria de todos nós sem alguns necessários momentos de uma boa festança?”.
UMA PROSINHA POCO ANTES DA ENTREVISTA
CONTAGEM REGRESSIVA...
Exatamente e impreterivelmente, 10h desta manhã dominical, 16/08 aqui pela minha página facebookiana, o 8º AO VIVO "Lado B - A Importância dos desimportantes", desta feita com uma pessoa pra lá de inqualificável, a propositiva e "quase" unanimidade local, Maria Inês Silveira, a também popular "Fumacinha", contando suas ricas histórias de vida, em mais de ___ (quantos mesmo?) anos de janela. Aguardem e preparem-se para repetirmos a cena e a jogarmos pra cima, como na foto ao lado. Ela merece tudo isso e muito mais. Ligo para ela agora cedo, 8h30, me desculpo dizendo tê-la acordado, ela deu aquela risada de sempre e me disse "Que nada, tô nervosa, acordada desde às 5h30 e escolhendo a roupa para aparecer na gravação. Vou fazer uma surpresa pra todo mundo. Você faz um treino comigo antes? ". Lhe digo: "Treino nada, levo um conhaque". E ela: "Se trouxer não sai entrevista nenhuma". Enfim, ela é uma eterna surpresa e contagiante pessoa. Viva Marinês!

CLIQUE NO LINK A SEGUIR PARA ASSISTIR O VÍDEO DESTE AO VIVO: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3734562549907060

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