sábado, 11 de setembro de 2021

REGISTROS LADO B (62) e AMIGOS DO PEITO (190)


NO 62º LADO B TEREMOS HOJE A FAMÍLIA COSMO, OS BATÉ DE TIBIRIÇÁ REUNIDOS CONTANDO SUA HISTÓRIA E A DO DISTRITO RURAL
Sigo em frente com um novo bate papo a cada semana aqui no LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES, onde diversifico e procuro ir retratando a cada nova abordagem algo mais de vivências desta aldeia bauruense. Hoje vou até o distrito rural de Tibiriçá, distante 15 quilômetros da cidade para rever pessoas queridas e contar uma história muitas vezes já abordada, porém sempre tendo algo a mais, detalhes hoje também abordados e descritos. Uma numerosa família de negros que, chegando ao local décadas atrás, resistem e se firmam ao longo do tempo, constituindo e se misturando hoje com o próprio nome do local, os BATÉ, os COSMOS. Fiz o convite inicialmente para a DULCE BATÉ e a queria aqui, pois assim como seu irmão, foi administradora do distrito, mas ela resistiu em dar a entrevista sozinha. Na sequências envolvi sua mão, DONA IRENE, a simpática matriarca da família, mas nem assim Dulce estava plenamente satisfeita, disse que queria convidar mais gente e nem sei o que vai ser, com a reunião de vários deles e eu gravando uma conversa, onde pretendo que eles descrevam algo mais de como seu deu isso deles conseguirem ir se firmando ao longo das décadas, juntando também com a religiosidade e o amor pelo Carnaval, quando criaram um bloco, inicialmente saindo no distrito e depois escapulindo e se exibindo na avenida do samba bauruense. Enfim, são tantas histórias e as tentarei juntar todas numa conversa que nem sei como terá início, meio e fim, pois diante de tanta coisa para abordar, espero não me perder.

Estarei com eles hoje, revivendo também o meu envolvimento com eles, pois desde que os descobri muitos anos atrás, num evento anual que fazem no local, quando homenageiam as pessoas com a Medalha Zumbi dos Palmares, eu me empolguei e deles não mais me apartei. São tantas coisas juntas numa mesma família e irei tentando relembrar algo disso ao longo da conversa. Uma família sofrida e que faz questão de manter viva a tradição de, ano após anos, num evento grandioso, chamar as pessoas que estiveram ao lado deles e lhes homenagear. E na simplicidade que os caracterizam, fazem medalhas e entregam para as pessoas, mas como ali aportam muita gente, não deixam ninguém sair sem uma lembrança e daí, as medalhas terminam e passam a homenagear com flores e frutos. No Carnaval ou outros eventos na residência da família ou mesmo na rua defronte a casa, ao final de cada evento ninguém sai de barriga vazia. Como tiveram muita dificuldade ao longo de suas vidas, encontraram uma forma de retribuir e produzem uma comida coletiva, distribuída para todos os presentes nestes dias. Relembrar isso tudo é o que tento fazer carregado de muita emoção, pois estes me contagiaram e hoje, além da amizade que nos une, existe todo o reconhecimento, respeito e admiração. Esses os Batés.

Eu já escrevi muita coisa deles ao longo dos 16 anos que mantenho com publicações diárias o blog Mafuá do HPA e aqui revivo algumas delas, com o intuito de apimentar o interesse para a conversa de logo mais:

- Em 20/11/2014 publiquei: “DULCE BATÉ OU DULCE DE TIBIRIÇÁ É O RETRATO DE UMA FAMÍLIA DE RESISTÊNCIA - Sabe aqueles dias em que você não quer se limitar a escrever somente de uma pessoa, mas o fazendo estará, conseqüentemente escrevendo de uma família inteira. Nada melhor do que tentar isso hoje, dia 20/11, o Dia da Consciência Negra, data nacional de resistência e de luta. Aqui em Bauru, a data é lembrada em atividades variadas e espalhadas pelos mais diferentes lugares da cidade. Na mais significativa delas, a forma como uma família de negros faz questão de lembrar a data e homenagear pessoas que se destacaram na defesa e na luta pela conscientização da luta do povo negro. Estive na festa, recebi uma das medalhas e escrevo da mais ilustre dentre tantas por lá presentes. DULCINÉIA COSMO LEIZICO é pouco conhecida pelo nome completo. Moradora de uma família mais do que tradicional no distrito de Tibiriçá (distante 10km da cidade), os Baté fizeram dali o seu reduto de luta e resistência. Esse fincar de raízes nesse lugar não é de hoje, começou muito tempo atrás e com os avós de Dulce Baté, ou mesmo Dulce de Tibiriçá, como é mais conhecida. Tudo começou em Resende, estado do RJ, com Vô Nenê, nascido lá em 1894 e migrando para Bauru. Esse casou por aqui com Maria Dulce Pedro Vitório, gerando daí numerosa família. Foi o casal, quem começou nos 13 de maio realizar almoços coletivos para lembrar da data da libertação dos escravos. Em 2003, o almoço mudou de data e passou a ser comemorado em 20/11, dia reverenciando Zumbi e a Consciência Negra. Dulce é a responsável pelo prosseguimento da tradição familiar e faz tudo com requinte, carinho, esmero e dedicação. Além do almoço, diz reunir a família e irem lembrando do nome de pessoas que contribuem para a causa e daí hoje também a entrega da medalha Zumbi dos Palmares. A Dulce e sua família não podem e nem devem serem retratados em tão poucas linhas. São merecedores de um tratado, talvez um catatau com milhares de páginas, mas hoje, até pela falta de espaço me reservo a isso. Dulce é Baté, é também Tibiriçá, é guerreira, batalhadora e antes de tudo uma negra. Hoje ao vê-la chorar pela homenagem da Moção de Aplauso da Câmara Municipal, a emoção foi transferida para todos os presentes, pois o emanado dela e dos seus irradia algo inebriante, inexplicável, mas cheio de muita luz. Viva Dulce!”.

- Em 27/07/2016 publiquei: “A DESPEDIDA DE SEU BATÉ, MAIS QUE “GERENTE” DE TIBIRIÇÁ - Tem pessoas possuidoras da marca registrada de um determinado lugar. Esse aqui hoje retratado possui a do lugar onde mora, cresceu e viveu a maior parte de sua vida. A imponência em pessoa, mas não a daquela pessoa autoritária, mandona, impondo medo nos que estão ao seu lado. Esse aqui construiu algo bem ao seu modo. Negro retinto, sofreu muito mais do que propagou quando lhe perguntado sobre, nem por isso resignado. Soube aproveitar as oportunidades que a vida lhe deu e teve mais sorte que muitos dos seus. Conquistou uma liderança pelos posicionamentos, firmeza de propósitos e pela maneira como tratava o semelhante. Simples uma vida inteira, preferindo o andar descalço pelo chão de terra, do que o com os pés dentro de um calçado qualquer. Viveu intensamente e deixou algo a ser perpetuado, passado hoje de pai para filho. Com sua ida, a tristeza instalada junto aos seus logo é substituída pela continuidade de algo perpetuado como marca registrada. Deixou mais do que história de vida, deixou exemplos e tudo começou num Quilombo, o de Tibiriçá. JOSÉ ANTONIO COSMO, ou simplesmente seu Baté, morreu semana passada aos 87 anos lá na “sua” Tibiriçá. Coloco “sua” Tibiriçá entre aspas sem nenhuma pretensão. Baté e os seus possuem lá alguns pedaços de terra, num lugar onde vicejou um famoso Quilombo, um reduto negro, de luta e enfrentamentos históricos na cidade de Bauru. Não mandam, mas são respeitados por tudo o que já presenciavam, viveram e fizeram por aquelas paragens. Sentar com ele era de uma prazer inenarrável, pois as histórias de sua vida iam saindo assim de uma forma simples, como dois e dois são quatro. Ele não descrevia as dificuldades todas da vida como um peso, mas como etapas superadas e na somatória, chegando ao dia de hoje com alguma bonança. Os Baté suaram muito a camisa e conquistaram um espaço, um cantinho pra ser chamado de seu. O apelido veio do futebol, de um goleiro de nome Taubaté. O respeito veio dos tempos quando o pai honrou compromisso feito com algodão e não quis fugir sem pagar a conta, como alguns sugeriam. Pagou o que devia aos grandões e ensinou isso aos filhos. Ele e dona Irene seguiram a sina e hoje, quando parte, deixa oito filhos, 27 netos e 16 bisnetos, além de uma lenda a envolver seu nome. Lenda essa construída desde os tempos quando morava na rua Floresta, depois ingressou na Prefeitura Municipal, onde também conseguiu colocar alguns dos seus. Esse ano, após alguns anos sem desfilar no Carnaval, atendeu clamores vindo de todos os lados (um deles de Ana Bia Andrade) e saiu na avenida do samba na frente do bloco Estrela do Samba. Foi uma antecipada despedida, no seu caso, feita pouco a pouco e tristemente concluída dia 27/07. É desses que vai ser lembrado ad eternum”.

- Em 09/12/2016 publiquei: “A FAMÍLIA BATÉ DE TIBIRIÇÁ NA JORNADA INTERDISCIPLINAR UNESP BAURU 2016 – COMO OS RETRATAMOS NA ACADEMIA -Quem conhece tudo o que está no entorno da família Baté lá de Tibiriçá acaba se encantando. Ouvi isso tempos atrás e logo de cara, quando décadas atrás tomei conhecimento de tudo o que faziam, um encanto inicial e agora, transformado em algo mais, um texto acadêmico apresentado na Jornada Interdisciplinar da Unesp Bauru, no começo de dezembro. Escrito por Ana Beatriz Pereira de Andrade e por mim, após uma incursão com muitas idas e vindas, amizades consolidadas, encantos renovados, saiu esse “Ancestralidade e Resistência – Contos e encantos dos Baté em Tibiriçá”. Mas qual o encanto despertado por eles?, poderiam me perguntar. Respondo publicando o RESUMO do trabalho: “No interior de São Paulo, mais exatamente no distrito de Tibiriçá, vinculado à cidade de Bauru, mora a família Baté. José Cosmo, sobrenome que desde o fim da escravatura vem dos padrinhos, é o patriarca conhecido como Seu Baté. O apelido surgiu em uma contenda de futebol quando o time de Taubaté era o ‘rival’. Desde o bisavô escravo, passando pelo avô e pelo pai, a família atravessou o rio São Francisco, oferecendo fumo e pinga pro ‘Caboclo das Águas’, passou por Cachoeira na Bahia, até chegar ao interior de São Paulo. Em um momento de fome, o pai confiou a São Benedito o sustento da esposa, filhas e filhos. No distrito, de aproximados 1 mil habitantes, para o qual se mudaram em 1973, fica a ‘casa grande’. Carnavalescos, fundaram o bloco de rua ‘Vai quem quer’, atualmente desfilando no sambódromo de Bauru como o ‘Estrela do Samba de Tibiriçá’. Não tem carnavalesco, denominado por eles estilista. Enredo, samba, abadás e fantasias, são resolvidos em grupo composto por famílias e amigos. Concordam, discordam e chegam ao acordo. Tudo dá certo com o trabalho do coletivo, onde cada um faz o que sabe fazer. Ao longo do ano, constam do calendário duas datas especiais: o dia de Santo Antônio, 13 de julho, e o agradecimento para São Benedito em 20 de novembro. Na festa de Santo Antônio, que chega a congregar 800 pessoas no ‘quintal dos Baté’, ergue-se o ‘mastro’ e canta-se o ‘terço’. Em novembro, o motivo é o da gratidão pelo alimento de cada dia não faltar como antes. Instituíram uma medalha, entregue sempre no dia 20, a fim de premiar os membros da família que obtinham conquista nos estudos. Com o tempo, são agraciados com a medalha, atualmente denominada ‘Zumbi dos Palmares’, todos os que participam da festa. São considerados igualmente guerreiros, assim como foram, desde os ancestrais, e são os ‘Baté’. O presente artigo se propõe a contar um pouco desta história de resistência negra no interior de um dos maiores estados brasileiros, cuja fonte é a memória oral. Por ora, preservada e transmitida, é daquelas que encantam.”.

- Em 16.06/2017 publiquei: “MAIS BATÉS, POR FAVOR – FESTA DE SANTO ANTONIO NO DISTRITO DE TIBIRIÇÁ – (...) Sou um emotivo. Escrevo na emoção e daí, das duas uma, ou esculacho com o que vi ou choro, me derreto em adjetivos elogiosos. Ontem isso votou a se suceder e confesso, saí lá da festa de Santo Antônio, a melhor que presenciei na vida, no distrito de Tibiriçá com uma baita vontade de tecer elogios mil para tudo o que ali presenciei. Pensei até em levar comigo um caderninho e ir anotando algo, pois a mente está pra lá de esquecida, mas até do tal caderninho eu acabei esquecendo. (...)Neste feriado, caindo numa quarta, uma tradição. O imenso quintal lá deles está todo cheio de barracas, um mastro deitado no chão, bandeiras enfeitam o quintal e o prenúncio de festa das boas. Na varanda da casa do patriarca, um altar e lá, antes de tudo a novena. Ninguém come, nem bebe sem antes ali rezar. Quem é de reza, reza, quem não, é fica papeando pelos cantos e quando tudo se acaba, neste ano, com um banner do velho Baté pregando junto do altar, idealizador disso tudo, falecido ano passado, começa a festa de fato. Os rojões pipocam no descampado defronte o lugar e enchem o céu de luminosidade. É o sinal para tudo começar e daí por diante, o deslumbre. Quem como eu nunca tinha vindo, chega para um deles e pergunta: “Mas como faço para ajudar, dar o meu quinhão, contribuir?”. Eles dão risada quando lhe questionam com algo dessa natureza e só dizem, como que em coro: “Aqui ninguém paga nada, tá tudo pago, coma, beba e se divirta”. Existe uma explicação para tudo isso. Elas sempre existem. Venceram a fome e a miséria, agora unidos, a família toda se doa, cada um contribui com algo e todos trabalham juntos para a festa persistir e perdurar. É a retribuição encontrada para se dizerem felizes por terem conseguido superar as maiores adversidades. Saem em procissão, cantam e rezam em voz alta, alegres. O mastro é erguido e todas as velas que estavam nas mãos das pessoas são depositadas aos pés de Santo Antônio. Muitos socam o chão com um pilão, três vezes e fazem um pedido. Quem crê soca fundo, com fé e na fé seguem adiante. Daí, assim do nada tudo começa a ser servido, o quentão é levado para o meio da multidão e se fartam. Nas barracas tem milho, paçoca, leite com maisena e um caldinho de mandioca, que afirmam ser afrodisíaco. Não tem quem não entre nas filas, não se farte até se empanturrar. Num outro canto, cantoria de viola e sanfona. (...)”.

- Em 17/09/2017 publiquei: FURDUNÇO EM TIBIRIÇÁ - Foi ontem, sábado 16/09/2017, lá no distrito de Tibiriçá, distante 15 km desta "sem limites" Bauru. Uma tarde de sábado e um convite para uma feijoada feita pela família Cosmo, ou os Baté, como também são mundialmente conhecidos. Anualmente eles encontram um jeito de reunir diletos amigos e fazer a devida reverência, medalhando todos os presentes e quando as medalhas acabam, entregam flores do campo e até a própria roupa do corpo, tudo para verem a felicidade estampada na fisionomia dos visitantes. No convite deles “Feijoada em pról do bloco Estrela do Samba regado com muito Samba”, R$ 20,00, local: Centro Rural de Tibiriçá. O fazem sempre com muito samba, dos bons, alegria e uma feijoada. Bato cartão e o faço em turma, pois viver em coletividade é sempre muito mais alvissareiro do que viver isolado. Lá estivemos e nos misturamos todos os presentes na festa, comilança e cantoria. Primeiro os ritmistas lá do bloco carnavalesco "Estrela do Samba", uma reunião de sambistas espalhados pela parte periférica bauruense e depois, quando da chegada de Jô Moura, a chamam e ela canta junto deles, para deleite de todos e todas presentes. O gostoso da festança por lá é essa união de gente de tudo quanto é lado de Bauru, gente que gosta de samba, de mato, de comida caseira e de se socializar coletivamente. Eu, nos intervalos da comilança, bebelança, pajelança e sambança, me dei a fotografar as cenas, as pessoas e aqui posto um bocadinho do que lá foi vivenciado coletivamente. Enfim, já escrevi demais da conta. Fiquemos com as imagens, pois elas dizem muito disso tudo de botar o bloco na rua e ser feliz sem isso de ficar ruminando ódio pelas ventas. Estamos aí pro que der e vier. “Nóis semos assim”, uai e como estava escrito num cartaz que passou bom tempo lá colado no mafuá: "A gente faz festa, mas está puto da vida". E nem por causa disso deixamos de nos reunir. É nesses momentos onde precisamos nos reunir mais e mais e expor nossa face, sem medo de dizer que não fazemos parte do grupo dos que vivem como manada”.

- Em 09/12/2019 publiquei: “É HOJE O CENTENÁRIO DE TIBIRIÇÁ – “Tibiriçá é logo ali, 15 km distante da área urbana de Bauru, seguindo como se fosse pra Pirajuí, depois do Shinohara, fique atento pois vai surgir a placa indicando entrada em 500 metros. Entre na vicinal e siga mais uns 4 km, chegando no que eles mesmos jocosamente denominam de "condomínio fechado". Eu achava ali morarem umas 800 pessoas, mas li ontem em matéria no JC já serem mais de 3 mil almas. A vila cresceu, mas mesmo diante de tanta modernidade, a calmaria prevalece. Tudo continua "quase" como dantes, até o fato de marcarem um show com o cantante Renato Teixeira pra noite de sábado, 20h, dentro das festividades dos cem anos e não avisarem o padre, pois naquele mesmo horário estaria começando missa na igreja local. O palco montado ao lado da praça e o público do lado de fora da igreja tiveram que esperar a missa terminar, lá pelas 21h30. Lá é assim, tudo ainda segue costumes, meios e maneiras à moda antiga. Isso que vale muito, mais até do que o horário da missa. O bucolismo de viver num reduto mais tranquilo não tem preço. Mesmo assim,tem ônibus circular várias vezes ao dia, tem torre de celular, tem açougue de mercado matando boi e carne fresca, tem biblioteca e posto de saúde. No passado teve até agência do Correios, cartório e terminais de banco, mas esses foram retirados à pedido dos moradores, pois atraia bandidos de fora. Reino da tranquilidade, lá tem um bloco de carnaval, o Estrela do Samba, campeão do Carnaval de Rua de Bauru em 2019 e tem uma estação, onde passavam os trens da Noroeste com destino pro Mato Grosso. A Estação ainda vai virar um centro cultural, como o casarão onde habitam fantasmas. Tem também um belo Acampamento, levando o nome do lugar, atraindo gente de fora. Tem distribuidora de frutas, escola pública, salão imenso rural para as festas locais e até um posto da Polícia Militar, com o policial morando ali no bairro. E tem a família Baté, os Cosmos, hoje com uma representante, a Dulce, como subprefeita do distrito. E tem as festas todas e aquela tradição de que, ali estando ninguém sai de barriga vazia. Eu e Ana Bia, a cara metade gostamos muito e já padeço de algo a atormentá-la: de uns tempos para cá encafifou de ter uma pedacinho de terra por lá. Sonha com isso e já começa a procurar lugar, ou seja, talvez transfira no futuro a sede do Mafuá do HPA lá para o distrito e faça como Wilson, o marido da Dulce, que se aposentou da Prefeitura de Bauru e desde então só pisa os pés fora do lugar em caso de extrema necessidade ou praticamente forçado. Dizem que o lugar tem lá seu magnetismo e vai amarrando o sujeito praquelas bandas. Ainda não sei ao certo da verdade disso, mas sei é que desde ter batidos com os costados lá pela primeira vez, gostei muito, volto sempre e cada vez ando mais afeiçoado. Eles me agarraram direitinho. Parabéns por existir lugar como Tibiriçá na vida da gente. Eu gosto demais da conta daquilo tudo, mas confesso, também gosto de mais agitação urbana, cria que sou do asfalto e das arruaças provenientes de suas entranhas. Seria possível viver com um pé lá, outro cá?”.

- Em 30/08/2019 publiquei: “OS DIFERENCIADOS NESTE MUNDO:
IVONE BALBINO O SORRISO DOS BATÉ INVADE A CIDADE – (...) IVONE BATÉ mora em Tibiriçá, terra dos seus, os Cosmos, também conhecidos como Batés. Com a perda do pai e nesses atrás do irmão, Zé Roberto, até então administrador do distrito, o casarão da família hoje está ocupado somente por ela e a mãe, a matriarca de todos, dona Irene. Duas valorosas mulheres, uma se escorando na outra, buscando forças com os demais, irmãos e a família toda, sempre muito unida, tudo para não possibilitar nenhum esmorecimento no que sempre fizeram, eventos e festas para manter todos muito juntos, seguindo sempre irmanados e coesos. Enquanto a irmã Dulce hoje administra o distrito, ela segue trabalhando no Posto de Saúde local, parte administrativa e acompanhando muito de perto da vida dos à sua volta, interessada no destino não só do pequeno distrito, mas no bem estar de seus moradores. Hoje lê mais, procura se informar, conhecer a fundo os meandros do mundo político, buscando informações novas aqui e ali, pois sabe que, quanto mais conhecimento tiver, menor será a possibilidade de ser ludibriada. Sua missão é levar adiante o ideal dos Cosmos, dessa aguerrida família, não deixar que ninguém venha tirar lascas de tudo o que foi tão duramente construído. Aos 54 anos, solteira, vive para o trabalho, a convivência com os seus, os cuidados com a mãe e agora, esse interesse pela leitura e ampliação de conhecimentos. Ivone tem o respaldo dos seus, um acreditando e escorado no outro, como deve ser mesmo uma família de verdade. Admirável pessoa, buscando ampliar os horizontes, abrir mais e mais sua mente diante de um mundo cada vez mais confuso e conturbado”.

Eu tenho muito mais, mas reservo para a conversa de logo mais 17h lá direto de Tibiriçá.


COMENTÁRIO FINAL: Não houve jeito e maneira de Dulce Baté conseguir se plugar e eu conseguir fazer o Bate Papo, eu de minha casa e eles todos lá de Tibiriçá. Sabe o jeito que dei? Peguei o carro e fui lá na casa deles no distrito, fazendo ao vivo e a cores do local. Inebriante conversa com três membros da família e ao final, eu adentrando um encontro de final de semana, sempre ocorrendo aos fundos. É o tipo de conversa que gosto demais da conta e se pudesse lá ficaria e estenderia tudo por longo atempo. Vale muito a pena tomar conhecimento deste depoimento.


CARA DE UM FOCINHO DO OUTRO – DUAS CARAS*
* Eis meu 30º texto para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição nas bancas a partir de hoje:

Abro o único jornal impresso da aldeia bauruense e lá está na manchete de hoje, sexta, 10/09: “Bolsonaro diz que não teve intenção de agredir Poderes”. Para quem o conhece, sabe ser isso balela, pura conversa pra boi dormir. Ele não vive sem conflito. Governar já demonstrou ter pouca – ou nenhuma – aptidão, mas para criar entreveros, verdadeiro mestre. Tudo advém de seu pouco conhecimento das coisas. Sempre teve um vida limitada, nunca se enveredou por estudos, aprofundamentos técnicos, preferindo o conhecimento rasteiro, superficial e pior, o parcial. Não possui o poder de entender o próximo, o semelhante. Fez de sua vida algo assim, servindo a interesses pérfidos, autoritários e perigosos, pois prega claramente a eliminação dos diferentes, dos que se opõem ao seu modo de pensar. Age assim, pois não consegue debater, não tem cabedal para tanto. Daí ataca, xinga, esbraveja e se bobear ameaça sacar do revólver. Assim resolve suas questões e hoje, as nossas, a de todos os brasileiros.

Não podia dar certo. Não deu e nunca dará. Vivemos o caos administrado elevado à sua máxima potência. Seus seguidores vão pelo mesmo caminho. Ele conseguiu agrupar e perfilar muitos iguais a ele, que se viam até então desorientados, perdidos no mundo, vagando sem eira nem beira. Quando vislumbraram alguém igual a ele, soltaram a franga e agora se acham os reis da cocada preta. E como um chegou ao poder, muitos outros se aproveitaram da avalanche e também conquistaram um lugar ao sol. Olho no entorno e vislumbro centenas de mini bolsonarinhos espalhados pela aí, todos aprontando das suas do mesmo modo e jeito. Cara de um focinho do outro. A coisa foi a febre nas últimas eleições e existe um enxame destes espalhados nos mais diferentes cantos da política brasileira.
Temos muitos destes aqui em nossa região, promovendo as mesmas patacoadas.

Observando com afinco, com o mesmo modus operandi do mentor, vulgo “mito”. Cito o caso específico aqui de minha cidade, Bauru, quando na última eleição uma novidade, dita e vista como “renovação” (sic) em tudo o que se concebia como política despontou no horizonte e abocanhou a apreciação da maioria dos eleitores. Foi no mesmo estilo do capiroto, mesmo discurso, a demonização dos opositores e o vazio como proposta. Diante de um quadro de deficiência, esses chegaram e propuseram ouvir e falar numa linguagem entendida pela maioria. Na verdade chegaram para promover o terra arrasada, destruir tudo o que estava em pé, sem saber o que colocar no lugar. Estão desde então destruindo tudo o que veem pela frente, mas em seu lugar, nada até agora. Fizeram maravilhosamente o serviço sujo e depenaram a nação. Foram suprimidos direitos, empregos e garantias individuais. O que aumentou mesmo foi o desemprego, a perseguição às minorias e quem pensa diferente.

No caso específico de Bauru, uma candidata querendo ficar famosa para conseguir depois chegar ao seu objetivo, o de se tornar deputada, parar em Brasília. Mesmo desconhecida, virou prefeita e agora, oito meses de desGoverno, até hoje nada de novo. De cara comprou briga com o governador e no vai e vem pra Brasília, se instrui com seu mentor para os embates. Endeusa quem lhe abastece com manancial de ideias, truques e traquejos, sapiência de como enxugar gelo. Vive de pose, ou seja, de maquiagem, esbanjada em suas lives e apresentações musicais na sua igreja particular. Aprendeu logo, o negócio é manter um grupo coeso, aceso, compacto e pronto para tudo. Não fala para a cidade e sim, para os do seu “cercadinho” particular. Fala de tudo e ao mesmo tempo não fala nada. Boa de enrolação, rainha da embromação, mestra no fingimento, vive no mundo da lua. Sem propostas, projetos, segue o vai da valsa patrocinado por Brasília. Um show de horrores sem fim, tendo a cada dia novo capítulo. Política duas caras, pois quando com o ex-capitão nem ousa usar máscara protetora, mas na cidade a coloca, posa de fiel seguidora das regras básicas e mínimas de conduta pandêmicas. Onde isso vai dar não se sabe. Coisa boa não pode ser, pois assim como o país está por um fio com o presidente, Bauru segue pela mesma trilha com sua alcaide. Toc toc toc.

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

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