sábado, 4 de setembro de 2021

REGISTROS LADO B (61)


NO 61º LADO B, POLÊMICAS, PREOCUPAÇÃO COM A TEORIA E VISÃO MAIS QUE PRÓPRIA DOS FATOS COM O PROFESSOR ALMIR RIBEIRO, SALUTAR CONVERSA

“Em caso de saque, proteja-se: procure uma livraria”, professor Almir Ribeiro, 11/01/2017.

Quando se aproxima mais um final de semana, eu cá do meu canto me preparo para algo do qual peguei gosto e gosto muito, produzir mais um bate papo dentro deste projeto que denominei de LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES. Para mim, algo a me mover nestes tempos nada luminosos. Foi o que encontrei para resgatar histórias de vida, rever pessoas e tentar, ao meu modo e jeito, continuar dando sentido à minha vida. Tudo começou logo no início da pandemia, quando estávamos verdadeiramente mais isolados e daí, o questionamento que fiz a mim mesmo: o que fazer para não me afastar das ruas e pessoas, das histórias que gosto de resgatar e contar? Via surgirem lives de todos os tipos e maneiras. Crie algo com a minha cara, dando voz e vez para alguns, possuidores de muita história para contar e com pouco espaço na mídia massiva. Não queria conversar com os ditos importantões e sim com gente de minha laia e lavra, os que estão na lida e luta faz tempo, alguns com espaço, outros sem, todos mais do que valorosos. Peguei mais do que gosto e tento renovar a cada semana, com um diferente papo, essa pegada pelas histórias de vida. Todos aqui retratados me são muito gratos. Carinho e admiração por todos, indistintamente e tem sido algo pelo qual me reencontro comigo mesmo, essa busca pelo entrevistado que virá, pela conversa que ainda não fiz. Isso tudo tem me feito um bem danado.

Pois bem, neste final de semana, justamente quando chego no 61º Lado B, eis que o convidado tem exatamente 61 anos de idade. Uma mera coincidência, enfim, alguém com o mesmo tempo de vida corrida que a minha. Não é bolinho, nem fácil carregar nos costados 61 anos. No bate papo desta semana, ALMIR RIBEIRO, um professor pra lá de polêmico, voraz leitor e com participação mais do que ativa na vida política da esquerda bauruense nos últimos 30/40 anos. Almir pode ser considerado várias coisas ao mesmo tempo, desde consultor para muitos, mentor, para outros, um chato, mas de algo ninguém pode desqualifica-lo, o de sua coerência e retidão, sempre na mesma linha de conduta política. Eu mesmo, quanto já não me digladiei com o danado em tempos idos. Embate pelos quais a boa recordação se dá exatamente por causa da passagem do tempo e, na reflexão do ocorrido, ter tido a certeza de que, se ocorresse hoje novamente agiria diferente. Num destes embates, ele me disse certa feita numa conversa na Feira do Rolo: “Sou as vezes duro com os amigos, com aqueles que ainda podem ouvir e até mudar de opinião, do que aqueles que não vejo esperança nenhuma”. Almir deve ter enxergado alguma esperança em mim, tanto que estamos aí, conversando e hoje proseando sobre sua vida.

E o danado tem muito para nos contar. Nasceu em Olímpia, pequena cidade do interior paulista e de lá saiu aos 17 anos para vir pra Bauru. Numa conversa preliminar me dizia que lá, nenhuma livraria, duas bibliotecas, depósitos de livros, a da escola onde estudava e a municipal, mas foi nos cinemas locais, dois na cidade, nas sessões nos meios de semana, quando passavam clássicos e cults, até para preencher o espaço, se apaixonou definitivamente pelo cinema, algo pelo qual nunca mais conseguiu se desvencilhar – e nem quer. Quero que nos conte de sua passagem pela livraria da Tilibra, na Batista de Carvalho, quando por quatro anos, atendeu e conheceu pessoas, ampliou seu leque e conhecimentos. Depois vieram as participações políticas, primeiro no PT e depois, até hoje, no PSTU. Junto a isso, os estudos, as leituras todas e o magistério. Quero conversar com ele sobre tudo isso, junto e misturado, mas mais que isso, Almir é dessas necessárias pessoas, bom de prosa, pronto para nos dar uma aula sobre os enfrentamentos da vida. Ele me falava de como chegamos neste triste momento atual e lhe disse de como faremos para sair disso. Foi o bastante para ele me dizer sem pestanejar: “Para querer sair, precisamos entender como entramos, como foi possível entrar neste processo”.

Almir tem como uma de suas preocupações básicas a leitura. Cansou de presenciar a luta sem embasamento, baseado só na vontade, mas sem estar aliada ao conhecimento de fato do que ocorre. Isso só se dá com leitura, aliás, muita leitura e ele bem sabe, poucos estão dispostos a isso. Ler, infelizmente, ainda é para poucos e pelo andar da carruagem, cada vez para menos pessoas. Ele é desses que, não faz mais nada sem tentar interpretar o que está por detrás das coisas. Interpretação é tudo, daí a cobrança que faz para a leitura, pois nos vê hoje envolvidos numa triste guerra de memes, reproduzindo discursos que não deveriam ser os nossos. Ou seja, ele cobra um mínimo, um estudo mínimo para a saída do lugar comum. Essa a conversa que quero travar com o danado, ele lá no seu bunker nos altos do jardim Bela Vista, mais precisamente no Parque União, bem ao lado do bosque e também das brigas que empreender para mantê-lo vivo e reluzente. Enfim, um brigão, sempre a boa briga, de uma contenda que, sabemos, a gente entrou e dela não mais sairá.

Uma hora será pouco para tanta conversa e dele, aqui relembro alguma coisa já escrita por mim - embates e acarinhamentos - e publicada no blog Mafuá do HPA, só para apimentar mais a conversa de logo mais:

- Publiquei em 21.09.2013: “TOMO CONHECIMENTO EXISTIR O ‘MÉTODO HPA DE DISCUSSÃO’ - Pela manhã tomo conhecimento de como ALMIR RIBEIRO, prócer do PSTU na cidade, entende as intervenções desse modesto escriba, expondo a tudo e a todos como entende ser meu método de discussão via internet. Cada um possui o seu, o meu é, mesmo observando algo de errado em procedimentos de algumas das boas experiências socialistas mundo afora (caso explícito de Cuba), prefiro enaltecer as boas e não dar munição para os que só esperam isso de nós, também cair matando neles. Não me verás fazendo isso, mas se ele as faz, tudo bem, afinal deve ter lá experimentações pessoais nas quais esteve envolvido muito mais convincentes, algumas já colocadas em prática e sem máculas, que o coloca entre os mais bem dotados no quesito “Orientador Geral do Planeta”. Eu não oriento nada, sou desorientado por natureza. Eis como sou visto por ele: “Método HPA de discussão:
1. Discorde e argumente.
2. Se seu interlocutor apontar um erro em seu argumento e argumentar de forma que você não possa responder diretamente:
a) questione sobre algo que ele não disse nem mesmo implicitamente e/ou
b) apresente um novo argumento que, preferencialmente, mude o foco do debate”.

- Publiquei em 19.06.2014: “ENTENDENDO O PSTU – MAS COMO, ONDE E POR QUE? - Papo de feira dominical é pra lá de vantajoso, além de ser feito ao ar livre, ambiente buliçoso, cheio de possibilidades, inegável que a Banca do Carioca, o livreiro mor da feira, lá na Feira do Rolo atrai de tudo um pouco. Nós (dentre os quais me incluo), os atraídos por aquele edificante lugar, sabemos que tudo pode ocorrer nos fortuitos encontros ocorridos a cada novo domingo. Nesse último, 15/06, éramos quatro no papo e dali conto o que se sucedeu. Eu, o vereador Roque Ferreira - PT, o professor e pensador Almir Ribeiro – PSTU, Zé Maria o assentado especialista em bambus no Terra Nossa em Aymorés e em passagem rápida seu Mário da Paz Pereira, presidente da Associação dos Aposentados de Bauru (estávamos bem defronte essa sede). Só mesmo ali, tudo por obra e culpa do acaso. Muito foi conversado, papo vai, papo vem e acabou dando nisso.

Almir nos explica algo da linha de ação do PSTU. Foi mais ou menos isso: “Eu nas discussões sou as vezes mais duro com os amigos, com aqueles que ainda podem ouvir e até mudar de opinião, do que aqueles onde não vejo mais esperança nenhuma. Acham que vou perder tempo com aqueles, por exemplo, que vaiaram a presidenta no Itaquerão? Nem perco mais tempo. Existem os irrecuperáveis, com linha de pensamento e ação já mais do que definidos. Já com os militantes, muitos desses dentro do PT tento demonstrar seus erros, discuto de forma dura, pois esses são mais conscientes, podem vir a enxergar tudo por outra vertente. O toque mais duro é com o intuito de sensibilizar e para abrirem seus olhos. Assim como a Esquerda Marxista não sai de dentro do PT, o PSTU não sai das ruas. Apanhamos dos mais exaltados nas manifestações do ano passado e não saímos das ruas, nem mudamos de posição. Estamos ali, muitas vezes nos mesmos atos dos que nos agrediram. Esse nosso papel, essa nossa luta. O black blocker chegou a isso que chamam de radicalização por exclusão. Não foi encontrando mais onde por pra fora sua forma de ação e deu no que vemos nas ruas. O Black não se sentindo representado por nada dentro do quadro político brasileiro, querendo fazer algo, até desorientado, tenta ao seu modo se mostrarem presentes”. (...)

Os encontros dominicais na feira propiciam isso e muito mais, mas estava com pressa no último domingo e por ali permaneci pouco menos de uma hora, depois fui distribuir a edição do Brasil Atual nº 2, que já está nas ruas. Boa discussão, não? Que ela venha de forma plausível...

- Em 16.02.2016 ele disse e eu registrei: “Só ouvi d. Marisa, mulher de Lula, duas vezes. A primeira, foi no começo da década de 80 do século passado, quando lhe perguntaram o que tinha achado do filme Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman e ela respondeu "a Fernanda Montenegro não sabe catar feijão". Concordei com ela, embora a cena fosse bonita e esse nem de longe era o problema principal do filme. Voltei a concordar com ela 20 anos depois. Ao conhecer o Palácio da Alvorada teria dito a Lula que os donos do poder nunca os deixariam viver lá. Por oito anos pareceu que seu vaticínio estava errado. Até começarem a cobrar o aluguel...”.

- Publiquei em 15.10.2018: “PROFESSOR BOLSONARISTA, VOCÊ NÃO TEM VERGONHA? - DIA DO PROFESSOR "Professores, diretores e supervisores que apoiam Bolsonaro: sei que são perguntas retóricas, mas precisam ser feita:
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que diz que vai proibir o tal "kit gay" que nunca existiu em suas escolas?
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que é contra algo que não existe, a tal "ideologia de gênero"?
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que discrimina negros, que são comparados a gado e responsáveis pela sua própria escravidão?
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que discrimina mulheres, que são fruto de uma fraquejada, merecem ganhar menos que os homens e, em alguns casos, não merecem ser estupradas porque são feias?
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que discrimina homossexuais, que os considera doentes que podem ser 'curados' com uma boa surra?
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que diz na televisão que precisa matar umas 30 mil pessoas no país'?
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que tem como ídolo Brilhante Ustra, que levava filhos para verem suas mães barbaramente torturadas?
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que diz querer acabar com a estabilidade no emprego dos funcionários públicos e de outros direitos sociais e trabalhistas duramente conquistados?
Vocês não tem vergonha de assinar planejamentos, coordenar reuniões, onde se prega exatamente o contrário de tudo isso?
Vocês não tem vergonha de apoiar um candidato que fala em ensino à distância desde o fundamental? VOCÊS NÃO TEM VERGONHA?" professor Almir Ribeiro.

- Publiquei em 19.11.2018: “ALMIR JÁ SABE O QUE VAI FAZER DURANTE O GOVERNO BOLSONARO – VAI VIVER DE HUMOR CRÍTICO – CONHEÇA UM POUCO DO QUE SAI DE SUA FÉRTIL IMAGINAÇÃO CRIATIVA - Posso discordar do Almir Ribeiro em “n” coisas e acho ótimo que isso aconteça. Discordar e debater a respeito disso e daquilo, algo engrandecedor. Ruim é o que estamos vendo, de alguém propor eliminar os que pensam diferente e estão dispostos a fazer oposição ao que vem pela aí. Peguei o fim da ditadura militar e seria um horror ter que voltar a um regime onde vigora o pensamento único sem contestação. Daí, nesse momento, dito por muitos como a “última gota” das liberdades, não mais permitidas no desGoverno do capiroto, ver os posts do professor da rede pública de ensino estadual, também fervoroso militante das hostes do PSTU, com sua fina e mordaz ironia é para rir, mas também para chorar. O que ele nos escancara é a mediocridade reinante e querendo tomar conta de tudo e todos. Seus textos com as mais belas sacadas que vejo vicejar pelas redes sociais nos últimos dias, com fotos tiradas do fundo do baú desopilam o fígado e nos preparam para tudo o mais. Que venha o touro e que, pelo menos possamos rir disso tudo. Sintam o que selecionei de suas férteis postagens, mas antes vejam uma frase a explicar essa sua fase de postagens: “E essa vontade louca de brincar quando o resto de nós está morto...”.

Encerro com algo escrito por ele em outro Sete de Setembro, o do já longínquo 2013, mas com validade para todo o sempre brasileiro: “Neste 7 de setembro, ouçamos o grito... O grito dos excluídos, dos migrantes, dos sem terra, dos que sofrem nas macas e corredores dos serviços públicos de saúde, dos negros descriminados, dos homossexuais agredidos, das mulheres violentadas, dos pais das centenas de jovens assassinados, dos milhares de jovens que têm seus sonhos destruídos por uma educação de péssima qualidade. E também os gritos de alegria dos deputados ao livrarem um condenado da perda de mandato, dos CEOs das grandes empresas ao ver suas planilhas de lucros, dos banqueiros frente a um novo aumento dos juros, dos empreiteiros pela Copa e pela Olimpíada. E os gritos de ódio, ignorância, medo dos Felicianos, dos Malafaias, das Sarah Sheeva, dos 'amigos' da ROTA, dos que pedem a volta dos militares... Nossa independência não está no passado”, ALMIR RIBEIRO, professor e militante do PSTU, numa mensagem ontem pouco antes de se recolher aos seus aposentos, preparando-se para os embates de hoje”.
Enfim, uma SALUTAR conversa. Será hoje, logo 17h. Vamos juntos?

ESQUINA DA RESISTÊNCIA, UM ANO SEM ROQUE FERREIRA
Hoje, sábado, das 10 às 12h, homenagem para Roque no reduto de luta do Calçadão da Batista. A fala de muitos e algo deste grande batalhador das causas sociais desta cidade. Roque vive!

Eis o link do ato com algumas das falas gravadas por mim: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/839866056891514
Hoje pela manhã, Esquina da Resistência, ato pelo ano sem Roque Ferreira e uma poesia escrita à mão por Esso Maciel, sendo lida por Priscilla Lellis Krupelis.

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