quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (141)


SENTO NUMA MESA DE BAR E REMEMORO O PASSADO A ME ENCHER DE SAUDADE E A CARA
Eu e um amigo, um bar escolhido a dedo e nele, nós dois e algumas ampolas de cevada muito gelada. Diante de uma semana das mais tensas, quando um eminente golpe paira no ar, paradeira mais do que estranha, com tudo e todos meio na esquiva, espreita por algo que possa pintar, eis uma indecorosa proposta para este final de tarde, destes irrecusáveis convites e convite feito pro amigo de longa data: “Vamos tomar umas e esquecer da vida?”. Fomos e ao voltar pra casa, cambaleante e soltando bolhinhas de ar, tento rememorar algo do que me veio à mente na mesa de um bar, com gente ao nosso lado, mas só nós e nossos assuntos, ninguém mais nos importunando ou interrompendo a conversação.

Falamos e falamos, destravamos a língua e a memória. Foi bom, pois depois da segunda, parece que algo aconteceu, um certo alívio e aquilo tudo entalado na garganta, pronto para explodir e vir à tona, veio mas não na forma desse confronto hoje expelido em cada novo diálogo. Eu e o dileto amigo, ficamos a rememorar o passado, lembrar histórias e passagens, tempos idos e cada um puxando, engatando uma conversa na outra, unindo temas meio que sem nenhum elo de ligação, mas pelas pessoas envolvidas, saíram de nossa memória histórias do arco da velha.

Estava precisando disso, sair do trivial. Escolhemos um bar à dedo, conhecido, mas fora do circuito. Sentamos numa mesa, chegamos de máscara e só a tiramos por causa da cerveja gelada, que era recolocada em nossa mesa tão logo a tirávamos da capinha plástica. Nestes momentos, cada gole serve e muito para desanuviar o cérebro e reavivar algo meio que adormecido. Daí, um empurrando o outro, foram sendo reveladas passagens de antanho, dessas que a gente gosta de reavivar e acrescentam e muito em nossos currículos – principalmente os etílicos. Beber tem disso, solta a tramela de nossas entranhas e torna-se um perigo, pois o sujeito com menos controle de si mesmo, pode acabar soltando a franga. Não soltamos, mas rimos desbragadamente e ao final, algo gostoso e saboroso, a certeza de termos algo pra contar, algo de bom para ser relembrado e revivido.

Saímos do bar com a alma lavada e a consciência tranquila, mais leves e conscientes de que, mesmo com tudo o que está em curso ou possa acontecer, nada irá nos impedir de ser o que somos, de termos estado de corpo presente em tanta coisa nestas plagas, destas que são insignificantes para muitos, mas trazem baita orgulho para gente como nós dois, seres normais, destes vivenciando a cada instante novas aventuras e pelo traçado de como se deram, baita orgulho de estar nelas envolvido. Bar em certos momentos da vida gente serve e muito para desopilar o fígado, botar os bofes pra fora, mas não só em forma de vômito, mas de rememorações, algo tão necessário até para oxigenar a alma.

Volto pra casa rindo à toa, falando sozinho e feliz da vida, pois por alguns instantes consegui sacar a tensão da qual estava acometido. Estou mais leve e enquanto não passar de todo o fogo do qual estou ainda envolto, estarei nas nuvens, refletindo sobre tudo o que falamos. Como é bom ter história para contar. Tem coisas que não conto pra ninguém, mas tem muitas que a gente conta, rememora e ri, como grandes feitos pelos quais estivemos envolvidos. Eu me orgulho do meu passado, também do meu presente e sei, estarei sempre altivo para o que ainda me resta de futuro. Me arrependo de pouca coisa onde estive envolvido e mesmo as pisadas de bola, hoje relevo muitas, pela inexperiência de quando as cometi ou até pelo erro querendo acertar.

Queria escrever sobre tantos nomes e histórias hoje revividas, mas prefiro não citar ninguém, pois serão recortes de algo ocorrido e sem o contexto, talvez possam ser entendidas pela metade. O fato é que bebi e consegui chegar em casa intacto, corpo sã e solto, sem um hematoma e ao chegar, me deparo com as luzes todas do prédio apagadas em mais uma pane da eletricidade. Ouço que isso vai ser rotina daqui por diante na vida do brasileiro e no meu caso serviu para, ao subir doze andares, baixar bocadinho do fogo e conseguir sentar e escrevinhar isso tudo, talvez sem pé nem cabeça, mas algo pelo qual, sei conseguirei dormir tranquilo, pois a cevada também me faz esquecer que algo mais acontece do lado de fora de minha janela. Amanhã é outro dia e começo tudo de novo. Hoje não, estou nas nuvens e me deixem assim continuar, pois sonho com meu passado e ele me faz viajar sem tirar os pés do chão. Boa noite, gente e desculpe qualquer coisa. Amanhã, se conseguir acordar, explico melhor!
OBS.: Gente, desculpe a comparação, mas me vi, eu e meu amigo, como nessas memoráveis fotos do Aldir Blanc e do João Bosco, ambos em mesas de bar. Ao menos tentamos imitar os mestres e amanhã, se tudo der certo, volto ao normal - ou anormal, sei lá.

A REALIDADE NUA E CRUA
Ontem um dileto amigo me diz para nos prepararmos, pois algo muito parecido com o que ocorreu em 64 está prestes a ocorrer novamente no país, a se repetir como farsa. Dizia ele que, em 64, a Câmara com Ranieri Mazzilli e o Senado com Auro de Moura Andrade foram os artífices do golpe, dando um ar de legalidade ao mesmo e hoje, os dois presidentes dessas casas estão alinhados também com a perversidade em cur, prontinhos para referendar a malversação. Dizia também que, talvez as Forças Armadas não estejam totalmente alinhadas com o que está em curso, mas nada farão se algo ocorrer, porém, quase a totalidade das Policias Militares dos estados da Federação já estão insubordinadas e não mais respondem ao que os governadores lhes ordenam. Concluiu para mim que, o golpe fatal pode não ser dado neste dia 7 de setembro, mas ele virá, pois certamente o ex-capitão tem essa intenção e nada o impedirá de tentar. E nós, a esquerda, dizia ele, ou ao menos os que podiam resistir, pregam que tudo ocorra via eleição, só assim e sem nenhuma outra forma de resistência. Isso tudo que me diz, não me faz esmorecer, mas ficar em alerta, aliás pisca alerta mais do que ligado, ciente de que, mesmo só escrevendo, prevejo dias ruins para os que, como eu, se expõe além do que os malversadores aceitam. Se mostrar diariamente contra "eles" sempre foi um perigo, pois conclui esse meu amigo, "imagina se um miliciano te ameaçar, o que vai fazer, recorrer a quem? Terá que fugir, só isso lhe restará". Será esse o país que teremos daqui por diante, quando de dentro de casa estamos esperando uma mudança via eleitoral, quando a resistência teria que se dar desde já nas ruas? Eu vou pras ruas neste Sete de Setembro, manifestação já marcada pra acontecer em Bauru no parque Vitória Régia. É o mínimo que posso fazer neste momento.

ROQUE FERREIRA PRESENTE, UM ANO DA PERDA DO LUTADOR SOCIAL
Amanhã, sexta, 03/09, 9h na Câmara Municipal, Ato reverenciando atuação de Roque no parlamento e nas lutas sociais e
Sábado, 04/09, pela manhã na Esquina da Resistência, ato de união dos lutadores sociais relembrando sua trajetória de luta.
Impossível não estar presente nestes dois Atos, também de resistência aos tempos atuais.

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