sábado, 25 de setembro de 2021

REGISTROS LADO B (64)


NO 64º LADO B, NADA MENOS QUE MARIA CECÍLIA CAMPOS, MESTRA NOS EMBALANDO PELOS CAMINHOS DA RESISTÊNCIA
Convidar MARIA CECÍLIA CAMPOS para o bate papo semanal LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES era algo que tinha como meta desde muito tempo. A educadora, socióloga e mestra de muitos que estão pela aí, eterna batalhadora, tendo vivido ao longo dos seus 75 anos muito da história de resistência brasileira de dentro de incessante luta é algo para ser reverenciado, contado e espalhado pela aí. É o que tento fazer e após este convite ter sido feito desde muito tempo, enfim, surte efeito e ela aceita gravar. Relutava, pois dizia ter muito mais gente para aqui estar antes dela. Não desisti, pois ciente de sua importância, queria vê-la contando não só sua história pessoal, sua trajetória, mas dos envolvimentos de uma vida inteira, dessas que apresento com o maior orgulho, júbilo e contentamento. Pessoalmente, na qualidade de amigo pessoal dela, sinto-me recompensado e orgulhoso por tentar trazer a todos e todas um bocadinho que seja de pessoa tão respeitada, querida e admirada por imensa legião de bauruenses. Neste 64º Lado B, a reunião numa só pessoa de algo mais que grandioso, concentração de ideias, concepção de vida e dedicação pela causa social.

Escrevi muito dela ao longo de minhas publicações diárias no blog Mafuá do HPA e aqui relembro algumas delas, até para apimentar e aguçar a curiosidade dos que, certamente acompanharão a conversa ao vivo logo mais:

- em 22/12/2015 publiquei: “MARIA CECÍLIA MARTHA CAMPOS é professora, hoje na UNIP, socióloga por formação, coordenadora do Curso de Comunicação Social naquela instituição. Da militância no movimento estudantil, lendo gente do quilate de Celso Furtado e Caio Prado Junior, caiu de boca na dureza do período militar. Participou da Libelu - Liberdade e Luta e da criação do PT. Uma cabeça pensante, pulsante e contagiante, não só pelo que pensa, mas pela forma como age. Viúva do também sociólogo José Ralph de Oliveira Campos, avó, aos 68 anos, essa não tão velha mestra é baluarte na defesa das liberdades democráticas, entendida de semiótica e sempre pronta para o bom debate, não o irracional, mas aquele em que consiga e possa acrescentar, somar, construir, sem essas altercações com os que chegam com uma ideia preconcebida e não aceitam muda-la nem um centímetro sequer. Em 2008 deu um bela entrevista para o JC, podendo ser lida clicando a seguir: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php…. Li uma resposta dada por ela sobre a falta de verde-amarelo nas manifestações contra o golpe e o impedimento da presidenta e de tão lindo aqui transcrevo: “No meu entendimento, a nossa bandeira verde e amarelo figura junto às demais, de todas as cores e feitios, na base de um fundo vermelho que as une num só fundamento de classe social, pelo mundo inteiro”. Pelo simples fato de agir assim, não concordar com a linha vigente do pensamento único chegou a ser taxada de comunista, como se isso fosse a pior das coisas. Pessoas como Maria Cecília dão belas lições de como proceder no debate nesses inóspitos tempos. Isso tudo ela aprendeu de uma longa convivência com intermináveis leituras e muita prática de vida, o que falta na maioria dos fechadores de questão de hoje. Por ser o que é, merece hoje o abraço de fé dos que acreditam que algo ainda pode ser feito para modificar e abrir a mente de tantos com ela quase fechada.”

- Em 19/02/2020 publiquei: “OS MUSOS DESTE ANO - LULINHA E MARIA CECÍLIA - Um dos momentos mais cheios de pompa dentro da antecipação do desfile do bloco burlesco, farsesco e algumas vezes carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é Mixto é quando da escolha anual dos MUSOS, aqueles cujas caras, identidades são a do próprio bloco. Um personifica o outro e vice versa. Acertamos em cheio nas escolhas anteriores e nas deste ano, damos o pontapé inicial para que daqui por diante o seja com um casal. Os dois escolhidos para serem os MUSOS deste ano são dois tomateiros desde sempre, Agnaldo Lulinha Silva e Maria Cecilia Campos. São gente de nossa laia, ou seja, estão na lida contra as injustiças deste mundo, sempre colocando o bloco na rua, a cara na tapa e sem medo de ser feliz, se posicionam, pessoas marcantes, admiráveis e cheias de muita luz. Foi uma escolha por consenso, quase por unanimidade, pois quando Nelson Rodrigues profetizou a famosa frase, com certeza não conhecia esses dois. Escreveria laudas e laudas de ambos, pois além da sapiência de serem gente da melhor espécie e qualificação, guerreiros até não mais poderem, fizeram de suas vidas algo verdadeiramente em prol da transformação do mundo em algo mais palatável.
Lulinha é sindicalista, Cecília é professora. Ambos são lutadores, esgrimistas das boas causas. Lulinha sabe como ninguém andar em cima de uma motocicleta e Cecília executa com o mesmo brilhantismo uma aula de sociologia. Lulinha sabe lidar com essa gente toda envolvida nos movimentos sociais e Cecília lida com a devida maestria com legião de alunos. Cada um na sua, mas no frigir dos ovos muita coisa em comum, daí terem sido escolhidos juntos, no mesmo balaio, pois estão do mesmo lado, lutam por algo muito parecido e o ideal, o grande motivador deles não saírem da cancha de jogo são idênticos. Ambos acreditam nas pessoas, principalmente nas mais simples e por causa delas acordam cedo e dormem tarde. Não são empreendedores na forma como hoje o termo é utilizado, mas empreendem algo dos mais dignos dentro da concepção humana, pois querem um mundo mais igualitário, onde as diferenças desapareçam e todos possam ser valorizados, cada um pelo conhecimento que possui. Cada um ao seu modo e jeito não desiste de seus sonhos e por causa deles estão pela aí, fazendo e acontecendo. Cada um com sua sapiência bem peculiar, especificidades bem particulares, mas quando em ação, na junção dos saberes, a melhor contribuição que podem dar para tentar fazer deste mundo algo onde o ser humano seja o centro das atenções e não, como hoje, isso das leis de mercado, valerem mais do que as pessoas. Um luta lá, outro cá, mas vez ou outra estão juntos, irmanados e coesos, como quando no bloco, numa passeata de protesto ou de mãos dadas numa forte corrente a defender a classe trabalhadora.

- Em 09/03/2020 publiquei: “DAS TROMBADAS DESTA VIDA, EIS FERNANDO E MARIA CECÍLIA, EX-ALUNO E PROFESSORA NUM REENCONTRO NA FEIRA - Quando escrevo aqui do maravilhamento provocado pelas trombadas da vida, quero dizer exatamente algo vislumbrado por mim na manhã de ontem na feira dominical da Gustavo Maciel. Eram mais ou menos 11h, um intrépido pessoal havia acabado de descer a feira batucando e lembrando a todos da passagem do Dia Internacional das Mulheres. Marcha encerrada todos se concentraram nas imediações do Bar do Barba, boca de entrada da Feira do Rolo. Foi quando vejo a professora Maria Cecilia Campos abraçando um feirante logo ali na esquina, ele revendendo meias e afins, quase ao lado da banca de peixes. Incherido que sou fui assuntar do que se tratava, pois gosto muito de ir desvendando histórias ali nascidas, procriadas e mantidas ao longo do tempo. Dou de cara com algo inebriante, desses momentos pra encher ops olhos d'água.
Ela, a professora, mestra em Sociologia, já tendo ministrado aulas em tantos lugares, havia reconhecido ali detrás da banca um ex-aluno, o Fernando, dos tempos do curso de Design, na IESB. Ela, repetiu a mim, que no tumulto, marcha encerrada olha para os laldos e percebe conhecer o moço da banca. Colocou a memória para funcionar e viu estar diante do Fernando. Abraços mais que cordiais ali diante de tudo e todos, histórias revividas e algo pescado por mim, pouca coisa, tento compartilhar neste arremedo de texto. Essas trombadas da vida são mais que instigantes, provocantes e reluzentes. Ele atualiza sua vida para a professora, dizendo também ter cursado Direito e, no momento, aguarda ansioso o momento de fazer o exame da OAB. Da feira, diz sem receios ou qualquer resquício de vergonha, foi o que encontrou para tocar a vida e pagar suas contas. Mais não fiquei sabendo e para mim foi o suficiente para registrar o reencontro em algumas fotos e ficar matutando sobre a beleza do momento.

- Em 20/04/2020 publiquei: “COMEÇAR A SEMANA COM A POESIA DE TATIANA CALMON, NA VOZ DE MARIA CECÍLIA CAMPOS - TEMPO DE DESPERTAR
Eis o link: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/posts/3402752526421399
Bom dia e ótima semana a todas as pessoas que, dia após dia, incansavelmente, se doam por mais fraternidade e justiça social no mundo. Adoro esses tantos que, arregaçam as mangas e se doam, se entregam, fazem e acontecem, não medem esforços para agir. Fico cada vez mais acabrunhado de ver a situação onde me encontro, trancado e isolado, querendo fazer coisas, aprontar muito, cooperar e agir, mas quase nada. Diante dos que ainda fazem, me solidarizo. Enternecido agradeço por fazerem por mim o que gostaria imensamente de estar fazendo. Daqui da trincheira onde me encontro, tento manter a chama acesa, irradiar alguma luz e conspirar, lutar com as armas que sei esgrimar, tocando sempre o barco para a frente. Tatiana Calmon Karnaval, guerreira de todas as horas, segue na vanguarda e aqui se junta na fala de Maria Cecilia Campos, uma que pela voz me faz estremecer e querer enpunhar a lança contra os malversadores. Como é bom receber algo dessa natureza, saber dos que não desistem e contrinuar ao lado desses, na lida, sempre sonhando e lutando para isso, pois a gente bem sabe, outro mundo é mais do que possível”.

- Em 09/06/2021 ela escreveu e eu reproduzi: “Perdi a vontade de abrir o Facebook. Todo dia, cada vez que abro, fico sabendo de mais alguém que partiu neste tempo do genocídio implantado entre nós. O luto contínuo, crescente, se avoluma. Difícil encontrar palavras de consolo, de conforto para pessoas queridas que perderam pessoas queridas. Tristeza sem fim”, Maria Cecília Campos.

Portanto, é com imenso prazer que convido tudo, todas e todos para este inesquecível bate papo.

COMENTÁRIO FINAL: Maravilhosa experiência de vida. Eu passe a admirá-la muito mais após terminar o bate papo. Fantástica mulher. Foi um divinal bate papo. Possui história de vida até então desconhecida por mim e pela imensa maioria de seus diletos amigos.Sua declaração de amor ao grupo na qual está inserida - e da qual faço parte -, como responsável pela sua permanência na cidade é arrebatadora. Ela, como nós, vivemos em grupo e só conseguimos mesmo tocar o barco adiante, por termos uns aos outros, um escorando o outro e assim por diante.A sua história junto ao Ralph é para ser ouvida e entendida profundamente, pois possui um significado dos mais importantes nos dias de hoje. Como ela suou a camisa para chegar até aqui.Gosto demais da conta dessa imensa critura humana. Encantadora em todos os sentidos, meios e maneiras. Nota mil.


VELADAS AMEAÇAS, BRINCADEIRAS E GENTE SE ACHANDO COM O MICROFONE NA MÃO*
* Este foi meu 32º texto para o DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição impressa saindo hoje e em algo eles tem muita sorte: por lá eles não tem uma Jovem Pan.

Já escrevi do péssimo momento bauruense e volto a tocar no mesmo assunto. Tivemos muitas rádios no passado e num certo momento, o dial fervia, posições antagônicas e em disputa. O pau quebrava, mas existia pluralidade. Hoje não mais. Vivemos tempos de pensamento único e ele se mostra bem evidente pelas ondas do rádio, pelo menos o da mídia massiva. Com o fim das rádios AMs, todas hoje transmitem em FM e de todas, somente uma tem jornalismo nas 24h em Bauru. Infelizmente, a pior de todas, a antes Jovem Auri-Verde, hoje arrendada (não se sabe como, pois concessão pública é intransferível) para a Jovem Pan 97,5 FM, que denomino pelo tipo de jornalismo propiciado, como Velha Klan. São pérfidos até a medula e possuem o disparate de fazer propaganda contra o fake-news, sendo eles os maiores propagadores de falsas notícias, uma atrás de outra. Mais que isso, nesta semana um algo mais o transformaram também num foco de aumento do ódio e violência.

O locutor principal da emissora, também seu diretor é Alexandre Pittolli, alguém hoje fazendo fama na onda bolsonarista e com ela querendo se tornar alguém de renome dentro do quesito rádio em Bauru. Quem fala o que não deve, deve mesmo merecer pagar pelo que faz. Tudo tem limite e dias atrás o locutor se excedeu e passou dos limites do tolerável quando em tom jocoso, como se estivesse brincando, ameaçou a vereadora petista Estela Almagro. Esta ao tomar conhecimento da fala, parou até uma sindicância presidida por ela na Câmara dos Vereadores e foi fazer boletim de ocorrência. A primeira reação do radialista foi dizer tratar-se de brincadeira, mas na verdade, sendo ameaça ou não, incitar alguém a fazê-lo em seu nome, está mais do implícito ser algo perigoso. E como os tempos não estão para brincadeira, ainda mais quando um presidente fora da casinha propõe à população trocar os sacos de feijão por uma arma de fogo.

Insinuações mais do que perigosas, algumas vezes letais, pois com o país em polvorosa, algum maluco pode entender como uma sinalização para ele proceder em nome do radialista e assim ir às vias de fato. Algo lamentável e bem ao estilo do que se ouve pelos microfones da rádio neste exato momento. Ela representa na cidade o bolsonarismo, algo evidenciado pela defesa intransigente de tudo o que diz respeito ao modus operandi do atual presidente. Errado ou certo, encontra-se um meio de fazer a defesa dele. Na cidade, no último pleito, Bolsonaro chegou perto dos 80% dos votos, mas passados quase três anos sua aprovação despenca, assim como no resto do país e a rádio hoje está situada dentro do percentual ainda a defender a maluquice em curso, com algo em torno de 25%. Como nas demais rádios o jornalismo faz parte da programação, com noticiário mais na parte da manhã e até no máximo 8h30, Pittoli continua no ar sozinho em boa parte da manhã e no meio da tarde. Sem concorrentes fala o que quer, mas seus excessos indicam uma perda de credibilidade irreversível.

Pittolli é controverso e demonstra isso nos seus programas. De início era contrário à prefeita bauruense, moralista e fundamentalista, sendo até processado por ela, mas naqueles fatos inexplicáveis da vida, de uma hora para outra, passa a elogiá-la desbragadamente, num irritante puxa-saquismo. A rádio não mudou, pois a Jovem Pan é bolsonarista e como a prefeita de Bauru segue na mesma toada, estão todos agora no mesmo balaio, juntinhos e coesos. A irritação do radialista se deu por fazer a defesa da prefeita no caso do corte desmedido de árvores na praça Portugal, 50 de uma só vez, tudo para ampliar uma avenida. Como é contra quem é se posiciona contra o que a prefeita fez, grita, esperneia, cospe impropérios no ar e para quem está atento, ele agora terá que responder por ter mais uma vez ultrapassado a linha do tolerável. Dias atrás já havia chamado os que protestavam contra o corte de maconheiros e desordeiros. Está prestes a, com mais um processo nos costados, ter que não só responder pelos seus atos, mas pagar pelo perigoso e desenfreado boquirrotismo.

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

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